História Collide - Reality

“Love is not supposed to be painful or devastating. Love isn't supposed to hurt, Liv.”

“O amor não é para ser doloroso ou devastador. O amor não deve machucar, Liv.”

— Edison Davis(Scandal)

Jennifer Morrison

20:54

Eu estava sonhando, tudo parecia se mover em câmera lenta como em um sonho, as cores eram tão vivas e o ar tão puro que respirar gerava plena felicidade. Meus desejos mais escondidos e reprimidos se libertavam de suas correntes e se realizavam naquele momento, tudo parecia se encaixar perfeitamente que nem conseguia acreditar, aquele momento não era da maneira que tinha planejado e talvez por isso conseguisse ser infinitas vezes melhor. Eu estava sonhando um de meus mais belos sonhos, daqueles em que quando acordamos há um xingamento sob nós mesmos, daqueles em que você deita na cama todas as noites esperando acontecer e que geralmente não acontecem, daqueles em que você se encontra na melhor fantasia possível e que a realidade não pode chegar a seus pés. Eu estava sonhando e não desejava acordar.

— Sobre isso Jen, tenho que te contar uma coisa. — andamos até a porta e paramos logo que fechei a porta atrás de nós, os olhos azuis me encaravam com um ar de tristeza que fazia meu peito apertar-se assim como apertei sua mão entrelaçada a minha.

— O que? — pingos frios e dispersos começavam a cair sob nós, uma chuva fina e gélida que molhava meus cabelos loiros, um arrepio percorreu minha espinha — Há uns dois dias nós fizemos uma aposta lembra? — balancei a cabeça positivamente — Apostamos quem faria a melhor pegadinha certo? — repeti o gesto anterior — Não estou indo embora Jen, foi uma brincadeira.

Eu estava sonhando e não desejava acordar mas como uma gélida e fina chuva se transforma em um temporal, como uma conversa confortável se torna um silêncio ensurdecedor, meu sonho se transformava no pesadelo em somente uma fração tão longa e dolorosa de segundo. Estava sonhando e então o barulho estridente de meu coração sendo quebrado acordou-me, despertando todos os monstros embaixo de minha cama e me trazendo rápido demais para a dura realidade.

A chuva estava caía violentamente sob nossos corpos, o barulho de seus pingos grossos se chocando contra o chão era o único som que conseguia processar, a voz de Colin passeava pelo ar e tinha certeza de que ele falava alguma coisa porém não conseguia compreender.

Sentia tudo dentro de mim contorcendo-se, despedaçando-se e formando lágrimas em meus olhos que derramavam-se junto com os pingos de chuva. Soltei nossas mãos finalmente olhando novamente nos lindos olhos azuis, percebia o medo que eles emitiam quando olhavam os meus, meu corpo estava encharcado e os pingos não pareciam parar de cair tão cedo pois alguns trovões ecoavam pelo céu, iluminando parte do rosto do moreno a minha frente. A fusão de sentimentos me impedia de formular qualquer frase, simplesmente continuava ali, congelada no instante em que meu mundo virou-se dentro de mim, esperando que a chuva continue a cair e o tempo continue a passar porque talvez ele leve essa sensação de dor excruciante.

— Você… — mais lágrimas se acumulavam em meus olhos, inundando-os e fazendo minha visão ficar embaçada — Isso era uma brincadeira Colin? — desviei meu olhar para qualquer lugar que não fossem seus olhos, apertei meus lábios de maneira forte.

— Jen, nunca pensei que fosse acontecer isso, era pra ser engraçado. Desculpa. — ele passou as mãos pelo cabelo e por seu rosto, mostrando seu nervosismo — Eu amo você Jennifer.

— ISSO TUDO FOI UMA BRINCADEIRA? — minha voz saía com a força em que minha cabeça latejava, não sentia mais o frio de estar totalmente molhada da chuva, meus olhos ainda esparramavam lágrimas — Tudo foi uma brincadeira com meus sentimentos Colin, aposto que estava brincando ao dizer isso. VOCÊ ESTAVA BRINCANDO COMIGO COLIN ARTHUR O'DONOGHUE! Você brincou comigo e agora vai voltar para casa com a sua esposa, não vai?

Nós dois estávamos alterados demais, emocionados demais para medir nossas palavras ou qualquer outro ato desde que aquela noite começou e a raiva voltava a incendiar-me por dentro.

— Não. Jen, não estou brincando com você. Cometi um erro ok? — disse isso com a voz doce, não conseguia aguentar mais seu olhar perdido no meu enquanto meu coração se partia novamente a cada segundo, caminhei para longe dele sendo seguida por ele que segurou meu braço certa força para que eu parasse de andar.

— Nunca pensei que isso tudo aconteceria Jennifer, não vou voltar para Helen porque eu amo você. EU AMO VOCÊ! É TÃO DÍFICIL ACEITAR ISSO?

— ENQUANTO VOCÊ USAR ESSA ALIANÇA NO DEDO E FIZER BRINCADEIRAS COM OS MEUS SENTIMENTOS SIM. ENQUANTO VOCÊ BRINCAR COM ALGO TÃO SÉRIO E ESPERAR TUDO AQUILO ACONTECER PRA ME CONTAR, SIM. — gritava sem me importar se alguém ouvia aquilo porém o barulho da chuva era alto demais e conseguia abafar o acalorar de minha voz, vi-o endurecer seu maxilar e bufar demonstrando sua raiva — VOCÊ GANHOU! PARABÉNS COLIN, GANHOU NOSSA APOSTA IDIOTA! PODE COMEMORAR O SUCESSO DA SUA BRINCADEIRA, COMEMORA COM A HELEN COMO VOCÊ FEZ JENNIFER MORRISON SER IDIOTA O SUFICIENTE E ACREDITAR QUE VOCÊ CORRESPONDIA AO QUE ELA SENTIA.

