História Colors - Pare de chorar Jiminie

Qualquer começo de semana que tenha sido feliz, energético, diferente, e bom, de fato não deve ter sido nesse planeta ao ver de Park. E podia jurar a qualquer um que se pudesse ficaria em sua cama durante uma eternidade que não se importaria, apenas dormindo. Talvez fosse preguiça, ou poderia ser algum tipo de pedido inconsciente do seu corpo por dias de férias, porém pintores não obtinham o prazer de poder ficar em casa sem fazer nada durante um mês, mesmo que de fato fossem suas férias. Afinal, para aprimorar seus conhecimentos sobre a vida, sobre as pessoas, sobre coisas modernas, sobre arte; necessitava a saída de casa, a pesquisa... E principalmente, tinha que viver para poder aprender coisas novas.

Park não era o maior exemplo de como se viver, pois muitas vezes tentava se afastar de algumas situações, fazendo-o aparentar fraco ou medroso, porém ele tentava manter o pensamento de que aquilo era o normal de todos, porque todos tinham seus medos internos, seus receios e aflições, certo? Era estranho como ele podia ter pensamentos tão livres, do gênero "mentes abertas" sobre determinadas coisas, e como podia ficar tão travado com simples raciocínios. No fim decidia deixar que algumas situações acontecessem de forma que o destino quisesse, pois ele era descrente sobre as coisas serem boas para si por conta de um determinado ato que fizera.

Agora se encontrava comendo preguiçosamente enquanto escutava a conversa alheia na mesa de costume do restaurante coreano que frequentavam na Art Town. O japonês que havia sido inaugurado não era tão bom quanto pensavam, principalmente para Min que amava comida japonesa, mas mesmo assim o mesmo tinha "desaprovado" o restaurante.

– Tae? – o chamou interrompendo a conversa que o mesmo tinha com os outros, consequentemente todos passaram a encarar o ruivo, que até então estava calado. – Você já terminou? – perguntou referindo-se à ele já ter almoçado.

– Sim hyung... Você está bem? – o loiro castanho perguntou visivelmente preocupado, provavelmente percebendo que seu amigo não estava com a melhor cara naquela segunda-feira.

Os outros já voltavam a conversar normalmente, deixando Park mais à vontade para falar com o mais novo que estava a sua frente. Não que fosse algum tipo de segredo que iria começar a falar, porém tem aqueles momentos que você sabe que apenas seu melhor amigo vai querer falar sobre tal assunto com você, de verdade.

– Você não acha que o Namjoon está muito estranho? – o ruivo perguntou repentinamente fazendo o menino a sua frente franzir o cenho com aquilo.

– Sim, acho, mas por que está falando disso agora? – questionou enquanto bebia um pouco de seu suco.

– Porque eu estava pensando em ir na KJ, ver como as coisas são lá, se não é só por conta de Seokjin que ele está daquele jeito. – deu de ombros ao terminar de falar, esperando a resposta do mais novo.

– Você diz espiar? Tipo, porque se souberem que somos daqui da Art Town vão começar a nos olhar estranho, ou até mesmo os seguranças começarem a desconfiar até nos dar um chute na bunda. – o mais novo alertou, se recordando desse detalhe que o dono da Art Town havia lhes avisado.

Não era como se uma empresa odiasse a outra, porém também não era como se os donos de ambas não tivessem tido algumas desavenças no passado, logo quando Nam-Pyo teve a ideia da Art Town. Havia rumores que os donos já tinham sido amigos no passado, mas como já dito, apenas rumores. Nenhum dos dois faziam questão de fazer uma visitinha na empresa do outro, ou de ter algum contato quanto às vendas ou até mesmo as exposições, ou seja; se evitavam ao máximo.

– Se você não quiser ir comigo, eu não me importo de ir sozinho. – simplificou arqueando as sobrancelhas. Não havia sido grosso, mas recebeu o olhar acusativo do amigo.

– Eu vou com você, fazer o que... Sempre fui curioso para conhecer lá mesmo. – sorriu batendo palmas e chamando a atenção de Hoseok e Yoongi.

– Do que tanto vocês falam aí? Esses murmúrios de garotinhas já estão me irritando. – Hoseok exclamou, claramente brincando recebendo uma risada de Taehyung.

– Claro que estávamos falando sobre como você é bonito, sexy e charmoso Hoseok. – Park ironizou encarando o amigo que sorria abertamente como de costume.

– Claro Hobi, até parece que estaríamos falando de outra coisa. – Taehyung prolongou a brincadeira, mal se dando conta que Park o encarava assustado. 

– Hobi? – o ruivo repetiu o que acabara de sair da boca de Taehyung, o mesmo encarou Jimin assustado também.

