História Collide - Travel Plans

“The future is scary. But you can't just run back to the past because it's familiar.”

“O futuro é assustador. Mas você não pode simplesmente correr para o passado porque é familiar.” — Robin Scherbatsky(How I met Your mother)

Colin O'Donoghue

O tempo parece não ter passado e tudo parece igual, a mesma porta branca com duas marcas na lateral direita que marcam o lugar onde Evan bateu com a cabeça aos dois anos, o mesmo tapete escrito “Welcome” que possui uma chave reserva embaixo dele e a mesma sensação de estar em casa. Tudo parece exatamente igual e completamente diferente na mesma medida.

Bato na porta algumas vezes antes de Helen abrir e me dar espaço para entrar, cumprimentei-a e adentrei nossa antiga casa que cheirava a bolo de chocolate, sua especialidade. Ela aprendeu a receita com sua avó quando ainda éramos namorados e lembro de sua primeira tentativa de reproduzi-lo, resultando em um fracasso completo com gosto de manteiga e muitas risadas pela reação de sua avó ao prová-lo. Esse bolo de chocolate é um dos motivos para ter me apaixonado por ela, a maneira com que ela se dedicou para conseguir fazer algo que agradasse o paladar de todos nós era mágico e essa magia foi transferida para a receita que se tornou ainda mais deliciosa.

— Como está?

— Bem e você?

— Tudo bem também. Está tentando me seduzir com o famoso bolo de chocolate? — digo ainda receoso e espero sua reação, ela solta uma risadinha antes de sinalizar para a cozinha e caminhar até lá.

A cena ao adentrarmos a cozinha arranca uma risada minha que é repreendida com o olhar de Helen: Evan está parado ao lado do bolo de chocolate, um sorriso sacana em seus lábios cobertos de calda de chocolate, assim como suas mãos que tentam pegar o máximo de calda possível de cima do bolo para sua boca. Quando ele escuta a risada, vira-se devagar para nós com olhos arregalados e a boca aberta em um 'o' apavorado, não demora para ele perceber que está encrencado e fazer sua carinha de cachorrinho pidão.

— Evan!!! — Helen pronuncia em seu tom de voz mais bravo — Papaaaai!!!! — e Evan tenta contornar a situação fingindo não ouvir e correndo em minha direção.

Ele pula no meu colo e abraça meu pescoço, sujando toda gola da minha camisa. — Evan! Olha o que você fez na minha camisa filho. — beijo o topo da sua cabeça e o coloco no chão, analisando o estrago achocolatado no tecido, Helen busca um pano para tentar limpar — Olha o que você fez na camisa do seu pai Evan! Vai lavar suas mãos, agora. — seu olhar de desvia da mancha para encarar Evan, que saí de cabeça baixa em direção ao banheiro e permite que Helen volte a focar em esfregar o pano na mancha. O silêncio paira entre nós, a proximidade de seu rosto me faz prender a respiração, os olhos verdes desviam-se de meu pescoço para meu rosto, parando de limpar a camisa.

— Tira.

— O que?

— A sua camisa Colin, tira. — quando percebo que ela está falando sério solto uma gargalhada, consigo me recompor alguns segundos depois para perguntar: — Sério?

— Não é como se eu nunca tivesse te visto sem camisa — um sorriso convencido toma seus lábios e ela completa com um sussurro: — inclusive, já vi você com bem menos roupa.

— Pronto mamãe! — Evan aparece na entrada da cozinha mostrando suas mãos e boca limpos de chocolate.

— Você sabe onde fica a máquina de lavar Col, — a voz de Helen vacila por um segundo ao me chamar pelo apelido — coloca sua camisa pra lavar lá ou pode ficar manchada, ainda deve ter alguma roupa no closet, depois que falar com esse mocinho aqui — aperta a ponta do nariz de Evam em um gesto carinhoso. — vou procurar.

Saio da cozinha em direção a pequena lavanderia ao lado do banheiro principal, a familiaridade de caminhar por esses corredores traz muitas lembranças, desde a vez que entramos aqui pela primeira vez, apenas Helen e eu, até quando Evan deu seus primeiros passos na sala de estar. Tiro minha camisa ainda imerso em pensamentos sobre Helen e Evan, coloco a camisa na máquina e a ligo, virando-me de costas e analisando os cômodos enquanto passo por eles ao voltar para a cozinha.

Helen não mudou praticamente nada na casa desde que saí, até o cheiro continua o mesmo e a cena dela dando uma bronca em nosso filho por comer a cobertura de algum bolo, ele adora fazer isso mesmo que sempre leve um sermão logo depois, com certeza é a mesma que vi muitas vezes.

— Quantas vezes vou ter que falar a mesma coisa Evan? Eu já estou cansada de brigar com você por isso.

— Eu não vou mais fazer isso mamãe.

— Isso não vai te livrar do castigo mas espero que seja verdade. — Helen vira-se para pegar alguma coisa e nota minha presença, seus olhos se concentram na parte nua de meu corpo, como se ela tivesse esquecido como meu abdômen é, ela tenta disfarçar e Evan segue o olhar da mãe, percebendo-me finalmente.

— Papai, por que está sem camisa?

— Ah, é, sua camisa! — a mulher de cabelos loiros passa por mim rapidamente para buscar algo no quarto e Evan me abraça, agora livre de calda de chocolate o abraço de volta.

