História Colored Life - The Day

          May on

- Acorda, May!! - uma voz conhecida batia na porta - Vamos May! Hora de levantar senão você vai se atrasar!! 

- Ok, já estou indo, pai. 

Levantei devagar. Ainda estava processando que aquele seria o meu primeiro dia de aula. Só após tomar um banho e escovar os dentes que eu finalmente percebi o que eu estava fazendo. Fiquei alguns minutos na frente do meu guarda-roupa - já devidamente arrumado - até encontrar a roupa ideal para a ocasião: um short jeans com uma blusa branca com o número "13" no meio e com uma cava grande que dava para ver o top preto que coloquei por baixo. Uma maquiagem básica e meus óculos escuros. Por último, calcei os meus coturnos e peguei minha mochila. 

- Bom dia, May! - falou meu pai sentado no sofá com uma caneca na mão. Peguei umas torradas e bebi um copo de suco - Não vai tomar café?

- Só isso está bom. - ia entrando na garagem quando ele me repreendeu. 

- May, eu vou te levar. Não é tão longe, mas você pode se perder. - apenas assenti.

Pegou suas chaves e fomos em seu carro. Não conversamos muito pelo caminho, apenas coisas como "cuidado com isso" e "cuidado com aquilo" e afins.

- Irei vim te buscar. - disse quando estacionou - Boa aula! - disse simpático ao me ver saindo do carro. Apenas sorri e acenei como resposta.

Parei na frente da escola e observei a entrada. Havia muitos alunos ali na frente e vários chegavam com seus carros. Respirei fundo e entrei. Por um segundo todos pararam de fazer o que estavam fazendo para olhar a novata, ou seja, eu. 

Andei pelo corredor o mais tranquila possível. Já estava acostumada. Entrei na sala da diretoria, encontrando uma secretária de cara amarrada e um diretor animado. 

- Bom dia, senhorita May! - disse ele. O mesmo usava um terno e parecia ter uma postura fina. Em cima da sua mesa havia uma plaquinha dizendo "Diretor Druman". Que nome! Ou será que era sobrenome? - Seja bem vinda!

- Obrigada. 

- Vejo que você é educada. Espero que seja assim pelo resto do ano. - sorri meio sem graça - Venha, vou lhe mostrar sua sala. - saímos do local. O mesmo pegou na mão da secretária o número do meu armário e me entregou - Bom, May, essa escola oferece e visa a aprendizagem... - começou. 

Não prestei atenção a uma se quer palavra que ele falou. Observei todo aquele corredor e os detalhes dele. O sinal já havia tocado então todos, ou quase todos, já estavam nas salas. Paramos na frente de uma na qual ele disse ser a minha. Abriu a porta interrompendo a aula de um professor que deduzi ser de matemática por causa de todas aquelas equações no quadro. 

- Diretor Druman. - falou o professor e eu me prendi para não rir. Todos na sala me olhavam mas não fiz questão de olhar de volta. 

- Professor Carlos. - respondeu o diretor - Essa é a nova aluna estrangeira. - me empurrou levemente para dentro - May Martinez. 

- Seja bem vinda! Gostaria de dizer alguma coisa para a classe?

- Sinceramente, não - respondi baixo, tirando risada da sala inteira e uma cara feia do professor.

- Diga sua idade, cidade natal, de onde veio... - disse o diretor. Respirei fundo e comecei. 

- Tenho dezessete anos, nasci no Brasil e eu estava morando no Japão. 

Alguns alunos cochicharam um com os outros, mas logo o professor interrompeu e me mandou sentar. Sentei na última cadeira da última fileira. Lugar perfeito. Abri o caderno e comecei a rabiscar alguns desenhos até sentir um papel bater em minha perna. O peguei e li:

"Oi! Sou a Amber, a garota do seu lado. Nossa, Japão? Sempre quis conhecer. Como é lá? Você fala a minha língua?"

