História Colored Life - It Was Not The Last Kiss...

          May on

- Que lugar é esse que você quer me mostrar?

- Você acha mesmo que eu vou dizer?

- Bom, na verdade não, mas não custava tentar.

Ele sorriu e entramos no carro. O relógio marcava 21:48. Luke começou a dirigir pelas principais ruas de Sidney, sem ao certo ter um destino. 

Os vidros estavam abaixados, como sempre, e meus cabelos batiam com o vento. Como eu amava aquela sensação, a sensação de liberdade. 

- Tem certeza que você sabe pra onde está indo? - perguntei e ele revirou os olhos.

- Claro que eu sei, só quis dar uma volta, sei que você gosta.

- Quem te falou, dono Luke?

- Nem precisaram falar, já deu pra perceber.

- Ah. - dei um sorrisinho e voltei meu olhar na paisagem que se passava.

- May, - me chamou - Você sente falta das suas viagens?

- Não sei se "falta" é a palavra certa. - dei uma pausa - Era engraçado na verdade. Eu e minha mãe tínhamos que aprender a fazer os costumes daquele lugar, talvez não porque a gente precisasse mas, era legal aprender, uma coisa de mãe e filha sabe? Quando fomos pro Japão minha mãe teve que aprender a usar aqueles palitinhos mas ela era um fracasso, a comida caía em todo lugar, menos na boca dela.

Ri comigo mesma. Minha mãe fazia mais falta do que nunca antes. Eu queria ela do meu lado. Queria poder contar pra ela as coisas que andavam acontecendo mas, eu só tinha mesmo, meu pai que ia se casar com uma mulher que eu odiava. 

- May? Ta tudo bem? 

- Ah, ta sim, só estava pensando.

Luke passou na frente de um prédio grande e entrou num beco do lado dele. Era um beco escuro e estreito. Um calafrio percorreu meu corpo. 

- Aonde estamos indo, Luke? - perguntei desconfiada. 

- Relaxa, May. Você está segura.

Ele saiu do carro e eu saí cautelosa junto a ele. Meus olhos estavam atentos a todos os cantos daquele beco. 

Luke soltou uma risada e segurou minha mão, me guiando para frente de uma porta de metal, a abriu com uma chave que tirou do bolso e entramos.

Estava escuro mas, percebi que andamos em um corredozinho até sair no terrio de um prédio, o prédio que passamos em frente. 

Luke continuou me guiando sem falar nada. Avistei um pouco longe um segurança sentado atrás de um balcão de mármore. O que Luke estava pensando?

- Luke! - disse o segurança e sorriu.

- Fala aí Fred! - passou por ele, entrou em um dos corredores e chamou os elevadores que não demoraram nem um minuto para que as portas se abrissem - May, você ta com cara de perdida.

- É claro que estou! O que estamos fazendo aqui? Como é que você conhece aquele segurança? Como é que você tem a chave daqui?

E a porta do elevador abriu revelando um corredor com a frente de vidro. Saímos e Luke continuava a me guiar.

- Luke, você não me respondeu. 

Mas ele continuava a dizer nada. Entrou na porta da saída de emergência e logo entrou em outra porta que dava para uma escada escurava.

- Luke, agora eu estou ficando com medo. 

- Calma May, já estamos chegando.

Subimos os dois lances da escada. Luke ia na minha frente. Quando os degraus já acabavam eu fui vendo aonde aquilo dava: no telhado do prédio. 

Olhei ao redor. Dois outdoors rodeavam as laterais e vários canos de suporte cruzavam se ali, deixando o meio livre.

Mas eu ainda não entendia por que Luke havia me levado ali.

Ele andou até a ponta e de lá de cima, talvez fosse possível ver quase toda a Sidney mas, de lá, a cidade parecia milhares de vagalumes com luzes de várias cores. 

Fiquei hipnotizada com aquilo tudo. Era lindo mesmo sendo as luzes da cidade.