– Ah não, se vocês vão brigar por conta de um apelido sexual do Hoseok novamente, já vou dizendo que não vou pagar a porra da conta de ninguém. – Yoongi disse se emburrando de primeira, já se preparava para sair da mesa quando escutou a gargalhada de Park.

– Agora quero saber como que você se acostumou a chamá-lo assim, vamos conte. – o ruivo estava se divertindo com aquilo, como seu amigo tinha superado aquilo tão rápido? Mistério. Taehyung era do tipo que decorava bem algo que o fez se sentir mal para passar longe daquilo, mas agora parecia diferente.

– O-O que? Isso não é um costume, foi por impulso. – o castanho claro dizia tentando se descomplicar com a situação.

– Hum, Hoseok nos conte sobre isso. – Yoongi se sentou novamente interessado na resposta do moreno, esse que adorava ver o mais novo corado, e não perdia uma sequer.

– Ele costuma me chamar assim quando estamos sozinhos, não é Tae? – o moreno perguntou com um sorriso provocador. Park sabia que tinha feito a escolha certa de não ficar com Hoseok por muito tempo quando via o quão indiscreto ele era quando despeitava à quem ele gostava.

Jimin gostava de coisas silenciosas e discretas, gostava que a privacidade com quem quer seja que estava fosse intacta, gostava de sentir que ele e quem estava com ele tinham seu próprio mundo e história, uma coisa como segredo, mas cumplicidade também.

– Então, você aderiu o apelido criança? Mas não era você que estava bravo com isso e até fez aquele charme de sair andado feito louco daqui? – Yoongi perguntou segurando o riso, pois sabia que se risse iria levar alguns tapas.

– Eu vou ignorar vocês olhando para a decoração do restaurante. – o menino exclamou começando a olhar em volta como se admirasse os mínimos detalhes do local fazendo os mais velhos rirem.

– Taehyung é muito estranh-

O loiro castanho não deixou que Yoongi terminasse sua frase o dando um tapa em sua coxa que saiu com o abafado por ter sido por cima da calça Jeans, porém pela expressão do mais velho Park entendeu que tinha doído mais do que devia.

– Taehyung eu não vou te bater agora, vou fazer você esperar por isso durante um bom tempo, e aí... – o de cabelos esverdeados suspirou fundo tentando se controlar. – E aí eu vou te devolver esse tapa com a maior felicidade do mundo. – ao terminar o loiro se encontrava com uma expressão desdenhosa porém claramente estava com medo.

– Fodeu Tae. – Park sussurrou para o amigo que deu uma gargalhada, aparentemente de nervoso, fazendo o ruivo rir também.

(...)

O prédio KJ era exatamente do mesmo tamanho do prédio da Art Town, de 12 andares, o que mudava era que o mesmo aparentava ser um prédio de negócios, e não uma empresa de galeria de arte. Todas janelas ocultavam o que havia dentro da empresa, sendo elas pretas, ao contrário da Art Town que as janelas e varandas eram todas abertas. O hall de entrada era de portas automáticas, diferente da Art Town que continha grandes portas pelas quais ficavam bem abertas durante o dia para que todo o centro de Seoul pudessem admirar as pinturas, artes artesanais, trabalhos ao vivo, entre outras diversas coisas que chamavam as atenções das pessoas.

– Que coisa mais sem graça, não sei porque eu estava curioso para conhecer esse prédio gótico. – Taehyung comentou analisando o lugar com um olhar estranho, assim como Park que se perguntava se as coisas eram bonitas lá dentro, se havia arte mesmo lá dentro, já que o prédio não transparecia isso.

Jimin não havia tido tantos clientes como geralmente era na Art Town, logo teve tempo livre, e Taehyung que estava fazendo um novo material para o painel principal de exposição terminou por deixar com Hoseok e com mais dois artistas para fazerem o resto por ora.

– Será que Hyun gostaria de trabalhar aqui? Ou será que quando ele some é para vir trabalhar nesse prédio que é a cara dele...? – o ruivo não deixou de dizer, ou melhor, deixou que o pensamento escapasse sem ao menos perceber.

Okay, se sentiu um pouco arrependido de ter dito isso, deveria deixar de pensar essas coisas de Hyun, o mais novo nem estava ali para se defender. E Park não gostaria de pensar que poderia ser o contrário. E se Hyun o caçoava na roda de amigos também? Esse pensamento deixava Park um pouco chateado.

– Jimin hyung que horror. – Taehyung riu com a fala alheia, o fazendo novamente se sentir mal por ter dito aquilo. – Vamos entrar logo. 