— Você me sujou, lembra? — ele assente rindo e conversamos por alguns minutos sobre sua escola e amigos até Helen aparecer com uma camiseta preta que havia esquecido aqui.

— Eu assumo que o assunto seja comigo? — Helen diz aprontando a mesa para um chá da tarde, balanço a cabeça afirmativamente e ela se dirige a Evan: — Evan, você não quer ir brincar lá na sala? Papai e mamãe precisam conversar.

— Papai vai brincar comigo depois?

— Claro filho, mas só se você trouxer os dinossauros novos que o tio Josh deu pra você.

— Combinado. — ele está abraçado em minha cintura durante a conversa e passo minha mão por sua cabeça, bagunçando seus cabelos.

Coloco a camiseta e Evan deixa a cozinha, sento na bancada da ilha que há na cozinha, onde Helen termina de arrumar e senta-se ao meu lado. Depois de estarmos servidos com chá e um pedaço do bolo, limpo minha garganta e início o assunto:

— Vim aqui para falar sobre minhas férias, na verdade, as nossas férias. Tenho dois meses até ter que voltar para divulgar e gravar Once Upon a Time e sei que entra em férias daqui a uma semana então pensei que poderíamos fazer como todo ano e irmos juntos para a Irlanda. O que acha? — ela bebe um gole de seu chá com uma expressão indiferente e não diz nada por alguns bons minutos.

— Bom, — parece que Helen está fazendo de propósito, para me deixar ansioso com sua resposta — meus planos eram realmente visitar minha família nessas férias e obviamente levar Evan, mas não acha que vai ser meio estranho estarmos indo juntos?

— Nós vamos para o mesmo lugar e nossas famílias vão achar estranho se chegarmos separados, temos que contar a eles pessoalmente então acho que essa é a melhor ideia.

— Tudo bem então, preciso de duas semanas para organizar tudo, parece um bom prazo?

— Claro.

— Temos outro assunto bem importante para tratar hoje e não podemos mais adiar. — seu tom fica sério de repente e um arrepio percorre minha espinha com medo do que seria este “assunto”.

— Que seria?

— A guarda de Evan.

— Sim, eu estava pensando e comprei uma casa em um bairro perto da escola dele, que poderíamos, bem… — respiro fundo — dividir a guarda.

— Colin, — sua mão toca a minha que repousa sobre a bancada — eu e Evan vamos nos mudar de volta para a Irlanda.

— O que? — não posso acreditar que ela está dizendo essas palavras, que vai levar meu filho para tão longe de mim e começo a pensar em como poderia arranjar uma maneira de fazê-los ficar ou conseguir um acordo com os produtores de Ouat para visitá-lo mais frequentemente. — Helen, não faz isso comigo. — meus olhos estão andando de um lado para o outro sem fitar qualquer coisa claramente, tentando somente encontrar uma solução para o enorme problema então demoro para perceber que Helen soltou minha mão e agora me encara tentando segurar a risada.

— Você sempre caí nas minhas brincadeiras. — diz entre uma risada e outra, passo minhas mãos pelo rosto, respirando aliviado.

— E você sempre faz brincadeiras de mal gosto, nos piores momentos possíveis.

Agora quem está rindo sou eu ao lembrar de quantas vezes ela já havia feito algo assim, quando começamos a namorar e tivemos nossa primeira vez, estávamos deitados na cama e perguntei se foi bom como uma piada, ela olhou-me séria e disse não, para em dois minutos gargalhar da minha expressão que era um misto de vergonha e decepção. Outro exemplo foi quando ela decidiu vir morar em Vancouver por causa de Once mas não me disse nada, somente chegou em um dia de gravação e me trouxe para um canto dizendo que estava grávida, desta vez fiquei pálido e sem reação até ouvir novamente a risada estampada em seu rosto. Essa provavelmente era uma das coisas que mais sentiria falta sobre Helen, uma das coisas que a faz tão única e que fez com que me encantasse tanto.

— Eu aceito. — a olho confuso — A guarda compartilhada, contanto que eu tenha quatro dias por semana e você apenas três, afinal, ele já morou dentro de mim. — um enorme sorriso surge em meu rosto e instintivamente abraço ela ainda sentado, agradecendo-a por ser tão compreensiva e ainda quase sem acreditar que ela aceitou esse acordo, Michael disse que o máximo que eu conseguiria na justiça seria vê-lo nos finais de semana mas isso era mil vezes melhor.

O primeiro pensamento que veio com a onda de felicidade que as palavras de Helen me trouxeram foi ligar para Jennifer, ela estava ansiosa para saber sobre a guarda de Evan porque sabe o quanto ele é importante para mim e posso até ver o sorriso maravilhoso que ela daria, juntamente um suspiro que é cheio alívio e orgulho. Tive que reprimir a vontade e bebi mais um gole de chá, desvio meu olhar do líquido em minha caneca para os olhos verdes que me fitam com um ar de felicidade que logo se esvai.

— Eu consigo entender porque ele atacou o bolo. — falo ao colocar uma fatia grande de bolo na boca e sentir o sabor único e delicioso.

— Evan me contou sobre Jennifer. — a informação faz com que o bolo me sufoque e começo a tossir e beber o resto de chá para tentar respirar novamente.

Continua…