Respondi:

"Olá Amber, acho que você ouviu meu nome. O Japão? É muito estranho. Estou feliz de estar novamente em um lugar mais "normal". E sim falo sua língua, como já deu pra ver, assim como outras hahaha"

Joguei o papel que caiu em cheio na mesa dela. Leu, me olhou e sorriu. Segundos depois ela jogou o papel de novo. 

"Como assim "lugar normal de novo"? E outras línguas? Quais são elas? Ah! A propósito, eu amei o seu cabelo! Estava querendo pintar o meu também... "

Contei para ela todos os lugares que eu já havia morado e que eu falava fluentemente as línguas dos países nos quais passei mais tempo e o básico dos outros. Foi assim que passamos a aula inteira: conversando através de um papel até o sinal bater. 

- Nossa! Eu não acredito! Você já rodou o mundo inteiro! - gritou Amber assim que o sinal tocou. 

- Quase o mundo inteiro. Tem muitos lugares que eu ainda não conheci que pretendo conhecer. 

- Eu tenho vontade de conhecer o mundo inteirinho! Seria tão legal. 

- É muito legal. Quem sabe um dia não viajamos juntas?

- Sério? Pera. Isso nos torna amigas?

- Claro, por que não? 

Amber deu pulinhos de alegria. Eu havia gostado dela. As próximas aulas passaram até rápido. Conversamos muito que, quando bateu o sinal para irmos para o intervalo maior, parecia que já éramos amigas de longa data. Amber avisou que iria comprar seu lanche no refeitório. Falei para ela ir na frente enquanto eu ia guardar alguns dos livros no armário. 

Coloquei meus fones e assim fiz. Já na ida me esbarrei com alguém. Murmurei algo baixinho que representava minha dor. Olhei para cima e era um garoto. Ele era alto, dos olhos azuis (muito azuis), cabelos loiros e um piercing na boca. Não podia negar, ele era muito bonito, sexy e me parecia familiar. 

- Olha por onde anda! - exclamou e continuou a andar. 

- Eu, hein! 

- May? - me virei para ver quem era e me deparei com o menino moreno da praia e um de seus amigos, o de cabelos coloridos (que particularmente, eu amei).

- Calum! E...? - olhei para o outro garoto.

- Michael. - respondeu ele. 

- Não sabia que você estudava aqui. - falou Calum. 

- Eu sou nova. 

- A novata de que todos estão falando?

- Não sei se estão falando sobre mim, mas acabei de ter aula naquela sala ali. - apontei para a mesma. 

- Olha! Fazemos essa aula juntos.

- Sério? Não reparei vocês na sala.

- É porque matamos algumas aulas hoje. - falou tranquilo. 

- Ah...

- Então, seja bem vinda! Temos que ir atrás daquele imbecil. - falou em tom de brincadeira, mas eu ainda fiz a minha melhor cara de dúvida - É brincadeira. É um amigo nosso. 

Sorri novamente e assenti. Ás vezes eu conseguia ser bem lerda. 

- Nós vemos por aí! - disse ele.

- Gostei do cabelo, Foguinho. - disse o Michael. 

- Ei! - retruquei brincando. 

- Ihh! Botou o apelido, agora já era! - falou Calum mais de longe e os dois saíram correndo e rindo.

- May? - Amber chegou por trás. 

- Amber! Quer me matar do coração? 

- Foi mal. - deu uma pausa - O que você estava fazendo com o Calum e o Michael?

- Conheci o Calum na praia. - lhe contei o incidente - Você os conhece? 

- Já saí com eles algumas vezes, mas nada só nós, sempre era convidada por outras pessoas e eles iam junto. 

- Eles são legais?

- Sim! São muito engraçados, principalmente o Michael ele é... - olhou em meus olhos - Quer dizer, eles são bem legais, sim!

- Alguém tá apaixonada... - provoquei - Amber e Michael, até que faz um lindo casal!

- Para, May! Não estou apaixonada! É só... 

- Amor! - ela me empurrou para o lado. 

- Não é! 

- Ta bom, Amber!

Saímos rindo, ou melhor, gargalhando.