História Colega de Quarto - Let It Be (Final)

~CAMILA CABELLO~

   __Então, você vai desistir de tudo por causa de uma manchete ridícula num tabloide de quinta? – Tori Kelly, minha agente esbravejou em minha direção.

   Com medo, Sofia se encolheu em seus próprios braços, no sofá, agarrando os joelhos. Eu mal tinha pedido que Tori me reservasse um vôo pra LA e ela estava batendo na minha porta como uma louca.

   Jurei que àquela altura, ela fosse me estapear.

   __Ai, Camila, pelo amor de Deus, eu achei que você fosse mais adulta! – ela disse de novo, o tom de voz alto, impaciente, quase agressivo. – E todo o trabalho que você teve durante esses dois anos? E todas as coisas que conquistou? E o dinheiro? E os fãs apaixonados? O que o LA vai pensar disso? E o Simon?

   __CHEGA! – eu gritei e Tori se calou no mesmo instante, parecendo tomar um susto com o fato de eu me exaltar daquele jeito. – Já chega! Eu sei de todas as coisas que estou abrindo mão, Tori! E acredite, a única coisa de tudo isso que você falou que realmente importa são os meus fãs! Eu não ligo pro que eu conquistei, eu não ligo pras gravadoras, eu não ligo pro dinheiro, eu não ligo pra nada! E eu não quero voltar pra California por causa de uma manchete ridícula num tablóide de quinta, eu quero voltar porque dói pra caralho saber que podia ser eu causando aquele sorriso, mas não é, porque eu simplesmente não posso ir!

   Um soluço irrompeu da minha garganta e eu desabei no sofá, finalmente chorando todas as lágrimas que tinha de chorar, todas as lágrimas que eu viera guardando por todo aquele ano. As mesmas lágrimas que Lauren chorara junto com a mãe naquela noite em Miami. Eu tinha visto tudo. Eu tinha visto ela chorar na porta do quarto e depois sair e passar a madrugada chorando na sala. Eu tinha visto a dor. Eu tinha presenciado todas as suas palavras, seus olhares perdidos. Ela me amava tanto que doía. Doía me ver partir, mas ela estava deixando por pensar em mim, pensar na minha carreira, pensar no que eu queria. Em todo esse tempo, tudo o que fiz foi pensar em mim e esperar que ela compreendesse. O primeiro ano, dedicado a conquistar o poder de ficar com Sofia, eu tinha usado em meu benefício, tanto para isso quanto para moldar minha carreira. E agora, quando eu finalmente tinha tudo o que precisava para ficar com ela, tudo o que fiz foi ficar longe, por um ano, adiando e adiando, esperando que no fim de tudo, Lauren estivesse lá para mim, do jeito que eu nunca, nunca estive para ela. Porque eu vi todas as lágrimas, eu vi os nós sufocados em sua garganta quando ela me olhava, eu via os olhares tristes, os sorrisos amarelos e forçados, a incerteza em seus olhos, eu via tudo. Eu via tudo e não fui capaz de ficar. Em meu benefício, eu sacrifiquei mais um ano que poderia ter tido com ela.

   Que espécie de idiota eu era por achar que ela tinha alguma obrigação de me esperar? Eu a queria perto, ela me queria mais ainda, eu podia ir, então por que diabos ainda estava aqui, vivendo sufocada com todos esses holofotes, quando tudo o que eu queria era estar ao alcance de seus olhos, de seus lábios?

   __Camila... – ouvi a voz de Tori me chamar e senti uma de suas mãos tocar meu ombro ternamente. – Eu já agenciei muitos artistas com a agenda entupida de compromissos e sei que tem horas que bate a loucura mesmo por estar distante das pessoas que amamos, mas olha...a Lauren te ama, ela vai te esperar...

