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História Colors - Dia 2: Terça-feira — cinza


Escrita por: douxmari

Capítulo 3 - Dia 2: Terça-feira — cinza


Fanfic / Fanfiction Colors - Dia 2: Terça-feira — cinza

Quando se tem um dia cheio, qual a primeira coisa que você pensaria em fazer?

Normalmente todos encaram um dia cheio como o pior deles e inevitavelmente tratam de cuidar de seus afazeres no trabalho, em casa, faculdade ou escola o mais rápido possível.

Ou adia por algum tempo como Lauren estava fazendo agora.

Ela fuçava dentro da bolsa a sua Polaroid "nova" que havia comprado com muito esforço, depois de juntar o dinheiro de mesada, enquanto que observava a simples paisagem da escola ao longe despreocupadamente.

Sentou num banco entre árvores em que poucos sentavam por causa da pressa de irem para suas aulas e começou a tirar fotos de tudo o que via. Ela abanava no ar a foto instantânea do seu último registro de algumas flores que nascia próximo a raiz da árvore ao seu lado, quando viu ao longe Dinah e Normani a chamando.

Deu um longo suspiro para mais um dia que se seguia, seu momento de diversão tendo um fim mas só por enquanto. Ela sabia que quando chegasse a hora do almoço, estaria mais uma vez com sua Polaroid pendurada no pescoço e tentando arrancar momentos bobos entre amigas ou de sua rotina. Ela fazia questão de deixá-los pendurados como em um varal de roupas em seu quarto como um hobby particular seu e que deixava sua mãe louca pela bagunça que fazia.

Andou mais uma vez pelo longo corredor, ainda distraidamente e colocando com rapidez sua câmera fotográfica no armário e enquanto seguia para a aula de história americana, sentiu uma presença atrás dela, a tocando no ombro. As meninas que estavam com ela foram as primeiras a se virarem e olhar com aquela cara de quem não estavam surpresas, e a garota as acompanhou para observar quem era.

- Oi, Lauren como vai? – Brad falou, dando um meio sorriso. Os garotos do time de futebol os observavam no fim do corredor com curiosidade.

- Eu estou bem, e você? – perguntou com educação.

- Também estou – ele coçou a nuca um pouco sem jeito – eu estava pensando se você não queria dar uma volta depois da aula, tem um boliche aqui perto que...

Dinah e Normani estavam caladas e prendiam o riso ao ver a expressão de Lauren enquanto que ele falava. Aquele sorriso aguado que ela dava não enganaria ninguém. Ou pelo menos não a elas duas que a conheciam tão bem.

Ela interrompeu o convite do garoto levantando a mão para que ele parasse de falar, porque ela sabia no que aquilo ia dar e a motivação do garoto que acabou de terminar com Vero.

- Sei o que está tentando fazer, Brad – começou a dizer ainda no mesmo tom de educação – não precisa fazer algum tipo de vingança apenas porque viu sua ex namorada ficando com outra garota. Não vai mostrar masculinidade nenhuma ficando com outra garota bissexual, pelo contrário. Apenas tente encontrar alguém que realmente goste de você porque pode ter certeza que tem aos montes nessa escola – disse, dando no fim um sorriso sereno.

A intenção de Lauren nunca foi debochar do convite de Brad, mas todos naquele lugar sabiam muito bem de como a "garota que não se apaixona" lidava com essas situações. O garoto apenas nunca imaginou que ele também entraria na lista dos rejeitados porque sempre se viu sendo cobiçado e venerado pelas meninas da torcida assim como as outras estudantes.

Brad ao ouvir isso, deu um pigarro e olhou para os seus pés enquanto que ajeitava a sua gravata, o colarinho um pouco fora do lugar depois de ter feito isso. Lauren tinha toc com gravatas e queria dizer que não era necessário aquele ato porque o acessório estava perfeitamente colocada e que, agora sim depois dessa ação, ela estava desalinhada com o terno. Porém nada disse para não ser a pessoa que mudou de assunto rapidamente.

