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História Com amor, Lizzie - X


Escrita por: Brokenprince93

Capítulo 11 - X


Fanfic / Fanfiction Com amor, Lizzie - X

O frio...

O frio que senti ao sair de casa para ir atrás da garota é algo que sempre me vem à mente quando me lembro daquele momento. 
Se eu tinha alguma dúvida se algo havia se quebrado dentro dela quando Jessica me beijou, eu não tinha nenhuma dúvida agora. Eu vi algo se quebrar dentro dela, o brilho desaparecer por trás daqueles intensos olhos azuis.

Azuis como o mar em fúria.

Ela simplesmente correu.
Eu simplesmente fui atrás, sem pensar muito a respeito. Passei por Alicia e Elisa sem nada dizer, me concentrando apenas na garota que corria. Os fios de seus cabelos balançando descontroladamente pelo vento que soprava forte, o asfalto ainda molhado por alguma chuva que caíra enquanto eu ainda dormia...

Eventualmente eu a alcancei dois quarteirões mais a frente, tentei segura-la e fazê-la parar mas ela conseguiu escapar com um forte puxão de seu braço, parando logo em seguida, de costas para mim.

"Não me toque", ela disse quando eu tentei me aproximar. Ela vestia uma camisa de flanela quadriculada em vermelho e preto por baixo de um casaco azul escuro enquanto se esforçava para recuperar o fôlego.

"Por que você correu assim, o que aconteceu?" Eu perguntei, mesmo já imaginando do que se tratava. Ela riu, um riso vazio, amargo e gelado.

"Bom, primeiro uma garota atende sua porta quando eu, por ser uma grande idiota, resolvo te convidar para passar o feriado lá em casa", começou ela, respirando pesadamente. "E em segundo lugar..." continuou, enquanto se virava para mim. O vento congelava meus ossos naquela hora na mesma medida em que bagunçava os cabelos da garota. "Você tinha mesmo que atender a porta com PORRA do zíper aberto, Mark?"

Eu não sabia se ria ou chorava diante daquela pergunta. Eu apenas fiquei lá, parado, encarando a garota que me encarava de volta com bastante intensidade. 
Eu só conseguia pensar em uma coisa naquele momento, enquanto observava seus lábios ainda mais vermelhos pela ação do clima frio e do vento. 
Me aproximei dela com cuidado, tocando seu rosto com extrema cautela. O fato dela não ter me dado um soco naquele momento deixava claro que aquilo estava permitido; seus olhos não saíam de mim, atentos a todo movimento.

"Mark..." começou ela, antes de eu fazê-la se calar colocando o dedo indicador a frente de seus lábios. Senti seu hálito quente a medida em que aproximava meu rosto do dela.

"Por tudo o que lhe é mais sagrado, Elizabeth", eu sussurrei, meu rosto a centímetros do dela. "Não fale nada agora".

E então aconteceu, eu a beijei. A princípio ela não se moveu, apenas ficou lá parada como uma estátua, talvez pensando se aquilo seria realmente uma boa ideia. Depois deve ter pensado "que se dane", porque respondeu ao meu beijo com tanta intensidade que chegou a machucar.

Todo o frio que eu estava sentindo desapareceu naquela hora, como se ela tivesse me revestido com seu corpo e me protegido de todo o vento.

Hoje não posso nem explicar o quanto eu sentia falta daquilo, o quanto eu havia sonhado em toca-la novamente.

Ah, sim. Ela me deu o soco logo depois do beijo, ela jamais perderia a oportunidade.

Caminhamos até a minha casa em silêncio, sem nem sequer olhar um para o outro. O som do atrito de seu All-Star com o asfalto era o único sinal de que a garota estava ali, ao meu lado. Enquanto eu caminhava como um fantasma com meus pés descalços.
Não havia ninguém no local quando chegamos, o carro de Elisa também havia desaparecido. Ao notar isso, Lizzie fez menção de continuar caminhando até a sua casa mas eu a segurei novamente.

"Entre", foi tudo o que eu disse. Ela ficou lá, parada, me olhando daquela maneira que paramecia ler as profundezas da minha mente.

E por algum motivo ainda desconhecido por mim, ela fez o que eu pedi.

                               ***

"Você é tão idiota", comentou a garota enquanto eu comia a torta de maçã deixada por Alicia. Eu estava sentado na poltrona da sala de estar e aquela era a primeira vez que ela falava comigo desde que eu a havia pedido para entrar.
Eu terminei de comer o pedaço em meu prato e o coloquei sobre a mesa de centro, a garota observando cada movimento que eu fazia.