   __E quantos anos mais eu vou ter que ficar longe dela? – eu disse, enxugando as lágrimas do rosto e encarando a expressão preocupada de Tori em minha direção. – Tori, eu não tenho nada na minha vida que não seja minha irmã e essa mulher...eu perdi os meus pais por ser quem eu sou, meus amigos agora têm suas vidas e seus compromissos e eu não tenho nada que não seja ela...eu me sinto tão...estúpida por permanecer aqui, sabendo que ela daria o mundo todo pra estar do meu lado...meu Deus, ela desistiria de tudo pra ficar comigo e por que diabos eu não posso dar um maldito passo pra ficar com o amor da minha vida?

   Levei as mãos ao rosto e caí em prantos de novo, desesperada, o teor de minhas palavras e tudo o que eu estava pensando de mim mesma caindo com tudo na minha cabeça. Me senti uma canalha egoísta.

   __Você tem certeza disso, não tem? – Tori me perguntou e eu a olhei no mesmo instante.

   Mesmo com suas duras e rudes palavras do início, eu sabia que ela só queria o melhor pra mim. Sem uma resposta, ela puxou o celular do bolso e respirou fundo, discando algum número, o levando ao ouvido.

“Alô? Christy, eu preciso que você marque algumas coletivas de impressa, Camila vai dar uma pausa de dois anos na carreira!”

   Sem delongas, ela desligou o celular e se pôs de pé, me encarando séria.

   __São dois anos pra você terminar a sua faculdade e a Lauren se estabilizar em alguma coisa pra ficarem juntas...se vira e usa o seu tempo da melhor forma possível, eu vou estar aqui esperando a sua volta e pode deixar que eu cuido do Simon e do LA, vou até pedir um número novo pra você, senão eles vão encher o seu saco...

   A abracei antes que ela terminasse de falar e me permiti chorar mais um pouco em seu ombro, enquanto ela afagava meu cabelo.

   __Ai, chega, chega disso! – ela disse e me largou, me fazendo rir no meio das lágrimas. – Vai arrumar as coisas de vocês, eu vou ligar pro aeroporto!

   Ela caminhou na direção da porta e eu respirei fundo, a olhando.

   __Tori... – chamei uma última vez e ela se voltou para mim. – Muito obrigada por isso!

   Ela assentiu polidamente e abriu a porta do quarto, saindo. Hora de voltar finalmente para casa.

~LAUREN JAUREGUI~                                      

   __Você realmente devia ficar pro baile dos ex alunos... – eu disse e Victoria sorriu, abraçando minha cintura.

   __Eu vou sentir saudades, Miami!

   Sorri e beijei ternamente sua testa. Tinha sido uma boa semana tendo ela como companhia. Me distraí da loucura com as provas de fim de semestre, do cansaço no Owen’s e até da falta de Camila.

   Ao longe, os atletas da Columbia entravam em seu ônibus e ela suspirou, me largando, sabendo que precisava ir.

   __Te vejo por aí, Columbia...

   Ela sorriu e se aproximou, tocando seus lábios nos meus, me pegando completamente de surpresa e, sem dizer mais nada, caminhou na direção de seu ônibus, me deixando sozinha com todas as minhas interrogações.

   __Mas é uma vadia mesmo!

   Quase não acreditei ao ouvir aquela voz bem atrás de mim. Virei para trás, de olhos arregalados e a primeira coisa que notei foram os longos e loiros cabelos cacheados de Dinah, enquanto ela dava sua risadinha escandalosa e se atirava em meus braços, me abraçando apertado.

   __Eu senti saudades, vadia! – ela falou ao pé do meu ouvido, me fazendo rir.

   __Por que você não me falou que viria, Dinah? Achei que só vinha à noite pro baile!

   __Eu tava de passagem, sabe... – ela disse e nós rimos, nos largando e sentando nas escadarias do dormitório.

   A ouvi suspirar, olhando para o nada.

   __Eu sinto saudades disso aqui... – ela confessou e sorriu devagar, nostálgica.

   __E como anda o emprego na polícia? – perguntei e ela sorriu, orgulhosa.

   Tinha entrado no 12º Departamento de Polícia de Los Angeles para trabalhar lado a lado com o delegado, que era um velho amigo de seu pai e parecia muito satisfeita com o que estava fazendo agora.

