História Cold - Veneza.

-Não olha. -Ele disse. 

-Eu não estou olhando. 

-Você está espiando. 

-Não estou. -Eu e Seth discutíamos enquanto ele se vestia e eu olhava pra água. 

-Espero realmente que não tenha espiado. -Ele disse fazendo um rostinho de superior e eu ri. -Então, viemos aqui por um motivo, não? 

-Quero te fazer mudar de ideia sobre o fato de eu ficar. -Eu disse. 

-Sabe que não vai conseguir, não é? -Ele respondeu. 

-Não custa tentar. -Eu sorri. -Eu me alimento de pessoas, Seth, não posso ser vegetariana como os Cullen são e eu duvido que sua matilha queira uma sugadora de sangue aqui. 

-Está tentando me assustar? -Ele perguntou ainda com sua serenidade no olhar. 

-De um em um mês, eu ia ao banco de sangue em Veneza e roubava algumas bolsas de sangue. -Eu suspirei. 

-Pode pegar algumas bolsas de sangue no hospital daqui, Carlisle pode te ajudar. -Seu rosto permanecia sério mas os seus olhos mostravam o quanto ele estava se divertindo com isso. 

-Eu matei um membro da guarda Volturi. -Eu tentei novamente mas sua expressão não mudou. -Eu machuquei membros da guarda. -Eu tentei novamente e nada. -Machuquei Jacob. -Nada. -Eu tenho TPM e olha que eu nem menstruo. 

-Agora me assustou. -Ele arregalou os olhos mas logo riu. 

-Idiota. -Eu lhe dei um empurrãozinho no ombro e gargalhei. 

Ficamos em silêncio por longos segundos e eu fiquei lhe admirando, pelo canto dos olhos. 

E sabia que ele me olhava também. 

-Você é linda. -Ele murmurou timidamente e eu sorri. 

Sentei de lado para poder olhá-lo só que dessa vez de verdade. 

Ele virou para mim e então eu analisei cada centímetro de seu rosto, cada detalhe da sua pele morena, cada milímetro de seus olhos castanho amadeirado que eram quase iguais aos meus se os meus não fossem um tom mais escuro. 

O cabelo bagunçado num topete e mesmo de moletom, seus músculos apareciam. 

Coloquei a mão em sua bochecha e com ele analisando cada movimento meu, fiz um carinho com o polegar. Sem me dar conta, passei o polegar por cima de seus lábios. Seus lábios eram bem desenhados e avermelhados. Convidativos. 

-Viveu a vida toda em Veneza? -Ele quebrou o silêncio. Puxei minha mão pra de volta do meu corpo. 

-Viajei alguns lugares nos últimos três anos. -Respondi. 

-Quais? 

-Londres, Nova York, Long Beach. -Sorri lembrando de todas as viagens. -Sempre viveu na reserva?

-Sim, nunca sai daqui. -Ele disse meio cabisbaixo. 

E então eu tive uma ideia brilhante. 

-Sabe, eu vou ficar aqui por mais uns bons vinte e um dias e minhas roupas ficaram quase todas em Veneza...-Ele me interrompeu. 

-Não, você não tá pensando nisso. -Ele disse. 

-Ah, qual é? Uns dias fora não vão te matar. -Eu disse cutucando ele e rindo. 

-Em Veneza? Eu nem sequer falo italiano. -Ele respondeu. 

-E você acha que eu falo? -Ri. 

-Por favor. -Fiz biquinho. 

-Tudo bem...-Ele sorriu. -Mas, com uma condição. 

-Qual?

-Vem cá. -Ele abriu os braços e fez um sinal com as mãos para que eu chegasse perto e então eu me aconcheguei no seu abraço.

[...]

-Vocês só podem estar loucos. -Leah disse.

-Qual é, Leah? Voltamos em cinco dias. -Seth disse. 

-Tris, ele tem aula. -Leah disse olhando pra mim esperando que eu mudasse de ideia. 

-Quer ir também Leah? -Eu disse brincando. 

-Eu vou ligar pra mamãe. -Ela disse puxando o celular do bolso e discando o número, no terceiro toque, Sue atendeu. 

-Oi querida. -disse calma. 

