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História Colors - O Gatilho


Escrita por: lycorisrose

Capítulo 6 - O Gatilho


Fanfic / Fanfiction Colors - O Gatilho

 

O cheiro de maresia já não incomodava mais seu olfato, já fazia tempo que aquele havia sido a pior parte da viagem. 

Agora seus lábios estavam rachados, a garganta seca, seu estômago roncava sem parar, sua energia completamente esgotada, mas ele ainda tinha que se levantar para cumprir com aquele cronograma musical que parecia não possuir um fim. 

Já era parte de sua tortura, não conseguia pensar nas horas que passavam, pois o tempo naquele lugar era igualmente vazio. 

A porta se abriu, o ranger seguido do feixe de luz aumentando por trás de si. Passos lentos e fortes, chegando cada vez mais próximo de seu corpo. 

Já estava acostumado com sessões de tortura, mas não conseguia mais suportar mais ser forçado a se levantar e andar, seus ossos já não suportavam mais nada daquilo. 

"Apenas" 

A mão sintética e gelada tocou a área de seu pescoço próximo da artéria, sentindo cautelosamente os fracos batimentos cardíacos. 

– Ordem a ser executada. 

Estremeceu ao ouvir o gatilho da arma. 

Ele conseguiu se levantar, apenas para ver o cabo da arma apontado diretamente ao seu rosto. Viu o rosto deformado, com a pele derretida mostrando a formação metálica do rosto se desfazendo. 

"Faça" 

Os olhos focados, arregalados, não demostraram emoção alguma quando se focaram aos seus. Não demonstraram emoção quando atirou em sua direção. 

O calor logo em seguida se substituiu pelo som de algo explodindo, e então a escuridão da visão. Mas ainda escutava os risos repetidos e falsos, e os toques. 

Era apenas passageiro, pois não se poderia fazer mais nada quando se está morto." 

2-D abriu os olhos negros em susto, engasgando-se com o próprio ar, sentindo tudo ao seu redor girando infinitamente como uma câmera trêmula. Suas mãos tocavam no pano que lhe cobria, mas estavam geladas e mal conseguia senti-las. Nem sequer a dor latente que estava sentindo no braço parecia importar, na verdade contribuía para a sensação ruim. Se levantou, confuso, desorientado, direto para o banheiro. Abriu a porta do espelho, pegando o frasco de pílulas e pondo uma absurda quantidade em sua mão, engolindo o conteúdo inteiro. 

Ao realizar o ato, sentiu o estômago revirar, uma dor surgindo em efeito imediato. Logo sentiu um bolo se formar na garganta, e um gosto ruim se misturar a sua saliva. Tapou a boca com as duas mãos ainda segurando o pote, batendo as costas na parede com força. O líquido espesso e amargo subia em sua garganta, o deixando desorientado. A tontura o levou ao chão, e, sem opção a vista, se jogou em direção ao vaso sanitário. 

 

 

...Noodle piscou confusa, despertando com sons estranhos vindos do lado de fora. Parecia um estrondo, talvez, ou uma batida. 

Demorou para poder reconhecer o quarto de 2-D, pois era a primeira vez que estava dormindo em um lugar fora de sua nova casa em muito tempo. 

Se levantou, seguindo os sons do que parecia ser alguém engasgando, sendo levada por sua audição ao banheiro, o único cômodo aceso na casa, com a porta entreaberta. Os sons estavam altos e se seguiam ininterruptamente. Abriu a porta, ferindo um pouco a visão com a luz acesa, mas logo se acostumou e viu a cena a sua frente. 

Stu estava de joelhos no chão do cômodo. A respiração estava pesada, e alta para que pudesse ouvir com clareza, seus pulmões recuperavam o ar com tamanha força que o som era audível para ela de longe. Em uma das suas mãos estava um pote amarelo fosco vazio e molhado de água, o que havia dentro dele antes agora estava dentro do vaso sanitário misturado a comida. 2-D ainda sentia a tontura de ter feito tudo em um ato único, se arrependendo profundamente do ato assim que viu a garota parada a sua frente. 

– 2-D... – Noodle se agachou próxima dele, que apenas a encarou e tossiu em seguida, voltando-se para o vaso e vomitando o que quer que fosse a mais. – Dee, o que houve? 

