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História Com amor, Lizzie - IX


Escrita por: Brokenprince93

Capítulo 10 - IX


Fanfic / Fanfiction Com amor, Lizzie - IX

A história de Jessica.

A história que eu deveria ter escutado.

Todos nós temos um passado, aquela coisa que nos tornou quem somos hoje. Sabe?

Aquela coisa que o hoje será um dia.

O que nos difere, talvez, é o fato de que algumas pessoas carregam seu passado consigo pelo presente em direção ao futuro.
Seja por algum trauma, decepção, traição, más escolhas... Alguns de nós simplesmente não conseguem seguir em frente, começar de novo. 
Jessica era uma dessas pessoas, mas sua história não será contada nesse capítulo. Haverá momentos mais oportunos de lhes apresentar os acontecimentos que a transformaram naquela garota sentada no sofá da minha sala de estar, dizendo ter uma história para contar.

A história que eu não quis escutar.

                             ***

"Eu não quero ouvir nada do que você tenha a dizer", foi o que eu disse. 

Ela não pareceu surpresa ou perturbada pelo que eu havia acabado de dizer. Um sorriso triste apareceu em seu rosto enquanto ela retirava sua longa franja dos olhos e a ajeitava atrás da orelha. Ela usava um casaco grande de viagem, jeans, botas e levava uma grande mochila à tiracolo.

"Eu imaginei", disse ela enquanto se levantava, retirando algo dos bolsos do casaco e deixando sobre o sofá. Naquele momento percebi que ela também usava luvas. "Vou deixar isso aqui, de qualquer maneira. Dê uma olhada quando puder". Ela caminhou até a porta logo às minhas costas passando logo ao meu lado, evitando me olhar.
Disse apenas um "se cuida, Mark" antes de eu ouvir o barulho da porta se fechando. Eu não sabia na hora, mas eu teria muito a agradecer àquela garota quando a encontrasse novamente.

E foi assim que Jessica partiu, me deixando postado como uma estátua em minha própria sala de estar, encarando o envelope branco deixado por ela sobre o sofá.

                               ***

"Você não tem mesmo medo de morrer, não é?" Perguntou a mulher ruiva enquanto costurava o supercílio do homem sentado em uma cadeira de madeira escura e antiga.

"Tenho sim, muito. Se eu não tivesse, talvez Josh ainda estivesse vivo", respondeu o homem, subitamente se encolhendo de dor diante de um movimento descuidado da mulher com a agulha.

"Pronto", disse ela. "Coloque um pouco de gelo nos inchaços e logo sua cara estará reconhecível novamente". O homem deu uma risada amarga.

"Não sabia que escoceses batiam tão forte", comentou ele, se arrependendo logo em seguida ao notar o modo como a mulher o encarou. Ela retirou o material de primeiros socorros de cima da pequena mesa e começou a guarda-los novamente na caixa gentilmente cedida pela capela onde o funeral ocorria.

"O que veio fazer aqui, Richard?" Perguntou a mulher alta e esguia como uma gata, seus rosto salpicado por sardas continha duas safiras polidas ao extremo cravadas nele, que também serviam como olhos. Olhos puxados, como pequenos rasgos em sua face, que não se afastavam dele por um instante sequer. O homem notou tudo isso enquanto gemia em seu assento, sentindo os efeitos da surra que acabara de levar.

"Eu não posso voltar para casa", respondeu ele simplesmente. As duas safiras no rosto da mulher demonstraram certo humor ao ouvir aquelas palavras.

"Então você decidiu que queria se juntar ao seu amigo e veio até aqui tentando morrer", disse ela, fazendo com que o homem risse novamente e com isso sentisse ainda mais dores em suas costelas contundidas. 

"Não exatamente, vim aqui lhe fazer uma proposta", falou ele. Seus olhos se encontraram pela primeira vez desde que ela havia parado de espanca-lo. Castanhos e azuis, frente a frente. 

O silêncio predominou no pequeno cômodo localizado nos fundos da capela, enquanto a mulher parecia ler a mente do homem sentado e arrebentado.

"Eu não acho que você possa me oferecer nada no momento, Rick", desdenhou a mulher, olhando-o do alto de sua posição.

"Eu posso salvar a garota", balbuciou ele, seus lábios começando a sangrar novamente. A mulher pareceu congelar ao ouvir aquelas palavras, como uma bela estátua feita por algum talentoso escultor.  Ele conseguira o efeito desejado, tinha a atenção da mulher, "Josh me contou tudo antes..." ele engoliu em seco, "antes do que aconteceu." Concluiu ele.
A mulher ainda não parecia em condições de falar, as duas safiras em seu rosto o observavam de maneira fria e calculista, como uma leoa planejando seu próximo ataque. 
E pela segunda vez naquele dia, ele temeu por sua vida.

