Segunda feira, primeiro dia de aula. Vocês não odeiam isso? Luhan também odeia. O ômega agora estava deitado tentando de todas as formas não pensar negativo, mas como eu disse, é segunda e todos odeiam segundas.
A manhã fria não ajudava Luhan a se manter acordado, só fazia ele querer voltar correndo para sua cama e não sair de lá. A ideia de dormir o dia inteiro era bem mais tentadora do que ir pra escola e passar horas sentado em uma carteira enquanto algum professor chato ensinava uma matéria mais chata, tipo matemática. Luhan nunca foi bom com números, aprender matemática era um grande desafio para o menor. Ele aprendia na hora e depois esquecia.
Tudo em Seul conspirava para que os estudantes quisessem ficar em suas camas, por que segunda feira tinha que ser assim?
Luhan já estava vestido com seu uniforme quando recebeu uma mensagem do seu motorista, avisando que já estava o esperando em frente ao prédio.
O ômega então checou todas as suas coisas — não podemos esquecer que Luhan tem um grande histórico de esquecer suas coisas — e depois de concluir que tudo estava na mochila, ele saiu de seu apartamento.
O menor não pôde deixar de olhar na direção do apartamento de seu vizinho, aquele simples ato o fez lembrar do dia anterior quando seus olhos se encontraram com os do alfa.
Seu coração acelerou e aqueceu como naquele dia. Luhan sacudiu a cabeça, ele não podia se envolver com outros alfas, tinha que se lembrar do aviso de seu pai.
Enquanto as portas do elevador se fechavam, Luhan vi a porta do outro apartamento se abrir e nos últimos segundos enquanto aquelas portas de metal se fechavam, ele encontrou os olhos do alfa outra vez.
O ômega se encostou na parede de metal e respirou fundo, sentia como se seu coração fosse sair pela boca. Luhan se perguntava o por que de aquilo estar acontecendo com ele, era pra ele ter paz em Seul, ter tranquilidade, mas aquele alfa, Sehun, tirava tudo aquilo dele.
Seu coração só podia gostar de brincar com ele, o menor queria entender como poderia se sentir atraído por um alfa que nem conhecia direito.
Quando as portas do elevador voltaram a abrir e mostraram o hall de entrada do edifício. Luhan só faltou correr em direção ao carro, ele com toda certeza estava fugindo de um possível segundo contato com seu vizinho naquela manhã.
O menor se encolheu no banco do carro e fechou os olhos, estava cansado, respirou fundo várias vezes e tentava não pensar no alfa, até porque ele era um ômega prometido.
Luhan nunca tinha parado para pensar seriamente sobre aquilo, e agora no carro parecia que a realidade lhe vinha à tona. Ele nunca seria uma ômega livre, estaria sempre seguindo as regras de outro alfa, se não fosse do seu pai, seria do alfa com que ele iria se casar.
Pensar naquilo o fazia querer fugir, ir para um lugar onde ninguém o encontraria, mas como fazer aquilo? Luhan sabia que poderia ir pro inferno e seu pai o encontraria.
Ele encostou a cabeça no vidro da janela e ficou observando as pessoas, elas iam e viam, como uma chuva.
Luhan invejava a liberdade daquelas pessoas, ele queria aquilo para sua vida, mas ao invés disso se tornou um escravo dos desejos ambiciosos da pessoa que deveria lhe dar amor e carinho.
— Não devia se maltratar com esse tipo de pensamento.
Luhan se surpreendeu, o menor acreditava que o motorista nunca iria falar com ele.
— Não sei do que está falando — Luhan disse olhando para ele.
— Sabe sim — O motorista o olhou pelo espelho — você tem um olhar triste e perdido
Luhan abaixou o olhar.
— Quanto mais você pensa nisso tudo — o motorista continuou a falar — mais isso irá te consumir, não deixe momentos ruins destruírem sua felicidade, não se prenda ao passado e não deixe o futuro te assombrar, viva o presente por mais difícil que ele seja — o carro parou — não esqueça, Luhan, coisas boas vêm para pessoas boas, não importa quanto tempo demore. Chegamos na escola.