Ele falou mais alguma coisa e saiu em disparada, sem nem ao menos olhar para os seus amigos do time que estavam ao longe dando risadinhas com a cena. Eles sabiam bem como aquilo terminaria mas Brad e seu ego estavam dispostos a dar a cara pra bater. O que aconteceu uma bela surra vindo de Lauren.

A garota esperava Normani pegar seus livros para enfim entrar na aula, as meninas ainda caladas mas com o mesmo ar de riso. Elas estavam acostumadas com aquele jeito da garota e não era novidade mais uma rejeição vindo dela. Esperou Normani terminar de passar batom, ainda com seu armário aberto e olhando para o pequeno espelho que havia colocado estratégicamente no lado interno da porta, finalizando ao passar suas mãos nos cachos negros, os deixando mais predominantes e cheios.

- Mani faz meia hora que você tá aí, mulher! Vamos! – Dinah falou mais alto.

- Eu sei que Lauren e você já são lindas de nascença e não precisam, mas eu necessito desse tratamento antes de entrar na aula tá? Olha essas olheiras! – dizia com atenção, ainda se observando no espelho.

- Tá doida né? Eu preciso e muito. Lauren que tá aí sempre linda e nem precisa dessas coisas – a maior dizia ao dar de ombros.

Lauren ao ouvir isso apenas rolou os olhos, ao perceber a morena fechando enfim o armário e seguindo para a sala.

Era aula de geometria, uma das matérias que Lauren mais se esforçou para ter notas altas o suficiente para ter uma folga no fim do semestre. Todas as noites insones compensaram e ela mais uma vez estava indo apenas para cumprir sua carga horária total de presença em sala.

Apenas se passou cinco minutos desde que aquela bendita aula começou, sua cabeça voando alto, pensando em qualquer coisa que fosse mais interessante do que números e desenhos geométricos.

Começou agora a pensar que a universidade de Yale era uma boa oportunidade para ela e torcia para que fosse aceita, por mais que sua negatividade as vezes falasse mais alto. Dartmouth também seria uma bela opção, porém ainda queria a sua primeira alternativa. A vida de Lauren estava perfeitamente traçada e planejada. Não só ela, mas sua mãe também se orgulharia dela quando enfim a carta chegasse e com ela a sua aceitação.

Ela estava tão fora de órbita que não percebeu a garota sentando na carteira ao lado da sua. Franziu o cenho, tentando entender porque Camila Cabello sentou ao seu lado, na outra extremidade da sala aos fundos, quando seu lugar era estrategicamente escolhido no outro canto sempre e em todas as aulas mesmo que fosse em outros prédios. Ela sempre sentava com um rapaz e uma garota que Lauren nunca fizera questão de saber os nomes, porque o trio sempre foi fechado em sua bolha e ao mesmo tempo em que ninguém da escola tinha a real curiosidade de conhecê-los melhor.

- (...) e a conversa entre vocês sempre atrapalham a aula por mais que fiquem horas na detenção e seus pais venham até aqui. Nunca mudam, a começar da senhorita Cabello.

Foi a última coisa que Lauren entendeu do que estava acontecendo. A garota agora havia mudado de lugar por estar atrapalhando o rendimento dos alunos em sala.

Típico de Camila Cabello, pensou.

Suspirou com tédio, ao olhar para o relógio acima da louça branca que em poucos minutos se encontrava preenchida de desenhos, formas e cálculos, colocando a mão no queixo, cotovelos sobre a banca com sonolência em suas feições.

Batucava a ponta do lápis na bancada distraidamente, a borracha no fim fazendo um som baixo abafado enquanto que a voz do professor agora era ainda distante como um eco sumindo aos poucos em seus ouvidos.

Bocejou, enquanto que via Normani e Dinah atentas na explicação por causa de suas notas vermelhas, elas deveriam dar seu sangue pra conseguir no mínimo um A-. O que não seria fácil porque todos os alunos daquela classe sabiam que o professor não tinha pena e massacrava quem deixava para tirar notas boas na última hora.