"O que você espera em troca?" Perguntou ela, seu tom de voz sem passar nenhuma emoção. O homem se posicionou melhor sobre a relíquia cristã na qual estava sentado antes de responder. Ele não se importava mais com a dor que sentia, para ele aquilo era a sua redenção; ele suportaria o que quer que o acontecesse a partir daquele dia.

Por Josh.

"O quê eu espero em troca?" Ele repetiu a pergunta em voz baixa, o sangue que fluía livremente de seu lábio cortado pingava em sua camisa amassada, fazendo a mulher abrir novamente a caixa de primeiro socorros em busca de uma solução para aquele inconveniente causado por ela. No entanto, ao se aproximar para limpar o ferimento, o homem afastou sua mão e a segurou com um aperto forte. Os olhos da mulher se arregalaram em espanto por aquela atitude totalmente inesperada. Por alguns segundos, ele percebeu o medo por trás daqueles olhos azuis escuros e profundos como o mais profundo dos oceanos. Ela tentou retirar sua mão daquele aperto exagerado e não conseguiu.

"Melissa, eu quero tudo o que Josh tinha", falou ele, de maneira firme e pausada. "Quero que me ajude a destruir o homem que fez isso", ela nada disse, apenas o olhou como se não acreditasse no que estava escutando. 

"Sim, eu preciso que me ajude a acabar com meu pai."

                              ***

Após algumas semanas eu já havia me adaptado completamente à rotina do meu local de trabalho, me dava bem com todos e já não tinha muitas dúvidas sobre o que eu tinha que fazer ou como tinha que fazer. 
Meu pai se frustrava ainda mais por eu ainda não ter tido nenhum contato com o meu avô, eu nem sequer o tinha visto por lá até aquele momento. Walter, um dos funcionários do escritório, me contou que como meu avô tinha seu próprio elevador privativo, eles não costumam vê-lo mais do que algumas vezes no ano. "Ele passa bastante tempo nos laboratórios também, mas aqui, quase nao vem", dizia ele. 
No entanto, a boa notícia é que meu pai já havia conseguido marcar uma data para cirurgia de Lizzie, seria no início das férias de inverno no hospital da universidade onde ele trabalhava. Além disso, ele provavelmente seria o responsável pelo procedimento e disse que as chances de sucesso eram relativamente boas.

"Esse foi um dos motivos para eu as ter convencido a voltar comigo para a cidade, eu conheço o reitor desde a época em que me formei aqui, e pensei que talvez ele deixasse Lizzie fazer a cirurgia lá e eu poderia ver alguma forma de compensar a universidade por isso depois. Mas esse não foi bem o caso, ele estava bem resistente à ideia até você aparecer com o cheque", meu pai deu gargalhada ao lembrar de alguma situação que se passava em sua mente. Ele parecia de muito bom humor ao me contar sobre a cirurgia e, de alguma forma, aquilo me contagiou também. 

Mesmo sem ver Lizzie durante todo aquele tempo, era reconfortante saber que o sacrifício não havia sido em vão.

                               ***

Jessica havia desaparecido desde o dia em que tinha estado em minha casa. Ninguém mais a viu desde então e Ashley, que, como eu vim a descobrir, era irmã dr Jessica, foi até a polícia registrar o desaparecimento da garota. Segundo ela,  apenas para manter as aparências, já que a escola não parava de ligar procurando pela garota.

"Eu sei para onde ela foi", confessou ela a mim e a Elisa em um dia após a aula. "Mas sei que ela não quer ser encontrada, ela precisa desse tempo". Depois se virou para mim: "você já leu o seu?" Perguntou ela, mostrando um envelope branco parecido com o que sua irmã tinha deixado sobre o sofá em minha casa.

"Ainda não, nem sei se lerei um dia". Com tantas coisas para me preocupar naquele momento, eu tinha medo de encontrar naquilo outra coisa para me tirar o sono.

                              ***

As coisas no colégio estavam animadas com os alunos do último ano cuidando de todas as burocracias para que seus registros de desempenho escolar, suas redações de entrada ou seus questionários de aceitação chegassem até as universidades que desejavam. Eu não estava muito interessado em toda aquela movimentação e, mesmo que estivesse, eu nunca tive ideia do que fazer após o ensino médio.

"Aqui", disse Alicia em um daqueles dias movimentados enquanto colocava uma folha de papel em cima da minha mesa na hora do almoço. Eu olhei para a folha e percebi se tratar de um teste de aptidão. "E depois, esse", continuou ela, colocando outra folha por cima da primeira, a segunda se tratando de um formulário para entrar na Universidade da cidade. "Entregue o teste para o conselheiro e envie o formulário mais a sua redação para a universidade, por gentileza", de alguma maneira ela parecia radiante naqueles dias.

"Então você já decidiu até para que universidade eu tenho que ir?" Eu perguntei de maneira irônica. A garota pareceu bastante séria ao responder.

"Sim, exatamente. É pra lá que eu vou, logo, é pra lá que você vai."

