História Collide - First Love

“Because sometimes even if you know how something’s gonna end that doesn’t mean you can’t enjoy the ride. ”

“Porque as vezes mesmo se você sabe como algo vai acabar, não significa que você não pode aproveitar a jornada. ”

— Ted Mosby(How I Met Your Mother)

Colin O'donoghue

Três dias depois

O passado é algo engraçado, não é? Ele é estático, congelado, paralisado e inerente a qualquer ação no presente pois ele já aconteceu. O passado já foi escrito por nossos próprios erros e acertos, está paralisado em todos os momentos que aconteceram e mesmo assim consegue conter as esperanças de um futuro pois estamos constantemente tentando revivê-lo.

Acordei ao sentir a claridade que adentrava o quarto pela pequena fresta da cortina, pisquei algumas vezes para me situar, passando a mão por meu rosto antes de virá-lo para o outro lado fitando a mulher de cabelos dourados que estava adormecida ao meu lado.

Havia se tornado um hábito deixar apenas uma pontinha da cortina aberta, o suficiente para acordar-me perto das cinco horas da manhã, uma hora antes do despertador demoníaco de Jennifer acordá-la, o que me dava tempo suficiente para apreciar como ela tinha uma beleza especial e uma expressão de relaxamento ao dormir que me deixava perplexo.

Passo quinze minutos observando seus traços delicados banhados pela pouca luz no ambiente ou como seu peito sobe e desce no ritmo lento de sua respiração, meus dedos não resistem e caminham até as bochechas sempre tão marcadas da mulher, agora levemente roseadas, afago sua pele macia causando seus olhos a tremelicarem um pouco.

Levanto tentando não fazer nenhum barulho que possa interferir no sono de Jen mas falho ao tropeçar em minha mala e derrubar o cabide de casacos que estava ao lado, grunhi envergonhado quando os olhos esmeralda encontraram os meus, Jennifer me fitava preocupada pela queda.

— Tá bem?

— To acostumado. — ela ri de minha afirmação sabendo que é verdade e tenho alguma habilidade sobrenatural de cair no chão, caminho até a cama e a dou um selinho carinhoso antes de juntar as coisas que derrubei.

— Como consegue não ter nenhum hematoma de queda? — arqueio uma sobrancelha ao olhar para a loira que ainda tem um sorrisinho em seu rosto, pego mais alguns casacos e percebo que enquanto juntava-os acabei derrubando algumas coisas que estavam sobre a mala onde tropecei, existe alguém mais desastrado do que eu? A resposta é não.

— Como consegue ser tão chata? — digo a última palavra fazendo uma careta, tiro a toalha branca de dentro da mala e me encaminho ao banheiro.

— Está nervoso? — ela entra no banheiro com sua escova de dentes na mão.

— Não. Estou bem tranquilo na verdade, Helen tem sido muito madura com isso tudo. — Jennifer assente com a cabeça já que não pode responder por estar escovando os dentes — Acho que hoje vai ser bem amigável.

Jogo o resto de minhas roupas no chão e ligo o chuveiro esperando alguns segundos para a água ficar na temperatura que quero e entro molhando-me inteiro. Jen larga a escova de dentes na pia, respirando profundamente e virando-se para mim.

— Ela vai aceitar a guarda compartilhada do Evan? — esfreguei o shampoo em meu cabelo tentando fazer bolhas e elas caíram em meus olhos então tenho que responder de olhos fechados:

— Estamos pensando no melhor do Evan, acho que ela vai perceber que o melhor pra ele é isso.

— Espero que sim. — ela sai do banheiro para me deixar terminar de tomar banho.

20 minutos depois

— Tem o dia cheio hoje? — abraço-a por trás, ainda estou apenas com uma toalha enrolada em minha cintura e aproveito disso para provocar Jen que somente sorri sacana.

