O anjo encarou os lados, procurando seu alvo.
Abriu as suas asas penosas, planando sobre os telhados escuros, sentindo a umidade o dar nos rostos.
Ultrapassou os prédios, encarou as pessoas. Algumas bêbadas, algumas sóbrias.
Ele inspirou a própria fumaça que emitia, as sombras ao seu redor se intensificaram.
Viu o alvo passando, ele se esquivou. Tomou o rumo, se aproximando da vítima.
Invisível, sentiu-a de perto, imaginando seu controle.
Estava tão próximo, seu plano de vingança seria completo. Os olhos claros – cristalinos como água – devoravam o corpo com o olhar.
Iria ter seu prêmio a qualquer custo, e não permitiria que o contrato fosse quebrado.
Abriu a boca, revelando os caninos afiados. A saliva escorreu pela pele seca dos lábios e seus dentes ficaram à centímetros da cabeça.
Mas as duas mãos o agarraram antes que pudesse se aproximar mais. Virou de lado, vendo duas orbes brancas brilhantes na noite o encarando fixamente. Logo se encontrou com uma parede de tijolos.
– Eu digo apenas uma coisa – Disse com cautela, aproximando seu punho fechado do rosto do ser até se encontrar com a pele fria. – Fique longe de todos eles.
– Theheheh! Isso é algo que eu infelizmente não posso cumprir! – O anjo riu em barganha, revelando seus braços e pernas esguios e magricelas cobertos por algum tipo de couro preto. – Existem coisas muito valiosas, como as almas corrompidas ou... As que ainda devem algo.
– Isso não interessa. – O encarou com mais raiva, sentindo que suas pupilas inexistentes poderiam ser vistas pelo ser. – Eu conheço demônios como você. Querem recompensas por almas, mas aqui não tem nenhuma para você.
– Ora, para um receptáculo, eu digo que és bastante inteligente – Ele riu novamente. – Apenas te digo que não sou anjo, tampouco demônio, mas sigo um dos lados e te aviso de agora que quando eu quero algo, eu vou até o fim.
– Boa sorte, porquê não vai conseguir nada.
As mãos grossas travaram seu caminho pelo ar novamente e agarraram o pescoço esguio do ser, os apertando com força suficiente para quebrar um pescoço humano, mas tampouco era notável uma mísera falta de ar.
– Humanos são estúpidos mesmo. Eu não vou em busca deles, ora! – Levantou a grossa sobrancelha em dúvida, e o ser apenas riu. – Eles vão vir rastejando por mim. Eu apenas vou acelerar o processo. No veremos novamente, isto eu garanto.
– E qual é a sua garantia?
– Ela se chama Murdoc Niccals. Conhece?
As mãos ao redor de seu magro pescoço se afrouxaram, e ele se aproveitou da deixa e se libertou, apenas encarando de lado.
– Considerarei isto como um sim, the-he! Mas não se preocupe, eu nunca deixo sofrimento para trás, acho suas emoções dignas de pena.
E o ser ergueu-se, revelando ter o dobro de sua altura. Ergueu suas asas, sorrindo e mostrando aqueles dentes sem parar. Ele ainda o encarou mais uma vez, deliciando-se com o medo que se instalara ao redor. Emoções humanas eram divertidas de se brincar, no fim das contas.
E ele se foi, desaparecendo na mesma fumaça que surgiu. O cheiro intoxicante de enxofre se instaurou pelo redor, e com ela, a incógnita acompanhada de uma infeliz certeza.
– Eu vou matar ele.
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