- Eu às vezes venho aqui. - Luke me roubou a atenção - Quando estou aqui em cima é como se todos os problemas, as pessoas, até mesmo as pessoas mais próximas ficassem lá, não pudessem me atingir.

- É uma boa filosófia. Mas como conseguiu entrar aqui? Digo, de onde você conhece aquele cara e essa chave.

- É uma longa história mas, resumindo, minha tia é dona do prédio, mas só o Fred sabe que eu venho aqui e agora você.

- E por quê você quis compartilhar isso comigo?

- Não sei. - fez uma pausa - Achei que você estava um pouco chateada por causa do seu pai e com saudade da sua mãe e pensei que aqui seria um ótimo lugar pra pensar.

Sorri. Deixe a mente vaga enquanto olhava toda aquela vista. Minha cabeça não parecia querer pensar em todas aquelas coisas naquele momento. 

Luke comecou a andar por ali. Brincar entre os canos e se pendurar neles.

- Você vem muito aqui?

- Não muito. Só quando quero pensar. 

- E como foi a reunião?

- Foi bem. Vamos fazer um show, daqui uns dias.

- A banda está realmente crescendo.

- É. Só vai acontecendo. É o que a gente gosta, fazer o que.

Soltei uma risada. Sentei no chão, escorada no muro e Luke logo veio se sentar do meu lado. Continuamos em silêncio. Não aquele silêncio constrangedor, apenas um silêncio carregado de pensamentos. 

Segundos depois resolvi olhar para Luke. Estávamos bem perto um do outro. Não havia muita luz ali mas eu podia ver o loiro de seus cabelos pentiados em um topete bagunçado. 

Olhei em seus olhos assim que ele virou pra mim. Deu um sorriso de canto, fazendo o piercing dar uma "dançadinha" rápida e voltar pro lugar. 

Luke não era mais aquele cara que eu achava que era. Eu enxergava outra pessoa nele agora. O azul de seus olhos brilhavam ao olhar pra mim e eu reparava cada detalhe de seu rosto. Os olhos, o nariz, a boca.

E foi assim que sem perceber nossos lábios já se entrelaçavam em um beijo. Um beijo calmo, lento. Quando caímos realmente em si, Luke segurou minha cintura e me puxou para seu colo.

Sentei sobre suas pernas e continuei a beija-lo. Ele apertava levemente minha cintura e eu dava arrepios em sua nuca com minhas unhas.

Luke então passou sua boca para a minha bochecha, depois um pouco mais embaixo e foi descendo, parando no meu pescoço. Talvez iria ficar uma marca ali mas, naquele momento, eu pensava em mais nada. 

Puxei seu queixo e continue a beijar seus lábios. Nós separamos com selinhos e juntamos nossas testas. Ficamos em silêncio, ofegantes e de olhos fechados. 

- Você uma dia iria imaginar que estaríamos assim? - perguntou ele. Dei um sorriso.

- E você imaginava? - abri os olhos encontrando os dele bem perto dos meus. 

- Bom, antes da gente fazer as pazes não, mas agora... Eu gosto dessa cena.

E me roubou outro beijo.

- Acho melhor irmos embora. - disse.

- Mas já?

- Vamos ficar a noite toda aqui?

- Talvez só uns minutinhos. 

Sorri e voltei a beija-lo.

(...)

Chegamos na casa dos meninos e tudo já estava apagado, também já se passavam das 2h da manhã. 

Entramos tentando fazer barulho nenhum, apesar do quase grito que saiu de minha boca quando bati meu joelho no sofá e a risada de Luke. 

Mas algo me dizia que só não ligamos as luzes porque não queríamos perder o clima. No meio da sala Luke me abracou por trás e sussurrou em meu ouvido.

- Hoje você vai dormir comigo?

- Você quer que eu vá?

- Você acha que eu quero?

- Por que a gente faz esse joguinho de perguntas um pro outro? - ele soltou uma risada.

- Não sei.

Virei de frente pra ele e lhe dei um selinho, um beijo na bochecha, perto da orelha e falei baixinho.

- Bom, acho que hoje sua cama vai ficar menor.