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História Colors - Ajude-me


Escrita por: lycorisrose

Notas do Autor


Olá para quem está ouvindo Humanz desde das três da madrugada ininterruptamente.
Sim sou eu.
Tentei lançar o capítulo na madrugada em comemoração ao lançamento, mas não consegui. Bem, pelo menos eu tenho a certeza de que o capítulo saiu bem (acho).


[Aviso - tentativa visual de suicídio, lembranças referentes a ataques e suicídio]

Tenham uma boa leitura.

Capítulo 10 - Ajude-me


 

 

Russel chegou na porta de casa com os nervos à flor da pele. Ele sequer tinha um chão naquele momento. Com o seu jeito protetor e calmo, raras eram as situações que o tiravam do sério e não envolviam razões específicas como brigas de rua. Mas agora a situação era totalmente diferente. 

Ele carregava com certa dificuldade em seus braços 2-D, que havia encontrado em um estado de pânico no meio da rua. Ver alguém gritando e correndo a distância no meio da rua e logo em seguida descobrir que se tratava de seu parceiro afastando todos ao redor como uma criança assustada foi uma surpresa desagradável ao dobro. E ainda mais ver as pessoas tirando fotos e rindo daquela situação. Isso o fez perder as paciências e xingar todos da pior forma – isso depois de segurar o vocalista de olhos fraturados nos braços e o ver desmaiar. 

Ao chegar na casa, tomou o máximo de cuidado possível para não o fazer bater nas paredes da pequena escada que levava ao apartamento que vivia com Noodle. E quando abriu a porta praticamente jogou o magricela no sofá. Tudo também era uma questão de controle e isso ele não estava tendo. 

Noodle havia dito que iria para o estúdio junto com ele no dia anterior, e sequer havia regressado para casa. Depois recebe uma ligação falando que ela havia dormido na cada de 2-D, e isso também o deixou preocupado como um pai costuma se preocupar, e, oras, ele era o pai de Noodle, praticamente. E saber que havia deixado o telefone no mudo e não atendido duas ligações dela provavelmente havia sido o gatilho inicial para que todo o seu nervosismo fosse convertido no momento em que encontrou 2-D. 

Com toda a sua experiência na banda, ele já sabia quais eram os pontos fortes e fracos dos outros membros, e tinha um conhecimento do estado de 2-D ao longo de seus anos juntos nos Estúdios Kong. A ideia de depressão já era cogitada por ele há muito tempo, pois como sabia bem como a doença funcionava, via o mesmo acontecendo com o outro, mas pânico e surtos eram uma novidade abrupta para si. 

 Devidamente trocado de roupa e coberto, Russel se perguntava se o amigo estava bem, e nessas horas se fez lembrar de Del. Conhecia bem a sua alma gêmea e tinha certeza que se ele estivesse aqui o estaria confortando com seu jeito calmo e afetuoso. Russel já era velho, não tinha mais o "pique" de antes – pois seu peso nunca havia sido um problema para si, mas apenas a idade agindo por conta própria – e aguentar tais situações não faziam bem para si. Mesmo com sono ele não dormiria até que o outro ao menos mostrasse um sinal de vida, e isso matava a sua disposição. A única coisa que lhe faria bem seria uma explicação.

Ouviu o som de chaves batendo na porta, e logo viu Noodle em um estado de nervos falando coisas altas e inaudíveis - a língua japonesa. Ela parou no momento em que viu 2-D.

– Eu não acredito... – Sussurrou com a voz falha. – Eu procurei ele pelo bairro inteiro, quase mais e ele estava aqui em casa?

– Baby girl, me escuta. – Russel se levantou da cadeira e caminhou até ela. – Eu o encontrei na rua e o trouxe para cá. Desculpa por não ter te atendido antes, mas se eu soubesse que era para isso teria atendido.

– O que você estava fazendo de tão importante para não me atender?

Russel engoliu em seco. – Eu fui tratar de negócios, coisas normais. Mas agora você vai me acompanhar para a cozinha enquanto eu preparo um chocolate quente pra te esquentar, ok?

Noodle suspirou, fazendo o mais velho sorrir calmamente. – Ok.

 

 

~*~

 

 

O relógio iria bater três da madrugada quando finalmente despertou. Aquele horário já o perseguia fazia muitas luas. Piscou, abrindo os olhos para o local escuro que deixava um tom verde escuro ao redor. Não era a sua casa, com certeza.

