História Colored Life - New Best Friend

          May on

Mais alguns dias haviam se passado. Eu ensaiva pesado e nos últimos dois fim de semanas eu usava o sábado para ensaiar e o domingo para descansar e fazer trabalhos da escola. 

Na companhia, algumas meninas que fizeram o mesmo teste que eu, me encaravam e olhavam feio pra mim. Eram sempre as mesmas. Por isso eu ficava mais em minha sala e focava nos meus objetivos ali.

As vezes eu via a Zoe e ela já havia me contado que ela e o Calum haviam saído várias vezes e que ele era muito legal. Parte de mim dizia para eles ficarem juntos, a outra parte tinha certas dúvidas. 

Só via os meninos na escola já haviam três semanas. Sentavamos juntos nos intervalos, mas eu estava sempre correndo para terminar alguma tarefa ou trabalho que eu não tive tempo para terminar antes.

Minha relação com meu pai ia de mau a pior. Depois daquela proposta maluca de casamento repentino ele não me dava mais tanta atenção como antes. E como virou normal há cinco meses, eu sentia falta da minha mãe mas só podiamos nos falar por telefone e quando ela podia.

Cheguei em casa depois do ensaio e me joguei na cama. Meus músculos doíam e eu só queria cama. Larguei meus sapatos longe. Eu já cochilava quando meu celular vibrou. 

"Ta afim de dar uma volta?"

Era um número desconhecido. 

"Quem é?" respondi.

"Se você olhar a janela vai descobrir."

Bufei e rolei na cama. Meu relógio marcava 22:57. Meu corpo dizia para continuar deitada e ir dormir mas a curiosidade falava mais alto. Levantei e olhei a janela.

"O que você quer Luke?"

"A gente devia pelo menos se entender. Afinal, nem eu nem você sabemos o motivo de um odiar o outro."

"A essa hora?"

"Você vem se quiser. Vou te dar 10m, caso você não venha, eu vou embora."

Respirei fundo e me preparei para voltar para a cama. Mas olhei de novo para a janela e o meu celular e acabei pegando meu casaco e descendo para encontrá-lo.

Passei para os fundos da casa e atravessei a portinha da cerca dando no pequeno beco em que Luke estava escorado em seu carro.

- Passou 3m. - disse enquanto eu andava até ele.

- E você esperou.

- Vi você apagando a luz.

- Eu poderia estar indo dormir.

- Mas não foi.

Sorri ao ver o seu sorriso pra mim. Desviei o olhar para o chão depois voltando para o dele. 

- O que você faz aqui? - perguntei.

- Vim saber o tão esperado por quê de "nos odiarmos". - fez aspas.

- Você poderia ter me mandado uma mensagem.

- Você que aceitou descer.

- Você já estava aqui.

- Mas se você quisesse que eu fosse embora não teria vindo até aqui.

Respirei fundo, cansada.

- Ta bom Luke, - falei calma e me aproximei - eu não te odeio.

- Eu também não te odeio.

- Então por quê essa rivalidade toda?

- Não sei. Acho que no começo eu só não ia com a sua cara porquê você não ia com a minha. 

- E eu não ia com a sua porquê você não ia com a minha.

Soltamos uma risada. Uma risada sincera.

- Agora está tudo certo, então?

- Acho que sim.

- Bom, já que estamos aqui, você, minha nova amiga, não quer se juntar a mim em uma aventura noturna? - fez como se fosse um cavalheiro me oferecendo uma carruagem. Gargalhei.

- Aonde vamos? - falei no mesmo tom.

- Ai minha cara, é uma surpresa.

Abri um sorriso e concordei. Afinal, nada de ruim saíria dali e tinhamos acabado de fazer um "tratado de paz" entre nos.

Luke abriu a porta pra mim, continuando a brincadeira e em seguida entrou no banco do motorista.

Abaixou os vidros e deu a partida. Sentia o vento bagunçar meus cabelos e aquilo me trazia liberdade. Antes eu estava cansada e agora me sentia ótima. 

Luke dava curvas e mais curvas, acelerava me fazendo rir. A cidade parecia ser só nossas. As luzes das ruas, dos prédios e das casas pareciam estar acesas apenas para a gente. Como se tudo aquilo ali fosse só nosso.

Nunca pensei que me sentiria tão bem perto de uma pessoa que eu nem queria olhar nos olhos. Mas ele ali parecia o meu escape. Parecia, talvez, a coisa que faltava pra ajeitar minha vida.

Luke parou o carro em frente a praia, na verdade em um lugar mais escondido da praia. Descemos do carro e tiramos nossos sapatos para pisar na areia. 

Caminhávamos um ao lado do outro com o vento das mares bagunçando nossos cabelos. Ele parecia pensar em algo, talvez no que deveria falar.