"Tem razão, um idiota que você não consegue resistir", respondi. Ela não riu, apenas se levantou e foi até onde eu estava, sentando em meu colo de maneira tão abrupta que me deixou sem ar. "Tem certeza de que não vai querer torta?" Eu perguntei, tentando não perecer incomodado com o modo como ela me olhava tão de perto.

"Não", sussurrou ela, "não seria certo com a sua outra garota". Eu fiz menção de explicar que Alicia não era o que ela pensava mas ela tapou a minha boca, balançando a cabeça indicando que não estava interessada em ouvir minhas explicações. "Jessica foi falar comigo", disse ela. Ouvir aquilo me surpreendeu e tenho certeza de que ela foi capaz de perceber já que não parava de me observar por um segundo sequer. Aquele tal de Matt também tentou falar comigo um dia desses, no final da aula. Eu contei a Elisa e ela prometeu chutar a bunda dele na primeira oportunidade que tiver", ela ainda não havia sorrido até então. Alguma coisa a perturbava mas era impossível dizer o quê, já que eu não tinha um quinto das habilidades dela de ler mentes ou esconder sentimentos. O rosto dela estava impassível, apenas seus olhos pareciam mudar de tom o tempo todo.

"O que Jessica queria com você?" Eu perguntei. Ela retirou um envelope branco, como o que Jessica tinha deixado comigo, de dentro do bolso de seu casaco azul escuro e ficou olhando para ele. "Você também recebeu um, não é?" Perguntou ela, "Elisa me contou". Eu fiz o movimento de pegar o envelope de suas mãos mas ela o afastou, tirando-o do meu alcance. "Não", disse ela, apenas. Ela se virou, ainda em meu colo, e colocou as pernas sobre o apoio de braços da poltrona, encostando a cabeça em meu peito. "Eu acreditei nela, Mark. Por isso eu vim aqui hoje". O corpo dela estava quente em contato com o meu, por mais que seu peso já estivesse me causando câimbras àquela altura.

"O que ela te disse?" Eu perguntei, curioso para saber sobre o que aquelas duas garotas tão diferentes conversaram.

"Nós fomos até o lago e ela me fez perceber algumas coisas..." respondeu ela, hesitante. "Contamos nossas histórias uma para a outra. Ela disse que tentou falar com você antes, mas você não quis ouvir", ela fez uma pausa, esperando minha reação àquilo. Eu simplesmente abaixei a cabeça, apoiando meu queixou sobre as infindáveis mechas vermelhas espalhadas por meu peito. Ela se moveu e levantou os olhos para olhar meu rosto acima dela, "você devia ter escutado, sabia?" Falou ela, em voz baixa.

Eu fiz o movimento de me levantar e a garota entendeu que era hora de sair de cima de mim. Livre do peso, fui até a janela e afastei as cortinas, olhando para a rua. Uma chuva fraca e esparsa caía insistentemente lá fora, o vento balançava os pinheiros do outro lado da rua deserta.

"Ela perguntou se eu queria ir com ela", a voz doce de Lizzie soou em algum ponto às minhas costas. Eu não me virei mas ela deve ter percebido minha surpresa pelo modo como meu corpo se enrijeceu repentinamente. "Pro lugar para onde ela foi. E eu fiquei bem tentada a ir", confessou ela. Eu ainda não queria me virar para encara-la, o modo como seus olhos captavam cada movimento meu era extremamente incômodo em momentos como aquele.

"Do que você está falando, Lizzie?" Eu perguntei, com os olhos fixos no asfalto molhado no lado de fora. "Você não tem que fazer a cirurgia nas férias de inverno?"

"Eu não tenho que fazer nada, Mark. É isso o que você não consegue entender", respondeu ela, prontamente, fazendo com que um buraco se abrisse em meu estômago. Como se eu acabasse de levar um soco forte bem no meio da barriga. Logo em seguida, tudo o que eu pude sentir foi raiva, raiva o suficiente para dar um soco no vidro à minha frente. 

Como ela podia dizer algo assim?

Seria mesmo possível que ela ainda cogitasse não fazer a cirurgia?

Seria mesmo possível ela ainda preferir morrer, mesmo estando tão perto de se salvar?

"É melhor você não falar nada", começou ela, "se for pra falar suas merdas egoístas, é melhor ficar calado". Eu senti lágrimas se acumulando em meu olhos a medida em que eu me esforçava para controlar a raiva que eu estava sentindo, para não acabar falando algo que não deveria.