   __Vou estar feliz quando sair em algumas daquelas missões especiais com eles... – ela disse e rimos juntas.

   __Tem notícias dos outros? Eu quase não falo com nenhum deles, também tenho estado meio ocupada...

   __Eu soube mesmo que uma certa senhorita virou bargirl...

   Gargalhei.

   __Não é nada grandioso quanto trabalhar na polícia ou ser uma cantora famosa, mas né...

   O sorriso divertido no rosto de Dinah deu lugar a um contido, cheio de perguntas, confuso. Mas então, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando, querendo evitar a todo custo aquele assunto, ela sorriu e disse:

   __A Mani ganhou um estágio na Itália pra trabalhar com Allegra Versace... – ela disse e eu franzi o cenho, de queixo caído.

   __Versace? Tipo a...Donatella Versace?

   __Allegra é filha dela! – ela disse e riu. – Ela ta muito feliz, Lauren, você não tem noção!

   __Eu imagino! Mas...e vocês?

   __Então... – Dinah disse e novamente voltou a parecer contida. – Vão ser seis meses de estágio e eu to guardando dinheiro pra ir com ela...

   Ela baixou a cabeça, como se estivesse envergonhada. Mas não era por isso. Aquilo não era digno de vergonha. Ela estava envergonhada porque Camila e eu estávamos longe há um ano e ela e Normani iriam juntas pra Itália porque não suportavam ficar separadas.

   Engoli em seco, tentando dissipar os nós na minha garganta e pigarreei.

   __E a baixinha?

   __Ah, a Ally ta trabalhando com o pai, a empresa dele ta crescendo, acho que ainda vamos ouvir muito o sobrenome Brooke por aí...

   Sorri, orgulhosa.

   __Eu falei com o Nick semana passada... – eu disse e Dinah assentiu, me olhando. – Ele finalmente falou pro pai que não quer jogar basquete e resolver investir no contrato que ele nunca assinou com LA Reid dois anos atrás...

   Dinah riu, incrédula.

   __Então, ainda vamos ouvir o nome do Jonas por aí também?

   __Daqui a pouco vamos ver ele tocando na MTV!

   Dinah riu e se pôs de pé, me estendendo a mão, para que eu levantasse também.

   __Vem, Jauregui, quero te mostrar o meu vestido, quero estar impecável pra minha morena gostosa!

...

   Abracei Nick por quase 5 minutos sem soltá-lo, enquanto Ally e Normani riam atrás de mim, esperando suas vezes. As abracei forte e apertado também, enquanto ouvia Ally dizer que não ia desgrudar de mim, porque o grandão não pode vir e ela não tinha acompanhante.

   Foi bonito de ver o reencontro entre Normani e Dinah. Embora elas se vissem uma vez todo mês e não estivessem tão longe quanto Camila e eu, quando se ama quer se estar colado 24 horas por dia.

   __Vai ser uma noite pra afogar as mágoas... – Nick disse ao meu lado e quando o olhei todo sério, foi impossível não rir, arrancando uma gargalhada de Ally também. – Vamos entrar, família?

   À nossa frente, a entrada do ginásio do basquete toda decorada com balões vermelhos e brancos e uma placa enorme onde se lia:

25º BAILE ANUAL DOS EX ALUNOS

   __Na verdade, eu to esperando alguém... – eu disse e sorri sem graça.

   Dinah deu uma risadinha. Ela sabia quem eu estava esperando e Nick me olhou de olhos estreitos, cheio de pretensão. E então ela apareceu na frente do gramado do ginásio. Alycia. Vestia um vestido azul escuro e estava tão tão linda que foi impossível não sorrir ao vê-la.

   __Vai lá, Miami! – Nick disse e eu sorri, caminhando até onde Alycia estava.

   __Aposto que seus amigos te zoaram por isso... – ela disse e eu ri, observando todos entrarem no ginásio.

   __Você está linda! – eu disse e ela sorriu sem graça, se aproximando mais e dando um soquinho de leve no meu braço.

   __Umas danças e uns drinques, certo? – ela perguntou, séria.

   __Com toda certeza, senhorita!

   Sorrindo, estendi o braço até ela, que entrelaçou o seu no meu e então entramos.