-Oi mãe, vou direto ao ponto, Seth quer ir pra Veneza passar a semana lá com Tris. -Leah disse afobada. 

-Beatrice, a híbrida? Nessie gostou dela. -Sue disse e eu quase podia sentir seu sorriso do outro lado do telefone. -Você também havia gostado. 

-Eu gosto dela, mãe mas deixar Seth ir assim, ele tem aula. -Leah estava mais irritada ainda pela quase aprovação da mãe. 

-Leah, alguns dias não fazem mal, ele pode ir mas mande ele mandar notícias e diz pra garota cuidar do meu menino. -Sue desligou e Seth ruborizou. 

-Ótimo, arrume as malas Seth. -Eu disse sorrindo. 

-V-Vamos hoje? -Ele pareceu confuso. 

-Ainda são quatro da tarde, anda logo. -Eu ri, levantando-me da mesa. -Obrigado Leah. -Dei-lhe um sorriso e em seguida um abraço. Ela bufou mas retribuiu o abraço. 

-Cuida dele, Tris, ele nunca foi pra tão longe. -Ela disse abafado na minha blusa. 

-Relaxa Leah, trago ele inteiro, juro. -Sorri pra ela desfazendo o abraço. 

[...]

O caminho pro aeroporto foi rápido já que Forks estava chuvosa e ninguém arriscaria sair de casa e acabar preso numa poça de lama. 

E Seth dormiu boa parte dela. 

-Eu vou te pagar a passagem Tris, juro. -Ele estava a milhão depois do seu cochilo e entusiasmado pela viagem. 

-Eu já disse, é seu presente de 18 anos. -Eu disse sorrindo enquanto íamos pra área de embarque. 

-Você nunca vai me fazer mudar de ideia. -Ele disse sorrindo. 

-Eu posso te matar enquanto dorme. -Eu respondi ainda sorrindo. 

-Minha alma voltaria pra puxar seu pé todas as noites da sua vida, aguentaria o peso da culpa? Meu Deus! Eu matei o lindo e gostoso Seth Clearwater...-Ele imitou, pessimamente, devo acrescentar, minha voz. 

-Se quer continuar com suas cordas vocais no lugar não faça isso de novo. -Eu revirei os olhos. 

Um cara passou ao nosso lado me olhando de cima a baixo e sorriu pra mim, ele era bonito. Então algo que eu não esperava rolou: Seth passou seu braços pelos meus ombros me puxando pra si possessivamente. 

Eu apenas sorri aproveitando seu toque e o calor elevado do seu corpo. 

-Voo 2811 com destino a Veneza, portão 2. -A voz da comissária soou pelo aeroporto. 

-É o nosso, vamos! -Corri puxando Seth pelas mãos. 

[...]

-Não achei que ficar sentado fosse tão cansativo. -Ele reclamou pela trilhonésima vez. 

-Seth, cala a boca. -Respondi tentando ler meu livro. 

-Que livro é esse? -Ele perguntou colocando os olhos nas letras. 

-O Inferno de Gabriel. -Respondi calmamente, respirando fundo pra não lhe dar um soco. 

-Fala sobre o que? -Ele perguntou de novo. 

-Aeromoça. -Chamei e a moça esbelta veio até mim rapidamente. 

-Traz qualquer coisa grande e que demore muito pra comer pra esse garoto, por favor. -Eu pedi. 

-O que, especificamente, senhorita? -Ela disse confusa. 

-Qualquer coisa, moça, sério. -Ela assentiu e saiu. 

-Ok, eu vou calar a boca. -Ele bufou. -Posso ouvir música no seu iPhone? 

-Jesus Cristo. -Eu disse colocando o livro na minha cara. Eu ia surtar até Veneza. 

[...]

Seguimos caminho pra fora do aeroporto, Seth já tinha se calado, o garoto morria de sono. Podia ter certeza que com um olho ele dormia e o outro olhava pro chão. 

Quando cheguei à frente do aeroporto lá estava, meu Mazda RX-7 Veilside Fortune. Ou meu filho, chame como quiser. 

-Obrigado, senhor Baiocchi. -Peguei as chaves e agradeci ao homem de meia idade que era empregado de tia Milena à anos. 