Taehyung passou a caminhar indo em direção à entrada e Park não demorou em segui-lo. Ao adentrarem a KJ logo riram levemente fitando o local com muitas pessoas sérias andando apressadas, outras mais calmas porém sem muitas expressões de felicidade.

– Aqui dentro é mais gótico do que lá fora. – o mais novo observou olhando algumas lojas que haviam ali, nas quais as pinturas dentro eram obscuras, com uma pintada de terror contendo nas telas e nas expressões dos personagens ou paisagens das obras.

Park fitou o teto do primeiro andar com lustres da cor preta, junto de velas, muitas velas. As paredes eram com cores "mortas" juntamente de detalhes vermelhos, o acabamento em si era exótico, não era algo ridículo, porém era impossível não comparar com a Art Town que era um local de liberdade, colorido, feliz e ainda não deixava de ser moderno.

– Isso não parece ser muito a cara do hyung, por mais que ele seja sério, ele sempre gostou da Art Town. – Park se referiu à Namjoon tentando capturar pelo olhar qualquer coisa que deixasse um motivo óbvio dele estar tão concentrado em estar trabalhado ali.

– Olha! Isso aqui é bem bonito. – o ruivo apontou para uma garotinha que estava dançando Balé fazendo Taehyung seguir-lhe com o olhar. 

A menina estava sobre um palco de pequena extensão, uma música clássica vinha de algum lugar bem perto dela, para quem quer que fosse que passasse por ali ouvisse a música para logo a admirar. Ela fazia movimentos leves e bem finalizados com uma expressão intensa no rosto, aparentava ter no mínimo dez anos, fazendo Park se sentir encantado.

Estava tão distraído com a menina - a mesma havia acelerado os movimentos na dança. - que não se deu conta que Taehyung não estava mais ao seu lado, como um bom apreciador de qualquer forma de arte não conseguia desviar o olhar da garotinha.

– EI JIMIN-SHI! Vem aqui! – a voz grave de Taehyung tirou o mais velho da hipnose do balé.

Jimin olhou em volta procurando o mais novo, o achando de frente para uma grande - muito grande - parede de vidro no meio do hall, nela tinha diversas pinturas expostas, porém Park estranhou o fato de que a maioria lhe eram familiares ao se aproximar.

– Você deu a pintura de Jeongguk para o Namjoon hyung ontem, certo?

– É... Dei, ele insistiu muito, e eu dei.

– Muito estranho, porque pelo o que você me mostrou sábado a pintura era assim.

– Ela é exatamente assim. – Park disse mais para si do que para Taehyung, não estava acreditado no que estava vendo.

A pintura de Jeongguk estava exposta na grande parede de vidro, em uma versão mais escura, juntamente da assinatura de Seokjin. A pintura estava no centro do mural de vidro, destacando-se entre as outras.

– Filho da puta. – Taehyung sussurrou com a boca entreaberta, tão indignado quanto Jimin.

– Eu não acredito que ele fez isso... Merda, por que ele fez isso!? – As mãos de Park passaram entre os fios tentando entender a situação.

Claro que Namjoon teria uma explicação coerente, não teria?

– Jimin... Você quer ir embora? – o melhor amigo perguntou preocupado, sabia que para o seu hyung ficar bravo faltava pouco, ou pior seria se ele ficasse triste. Nunca se sabia qual seria a reação do mais velho.

– Não, eu vou falar com o Namjoon. – respondeu após alguns segundos que estava em silêncio. – Acho melhor você voltar para a Art Town, vai ser rápido a conversa, eu espero. – completou suspirando logo em seguida. Taehyung mal tinha acabado seu trabalho e ainda dava tempo para o mesmo ajudar Hoseok.

– Okay, mas me liga quando estiver saindo daqui, tudo bem? – se afastou um pouco encarando o ruivo como se esperasse que estivesse com algum resíduo de raiva na expressão, mas o mesmo mantinha-se calmo.

Taehyung deu um leve aceno, e logo começou a caminhar entre aquelas várias pessoas para sair daquela empresa.

(...)

– Você fica muito bonito com esse olhar de mal. – Hyun sussurrou com os olhos semicerrado, como se quisesse absorver cada detalhe do rosto do mais velho que estava concentrado no videogame.

– Se concentra no jogo, assim não tem graça porra. – Jeongguk revirou os olhos enquanto percebia que estava ganhando a partida de luta, até porque o outro não jogava.

– Aigo! – Jeon encarou Hyun, o mesmo tinha soado com um tom de voz muito parecida com a voz de Park. –  Vamos começar tudo de novo, então. – o rapaz pressionou o botão do controle do videogame, porém enquanto olhava para a tela em sua frente sentiu o olhar de Jeongguk. – O que foi? – se virou para o moreno que não tinha nenhuma expressão facial.