"Você me prometeu", eu a lembrei. Ela não falou nada, o silêncio reinou no ambiente por alguns instantes, quebrado apenas pelo som da chuva e os ruídos causados pelo vento.

"Pela primeira vez eu senti que alguém podia me entender", falou ela algum tempo depois. Eu comecei a me perguntar se ela estava mesmo falando da mesma Jessica que eu conhecia. "Pela primeira vez alguém pareceu entender que viver não é uma obrigação, é uma escolha. Uma escolha que eu faço todas as manhãs da minha maldita vida, tentando todos os dias fazer uma escolha diferente da do meu pai. E pra quê?" Perguntou ela, continuando sem esperar alguma resposta. "Quais motivos eu tenho para viver? Minha mãe e seu pai só conseguem pensar em se vingar, em fazer seu avô pagar pelo que quer que tenha feito ao meu pai. Eu mesma não tenho nenhum pensamento sobre meu futuro. Talvez por sempre ter em mente que eu não duraria muito aqui, eu nunca tenha feito nenhum plano pra vida adulta".

"Lizzie..." eu comecei, me virando para ela e percebendo seus olhos cravados em mim.

"Eu não tenho sonhos, Mark", sussurrou ela. "O que é um ser humano sem sonhos?" Ficamos olhando um para o outro por alguns instantes, eu ainda pensando em como alguém como Jessica poderia entender o que Lizzie sentia.

"Essa é sua chance de ter sonhos, Lizzie", eu disse. "Talvez seja realmente uma questão de escolha, como você disse, mas você precisa ter uma vida antes de decidir não tem nenhuma". Pela primeira vez ela desviou os olhos de mim, fitando algum ponto do outro lado da sala.

"Eu sempre fui como você, quando criança", começou ela, "nunca tive amigos, evitava me aproximar das pessoas, criar laços, me importar. Tudo porque sabia que no dia seguinte eu pudesse não estar mais aqui, eu não queria que ninguém sentisse minha falta, que ninguém chorasse por mim. Então eu passei pelo primário e pela escola como um fantasma, interagindo o mínimo possível e sempre evitando as outras crianças. Elisa era minha única amiga quando ia me visitar nas férias e, quando soube que eu iria me mudar pra cá, me contou sobre você." Ela se virou e olhou em minha direção, seus olhos desfocados como se estivesse olhando para algo longínquo localizado às minhas costas.

"Eu gostei de conhecer você, Mark", comentou ela, sorrindo pela primeira vez. Eu não soube como reagir àquilo, mas de alguma forma amenizou a raiva presa em meu peito. "Mas eu não consigo pensar em nós dois juntos como uma boa ideia, eu nunca senti tanta necessidade de estar com alguém antes." Eu podia compreender aquilo, era exatamente o que eu sentia em relação a ela. Era como se no fundo eu soubesse que não devia estar com ela, investir meu tempo, minha sanidade e minha própria vida nela. Como se uma voz em um tom baixo e insistente me avisasse que gostar de alguém daquela maneira não daria em nada, uma voz que se calava toda vez que a via, uma voz que parecia mudar de ideia toda vez que ela sorria.

"Eu também não, mas ficar longe de você não me parece uma opção melhor", eu disse. A garota balançou a cabeça, concordando. Ela era capaz de entender exatamente o que eu quis dizer, "a partir disso você pode começar a compreender como eu me sinto toda vez que você parece não querer viver", continuei. Ela baixou a cabeça novamente, olhando para algum ponto do carpete desconhecido a mim. "Eu também nunca tive uma razão para viver, nunca tive sonhos. A vida pra mim sempre foi um grande tédio, um sofrimento desnecessário; mas tudo isso mudou quando você me atropelou com seu skate, entrando em minha vida sem ser convidada." Eu consegui ver as lágrimas que caíam no carpete deixando pequenos pontos escuros no local do impacto. "Você tem razão quando diz que eu não entendo como você sente, mas eu sempre achei que você se sentisse como eu, de alguma forma." Concluí, enquanto mais lágrimas caíam em sequência dos olhos escondidos da garota.

"Eu amo você, Elizabeth Murray". Eu não fazia ideia de onde aquilo tinha saído, levei um tempo para perceber que viera de mim. 
De algum lugar desconhecido em mim.

Ela levantou a cabeça e me olhou, sorrindo com seus olhos marejados e suas bochechas molhadas.

"Você é ainda mais idiota do que eu pensava, Mark Nicholls".



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