– Eu... – ele começou a falar um pouco desorientado, o coração ainda batendo acelerado – eu... Sonho ruim, e-e-e dor de cabeça e... 

– Espera. 

Prontificada, ela saiu do cômodo. Retornou em seguida com um copo de água gelada, voltando a se agachar e entregar o vidro para ele, que bebeu o conteúdo lentamente, umedecendo os lábios secos e limpando a garganta do gosto ruim. 

– Pronto, agora sim, você pode me contar. 

– Contar... 

– Seu sonho, Dee... – ela o encarou novamente. Seu sorriso era terno e transparecia tranquilidade. Isso ajudou 2-D a relaxar um pouco. Entrelaçou suas mãos as deles, para ver se conseguia para com o nervosismo do de estatura mais alta. – Pode se abrir comigo. 

2-D engoliu em seco, virando seu rosto para o lado. – Eu sonhei que estava de volta a Plastic Beach. Eu estava naquele quarto isolado e... Parecia real demais, principalmente quando ela veio e... 

– Ela? – os olhos de Noodle se cerraram em confusão. 2-D voltou com o olhar. 

– Cyborg – engoliu em seco – ela ficou do meu lado, apertou o gatilho e... 

Ele arregalou os olhos, se voltou para o vaso novamente, seus pensamentos eram os piores que poderia imaginar. Aquilo estava embrulhando seu estômago e retirando tudo que havia ingerido antes, inclusive os remédios que havia tomado para justamente se esquecer do que havia sonhado. Noodle bateu em suas costas, sussurrando coisas como "foi apenas um sonho" e "nada foi real". 

– Cyborg não está mais aqui, você não está mais em Plastic Beach. Nós estamos livres de tudo aquilo, aquela fase acabou – ela tentava mesmo controlar o tom de voz para não exaltar suas emoções. 

Diferente de 2-D que possuía lembranças de alcunho traumático referentes ao lixo ambulante que também era uma ilha, Noodle tinha lembranças vingativas e completamente fora do que lhe é permitido por lei atualmente. Isso não ajudava em nada na situação, pois de acordo consigo mesma ela estava agindo de modo superficial. 

2-D ainda rebaixou seu olhar diante dela, pensando naquelas palavras que mesmo vindo de alguém que ele confiava não consegui mudar seus pensamentos. 

-  Aquela fase acabou... Mas então por quê ela vive voltando para me atazanar? 

E logo ele afundou seu rosto em suas mãos, soluçando fraco. O choro veio logo em seguida. Pesado, carregado com as emoções negativas. 

Noodle o envolveu em um abraço, disse coisas confortantes, mas ela não sabia exatamente como lidar com uma situação daquelas. Ela já havia lidado com piratas, zumbis, fãs enlouquecidos, mas nunca com aquilo. Ou talvez ela já tivesse mas não se lembrasse, mas era algo novo, principalmente se tratando de 2-D, alguém que ela conhecia há anos agora daquela forma. Ela simplesmente não estava tendo uma reação. 

– Tootie... – ela passou a mão na cabeça dele, aos poucos se levantando e o trazendo junto, tomando cuidado para deixar o ombro ajustado da maneira que não o ferisse. – Esquece tudo isso agora, você está aqui, nós estamos aqui. 

Ele ainda estava longe., perdido em seus pensamentos. Noodle elevou o queixo dele, forçando-o a encarar seu rosto. Isso o fez focar nela novamente. Limpando suas lágrimas, repetiu: 

– Nós estamos aqui. 

E 2-D, mesmo fraco, a seguiu. 

– Nós estamos aqui... 

– Nada vai acontecer de novo. 

– Nada vai acontecer de novo... 

– Nunca mais. 

– Nunca... Mais. 

Ainda ficaram mais algum tempo unidos, apenas lado a lado. 2-D se desvencilhou do abraço quase em um esforço para si mesmo, e enquanto limpava seu rosto das lágrimas ele bagunçou os fios negros em uma risada fraca. 

– Obrigado. 

 

 

~*~*~ 

 

O fio de suor escorria pelo seu rosto, descendo pela dobra do pescoço até se unificar a blusa de algodão. A pressão sob seus ombros era forte, com as grossas e afiadas unhas arranhando sua pele, penetrando-a com a maior força que poderia. 