– Nada.

– Está me olhando.

– Estou.

– E não apertou o botão ainda de reiniciar.

– Ah, é mesmo. – Jeongguk torceu o lábio inferior se voltando para a tela em sua frente apertando o botão.

Hyun soltou uma risadinha baixa que Jeongguk preferiu fingir não ter escutado, ele conseguia ignorar a malícia de JiHyun facilmente.

Talvez Jeongguk, só talvez Jeongguk estava na casa da família Park. Sabia que estava se arriscando demais em questão do Lian-Hwa não estar o dando bola, porém o moreno queria aproveitar esses dias de liberdade, da estranhamente liberdade. Estava se sentindo bem em estar ali, se sentia bem em estar perto dessa família, gostava do jeito leve que a casa tinha, e se sentia feliz com o fato de que todos ali gostavam dele.

Estavam no quarto de Hyun, e Sun Hee também estava junto de seus oppas. Claro que Jeon teve que brigar um pouco com Hyun para o mesmo parar de ser tão chato e deixar que a pequena com pijama do Bob Esponja ficasse olhando os dois jogarem.

– Sun quer jogar um pouco com o Hyun? – Jeongguk perguntou ao ganhar do mais novo recebendo um grunhido de raiva do mesmo. – Eu vou beber água.

– O que!? Huh! De jeito nenhum Jeongguk! Já não basta ela estar aqui dentro? – Hyun perguntou com uma expressão indignado, e depois lançou um olhar enojado para a menina que corou envergonhada, a mesma estava sentada numa poltrona que fazia suas pequenas pernas ficarem balançando por ser um pouco alto para si. 

Jeongguk apenas arqueou suas sobrancelhas ficando sério, e Hyun bufou estressado.

– Tira ela da poltrona. – se levantou da cama indo em direção da porta. Queria que JiHyun tivesse uma relação mais próxima de irmão com a menininha, e não se importava em usar seu poder de ter alguma influência no mais novo para fazê-lo se aproximar de Sun Hee. – Vai Hyun, e não a machuque. – completou ao ver o amigo se levantar com raiva da cama que estavam a minutos atrás.

Ele não disse nada, apenas desceu Sun da poltrona e a mesma subiu na cama sem ajuda do irmão que mantinha uma expressão facial de desgosto.

– Você sabe jogar pelo menos? – perguntou seco e Jeongguk apenas encarava a cena com medo de Hyun agir rudemente.

– Não, o oppa nunca me deixou jogar, como eu saberia? – a menina devolveu a perguntar com a voz baixinha e Jeongguk riu da cara de Hyun após a fala da menor.

O moreno fechou a porta atrás de si, eles ficariam bem, afinal voltaria rápido, e todos esses anos de convivência Sun Hee não tinha morrido, não seria em alguns minutos que isso aconteceria.

Desceu as escadas escutando o barulho de seus All Star de cano-alto preto indo de contato com o chão, fazia um barulho irritante.

Desceu os últimos degraus e já andava em direção à cozinha quando escutou um baque de porta fechando com força.

Olhou para o lado vendo Jimin entrar na casa com o rosto vermelho, e algumas lágrimas pareciam descer sem seu consentimento já que o rapaz de cabelos tingidos de ruivo secava com raiva cada lágrima que descia. 

– Jimin está tudo bem? – Jeongguk correu até o menor que apenas se afastou se encostando na porta atrás de si, abaixando o rosto. – Ei, olhe para mim. – pediu tentando tirar os braços do mais velho que cobriam seu próprio rosto como se estivesse com vergonha de ter sido pego naquele estado.

– Sai Jeongguk! – respondeu com a voz falha e levemente embaralhada, enquanto empurrava o peitoral do maior. – Eu estou bem...

– Você disse isso da outra vez e depois desmaiou no meu colo. – o menino disse fazendo o outro rir sarcasticamente.

– Muito engraçado. – murmurou amargamente.

Jeongguk ficou fitando o mais velho que desviava o olhar a todo momento, porém teve uma hora que o mesmo não conseguiu mais e encarou o moreno a sua frente.

– Venha aqui. – sussurrou envolvendo Park em um abraço e logo o mesmo escondeu sua cabeça no ombro alheio correspondendo aquele abraço forte e confortante. – E pare de chorar Jiminie...

"Um abraço pode não curar a tristeza e decepção interior, porém eu sempre esperei por esse abraço de consolo um dia, e aposto que Park também precisa disso, assim como eu sempre preciso sentir ele."