~CAMILA CABELLO~

   Depois de uma semana inteira arrumando tudo o que precisava, indo em coletivas de impressa – que eu exigi só terem suas notas publicadas no fim daquela semana – , finalmente eu estava parada na frente do ginásio do basquete.

   __Senhorita? – o taxista chamou. – A senhorita não vai descer?

   Só então notei que já estava há tempo demais dentro do táxi parado. Respirei fundo, paguei a corrida e abri a porta, saindo.

   Eu podia sentir os olhares espantados e as expressões boquiabertas de todos que estavam na entrada do ginásio, mas não liguei. De cabeça erguida subi as escadas e entrei no ginásio, me embrenhando na multidão de pessoas, a música alta zumbindo em meus ouvidos.

   O globo de espelhos enorme girava sem parar no meio do enorme salão, que ocupava a quadra de basquete inteira, onde dezenas, talvez milhares de alunos estivessem, se dividindo entre dançar, beber ou agarrar alguém. Andei, ainda meio desnorteada por entre a multidão, ouvindo várias pessoas me cumprimentarem, dizendo que sentiam saudades ou mesmo falando que eu estava ótima e que adoravam minhas músicas. Algumas garotas se achegaram a mim, muitas das quais dispensei ainda estando na universidade e outras tantas que eu sequer conhecia, achando que pudessem conseguir algo. Mas não. Eu só queria encontrar Lauren e finalmente cair em seus braços.

   Me interrompi, já perto do centro da quadra, à uns 2 metros de debaixo do globo de espelhos e então a vi. Estava rodeada por nossos amigos e ria sem parar. Nick fazia uma dança engraçada, enquanto Dinah se ajoelhava e segurava a mão de Normani quase num pedido de casamento, enquanto Ally levava as mãos ao rosto, derretida e ela ria. Ria tanto que era possível se contagiar com sua risada, mesmo com todo o barulho da música. Ria como se finalmente estivesse...feliz. Do jeito que eu não a vira quando esteve comigo em Miami.

   Mas não era só isso. Ao lado, Alycia Debnam Carey também estava às gargalhadas, vez ou outra se achegando e falando algo no ouvido dela.

   Foi como se todo o mundo parasse...

   Exatamente como tinha acontecido quando eu vira as duas se beijando, mais de dois anos atrás na festa no dormitório de Normani.

   __Meu Deus! – Dinah gritou escandalosamente e então todos pareceram me notar ali.

   O tempo pareceu parar, enquanto eles me encaravam, completamente incrédulos, como se o fato de eu estar ali fosse a coisa mais absurda e surreal que poderiam ver em suas vidas. E o olhar dela...o olhar me pegou de cheio. Eu podia ver seu peito subindo e descendo, como se ela estivesse respirando pesado. Seus olhos não se moviam e nem saíam um instante sequer do meu rosto. A risada e os sorrisos pareceram sumir no exato momento em que me viu.

   O que estávamos fazendo agora? Então era aquilo? Ela finalmente tinha aprendido a ser feliz sem mim?

   Engoli em seco e dei meia volta, andando apressada pelo meio da multidão, na direção da saída do ginásio, os olhos já encharcados, as lágrimas teimosas insistindo em cair e rolar por sobre meu rosto.

   Corri, saindo do ginásio às pressas, tombando em algumas pessoas e me embrenhando no meio do gramado que me levaria ao dormitório, só conseguindo parar já nas escadarias, onde sentei, em desespero, me permitindo soluçar e chorar alto, sem nenhuma platéia, sem ninguém que pudesse ver meu momento de fraqueza.

   Lauren tinha aprendido a ser feliz sem mim.

   __Burra! – praguejei a mim mesma, no auge de meu desespero. – Burra! Burra! Idiota! Achou mesmo que ela fosse te esperar pra sempre? Como você pôde ser tão idiota, Karla? Pelo amor de Deus!