— Eu sempre tenho. — diz colocando o carregador do celular junto com sua carteira dentro da bolsa, visto uma roupa social enquanto observo atento Jennifer se maquiar no espelho do quarto. — Você também vai ter, não acho que vá ser algo rápido essa reunião. Tem algum outro compromisso?

— Sim. Tenho outra reunião sobre a associação de Drogheda agora de manhã, depois a reunião com Helen e um evento beneficente no centro. Você?

— Agora vou me encontrar com a produção de SunDogs e vamos passar quase o dia todo nessa função de decidir e organizar as coisas — passou um batom em tom de vermelho que deixava seus lábios ainda mais carnudos — Combinei de almoçar com a Lana e depois tenho umas fotos no final da tarde. Ainda tenho uma reunião com minha agente para decidir o cronograma da viagem, vou chegar em casa tarde da noite. — realmente ela tinha muita coisa pra fazer, me olho no espelho constatando que estou bem para sair e caminho até a atriz que agora arrumava seu cabelo no espelho do banheiro — Quer dormir lá em casa hoje? — ela enrosca seus braços em meu pescoço beijando-me calmamente.

— Você estará cansada amor. E Allen disse que vai passar aqui depois do trabalho para ir no evento comigo, provavelmente vai acabar tarde também. — deposito um beijinho na ponta do seu nariz e sorrimos em conjunto.

— Ok, manda um beijo pra ele e me liga quando puder! Preciso ir.

— Pode deixar. — agarra sua bolsa e o celular, soprando um beijo e sussurrando: “Eu te amo” ao passar pela porta.

— Eu também te amo Jen.

14:00

— Sim. Parece uma laranja podre, quem gostaria de usar isso de decoração? — disse para meu advogado, me referindo a um enfeite posicionado no centro da grande mesa que fica na sala de reuniões, ambos olhamos novamente para o objeto horrendo e rimos do mal gosto alheio.

Meus olhos se desviaram-se para Helen que passava pelas portas de vidro ao lado de seu advogado, endireitei-me tentando parecer tranquilo, o homem ao meu lado tocou meu ombro de leve passando certa calma para mim. Trocamos sorrisos e cumprimentamos minha ainda esposa junto com seu advogado, sentamos na grande mesa com nossos representantes, Michael colocou vários papéis sobre a mesa e começou a explicar o contrato que tinha redigido.

Suas palavras complicadas eram ouvidas por mim mas não compreendidas já que o olhar tristonho de Helen roubava toda minha atenção, ela usava um terninho social cinza e um salto alto de bico fino preto, seu cabelo estava solto e naturalmente liso. Notei cada detalhe que havia em seu rosto, do batom em um tom de rosa claro que cobria sua boca até as pequenas olheiras, cobertas com maquiagem mas que conseguiria reconhecer de qualquer jeito, e então ela me olhou.

Helen foi meu primeiro amor, foi a primeira pessoa que beijei, a primeira pessoa que me despertou sentimentos tão complexos e fortes que não conseguia nem descrever. Helen foi tudo, e por muito tempo pensei que não seria nada sem ela, essa mulher me deu a coisa mais preciosa da minha vida e encheu-a de coisas maravilhosas. E naquele momento assinaria um papel que me separaria desta vida que tive com ela, um flashback de memórias passava por meus pensamentos, inundando-os de lembranças com ela e me levando de volta para o dia em que a conheci.

FLASHBACK

Eu era apenas um garoto solitário de quinze anos, um esquisitão apaixonado por teatro pois ao estar em um palco poderia ser qualquer pessoa, poderia fugir da realidade horrível que era viver na sombra de meu irmão. Horrível é uma palavra forte porém era assim que me sentia, afinal, ainda nem tinha noção do que a vida poderia me trazer.