O que estava lá não era daquele mundo. 

 Seus olhos tentaram focar no local ao redor, vendo o quarto repleto de elementos de santos, quase imaculados, ao redor da cama suja. Observou novamente a situação que se encontrava, vendo que seu tronco estava sendo preso por duas pernas, e estava sobre o sério risco de levar uma mordida fatal se não conseguisse segurar direito os fios castanhos. O olhos da garota eram completamente negros, representando seu forte estado de... 

– Está tudo bem aí? – ouviu a voz do outro lado completamente desnorteada, batendo na madeira em quase desespero. Não respondeu, pois sabia que um movimento em falso poderia acabar com tudo. 

Em um rápido golpe, conseguiu afastar o rosto dela, girando se corpo para a imprensá-la no chão, ganhando como resposta um gemido horrendo de dor. 

– Está sim! – ele berrou enquanto se ajeitava atrás dela, prendendo as pequenas mãos na sua. Ela gania como um cão implorando para ser liberto, mas ele a ignorava por completo. – Lembre-se que são quinhentas libras! 

E assim terminou socando a cara da garota. 

. . . 

      Suspirou. 

Murdoc não sabia dizer o quão estava satisfeito com seu serviço. Não era um  profissional, mas aquele resultado já havia sido positivo por não ter causado nenhum dano na  e ter conseguido uma boa quantia de dinheiro. 

Saiu da casa e caminhou pela rua vazia assobiando distraído, contando o valor que possuía em mãos. Quinhentas libras não era algo que se desperdiçava. Riu com o pensamento. 

– O que você tá fazendo aqui, mano? 

O satanista sentiu os ossos internos se tremerem de susto. Virou-se, tendo a imagem do gigante afro-americano segurando algumas sacolas de mercado com um olhar assassino para sua direção. 

– Ora, Russ! - Murdoc escondeu a quantia de dinheiro atrás de si. - O que rola? 

– Eu que pergunto, Niccals. - o gigante se aproximou, o empurrando até a esquina. - eu ouvi os gritos. 

- Gritos? – ele o encarou, logo depois fez uma feição de concordância.

– Ah, sim, eu fiquei tomando conta de uma menina, sabe? Essas crianças de hoje em dia... 

- Escuta aqui. 

Murdoc sentiu seus pés saírem do chão. As sacolas estavam devidamente colocadas próximas aos pés de Hobbs, e seu olhar branco era capaz de refletir sua imagem por. – Se eu souber que você está fazendo alguma coisa de errado – ele bateu seus dedos na testa do verde – Eu farei questão de adicionar mais socos ao histórico do seu nariz. 

E o jogou no chão. 

- Qual a necessidade disso? Eu não fiz mais nada de errado como anos atrás, se é o que você quer dizer. O novo eu está mais disposto a não querer ter a alma arrastada para o inferno tão cedo! 

Russel o olhou torto. – O que isso significa? 

Murdoc pegou um cigarro de seu bolso e o acendeu, dando uma forte tragada nele. – Eu quero dizer que o meu pagamento está chegando e eu vou garantir que ele chegue atrasado. 

- Ah cara – o maior balançou a cabeça em negação – Que merda você fez agora? 

- Agora? – Murdoc riu – Essa dívida é mais antiga que você pensa. 

Ambos ficaram parados encarando um ao outro. Cada um pensando no que possivelmente poderia falar. Russel sorriu, dando uma olhada em Murdoc por sua visão periférica. 

- Amanhã você poderia apresentar o Alex, não poderia? 

E pela primeira vez em anos, Russel deixou Murdoc sem palavras. Ele saiu, atravessando a rua. O satanista processou a frase, sentindo seu corpo esquentar, e quando se deu conta, logo estava a esbravejar xingamentos. 

- Vai se foder! 

- Até amanhã também! 

E amanhã seria um longo dia também, deveria se lembrar de não estragar tudo novamente. Mas ele tinha convicção de que tudo daria certo. 

Pelo menos em teoria.

 

 


Notas Finais


Acabei deixando algumas coisas escaparem mas vai fazer sentido logo.
Quero novamente agradecer pelos comentários e - ah - pelos favoritos! De verdade mesmo!
Eu espero que tenham gostado. Nos vemos no próximo capítulo.


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