   Caí em prantos de novo, levantando a cabeça por um segundo e me interrompendo imediatamente ao vê-la parada bem diante de mim, três degraus abaixo de onde eu estava, estatuada na frente das escadarias, me olhando com a mesma expressão chocada da pista de dança, segundos atrás.

   Ela me encarou daquele jeito por tanto tempo que fui obrigada a dizer:

   __Você não vai dizer nada? Eu cruzei metade do mundo pra estar aqui e você não vai dizer nada?

   Fora inútil. Ela permaneceu exatamente do mesmo jeito. Me pus de pé, enxugando as lágrimas incrédula e num segundo, num piscar de olhos, ela subiu os degraus que a separavam de mim e grudou nossas bocas. De início, fora apenas um demorado encostar de lábios e eu pude ouvir seu soluço e um choro desenfreado vindo dela, mas sem desgrudar os lábios dos meus. Ela enfiou a língua em minha boca de forma desesperada, quase me sufocando.

   Eu não soube como reagir, então a afastei um segundo, finalmente podendo olhar em seus olhos verdes, que agora estavam vermelhos por causa das desenfreadas lágrimas.

   __Lauren...

   Ela colou seus lábios nos meus de novo.

   __Não... – ela disse, enfiando as mãos em meus cabelos e beijando meu rosto inteiro desenfreadamente. – Eu preciso te ver, eu preciso te tocar, meu Deus...

   Seu choro alto me deixou atônita, enquanto ela me tocava inteira. No rosto, nos cabelos, nos braços, tudo.

   __Você ta aqui! – ela disse, completamente incrédula, soluçando no meio do choro e me abraçando tão forte, tão forte. – Você ta aqui, meu Deus do céu, eu esperei tanto por isso, eu esperei tanto pelo dia em que você finalmente voltasse pros meus braços...meu Deus, Camila...eu te amo tanto!

   Suas palavras me acertaram em cheio e então eu me permiti abraçá-la também, senti-la. Sentir seu cheiro, seus toques, seu calor, sua voz, seu hálito e até mesmo suas lágrimas. Deus, foram dias tortuosos vivendo longe dela.

   __Me desculpa ter te deixado por tanto tempo, meu amor... – eu finalmente falei, o rosto já molhado pelas lágrimas.

   __Shh! – ela disse, afagando meus cabelos, segurando meu rosto com as duas mãos e me olhando bem dentro dos olhos. – Você está aqui agora e mesmo que seja por tão pouco, você está aqui e é isso que importa!

   Ela me beijou. Nosso beijo se misturando com nossas lágrimas. Euforia, alegria, saudade, tantas coisas juntas. Naquele momento, éramos um combo de emoções descontroladas.

   __Lo... – chamei baixinho entre nosso beijo, rindo e a fazendo rir também. – Lo, eu preciso te contar uma coisa...

   __Conta depois... – ela disse e eu ri. – Conta no aeroporto, quando estiver indo embora, eu só quero te curtir...

   Ri, a beijando, embrenhando minhas mãos em seus cabelos escuros, sentindo o gosto que por tantas vezes eu quis, eu sonhei. O gosto dela. O gosto dela na minha boca.

   __Eu vou ficar! – eu disse e ela me largou no mesmo instante, os olhos verdes arregalados em minha direção, incrédulos, atônitos, completamente estarrecidos.

   Sem conseguir me conter, sorri. O sorriso mais longo que eu devia ter dado em todo esse tempo. Eu finalmente poderia ficar com ela. E dessa vez, não havia absolutamente nada que pudesse impedir. Nem meus pais, nem outras mulheres, nem reputações, nem carreira. Nada. Absolutamente nada. Éramos uma da outra. E nada e nem ninguém poderia mudar isso.

   __Camila, você... – ela hesitou, ainda realmente estupefata pelo que eu tinha falado. – Você ta falando sério mesmo? Mas...como? Você...a gravadora...os shows e...