Allen sempre foi o garoto popular da escola, cheio de amigos e garotas na sua volta enquanto Colin tinha um amigo, também nerd e deslocado, e as garotas fugiam de mim como se fosse um psicopata que iria matá-las lentamente. Ele tinha muitos amigos e estes andavam sempre até nossa casa com ele, fazendo festas pelas ruas e jogando futebol ao chegar em casa. Allen também tinha várias amigas e garotas que dariam praticamente qualquer coisa para ficar com ele mas Helen não era uma delas.

Eu andava para casa numa tarde nublada de segunda-feira, as ruas estreitas de minha cidade natal cheias de juventude, meu irmão e seus amigos pulavam e brincavam andando alguns metros a minha frente quando ela apareceu.

Tenho certeza que estava patético, uma mochila azul-marinho que parecia pesar uma tonelada já que a usava como desculpa para andar encolhido, óculos arredondados e fundo de garrafa que me deixavam parecendo Harry Potter e um cabelo bagunçado para fechar o visual esquisitão.

Helen estava do outro lado da rua e andava na mesma direção que eu, seus grandes olhos verdes fitavam os meus com curiosidade, o vestidinho floral até os joelhos e as sapatilhas pretas deixavam a com um ar juvenil e um sorriso simpático que derretia meu coração mesmo sendo a primeira, de muitas, vezes que a veria. Ainda nos olhávamos quando começou a chover, pingos gélidos tocando os cabelos dourados e lisos dela, o grupo de meu irmão já havia dobrado a esquina quando a chuva piorou e só consegui parar e observar a beleza inacreditável de Helen.

— Hey! — ela havia se abrigado embaixo do toldo de uma loja, atravessei a rua rapidamente chegando perto da garota de olhos esmeraldas que enxugava a barra molhada de seu vestido.

— Obrigada. — consegui pronunciar ao sacudir meu cabelo numa tentativa falha de secá-lo, que acabou molhando o rosto dela e me causou desespero porque era um esquisito que nunca falava com garotas, praticamente um Chandler Bing adolescente.

— Desculpa, me desculpa. Nossa! Eu sou muito estúpido, me desculpa? — pedia desculpas incansavelmente ao mesmo tempo em que passava meu polegar sutilmente em seu rosto tentando secar as gotas e causando uma risada em Helen, ela ria de uma maneira tão linda.

— Tudo bem. Tudo bem. — pegou minha mão fazendo-me parar com a tentativa exagerada de ajudar e estendeu sua mão para mim com seu melhor sorriso — Sou Helen.

— Colin. — apertei sua mão sem ter a menor ideia de que conhecia o amor da minha vida.

END OF FLASHBACK

Por um milésimo de segundo nossos olhos se encontraram, os oceanos encontraram as esmeraldas e um arrepio passou por todo meu corpo, estava perdido em meio ao brilho que seus olhos ainda tinham quando Helen olhou para seu advogado assentindo com a cabeça, ouvi o advogado dela finalmente pronunciar-se:

— Estamos de acordo com as condições do divórcio. — até Michael parecia surpreso com o consentimento e satisfeito com seu ótimo trabalho, levantou-se procurando o papel que precisávamos assinar.

— Precisam assinar aqui, aqui e aqui. — ele mostrou três pontos em cada papel e entregou uma caneta para cada um de nós, sentando-se ao meu lado e esperando que fizéssemos o mandado.

Ela olhou para a folha de papel engolindo em seco e respirou fundo, percebi que meu coração batia forte e que segurava minha respiração sem motivo algum. Helen levantou o olhar e encarou-me, segurava a caneta no primeiro x que deveríamos assinar e sentimentos diversos flutuavam entre nós.

— Você tem certeza? — a voz de Helen ecoou pela sala.

Mais do que apenas engraçado como podemos nos apegar tanto a algo que já passou ou como podemos depositar tantas esperanças em algo que já acabou, o passado é extremamente perigoso pois mesmo sendo imutável o passado tem uma maneira de rastejar para nosso presente, trazendo com ele lembranças que podem modificar o futuro.

Continua...