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História Com amor, Lizzie - Sobre as vidas que se vão antes do inverno


Escrita por: Brokenprince93

Capítulo 14 - Sobre as vidas que se vão antes do inverno


Fanfic / Fanfiction Com amor, Lizzie - Sobre as vidas que se vão antes do inverno


"Sabe garoto, a vida nunca foi fácil para nossa família", a voz do homem chegou aos meus ouvidos vindos de algum ponto do local onde eu estava, em que eu não fazia ideia qual era. "Desde tempos imemoráveis nosso povo tem sem sido perseguido de maneira implacável por diversos inimigos diferentes, sempre com o objetivo de nos destruir. E foi um desses inimigos que fez com que meu pai nos trouxesse para esse país, fugindo da guerra mais brutal da história da humanidade. Acredito que ele nunca tenha tido grandes expectativas para esse país, como a maioria dos imigrantes têm hoje em dia. Não, tudo o que meu pai — um médico judeu vivendo na Alemanha nazista — queria quando atravessou um oceano até aqui era uma chance. Uma chance de viver e criar seu único filho, sem jamais saber que construiria tamanha fortuna por essas bandas. Mas não se engane ao pensar que as coisas foram fáceis por aqui, garoto. Pois ela não foram, nem um pouco. Ele começou a trabalhar atendendo outros imigrantes que chegavam, também fugindo da guerra, e raramente recebia algum tipo de pagamento por isso. Dessa forma, nossa vida se tornara muito difícil e imprevisível, vivendo em um país onde tudo tem um custo e não podendo comprar o suficiente para uma vida digna. Com o tempo, ele finalmente receberia o reconhecimento devido por suas ações quando conheceu um banqueiro judeu que também havia vindo viver aqui; meu pai o atendeu em uma situação de emergência quando o levaram até ele com uma azeitona entalada na garganta, veja só",  ouvi o velho dar uma risada curta e pude perceber que ele estava em algum lugar próximo, do meu lado esquerdo. "Desse ponto em diante, as coisas só prosperaram. Sentindo que devia sua vida a meu pai, esse homem lhe concedeu inúmeros empréstimos e benefícios que o permitiu não apenas montar seu próprio negócio, como também construir e equipar uma clínica na cidade que não tardou a se tornar referência na região. Assim nasceu a Faitz health and Care, em uma sociedade entre meu pai e esse banqueiro judeu. Empresa que tenho muito orgulho em dizer que fiz triplicar de tamanho em meu tempo a frente dela. Uma empresa que, infelizmente, seu pai nunca soube valorizar e sempre fez tudo para destruir", ouvi passos vindo em minha direção e senti a venda que tinha em meus olhos sendo desamarrada. "Espero que você seja mais esperto que ele, garoto". 
O velho retirou a venda e eu me percebi em um local completamente desconhecido a mim, como um grande e espaçoso galpão abandonado. Eu estava sentado e amarrado a uma cadeira pelos pulso e pernas, além de uma tira de pano tapando minha boca. Percebi que logo a minha frente, a uns três metros distância, havia um homem nas mesma condições em que eu me encontrava, a única diferença é que ele ainda tinha os olhos vendados.
Meu avô caminhou pelo chão empoeirado com seus sapatos luxuosos de couro italiano até um banco disposto à minha esquerda, pegando-o e carregando-o até próximo ao local onde eu estava, onde se sentou de frente para mim. Seus olhos me observando de maneira especulativa enquanto falava. 
"Eu sei o que você está tramando com Richard, garoto. E é por isso que você está aqui, quero te mostrar o que acontece com quem cruza meu caminho", disse ele, apontando com o polegar o homem amarrado às suas costas. "Algumas coisas me surpreendem, no entanto; como o fato de vocês pensarem que poderiam me enganar tão facilmente. Logo a mim, que cheguei onde estou sem nunca sequer levantar nenhuma suspeita das autoridades a meu respeito. Outra coisa ainda mais inquietante é a sua ingratidão, garoto. A sua ingratidão ao homem que lhe deu o dinheiro que salvará a vida da sua garotinha de cabelos vermelhos", o sorriso que apareceu em seus lábios ao se referir à Lizzie fez meu corpo se enrijecer como se tivesse se congelado instantaneamente. Eu ainda não estava com medo de morrer naquele momento, talvez pelo efeito retardado de algum sedativo que ele tenha me dado para me trazer até ali, mas ouvi-lo se referir a Lizzie daquela forma me fez despertar sobre a gravidade daquela situação. "Você achou mesmo que eu não sabia sobre seus motivos?", perguntou ele, dando uma risada curta ao perceber minha reação que fez com que eu me sentisse um grande idiota, "espero que depois de hoje você perceba que não pode me enganar, garoto. Que pense duas vezes antes de esconder o que quer que seja de mim", ele me olhou intensamente por uma última vez e se levantou, caminhando até o homem amarrado na outra cadeira. "Este homem é Arthur Felix, um vizinho que tenho certeza de que já ouviu falar", o velho me olhou e sorriu com aqueles dentes falsos e extremamente brancos. Senti a bílis subir queimando por minha garganta ao perceber quem era aquele homem. "Este homem teve a coragem de me pedir por outro empréstimo sem sequer citar o fato de que ainda não me pagou pelo anterior, veja só. Segundo ele, sua preciosa filhinha se inscreveu em uma Universidade cara qualquer e agora ele não tem coragem de dizer a ela que não poderá bancar as mensalidades", Ele caminhou até algum ponto fora de minha visão e retornou logo depois lendo uma folha de papel em uma das mãos. "Universidade de Brown", disse ele. "Sim, tenho certeza que essa é, sem dúvidas, uma excelente universidade para se mandar um filho. Eu mesmo entendo isso, Arthur. De verdade, eu sou capaz de entender um homem que quer o melhor para a própria filha", o velho retirou a venda que bloqueava a visão do homem e eu pude perceber as lágrimas que saíam de seus olhos. "Tudo o que eu quero provar aqui, é que você deveria ter sido capaz de definir melhor suas prioridades. Quero dizer, pior do que deixar sua filha sem um ensino superior de qualidade, é deixar sua filha sem um pai". O homem emitiu ruídos desesperados e impossíveis de serem identificados por sua boca tapada. "Percebe o tamanho da ingratidão, garoto?" Perguntou o velho, amassando a folha de papel e jogando-a no chão antes de se virar novamente para mim. "Se não fosse por mim, esse sujeito não teria nem um teto sequer sobre a cabeça de sua família. O meu dinheiro quitou as dívidas da hipoteca e é assim que ele vem me agradecer, sem pagar o que me deve e ainda me pedindo por mais", o velho balançou a cabeça negativamente, como se lamentasse o ponto em que as coisas haviam chegado. "Bom, chegou a hora de cumprir com sua palavra, Arthur", disse ele, antes de fazer um sinal com a cabeça para alguém que estava localizado às minhas costas. Um homem vestido em um terno preto sob medida apareceu em meu campo de visão e entregou algo que eu não puder ver para o velho, que agradeceu com um aceno de cabeça antes de dispensar o sujeito novamente para sua posição em algum lugar onde eu não podia vê-lo. 