2-D tentou se levantar, mas acabou sentindo uma dor absurda por todo o seu corpo. Perna, coluna e, novamente, seu braço deslocado, como se fosse a primeira vez que havia machucado ele de novo. Apenas se resumiu em sentar em linha reta ao ponto em que estava deitado, arfando de acordo com cada pequeno movimento que fazia na tentativa de não se ferir. Não se lembrava de ter se machucado tanto quanto da última vez.

Então se lembrou dos acontecimentos na gravadora. Nossa, aquele Zack era um babaca. O que o surpreendeu foi perceber que Murdoc compartilhava a mesma opinião que ele, já que se não fosse atualmente, seria Murdoc falando aquelas baboseiras. 

– Ainda acordado?

Se virou assustado para o lado, vendo a figura de uma Noodle com roupas vermelhas largas segurando uma garrafa de água encostada na parede. Ela o encarava de forma indiferente, evitando o contato visual, mas mesmo assim se sentou na extremidade do sofá aonde ele estava deitado e perguntou se ele estava bem.

– Sim, eu estou. Como eu vim parar aqui? – Perguntou confuso. Ela apenas revirou os pés e apertou as mãos na garrafa que segurava.

– Russel te achou na rua, considere uma sorte. – 2-D forçou um pouco a memória e se lembrou dos braços que o pegaram antes de cair na inconsciência. – Quando você saiu daquela forma a gravadora, Nancy, Murdoc e eu ficamos te procurando por todo o lugar.

Ele a encarou, percebendo que ela não mostrava seu rosto para ele por completo, e tinha certeza que a culpa não era da pouca iluminação do lugar.

– Eu te deixei preocupado, não é? – Encarou o chão, triste. Noodle simplesmente não suportou aquele tom de voz, apertando com mais força o alumínio da garrafa e se virando para 2-D.

– Como não ficaria? – Noodle dizia baixo com uma voz embargada, provavelmente para não acordar Russel. – Você saiu sem mais nem menos! Eu me desesperei!

2-D ficou pior ainda. – Desculpa.

Noodle negou com a cabeça e se levantou pronta para sair dali, mas ele a segurou pelo braço e a puxou com a pouca força que tinha, vendo com detalhes o seu rosto agora: olhos inchados de choro, um nariz vermelho que provavelmente estava entupido. Suas próprias mãos tremiam em contato as deles. – Querida, o que está acontecendo?

– O que está acontecendo?! Eu que te pergunto isso, Stuart! – Ela retrucou, irritada. 2-D ficou paralisado. – Aquele ataque bizarro no Stylo, como você pôde ter ficado tão normal depois?! Ah, eu esqueci, não ficou! Saiu da gravadora e quase foi atropelado! 

Ela se auto calava para não fazer muito barulho, mas o fato de estar se minimizando para não demonstrar a raiva que sentia era notória. 

O limite que pouco existia já não se encontrava mais ali.

Primeiro, o desmaio quando se viram pela primeira vez;

Segundo, quando Murdoc ligou para eles e o encontrou com as marcas de um espancamento.

Agora era isso.

– Isso precisa de tratamento?

2-D franziu o cenho. – Tratamento?

– O que aconteceu hoje não foi normal. Foi pânico! Russel falou comigo e ele estava em choque! – Ela se lembrou das palavras ditas pelo afro-americano durante uma longa conversa na cozinha. – Você se cuida? O que aquele médico falou dois dias atrás? Tem algo sendo escondido?

– Por que tantas perguntas?!

– Porque eu me preocupo com você!

O grito saiu com tanta raiva que ele se recolheu por inteiro no canto aonde estava. Notando o movimento, ela ficou próxima, tocando a testa pálida e mexendo nos fios azulados com a distância perfeita de seu braço esticado. Com os olhos marejados, sequer sabia mais o que dizer.

– Me preocupo, mas não sei o por quê. Eu quero te deixar bem, mas tudo que aconteceu foram golpes por cima de mais golpes, então me fala o que está acontecendo! Não é por mim, é por você mesmo! Isso não é normal, uma pessoa passar por isso não é normal!