Luhan se pegou sem saber o que responder para seu motorista, então ele sorriu e agradeceu. De repente o dia não parecia tão ruim, porque tudo o que o ômega precisava ouvir eram palavras de conforto.
O menor ajeitou a mochila em suas costas e entrou na enorme escola, que agora não parecia tão grande por ter tantos alunos.
Era o meio do ano, então todos os grupos de amigos estavam formados, Luhan era o novato vindo de outro país que possivelmente não iria se encaixar logo de primeira. O ômega não ligava para essa coisa de ser popular, nunca foi muito de querer chamar a atenção, mas sempre teve muitos amigos.
Alguns dos alunos olhavam para Luhan com certa curiosidade, outros nem ligavam para o novato. De acordo com o papel que o ômega tinha pegado, sua sala seria o 3° ano D.
A sala se encontrava no segundo andar, para a sorte do menor era praticamente impossível se perder. Quando Luhan entrou, pôde perceber que praticamente todos os lugares da sala estavam ocupados, menos um; no final da sala, perto da janela tinha um lugar vago na frente de um menino.
Ele andou em passos rápidos até o lugar, mas antes de sentar resolveu que seria melhor perguntar para o menino se ele não estava guardando aquele lugar para alguém.
— Err — Luhan esperou o menino olhar para ele antes de prosseguir — está guardando esse lugar para alguém?
O outro apenas negou com a cabeça. Luhan guardou suas coisas e se sentou, mas logo virou e sorriu.
— Sou Luhan, e você?
— KyungSoo.
— Espero que sejamos bons amigos, KyungSoo.
[...]
Yixing tinha acordado naquela manhã já sabendo o que o dia lhe guardava.
Ultimamente as coisas estavam indo muito bem, e isso era estranho, Lay percebeu que o pai até estava mais feliz. Talvez porque agora ele tivesse Luhan sob controle e em outro país, isso deixava Lay com muita raiva. O alfa já teria explodido com o pai se não fosse por sua mãe e Luhan.
Era incrível como as pessoas acreditavam tanto no que liam e viam em programas de televisão, ah se eles soubessem que a família Xiao não tinha nada de feliz e perfeita como transparecia nas revistas...
Lay passou as mãos pelos cabelos e olhou o horário no celular, ele tinha que estar vestido e pronto para sair em meia hora, teria que ir para a empresa. Como futuro sucessor de seu pai, precisava saber como administrar os bens da família.
O alfa se olhava no espelho, ele era tudo o que seu pai mais desejou, mas quando ele colocava aquele terno, o mesmo não se reconhecia. Era como olhar para um completo estranho, Lay detestava ser assim e tentava se redimir cuidando de sua mãe e irmão.
'Nojo' era a palavra que definia a forma como o alfa se via. Ele não se orgulhava da forma como vivia, por mais que fosse bom com sua família, ele não era o mesmo com as outras pessoas.
Lay manteve seu olhar baixo e chorou, sim, ele chorou como uma criança. O choro do alfa era forte, as lágrimas deslizavam por seu rosto e molhavam o chão enquanto os soluços ecoavam pelo quarto.
Chorar fazia bem e deixava Lay sempre mais leve. Era como se chorar lavasse sua alma e levasse todos os sentimentos ruins para fora.
A porta de seu quarto foi aberta e sua mãe entrou. Lin viu seu filho ajoelhado de frente para o espelho enquanto chorava. Lay não queria que a mãe o visse chorar, mas naquela manhã foi inevitável.
A ômega correu e se ajoelhou ao lado do filho, não perguntou nada e apenas o abraçou, o abraçou bem forte. Enquanto o confortava não iria perguntar os motivos das lágrimas, apenas o deixaria chorar e pôr pra fora tudo o que lhe sufocava.
O alfa estava agarrado a sua mãe e se sentia tão pequeno.
— Não quero ser como ele — disse Lay quando o choro começou a cessar — não quero ser como ele.