   __É oficial... – eu disse devagar, ainda sorrindo, rodeando seu pescoço com meus braços e me achegando mais nela, que ainda estava completamente sem reações. – As notícias sairão em todas as plataformas oficiais no fim dessa semana...uma pausa....uma pausa de dois anos pra eu voltar pra faculdade e fazer o que quero fazer...nós temos dois anos, meu amor...e nós vamos arrumar nossas vidas nesse meio tempo e finalmente ficaremos juntas...

   Ela me olhava de olhos arregalados e em segundos, pude notá-los marejados. Ela estava chorando. Mas agora era tudo diferente. Não era mais como quando estivemos em Miami e eu a vira chorando desesperada no colo da mãe. Agora eu sabia que ela estava chorando de alegria. Chorando por eu finalmente estar ali.

   Sorri, ao ver as lágrimas escorrendo por sua bochecha e caindo próximas ao sorriso que agora estava em seus lábios.

   __Eu... – a impedi de falar, levando dois dedos a seus lábios.

   __Você não precisa me dizer nada...eu quero ficar com você e nós vamos ajeitar isso da melhor maneira que pudermos!

   Ela me beijou.

   Não precisávamos dizer nada. Não precisávamos pensar em nada. Não aqui. Não agora. Por mais quebradas que estivéssemos e por mais mágoa e sofrimento que tivesse tido nesses dois anos em que ficamos longe, o primeiro passo para que finalmente desse tudo certo já tinha sido tomado. E não tinha sido por mim ao vir. Quem era eu no meio daquele sentimento tão grandioso? Eu não era nada. Eu não tinha feito nada. Ficar finalmente do lado da pessoa que eu amava não devia ser um esforço. E não era. Fora a decisão mais sábia e cheia de amor que eu já tomara em toda a minha vida. Até porque uma carreira, benefícios financeiros, parcerias, tudo isso que eu vinha plantando e colhendo, cultivando grandemente nos últimos tempos não significavam nada se eu realmente não fosse feliz.

   Enquanto ela me beijava, naquele momento, ali sozinha com ela, notando que não sentia falta de absolutamente nada e nem ninguém, eu percebi o quanto tudo era pequeno perto da grandiosidade daquele sentimento. Eu amava Lauren Jauregui e o resto...o resto poderia ficar no passado, agora éramos só nós.

~LAUREN JAUREGUI~

   Acordei na manhã seguinte com o barulho alto de uma TV, onde pessoas quase gritavam em desespero e porque alguém pulava em cima da cama compulsivamente, fazendo meu corpo inerte e cansado pular involuntariamente.

   __OLHA, OLHA, É A KAKI NA TV, É A KAKI NA TV!

   Abri os olhos devagar, reconhecendo a voz de Sofia e sentei na cama, esfregando os olhos, tentando acordar melhor.

   __Bom dia pra você também, baixinha... – resmunguei e ela riu, sentando ao meu lado.

   Olhei para a TV. Uma bancada de pessoas falava ao mesmo tempo, me deixando completamente confusa.

“Então, é mesmo oficial, Keith? Camila Cabello realmente deu uma pausa na carreira?”

   Dei uma risadinha sem graça e Sofia deitou a cabeça no meu colo, olhando a para a tv. Um dos outros homens que estava na bancada assentiu freneticamente, reunindo seus papeis em cima da mesa.

“É oficial, Michael, a agente dela, Tori Kelly lançou uma nota em várias plataformas avisando que Camila deixaria os palcos por dois anos para retornar à faculdade aqui na América!”

“Temos fotos, não é? Camila foi vista noite passada na California University e pasmem...talvez o grande motivo da volta tenha sido seu não mais affair, mas amor...um amor do passado, de nome Lauren Jauregui, que nós já conhecemos muito bem!”

   Observei eles passarem fotos de Camila na entrada do ginásio ontem e fotos de nós duas nos beijando. Como diabos aquelas pessoas conseguiram isso tão rápido?

   A TV desligou e eu ouvi uma risada ao lado. Camila estava parada na porta do banheiro, apenas uma toalha branca lhe cobrindo o corpo, os cabelos molhados jogados em um dos ombros e um sorriso bailando entre seus lábios.