Noodle não percebeu o ponto em que começou a chorar, mas ela já estava caindo em lágrimas à aquela altura. Cobrindo seus olhos para esconder, fungando e tentando não se desfazer na frente dele. Para a jovem, aquilo era um sinal de fraqueza e não queria ser julgada como fraca para ninguém, mas tudo havia o limite.

2-D simplesmente ficou parado diante dela, como já estava há bastante tempo desde o início da conversa na posição preocupante. Se o seu semblante antes estava ruim, agora estava péssimo.

– Noodle, eu sei que você já passou por muita coisa mas não é igual...

– Eu sei, é uma doença. – Disse, aflita.

Noodle enxugou o rosto com as mãos, se virando novamente para ele completamente alterada.

– Eu me lembro bem do dia em que você estava bêbado nos Estúdios Kong e ficou falando que a melhor opção da sua vida era se matar. Havia brigado com Murdoc e ficava hora ou outra no parapeito de uma das janelas, só parou quando desmaiou no chão e eu tive que ficar te acalmando até lá. – O tom claro da pele de Noodle se tornava vermelho a cada palavra dita por ela. – Eu não sou uma criancinha, nunca fui para começo de conversa. Eu sei bem como é isso e quando alguém fala que quer morrer é porquê não existe mais nada na Terra que sirva pra ajudar. – Ela se sentou no chão, abaixando a cabeça e encarando seus próprios joelhos. – 2-D, esse pensamento tá rolando de novo?

– E-eu...

– Se for, nos deixe te ajudar! – A nipônica chiou. – O que rolou na rua foi um suicídio, quase! Russel estava atordoado, pálido! Quando você saiu do estúdio daquela forma eu pensei no que havia acontecido antes no carro de novo e eu... Não se, se for algo do tipo ou apenas um ataque de pânico ou apenas uma confusão...

2-D suspirou, apertando com força os seus próprios punhos. Antes de continuar ele pegou a garrafa d'água dela e bebeu todo o conteúdo, suspirando com dificuldade em seguida. Ela não entendeu o ato, mas foi logo em seguida que algo aconteceu.

– Já fazem três meses desde a última vez que eu tentei me matar.

"..."

Ela abriu a boca para falar algo, mas acabou ficando apenas boquiaberta. A encarou séria, tentando esconder o quão mal aquele assunto o estava fazendo e como a informação poderia cair como um soco no estômago para Noodle. Sabia que a hora chegaria e acabaria por falar isso com alguém, mas ele sequer pensava que seria com Noodle, a garota que jurou estar morta há não muito tempo atrás. 

– Era tão difícil ter aqueles pensamentos em cima, quase uma tortura. Eu passava mal e tinha muita tensão... Achei até que tinha claustrofobia. Na última vez eu cedi fácil e foi só com a ajuda de um vizinho que por uma sorte viu pela janela o que 'tava acontecendo e me parou antes que a faca pudesse...

2-D parou quando percebeu que estava imitando o movimento da faca no braço igual aquele dia. Arregalou as orbes escuras e encarou Noodle em seguida, que tinha seu olhar fixado nos dedos unidos próximos ao punho.

Ele poderia ser lento e desleixado, mas Stuart Pot mantinha seu semblante sério diante da conversa que chegava ao tom assustador da morte. Até mesmo ele sabia que estava soltando muito e o processamento das informações talvez poderiam ser de mais para Noodle. A japonesa estava estática e provavelmente imaginando a cena que havia acabado de ser descrita por ele, com o sangue escorrendo pela lâmina e alcançando o chão em grossas gotas. A culpa que se fez na mente de 2-D foi imensa. 

– Isso não é de agora, mas eu tenho certeza que não me lembro desse dia em Kong. Talvez eu realmente estivesse muito chapado. – Riu baixinho e segurou as mãos macias de Noodle, que tremiam sem parar. Ele não queria nem sequer ver a japonesa chorando daquela forma. – Se isso te deixou amedrontada até hoje eu sinto muito, querida... Nunca quis passar esse tipo de coisa para as pessoas que eu amo. Eu prometo que vou em um psicólogo, mas por favor, não chore. 

Ela parou para encara-lo, e o viu formar um pequeno sorriso ao longo de seu rosto. Um dedo passou ligeiro próximo ao seu olho enxugando uma das lágrimas, e sua feição se alterou subitamente. 

2-D não teve a reação certa para o momento, se ele não sabia como agir durante suas crises, quem dirá quando alguém perto de si tendo. 