- Então, com que anda tão ocupada esses dias?

- Entrei pra uma companhia de dança, você não soube?

- Ah sim, Ashton me contou, mas não imaginava que fosse isso.

- E pensou que fosse o que? Que eu tivesse com alguém?

- Talvez. - dei risada.

- Mas por que isso importa? - falei ainda rindo. 

- Sei lá. - sorriu também - Mas já que falou da companhia, como vão as coisas?

- Vou participar de uma competição, por isso estou treinando muito. Falta apenas alguns meses e eu tenho que aprender umas meia hora de coreografia.

O silêncio reinou. Não tínhamos um assunto evidente, nem intimidade para isso. 

- Soube também que seu pai vai se casar.

- A Amber te contou?

- Na verdade foi o Ashton...

- A Amber não consegue ficar com a boca calada. - falei mais para mim do que pra ele - Enfim, ele vai sim.

- Pelo seu tom de voz você não gostou nem um pouquinho da ideia. 

- É. Minha "madrasta" não é uma das melhores pessoas, e adivinha só! A Paty vai ser minha irmã!

- Sua meia-irmã.

- Se mas, ela ainda irá morar comigo provavelmente e... Você não gosta dela?

- Na verdade, não. Fiz um... Trabalho com ela. Nada demais.

- Ata.

- Sabe May, talvez ter elas em sua família não seja tão ruim assim.

Luke se sentou na areia e fez gestos para que eu o acompanhasse. Assim fiz.

- Não sei. Elas não gostam de mim. Talvez seja porquê eu não gosto de rosa. - o fiz rir - É sério! Mas talvez não gostar da cor salmão seja pior... - falei reflexiva. Luke gargalhou me fazendo o acompanhar.

- Vamos entrar? 

- Entrar? Tipo, no mar?

- É, por quê não?

- Mas deve estar frio, Luke.

- Ah, larga de besteira May! - levantou, tirou sua camisa e a deixou em cima dos seus tênis - Vem logo!

Puxou meus braços fazendo com que eu largasse meu tênis e o casaco ao lado dos seus e corresse até o mar bater em meus pés.

- Caramba, ta muito fria! - gritei voltando pra a areia.

- Ah não! Volta aqui! - seu braços envolveram minha cintura e me puxaram.

- Não Luke! - tentava me soltar até ele me carregar e me jogar sobre seu ombro - Luke! Não me joga, por favor! Só vai ser pior! Luke, ta muito fria!

- Ah May! - e me jogou na água. 

Como eu previa, estava mais gelada que uma banheira com gelo.

- Não acredito que você me jogou! - ele ria e gargalhava.

Joguei agua nele o fazendo me olhar feio e jogar em mim também. Começamos a fazer um mini guerra ali nos encharcando mais ainda. Até eu escorregar e cair. 

Luke ria mais ainda da minha cara. Fui em sua direção e dei um soco, meio insignificante, em seu peito.

- Nossa May, pensei que você era mais forte. -provocou. 

Fiz minha cara de chateada e o empurrei fazendo-o cair. Agora era eu que ria da sua cara. Luke me olhou feio e eu comecei correr. Corri o mais rápido que pude até ele se jogar e cairmos juntos na areia.

- Ai. - murmurei. Luke estava por cima de mim e quando seus olhos se grudaram aos meus senti minha respiração oscilar.

Encarei bem aquele azuis claros, talvez como a água do mar quando era dia ou o céu quando não tinha nuvens. Era incrível como Luke me fez esquecer minhas preocupações apenas me levando a praia.

Desviei o olhar quando percebi que estávamos hipnotizados ali a um tempo. Ele sorriu e saiu de cima de mim, me ajudando levantar depois. Andamos até nossas coisas sem dar nenhuma palavra se quer. 

- Não devíamos estar tão tarde na rua. - falei.

- É tarde pra quem acha o nascer do sol cedo.

- Nossa. Filosófico. 

- Obrigada. - me fez rir. - Você já quer ir?

- Eu queria muito dizer que não mas, acho que minha cama me chama.

- Então vamos.

Levantamos e andamos até o carro. Na volta, Luke ligou o rádio e fomos brincando com as músicas que passavam até chegar em minha casa.

- Sabe Luke, nunca pensei que iria me divertir tanto com você.

- Digo o mesmo. - sorriu.

- Até.

- Até.

Nos despedimos e eu saí do carro. Andei até a porta e a abri. Olhei para atrás, Luke fez um sinal de continência e foi embora. 

Depois de eu ter tomado um banho e secado o cabelo, deitei na cama para dormir e lembrei de como em segundos as coisas mudaram. Eu, supostamente, "odiava" o Luke até ele vim aqui e acabarmos saindo depois.

Se as coisas talvez tivessem acontecido muito rápidas? Bom, são assim que as coisas boas acontecem.