E então distraidamente, como aquele batuque na ponta do lápis ou bocejo que deu em tédio, ela vagou seus olhos varrendo toda a sala até chegar na aluna ao seu lado, Camila.

E foram apenas três segundos que definiu os próximos dias da semana e suas colorações. Que definiram seus sentimentos e toda a complexidade que existia em suas cores que a música e os poemas sugeriam.

Aqueles três segundos a apresentaria a sua primeira cor depois do seu sem graça preto e branco: a cor cinza. A cor que está entre as duas outras principais e que assim abriria a porta das outras demais cores que serão apresentadas aqui.

Lauren nesses poucos segundos olhou o perfil da garota, a gola, a gravata e o terninho perfeitamente alinhados, os cabelos ondulados castanhos caindo meio rebeldes em seus ombros. Viu desenhos aleatórios que ela fazia, rabiscando seu caderno mas nesse rápido momento não distinguiu o que ou sobre o quê eram.

Você pode até contar mentalmente esses três segundos e se dar conta que esse tempo não serve pra nada, não se define um sentimento, não se pode apaixonar por alguém nesses segundos.

Mas posso convencer você que sim. Pode ter certeza que há essa possibilidade mesmo que remota mas há.

Quando esses segundos acabaram e seu olhar voltou para o professor, ela franziu as sobrancelhas, contraindo a testa. Se endireitou melhor na bancada, parou de repente com o leve batuque da ponta do lápis. Um estranho interesse repentino a cercou de todos os lados, apenas para saber uma coisa tão simples da menina em silêncio próxima a ela.

Queria olhar de novo a latina, apenas para saber o que tanto ela desenhava, com seus olhos avelãs fixos no caderno. Para Lauren, parecia que era algo importante ou complicado. Lembrou exatamente da feição e observação sem piscar daquela menina para seu caderno, seus olhos compenetrados naquela ação.

E então arriscou olhar novamente porque não havia outra saída, estava curiosa porque qualquer outra coisa era mais interessante do que aquela chata aula. Seus olhos vagaram para o lado e agora direcionados para a folha de caderno em que a menina rabiscava.

Viu balões pintados de caneta azul um pouco desalinhados, como um rascunho mal feito. Vários deles circundavam a folha entre suas linhas, ainda um pouco borrado de tinta porém ainda conseguiu ler rapidamente o que estava escrito entre esses balões:

"Mas os pensamentos são tiranos que retornam várias e várias vezes para nos atormentar."

Assim que terminou de ler, franzindo o olhar com concentração para identificar as letras miúdas, se deu conta que Camila a olhava com sinal de seriedade misturado com aversão e antipatia para ela. A garota fechou com rispidez seu caderno, reprovando o ato de Lauren e seu interesse no que ela escrevia.

- Gosta de ler o diário dos outros, Jauregui? - perguntou, ao mesmo tempo que o sinal tocou, dando intervalo para o almoço.

Lauren ainda abriu a boca, respirando fundo para responder com um ar sem graça para a menina, entretanto ela não quis conversa e como uma bala, se levantou pegando suas coisas e saindo da sala com pressa.

Enquanto que Lauren tentava não ficar mais desconcertada e surpresa pelo que ela mesma fez, ficou ali parada olhando para o nada, suas amigas olhando uma para a outra sem entender o motivo dela estar em estática, olhando para baixo, o livro de geometria ainda aberto numa página aleatória.

- Terra chamando Lauren! - Dinah falou, brincalhona - o que houve?

Voltou a olhar para cima e de repente seus olhos ficaram vivos e despertos, caindo em si. Fez uma careta em reprovação ao dizer:

- Qual o problema de Camila Cabello? Eu apenas estava querendo saber o que ela fazia, há algo de errado nisso?

As meninas fizeram uma careta em sincronia.

- Do que está falando, mulher? - perguntou Dinah com curiosidade ao ver a expressão chateada da garota.