                               ***

Tudo parecia fluir com certa naturalidade naquelas semanas, até que o feriado de ação de graças se aproximou. 
Eu nunca fora fã dessa época do ano. Na verdade, o mais correto seria dizer que eu odiava essa maldita época com todas as minhas forças.
O espaço de tempo existente entre o final de Novembro e o final de Dezembro parecia ser a única parte do ano em que eu me sentia verdadeiramente incomodado por ser tão sozinho, ou por não ter uma família como aquelas que apareciam o tempo todo nos comerciais na TV, sempre felizes, sentadas diante de mesas fartas e enfeitadas.
Não, eu nunca tive um dia de ação de graças ou uma ceia de natal assim. Costumava ser apenas eu, minha mãe e às vezes minha tia Sarah assistindo filmes o dia inteiro comendo pizza ou qualquer outra besteira. 
Eu até costumava gostar disso, na verdade. O clima sempre frio dessa época do ano sempre favoreceu esse tipo de atividade. Ainda assim, eu não conseguia deixar de me sentir desconfortável sempre que aqueles comerciais passavam na TV e tenho certeza de que minha mãe se sentia da mesma forma. 

Naquele ano, especificamente, eu pretendera dormir o máximo possível naquela última quinta-feira de Novembro. Eu não tive aulas durante aquela semana e só trabalharia até a quarta-feira, o que tornava dormir o dia todo um objetivo bem simples de ser alcançado, mesmo com minha mãe insistindo em me convencer a passar o feriado na casa da minha tia Sarah, que não viria esse ano porque estava doente, com ela.

Eu queria, e precisava, ficar sozinho.

E estava tendo sucesso em conseguir isso, devo dizer, até que a campainha começou a soar incessantemente pela casa. Eu estava deitado, enrolado como uma bola em meu edredom e decidido a ignorar aquele chamado infernal. 
"Quem quer que seja desistirá e irá embora", eu pensei, "tudo o que eu tenho que fazer é ignorar". 

Eu não podia estar mais errado...

A campainha começou a soar de maneira ainda mais insistente e eu acabei abrindo mão da minha estratégia anterior e me levantei, vestindo o roupão e me dirigindo até a fonte daquele incomodo incessante enquanto fazia uma anotação mental para me lembrar de convencer a minha mãe de que a casa definitvamente não precisava de uma campainha.
Desci as escadas até a sala de estar e fui pelo corredor até a porta da frente, a luz branca que entrava pelas janelas era um indício de que o tempo estava perfeito para não ter que se levantar da cama.

"JÁ VAI!" Eu gritei, a medida em que me aproximava da porta e o barulho não parava. Abri a porta, pronto a dispensar quem quer que fosse que tivesse a audácia de tocar campainhas em um feriado como aquele, quando a pessoa falou antes de mim.

"Calma, Mark. Só pensei que você pudesse fazer uso de alguma companhia hoje", meus olhos ainda estavam se acostumando com a luz externa quando reconheceram Alicia parada à minha frente segurando um recipiente em suas mãos que cheirava bem demais para ser algo ruim. Meu estômago roncou em um volume constrangedor ao sentir que aquilo poderia ser comida. "E também imaginei que você não estivesse se alimentando direito", comentou ela, sorrindo. Aquele sorriso desarmou completamente qualquer intenção que eu tivesse de manda-la embora dali o mais rápido possível; o sorriso e a comida, logicamente.

"Me desculpe a demora, eu..." comecei a me explicar, antes de ser interrompido por ela.

"Não pretendia atender. Eu sei, Mark. Não se preocupe", ela ainda mantinha o sorriso no rosto quando perguntou: "então, posso entrar?" 

E com aquele sorriso, não havia a menor chance de eu dizer não. Lembrando que eu também estava com fome demais para recusar qualquer comida que fosse naquela hora.

"Claro", eu respondi, retribuindo o sorriso.  Ela entrou enquanto eu fechei a porta atrás de mim. "Tem pratos e talheres no armário da cozinha, fique a vontade. Eu vou colocar alguma roupa e desço em instantes", a garota concordou com um aceno de cabeça e virou a esquerda no corredor em direção ao local em que eu havia lhe indicado, enquanto eu subia rapidamente as escadas em direção ao meu quarto.

Eu jamais pensara em passar aquele dia com alguém, mas não me pareceu uma má ideia naquele momento passa-lo com Alicia. Enquanto eu pensava sobre isso, a campainha tocou novamente. Retirei o roupão, vesti meu jeans surrado e uma camisa usada no dia anterior que estava no chão próximo a mim e desci as escadas em direção ao novo chamado. Ao chegar ao final das escadas, e início do corredor, percebi que Alicia já havia atendido à porta.

"Quem é?" Eu perguntei, tentando fechar o zíper da calça rapidamente, ao percebe-lo aberto, enquanto me dirigia até ela. 
A garota não respondeu, apenas deu um passo para o lado, me permitindo ver uma linda garota ruiva e sua prima loira paradas do lado de fora da porta.

Enquanto eu ainda tentava fechar o zíper...



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