E então todo seu rosto se contorceu em uma careta dolorida, o vento frio batia contra meu rosto causando incomodo e escuridão tomava a noite, de longe podia perceber as luzes da sala das reuniões acessa onde estariam todos os nossos colegas. O corpo molhado de Colin envolveu-me em um abraço carinhoso, nossos corpos molhados passavam o mínimo de calor um para o outro e sentia-me tremer pedindo mais do calor dele para mim, fechei meus olhos por alguns segundos.

Quando acordamos de um sonho incrível demais para ser explicado tudo que queremos é fechar os olhos, fechar os olhos e esperar que magicamente tudo continue de onde parou, fechar os olhos e ter um sonho ainda melhor do que o anterior ou apenas fechar os olhos e dormir. Nunca estamos prontos para abrir os olhos depois de um sonho e encarar a única coisa que realmente temos, nunca estamos prontos para fechar os olhos e nos ver no maior pesadelo de todos, nunca estamos prontos para deixar aquele sonho então vivemos em constantes tentativas de amenizar o que nossos olhos enxergam ao serem abertos, a realidade.

Me afastei de seus braços ainda agarrando sua mão, meus olhos percorreram todo o set passando pelas luzes acessas ainda longe de nós e pelos trailers pouco atrás de mim, pararam nos olhos chateados de Colin e finalmente em nossas mãos, soltei-as.

— Eu estava lá o tempo todo. Não esperava isso de você Colin, você não podia ter brincado comigo dessa maneira e sabe disso. Estou cansada da brincadeira que tem feito comigo durante 3 anos.

Meus pés pisavam forte sob o concreto em direção a grande sala, o estacionamento era logo depois dela portanto tentei acalmar minha respiração antes de fazer alguma besteira. As risadas conseguiam se ouvir de fora do recinto, todos estavam comemorando aquele momento e meu coração apertou-se novamente lembrando que deveria estar ali. A chuva estava mais forte do que antes, minhas mãos alcançaram o bolso da calça na procura por minhas chaves, peguei o celular em minha mão e continuei procurando pelas chaves por pouco tempo antes de lembrar que elas estavam na minha bolsa, na sala de reuniões.

Respirei fundo caminhando de volta para o lugar agitado, olhei em volta procurando por Colin e entendi que ele havia entrado pois o resto do set estava vazio, passei a mão pelo cabelo sentindo ainda mais água cair sob ele e abri a porta do salão entrando com firmeza.

Todos os olhares se voltaram a figura encharcada que esboçava o mínimo sorriso e entrava tímida no local, toda a agitação sessou por aquele instante em que andei até minha bolsa para pegá-la, todos estavam quietos somente observando cada movimento meu. O tremor que percorria meu corpo poderia ser facilmente identificado, dei uma olhada pelo salão avistando muitos rostos conhecidos e entre eles Colin, ele tinha uma toalha branca em sua mão e seus olhos fixos em mim assim como a maioria dos outros. A maioria das pessoas na sala voltou a conversar, as risadas já eram ouvidas novamente mas sentia o pesar dos olhares ainda sobre mim.

A primeira pessoa a se aproximar foi Josh, seus olhos azuis demonstravam tamanha preocupação por me ver naquele estado, seu desconforto era visível ao tocar meu ombro ainda receoso.

— Jen? Vamos pegar uma toalha pra você.

— Já estou indo Josh. — falei seca abrindo a bolsa, procurei as chaves dentro dela e logo que as encontrei fechei-a de novo encaixando em meu ombro.

— Mas Jen… — levantei o rosto olhando-o, apertei meus lábios fortemente para espantar a ansiedade e disse com mágoa — Vocês sabiam.

Aquela conversa se estenderia a noite inteira se continuasse ali portanto virei-me em direção a porta e tratei de logo passar por ela porém alguém segurava meu braço, conhecia aquele perfume e o jeito como estava segurando meu braço, não precisei olhar para trás e ver seus lindos olhos azuis para descobrir que era Colin.

— Eles não tem culpa Jen. — continuei encarando a porta — Pegue uma toalha, está muito frio e você está toda molhada — ele estendeu o pano branco ao meu lado mas recusei soltando-me de seu braço e caminhando para fora daquele lugar.

…

22:13

Meu apartamento nunca pareceu tão vazio e solitário, soltei as chaves sob a mesa ao lado da porta olhando em volta, não demorou para que Ava adentrasse o cômodo correndo e me causando o mínimo sorriso. Decidi tomar um banho de banheira demorado para afastar todo aquele peso sob meus ombros, coloquei um roupão branco e uma toalha da mesma cor enrolada em meu cabelo. A cadelinha deitava-se sob minha cama me observando colocar um pijama quentinho, mandei-a um beijo enquanto secava meus cabelos em frente ao espelho. Podia ver a luz de meu celular, logo ao entrar em casa joguei-o sob a cama, ascendendo-se o tempo todo para avisar que havia uma nova notificação e resolvi ignorá-las.

A chaleira apitava me chamando para a cozinha, peguei minha caneca servindo um pouco de chá, respirei profundamente aproveitando o silêncio daquele apartamento que prontamente foi interrompido por uma batida na porta. Alguém subiu sem ser avisado? O porteiro nunca deixava ninguém subir sem ser avisado, levantei as sobrancelhas caminhando até a porta branca, antes de abrir um pensamento passeio por minha mente. Colin, o porteiro deixaria ele subir sem me consultar, o pensamento fez meu corpo todo se arrepiar e toda calmaria transformou-se rapidamente em tempestade.