No caminho para o refeitório, Lauren explicou a rápida interação que teve com a calada menina que não tinha muitos amigos. As meninas apenas riram do que aconteceu e do seu súbito interesse em saber o que Camila desenhava no caderno, porque elas sabiam que Lauren pouco de importava ou se interessava com o que se passava ao seu redor em relação as pessoas. Sempre foi a sua bolha, o seu mundo. A garota estar interessada em algo que não fosse do seu interesse seria interessante para elas que sempre gostavam de uma boa história ou fofoca.

Pelo menos era o que elas pensavam de Lauren. Ou era o que ela mesma pensava sobre si.

Porém durante todo o tempo que esteve almoçando no refeitório, não parou de pensar no desenho e naquela frase. Será que Camila Cabello tinha pensamentos que a magoavam e que voltava sempre para machucá-la assim como aquela frase dizia? Qual o significado de todos aqueles balões azuis? Poderia ser algo representativo ou nada, ela nunca iria saber.

Enquanto que comia, balançou a cabeça em negação para ela mesma. Que diabos queria com aquelas coisas que rondavam sua cabeça? Por que repentinamente quis pensar sobre isso? Ela ainda foi total sem noção ao ponto de ler o que estava escrito e a menina tinha toda razão de ficar irada com o que ela fez, invadido sua privacidade daquele jeito.

Se pegou varrendo o grande refeitório a sua procura. Talvez um pedido de desculpas seria o mais conveniente a ser feito quem sabe?

A viu logo no final do salão, na última mesa, sozinha e concentrada em um livro que lia. Ela poderia ir até lá e dizer que não fez por querer ou talvez...

- Está observando Camila Cabello? - Normani perguntou, ao se virar para frente e flagrado os olhos curiosos de Lauren por sobre seu ombro.

- O que?

- Ela até esqueceu a polaroid - Dinah riu, dando um gole em sua soda.

Lauren se endireitou no banco, dando atenção para as suas amigas que a olhavam com um ar de riso.

- Não sabia que Camila fazia o seu tipo, e ela não é mesmo de se jogar fora - Dinah continuava.

Lauren apenas fez sinal de negação com a cabeça, porém um sorriso tímido brincava em seus lábios. Não queria auto afirmar para si, mas estava gostando do que ouvia das meninas.

- Verdade, e ainda mais tem essa coisa misteriosa, já percebeu? Ela sempre dá voltas naquele campo todo correndo e escutando musicas nos fones...

Lauren franziu o cenho.

- Quando?

Dinah e Normani se olharam risonhas.

- Todas as manhãs durante o treino de futebol dos meninos e toda quinta durante nossos ensaios da torcida? - perguntou ironicamente porque sabia que Lauren pouco notava algo além do que realmente era do seu interesse e Camila Cabello nunca foi um item que estivesse em sua lista pessoal.

A garota franziu o cenho. Como não conseguia se lembrar da garota em todo esse tempo? Não evitou negar seu atual fascínio pela menina que tinha alguma coisa que a serviu de atrativo. Lauren não conseguiu discernir naquele instante o que era a tal coisa que a chamava atenção agora, apenas sentiu que uma nova cor nascia no meio das duas que ela estava familiarizada.

Cinza. A curiosidade, o interesse repentino, a primeira vista de alguém que a despertou do transe e da sua inércia sentimental.

Parecia que preto e branco não mais a definiam agora. Em meio a sua estranha sensação de curiosidade e afeição atual pela garota, uma nova cor entre elas deveria se manifestar e foi o que aconteceu. Cinza veio complementar o preto e o branco. Um balanço entre essas duas cores e que significava novidade, curiosidade, interesse súbito por alguém. Quando você de repente começa a querer saber mais sobre um outro alguém, ganhar sua atenção e seus pensamentos são invadidos por essa pessoa. Você simplesmente não consegue evitar ou lidar com isso, é mais forte.

E é começando pelo cinza que tudo mudaria, onde tudo começaria.

Então mais um dia chegaria e em breve mais uma cor se apresentaria no meio das três cores que agora se fazia presente em seus sentimentos.


Notas Finais


Oi oi, bebês!
Me deixem saber se estão gostando.
Comentem, falem comigo ou com meu amor lindo, a autora.
TT: @kmilalais / @douxlauren


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