-Disponha, senhorita Appratto, sua tia está ansiosa por você. -Ele sorriu. 

-Tá brincando que esse carro é seu? -Seth havia acordado abruptamente de seu sono de um olho só e babava no carro. 

-Todinho meu. 

-Isso é um carro esportivo, não? -Ele disse. 

-Sim, entra aí. -Eu disse já entrando no carro. -Já viu alguém fazendo drifiting? 

-Só vídeos de internet. 

-Então aproveita porque, provavelmente, quando chegarmos ao hotel eu já terei perdido minha carteira e não poderei fazer de novo. -Sorri e pisei fundo. 

[...]

-Não sabia que fazia drifiting. -Ele disse enquanto entrávamos no hall do hotel que estava sempre cheio por sinal, alguns vampiros, amigos de tia Milena, se puseram a postos ao sentir o cheiro de lobo. -Não sabia que tinham vampiros aqui. 

-Relaxa, todos amigos da minha tia. -Pra que os vampiros parassem de olhar, entrelacei meus dedos aos de Seth e os dentuços pararam de olhar. -Eu sempre admirei o drifiting mas quando fui a Long Beach, a cidade sem lei, peguei gosto pela coisa e ganhei meu Mazda numa corrida. -Disse sorrindo. 

-Uau. -Ele sorriu. 

-Tris. -Ouvi a voz de tia Milena vindo até mim, como sempre muito bem vestida com um vestido preto de luxo e suas jóias. -Não sabia que traria um lobo contigo. 

-É meu amigo, não se importa não é? -Eu disse lhe abraçando. 

-Claro que não. -Ela desfez o abraço e estendeu a mão a Seth que logo a pegou, meio tímido. -Qualquer amigo seu é bem-vindo e sabe disso. 

-Obrigado, meu quarto ainda está vazio? -Perguntei. 

-Claro, é o seu quarto. -Ela sorriu e me entregou as chaves. -Tenha uma boa noite. -Ela disse maliciosa enquanto eu e Seth dávamos as costas pra ela. 

-Vai pro inferno. -Respondi rindo.

-Então sua tia é rica e dona de um hotel de luxo? -Ele disse. 

-Acredite, é melhor do que os dois séculos passados, quando ela era dona de um bordel. -Eu ri. -Não se importa em dividir o quarto comigo, certo? 

-Prefiro assim. -Talvez ele tivesse dito na intenção que eu não ouvisse mas eu ouvi e aquilo fez meu corpo ferver. O elevador parou no penúltimo andar e entramos no quarto. 

Não demorou muito para tudo estar ajeitado e Seth já estava à beira da cama. 

-Tá com fome? -Perguntei e ele apenas negou com a cabeça. -Pode ir dormir só não pegue a cama toda. -Eu sorri e fui pra sacada mas não demorou muito pra ele vir também e admirar a vista. 

-É lindo. -Ele comentou. 

-Precisa vez os campos daqui, são verdes na concepção da palavra. -Eu disse e me virei de costas à vista pra poder olhá-lo. 

Seth desencostou e veio pra minha frente segurando minha cintura com ambas as mãos. 

Por mais fria que minha pele fosse, naquele momento ela ferveu. 

-Tá quente. -Ele disse.

-Impressão sua. -Retruquei sabendo que era mentira. 

Seu rosto se aproximou e então seus lábios tocaram os meus. 

Seth Clearwater 

Eu a beijei e foi a sensação mais incrível do mundo, podia sentir seu corpo esquentar com meu toque e logo suas mãos vieram pra minha nuca, ela estava na ponta dos pés e puxava alguns fios dos meus cabelos com as mãos inquietas na minha nuca. 

Eu não sabia ao certo o quanto o beijo havia durado mas o mundo parecia ter parado e o gosto dela... 

Ela era incrível. 

Ela sorriu e soltou as mãos da minha nuca. 

-Vai pro banho, precisamos dormir. -Ela disse risonha empurrando meu peito e eu sorri em retribuição indo pro banho. 

Naquela noite, mais tarde, ela dormia feito um anjo em meus braços e isso era o que eu precisava pro resto da minha vida.