"Você não faz ideia do quanto eu sinto por isso, Arthur. Mas pense pelo lado positivo, a sua morte trará vida para mais de uma pessoa, posso lhe garantir que nada será desperdiçado", ele se aproximou do homem amarrado e aplicou uma injeção com um misterioso líquido nas veias do homem, através de um cateter colocado lá anteriormente. Eu tentei gritar desesperadamente por ajuda enquanto o homem se debatia emitindo ruídos inaudíveis através da tira de pano em sua boca. Algum tempo depois ele parou de se debater e sua cabeça pendeu para frente, aparentemente sem vida. "Pobre coitado", a voz de meu avô chegou até mim vindo de algum lugar próximo aonde eu me encontrava em total estado de estupor. 
O pai de Alicia...
Morto a poucos metros de distância, sem que eu pudesse fazer nada a respeito. Aquilo não podia ser real.
Meu corpo começou a tremer descontroladamente, em completo estado de choque.

"Você pode pensar o que quiser de mim, garoto. Mas eu nunca menti para você, ao contrário de seu pai e sua amada mãe", eu não o percebi se aproximar até que ele puxou meus cabelos para trás para fazer com que eu levantasse a cabeça, obrigando-me a encara-lo. 

"Quando tiver a oportunidade, pergunte a algum deles quem é o verdadeiro pai da menina ruiva..."


Aquela foi a última coisa que ouvi.



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