   Foi impossível não sorrir como idiota. Ela era linda demais.

   __Eles vão falar muitas coisas, essa são as boas suposições, melhor não verem as ruins... – ela disse e riu, jogando o controle remoto em cima do criado mudo e se aproximando de mim, beijando meus lábios. – Viu como são fotos amadoras? Alguns alunos idiotas que devem ter enviado...

   Ri. Pela primeira vez desde que eu comecei a aparecer naquelas notícias por causa de Camila, as fofocas não estavam me incomodando. Pelo contrário, eu até estava com vontade de sorrir. Era como se...como se eu soubesse que o dia lá fora estava claro e azul e nada mais importava. Eu estava feliz.

   __Toma um banho rapidinho, nós vamos encontrar o pessoal... – ela disse e se afastou de mim, se aproximando de Sofia, do outro lado da cama. – E você, mocinha, vamos ajeitar esse cabelo bagunçado, hein!

   __FOI A LAUREN, KAKI! – ela me denunciou e eu dei uma risada, vendo Camila sorrir e piscar em minha direção.

   Seus lábios formaram um perfeito “eu te amo”, sem voz, mas alto o bastante dentro de mim. Quase gritando, sufocando meu peito com tanta tanta felicidade que eu jurei que poderia explodir.

...

   Uma hora depois estávamos chegando ao Echo Park, no centro de Los Angeles, que ficava próximo ao estádio dos Dodgers, um dos lugares mais conhecidos de toda a cidade.

   Foi impossível não sorrir ao ver todos os nossos amigos sentados num dos lugares do parque, todos na grama, com várias cestas de piquenique e garrafas com vinhos e outras bebidas, sorrindo tão largo que me senti completamente em casa com todos eles. Nick, Dinah, Mani, Ally, Lucy, Vero e até mesmo Alycia estavam ali.

   __Agora que você voltou oficialmente... – Dinah comentou, olhando na direção de Camila e eu ri, sabendo que dali viria uma pérola, como sempre vinha dela. – Quem vai te infernizar nas aulas, Cabello?

   __Ah, Hansen, eu também vou sentir sua falta! – Camila disse, nos fazendo rir, se voltando na direção de Nick. – E então, Jersey boy, estamos esperando você contar, né...

   Nick riu levemente e então suspirou, todos ansiosos o encarando.

   __Eu acertei o contrato que com a gravadora do LA Reid... – ele disse e todos vibraram, batendo palmas, gritando e sorrindo. – Mas...eu também vou jogar basquete...

   __Você é o que? O Troy Bolton? – Vero gritou e eu ri, engasgando com o vinho, fazendo a pequena Sofia bater desesperada nas minhas costas, me fazendo rir mais ainda.

   Enquanto todos riam, conversando sobre coisas completamente aleatórias e assuntos variados, uma estranha e confortável sensação de lar se instalou em meu peito. Não importava muito que cada um tomasse seu rumo agora, porque nós sabíamos bem dentro de nós para onde voltaríamos quando a saudade apertasse demais. Éramos como uma família agora. Uma grande família feliz.

   Observei Camila rindo de alguma loucura de Dinah e agradeci por tanta coisa ter mudado desde que eu viera morar na Califórnia. Foram tempos de perda, mas de muitos ganhos. Eu tinha conseguido ótimos amigos irmãos e o grande amor da minha vida. Não estava tudo resolvido, era claro, mas dependia de nós que as coisas daqui pra frente dessem certo. Para o mal ou para o bem, estávamos juntas como tínhamos querido desde o começo e era isso o que realmente importava.

   Alycia estendeu o violão na direção de Nick e nas letras de Let It Be, observei Camila me sussurrar um “eu te amo”. Era o nosso começo e que viesse tudo o que tínhamos para viver. Juntas enfrentaríamos o mundo.

And when the night is cloudy

There is still a light that shines on me

Shine on until tomorrow

Let it be

Quando a noite está nublada

Ainda há uma luz que brilha sobre mim

Brilhando até de manhã

Deixe estar

                                                                                                      FIM...