— E você não será — Lin respondeu — você é melhor que ele.
— Não sou — o alfa negava com a cabeça — estou me tornando como ele... aos poucos.. Eu sinto que a cada dia me pareço mais com ele.
— Lay, você não é igual ao seu pai — Lin segurou em seu rosto.
— Tenho medo de me tornar um alfa como meu pai — confessou Lay.
Desde pequeno Lay tinha Kong como uma figura de alfa a ser seguida, ele realmente queria ser como o pai, mas com o passar do tempo ele viu que a pessoa a qual tinha uma grande admiração era ruim.
O alfa tinha medo de crescer e ser como o pai, ser daquela forma fria e sem sentimentos, tinha medo de tratar sua futura família da mesma forma que seu pai os tratava.
— Por que você está assim? — era a primeira vez que Lin o via daquela forma.
— Porque sempre que me vejo no espelho é como se eu visse meu pai.
A mulher percebeu o medo nos olhos do filho. Todos temos nossos pesadelos, o pesadelo de Lay era ser alguém como seu pai.
— Querido — Lin começou a falar da forma mais doce possível — o que te faz diferente de seu pai é a sua força de vontade para não ser como ele, agora vamos levantar, você vai lavar seu rosto e dar um lindo sorriso — Lay não pôde evitar de sorrir ao ouvir as palavras de sua mãe.
O alfa então fez o que a mulher tinha mandado, se levantou, foi até o banheiro e lavou o rosto, ajeitou sua gravata e saiu de seu quarto. Ele realmente não queria ir para a empresa, na verdade, tudo o que Lay queria era ficar deitado em sua cama enquanto ouvia algum disco dos Beatles. Nunca foi segredo o grande amor que ele tinha por aquela banda, tanto era que sabia tudo sobre eles, o alfa sabia todas as letras de todas as músicas, resultado de muitas noites sem dormir para aprender cada uma delas.
Mesmo com um começo de manhã nada agradável, o dia estava realmente belo, o azul do céu estava deslumbrante. Lay admirava a beleza do dia pela janela do carro. O alfa resolveu que não iria tomar café dá manhã, então assim que estava com menos cara de quem tinha chorado ele foi direto para o carro.
Já na empresa as coisas tinham começado cedo para o jovem ômega Junmyeon, ou como ele preferia ser chamado: Suho.
O ômega de 21 anos finalmente tinha conseguido um emprego na grande empresa. Pelo o que foi lhe dito, seria secretário do filho do Sr. Xiao, e tudo o que Suho sabia era que o seu novo patrão era mais novo que si.
Ele tinha deixado tudo ajeitado na sala e esperava pelo alfa mais novo. Seria mentira se Junmyeon dissesse que estava tudo em seu perfeito estado, pois não estava, o ômega estava pra ter um ataque de tão nervoso que se encontrava. Não sabia se era ansiedade pelo novo emprego, ou se era apenas medo.
Suho mal tinha começado o seu primeiro dia e já ouvira de muitas pessoas sobre como o Sr. Xiao era duro e frio com todos, por conta disso o menor não pôde deixar de pensar se o filho era da mesma forma.
Enquanto encarava um ponto fixo da parede, se perguntava o porque de não ter nascido um gato. Gatos tinham a vida tão boa.
Perdido em seus pensamentos, só foi perceber que alguém estava perto quando sentiu a presença de um alfa. No começo Suho apenas pensou ser um dos seguranças, mas logo isso foi descartado pois a presença do novo alfa se destacava. Então o ômega rapidamente ajeitou a postura e olhou pro recém chegado, reconhecia o alfa, já o tinha visto nas revistas. Xiao Yixing estava bem à sua frente.
— P-prazer — Suho se xingou mentalmente por gaguejar — sou seu novo secretário — fez uma reverência para o alfa.
Lay olhou atentamente para o ômega e suspirou baixo, achava que tinha deixado bem claro para seu pai que não queria secretários.
— O prazer é meu — Lay respondeu de forma educada, não podia ser mal educado com o ômega — Sou Yixing, mas me chame de Lay, qual seu nome?
