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História Colors - O limite


Escrita por: lycorisrose

Capítulo 11 - O limite


 

Se aquilo era para o seu melhor, então a sensação ruim deveria parar, certo? 

Parecia bem. Ele queria aparentar que estava, pelo menos. O cabelo estava penteado com a ajuda de gel, fazia muito tempo que não o arrumava daquela forma, com ele para trás como alguém que iria para um lugar importante. 

Bem, era importante. 

Auto estima era inexistente em seu dicionário pessoal, mas pensando no que lhe ocorrera antes, queria evitar ter a imagem de um louco. 

A ala do hospital estava mais cheia do que da última vez que passou por lá. Estranho, pois muitos não aparentavam ter algum tipo de problema, mas foi apenas perguntar as horas para uma mulher aparentemente sadia que ela começou a gritar. 

Medo não era uma definição tão estranha agora. 

– Co-com licença, o horário que eu marquei na psi-psicóloga... 

A enfermeira piscou de tédio, ignorando o estado trêmulo do homem e começou a folhear uma prancheta o mais lendo que podia. Tecnicamente, a figura de um cara com cabelo azul e olhos totalmente escuros não a surpreendia, então naquela ala quem parecia ser normal demais se tornava o louco da situação. 

– Já pode ir. 

2-D agradeceu baixo e caminhou quase correndo para a sala, não antes de dar uma batida desnecessária na porta e entrar com força, arfando como se estivesse acabado de ver a pior coisa da sua vida. 

Passos largos, postura curvada, dedos trêmulos. As paredes do corredor eram pintadas de amarelo, a cor do medo. 

Temia por algo que não sabia dizer o que era, mas temia. 

Se sentou no extenso sofá de couro para esperar, deixando suas unhas roídas arranharem todo o redor aonde estava, indo do couro até sua perna. 

– Ah, hoje é um daqueles dias, acredita que eu só tive tempo de comer agora? – A mulher entrou na sala perdida em sue próprio mundo. Ela caminhou até a mesa afobada, jogando todas as coisas que segurava em seus braços. As olheiras em seu rosto juvenil chegavam a ser preocupantes, mas 2-D sequer reparou naquele detalhe. 2-D estava muito pior e ninguém conseguia reparar, como poderiam notar em uma médica que lida com pessoas estranhas? 

– O-oi... 

– Olá, eu... Stu? – Ela piscou, indo para o lado dele ao mesmo momento em que conseguiu vê-lo. Nesse meio tempo ela já estava sentada e segurando as duas mãos magricelas de 2-D. – Já faz muito tempo, como vai, querido? 

– Nada bem... – Ele respondeu, soltando um suspiro cansado. – Eu vim aqui por isso, Mar. 

Martha era o seu nome. Ela era a psicóloga fixa de 2-D já fazia meses, e o havia ajudado naquele curto período. A jovem doutora havia ajudado ele a superar pequenas coisas, e trabalhava na ajuda contra traumas. Infelizmente os acontecimentos não se fizeram favoráveis, e isso se tornou perceptível.  

'Coluna curvada, mãos trêmulas e frias de suor... Com certeza ele precisa de ajuda.' 

– Ah, eu compreendo. – Martha sorriu, delicadamente se sentando na outra cadeira já com um caderno em mãos. – Deixe que o segundo paciente venha e nós iremos começar imediatamente. 

– Segundo? – 2-D ergueu uma sobrancelha, sequer escondendo a confusão que se estampou no pálido rosto. 

– Sim, eu já estou no meu limite. Ontem eu tive que te remarcar para esse horário e te fundir com um segundo paciente que acabaria sobrando para o meu dia de folga que seria uma ocasião familiar... – 'Que eu teria cancelado caso soubesse como você estava.' – Eu deveria ter avisado, tudo bem dividir com outra pessoa o seu horário? 

– Não, está tudo bem. – Sorriu em resposta, mas internamente sentia como se o pior estivesse acontecendo. 

 

~*~ 

 

Noodle não sabia como se sentir naquele momento. Russel havia saído de casa junto com Nancy – na desculpa de que havia sido chamado na gravadora, mas obviamente ela sabia que não era verdade –, e 2-D não havia respondido nenhuma mensagem nem nada. Ainda se lembrava do que Hobbs disse quando perguntou aonde 2-D havia ido: 

"- Ele disse apenas que iria se tratar. Não sei o que vocês conversaram ontem mas ele parecia mais calmo." 

Aquilo significava que ele havia escutado ela? Sabia que havia perdido o controle, mas não esperava falta de contato e aquela estranha sensação esquisita que sempre se voltava para o beijo. 

Ela havia beijado seu companheiro. Alguém da família de muitos anos. Praticamente um irmão. Moralmente isso parecia muito errado, mas seu coração sabia que aquela ação emergiu do mais fundo desejo de proteção e amor diante de 2-D, seu Toochi. 

Ele havia aberto seu coração, dito coisas que fizeram sua mente maldita pensar no pior. É claro que ela jamais iria querer ver a imagem de 2-D morto na sua frente em meio a sangue. Não que fosse inocente e nunca tivesse visto nada, mas era diferente. Se tratava de alguém tão próximo de si que saber o que acontecia era como matá-la lentamente. Garantia que sentiria o mesmo por Russel – no sentido paternal – e em Murdoc – achava, pelo menos. E agora, por 2-D, era tão diferente. Havia escapado de seu pior pesadelo por causa dele e agora deveria enfrentar mais– 

Parou de pensar quando a campainha foi tocada. Se levantou do sofá e foi em passos lentos até a porta. O dia estava cinzento como o passado, e isso já bastava para tirar ainda mais sua energia. 