A diferença foi quando percebeu as mãos de Noodle trilhando por seu braço, e quando a olhou novamente, percebeu os lábios da japonesa grudados aos seus. 

A ação foi tão rápida que não teve tempo para pensar, e quando viu, estava simplesmente respondendo a ele no movimento. Suas mãos tocaram a cintura da jovem por instinto e ela se levantou ligeiramente para a esquerda segurando o rosto dele com as duas mãos, ainda o beijando.  

De tão estranha e nova que era a sensação, quando Noodle subitamente o empurrou para trás, a sua feição era igual a da primeira vez que a reviu naquele mês: um abobalhado. 

– Merda, eu... Eu não sou uma adolescente! 2-D, desculpa, eu não sabia o que estava fazendo! E-eu... 

Ela ficou parada de costas para ele esfregando o rosto freneticamente enquanto tentava se reorganizar. 2-D permaneceu parado, sem falar absolutamente nada, e a demora para uma resposta a assustou.

– Uau. 

– Toochi? – O chamou pelo apelido infantil, trazendo ainda mais confusão.

– Noods, eu... Não sei o que falar... – 2-D tocou seus próprios lábios, sentindo o calor em seu rosto. – Se isso tivesse acontecido treze anos atrás, eu com certeza estaria em chamas de nervoso em sentido negativo.

– Espera, isso foi ruim?! – Noodle deu dois passos para trás ainda mais desconcertada.

– Nã-não! – Gaguejou. – Eu gostei! Só achei estranho a-a-a rapidez, quer dizer... Eu não estava preparado mas... Fo-foi bom! E-e...

Ambos ficaram quietos, com Noodle em pé dando voltinhas ao redor de si e 2-D passando suas unhas na roupa – que ele já percebeu que não era dele – que usava. Um silêncio gritante que não ajudava em nada, diga-se de passagem. Não era uma maneira certa de terminar um assunto daqueles, mas 2-D precisava acalmar a garota de alguma forma. Ver Noodle naquele estado de confusão não lhe caía bem.

– Eu só queria que você ficasse melhor... Ok? Apenas fica melhor.

– Não me dê mais sustos e eu ficarei, querida.

Ela voltou ao sofá e o empurrou de leve, ainda triste com o que havia acontecido. O que foi dito não seria esquecido com um beijo. Um pouco, ficou acariciando os fios da japonesa até a mesma adormecer apoiada com a cabeça próxima do chão.

A fala de Noodle se fixou dentro de si, e como um novo mantra, 2-D parou para pensar em tudo aquilo. 

 

~*~ 

 

 

A chamada telefônica custava 10 libras esterlinas a hora, e isso era quase um crime na sua opinião, então ver que 2-D estava demorando bastante para terminar a ligação de cinquenta minutos o deixava nervoso. Ele não sabia o que falar, mas o ex-vocalista da banda – pelo menos – parecia bastante ocupado, e ele admitia que estava errado em escutar conversa alheia escondido na parede do corredor, mas era a sua casa e isso era parte de seu direito.

– Amanhã me parece ótimo, sim. Não, não tem problema ser uma sessão dupla, eu só quer resolver isso o mais rápido possível... Até mais.

– Double-D? – Russel se aproximou e se sentou próximo de 2-D quando ele terminou a chamada. – Com que estava falando?

– Com a minha antiga psicóloga. – Pot encarou a pequena tela do móvel da casa. – Eu tenho que falar com ela sobre tudo isso que eu 'tô passando...

– Isso é bom, amigo, muito bom. – Russel bateu de leve no torso do magricelo. Encarou o outro lado da sala e viu Noodle dormindo bastante torta no sofá. Isso o deixou confuso por ter se lembrado de deixar ela no quarto. – Desde quando ela tá deitada aqui?

2-D parou e encarou a jovem, sorrindo fraco e se encostando na parte livre de onde estava sentado. Suspirou, tentando não colocar suas emoções no momento.

– Não faz muito tempo, Russ. Mas se ela acordar e eu não estiver aqui, diz que eu vou me tratar, ok? Ela vai entender.

Russel estranhou, mas assentiu para Stu-Pot.

– Obrigado.

 


Notas Finais


> peço desculpas.
> digo "de nada".
Escolham um.



Obrigada por ler.
Nos vemos no próximo capítulo.


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