— Junmyeon, mas eu prefiro Suho — incrivelmente o ômega se sentia mais confortável.
— Bem, Suho, eu vou entrar, se possível poderia se livrar dos velhotes pra mim?
— Velhotes? — Suho fez uma cara de quem não tinha entendido.
— Os sócios do meu pai — Lay achou fofa a cara confusa do ômega.
— Ah, pode deixar que ninguém entra aqui hoje!
Lay entrou em sua sala. Enquanto isso Suho parecia bem mais calmo, depois de ver que seu chefe não seria ruim. Uma coisa que não pôde deixar de perceber era como Lay não parecia ser mais novo que si, se não tivessem dito isso para Suho, o ômega iria achar que era o mais novo.
As pessoas iam e vinham por toda a empresa, as horas passavam de forma rápida para Suho e Lay. Ambos estavam imersos em alguma coisa para perceber o dia passar, eram poucas as vezes que o alfa precisava falar com seu secretário. Suho só tinha o trabalho de dar alguma desculpa para os sócios que insistiam em falar com Lay.
Sem perceberem a hora do almoço tinha começado. Suho saiu de sua mesa e deu leves batidas na porta da sala de Lay, entrando quando o alfa respondeu.
— Eu queria saber se o senhor quer alguma coisa para comer? — Suho estaria indo comprar seu almoço e não custaria nada saber se o alfa queria algo.
— Primeiro: nada de "senhor", acabei de ver sua ficha e é mais velho que eu — Lay sacudiu algumas folhas, que logo Suho reconheceu como seu currículo — e eu estava indo falar com você sobre isso, espero que não se importe mas eu liguei há alguns minutos para um restaurante e estão trazendo nosso almoço.
— Não era para eu fazer essas coisas?
— Não, me deixe fazer essas coisas.
Ambos estavam sorrindo e um leve bater na porta avisou que a comida que o alfa pediu tinha acabado de chegar.
Era estranho e novo para os dois a forma como se deram bem em poucos minutos, e agora conversavam como se já fossem amigos há um longo tempo. A conversa banal, a comida coreana muito apimentada, os sorrisos, a forma como se olhavam.
Aquilo era raro, dentre mil casais, apenas um tinha o privilégio de ter aquilo. É dito pelos mais velhos, aqueles que tem mais sabedoria, que a alma gêmea de outra pessoa é extremamente difícil de se achar, não chega a ser impossível de se encontrar, apenas exige muita paciência.
O universo gosta de brincar, de lhe testar, até finalmente lhe dar o que o seu coração tanto ansiava em ter.
Suho e Lay eram como almas gêmeas, destinadas a se encontrarem. Eles não sabiam disso, provavelmente achavam que o fato de se darem tão bem era algum motivo desconhecido. Mas com o tempo iriam descobrir que tudo aquilo era simples, puro e lindo. Era amor.
[...]
Luhan estava esperando por Kyungsoo do lado de fora da sala, o ômega de olhos grandes tinha ficado para falar um pouco com o professor e pediu para que o chinês o esperasse. Minutos depois Kyungsoo saiu.
— Espero não ter demorado.
— Não demorou, vamos?
— Sim.
Kyungsoo tinha ficado de ir para casa de Luhan, eles tinham se tornado uma dupla no trabalho de história para a alegria do chinês.
— Mas antes precisamos passar onde eu trabalho, Hunnie pode nos ajudar, ele é bom em história — disse Kyungsoo que puxava Luhan para fora da escola.
— Hunnie?
— Sim, meu chefe, ele é um cara legal você vai gostar dele.
Já fora da escola, Luhan dizia para Kyungsoo que podiam ir no carro dele, o motorista não iria demorar para chegar e que só precisavam esperar mais um pouco.
— Na verdade — Kyungsoo sorriu — olha meu chefe ali, Sehun! — Kyungsoo balançava a mão para que o alfa o visse.
Luhan olhou na mesma direção que Kyungsoo e não pôde acreditar quando viu seu vizinho indo até eles.
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