Ao abrir, a surpresa: era um homem alto, moreno de olhos escuros. Ele estava com um cachecol que cobria parte do rosto, mas a tirou para que a garota o pudesse reconhecer. Ele também tinha um sobretudo marrom que ia até os joelhos, e usava uma calça jeans comum com sapatos marrons. Noodle teve que piscar e esfregar os olhos com força para conseguir reconhecê-lo, pois quase nunca o via  de verdade. 

– Alex? 

– Oi! – Ele sorriu, coçando a nuca bem nervoso. – Eu só estava passando por aqui para ver se 'tava tudo bem contigo enquanto ia para o hospital. Sabe, as consultas do Mud. Eu precisava avisar ele sobre o recado que a psicóloga deu e ele não viu. 

– Que recado? – Noodle perguntou, se escorando na porta de madeira. 

– Pois é, é esse o problema. – Alex pegou um telefone de capa preta com um pentagrama estampado que parecia ser de Murdoc, dando uma rápida olhada nas mensagens e a encarando nervoso em seguida. – Sabe o seu colega de cabelo azul? 

 

~*~ 

 

– O que ele está fazendo aqui?! 

– E-eu que te pergunto! 

Murdoc e 2-D pareciam dos cães em uma rinha de luta prontos para atacar um ao outro. Por algum motivo Niccals parecia extremamente exausto e estava esgotado de paciência, enquanto o medo de 2-D apenas aumentava e o forçava a agir como não queria, pois nem mesmo em um dos seus portos seguros ele tinha alguma segurança. 

– Ah, Niccals, eu sinto muito não ter avisado, mas como o horário já está apertado eu coloquei uma sessão dupla agora. Era isso ou sua sessão ficaria para meu único dia de folga. 

– Ah, ótimo! Nem sobre os meus problemas eu vou poder falar! 

O rosto de 2-D se tornou vermelho como a raiva que sentia naquele exato momento. Os problemas de Murdoc provavelmente envolviam bebida e mulheres, e enquanto que nem ele poderia descrever como estava se sentindo agora, Murdoc poderia fazer daquela sala o seu quarto pessoal de tão espaçoso. 

– Eu posso começar então. –2-D disse rangendo os dentes. 

– Stuart, existe algo te incomodando aqui? 

2-D se distanciou de onde o esverdeado estava até a ponta contrária do sofá, ao mesmo tempo que esticava seu braço por completo, apontando diretamente para Murdoc com uma expressão de raiva. – Ele. 

Em um conceito geral, 2-D não se lembrava da noite em que fora atacado. Apenas a dor em seu ombro deslocado, ossos quebrados e rosto marcado eram visíveis agora, junto a lembrança de três homens o atacando e um escuro interminável que apenas se clareou nas luzes do hospital. Em sumo, ele sequer se lembrava da ajuda e preocupação que Murdoc, Noodle e Russel tiveram naquele dia, principalmente de como Murdoc foi o primeiro a ver ele e o arrastar para casa. 

– Eu digo o mesmo, faceache. 

O nada, e isso fez Murdoc achar que 2-D era, na verdade, um mal agradecido. Juntando ao fato de que ele havia vindo a consulta para despejar sua raiva em 2-D fora de sua visão para ver se melhorava e 2-D apenas havia voltado a se tratar para ver se poderia melhorar do estado quase aterrador que estava... Nada poderia dar certo ali. 

– Ah, mas é claro! – 2-D tossiu. – Eu tenho coisas sérias a resolver aqui, picles verde. 

– Do que me chamou?! 

– Senhores! – Martha interveio antes que Murdoc pudesse cair em cima de 2D. – Por favor, vamos nos acalmar. Podemos começar agora? 

Os dois se voltaram, ficando o mais longe possível um do outro naquele estreito sofá. A raiva emanava de ambos, e um sequer sabia a verdadeira razão do outro estar fazendo aquilo. Parecia uma briga infantil, mas a ferida se encontrava em contato a um órgão vital, e qualquer deslize de ambos poderia causar uma grave consequência. 

– O que seria esse começo, hã? – Niccals se pronunciou depois de um longo silêncio. 

– Seria bom se dissesse o que lhe trouxe aqui, certo? 

– Ah, – Deu de ombros. – nesse caso eu fico com a mesma resposta do idiota aqui. 

2-D o encarou, em seguida vendo a expressão surpresa de sua psicóloga. Engoliu em seco, sentindo os olhos marejarem por conta da culpa e do peso que se formava dentro de seu peito. 

No fim das contas, ele sabia que havia sido uma má ideia. 

 


Notas Finais


Olá! Desculpas pelo atraso, mas eu realmente passei por umas coisas muito ruins com a minha família nesse último mês, incluindo algumas crises emocionais. Bom, eu não vou explicar muito, vocês provavelmente entendem isso.
Eu realmente sinto muito pelo atraso, mas eu já tenho dois capítulos revisados e prontos para serem postados e outros praticamente já planejados, mas que precisam de muitos reparos. Eu vou postar lentamente, mas lembrem-se que a fanfic já está caminhando pro fim, mas ainda não chegou ao ponto em que realmente acontece o enredo.
O próximo capítulo vai ser pesado, eu vou colocar avisos antes nas notas iniciais.

Agradeço muito por todos vocês que acompanham a fanfic.
Até o próximo capítulo.


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