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História Com amor, Lizzie - II


Escrita por: Brokenprince93

Capítulo 3 - II


Fanfic / Fanfiction Com amor, Lizzie - II


"Mark!"

A chuva ainda não havia dado trégua quando a segunda-feira seguinte chegou. Thom havia me pedido para encontra-lo no clube para finalizarmos o processo de escolha dos atores.

"Mark, ta me ouvindo?" Perguntou ele, acenando em minha direção. Despertei momentaneamente de meus devaneios e murmurei um pedido de desculpas qualquer. "Alicia me ligou hoje antes da aula e me disse que não poderia vir." Eu concordei com um aceno de cabeça. "Aconteceu alguma coisa entre vocês, Mark?" Perguntou ele, tentando não parecer muito invasivo. Olhei para ele por alguns instantes tentando entender o motivo da pergunta. 

"Não, por que? Ela disse algo?" Questionei. Thomas balançou a cabeça em sinal negativo, depois passou uma mão pela vasta cabeleira antes de responder.

"É que ela me disse que era uma boa ideia colocar Jessica no papel principal, eu achei isso meio estranho." Disse ele. "Até mesmo por ela não ter concordado na primeira vez que sugeri a ideia." Ele continuou me olhando enquanto eu me mantive em silêncio, observando o pátio molhado pela chuva através do vidro da janela. "Então, o que você fez?" Perguntou. Respirei fundo, me lembrando da última vez em que a havia visto.

"Eu falei com ela... Sobre o roteiro, sobre o que você tinha dito... De ser sobre mim... e ela." Respondi, tentando não transparecer todo o desconforto que aquilo estava me causando. O rapaz a minha frente acenou positivamente com a cabeça, se levantando depois e parando de frente para a janela, de costas para mim.

"O que ela disse?" Ele perguntou sem se virar.

"Ela meio que confirmou sua teoria." Eu respondi. "Mas não me pareceu ter ficado chateada com isso, não a ponto de querer Jessica como protagonista." Thomas riu, se virou e me olhou fixamente.

"Acho que não se trata mais de uma teoria então, não é?" Perguntou ele, retoricamente, enquanto voltava a se sentar. "Não podemos perde-la, Mark. Esse clube não sobreviverá sem vocês dois e é perceptível que você anda com problemas maiores ultimamente." Eu concordei com um aceno de cabeça, o que o permitiu continuar. "Sam já está cuidando dos figurinos de acordo com o que vocês desenharam e Mike irá cuidar do som." Ele colocou a mão em meu ombro antes de concluir. "Tudo o que você precisa fazer agora é trazer ela de volta." Engoli em seco, por alguma razão eu preferia ser o responsável por qualquer outra coisa naquele momento. A porta da sala se abriu e Jessica entrou, seguida por Mike. A garota estava com os cabelos úmidos pela chuva.

"Olá! Digam oi para a sua mais nova estrela!" Falou ela enquanto fazia pose de celebridade. Troquei um olhar desconfiado com Thomas.

"Do que você está falando?" Eu perguntei. Mike riu enquanto se sentava na mesa próxima a mim.

"Alicia disse pra ela que ela será a protagonista." Falou ele. Me virei para Thomas novamente, dessa vez com um olhar de preocupação. Ele acenou brevemente com a cabeça antes de falar em voz baixa.

"Você consegue, Mark."

                               ***

"Podemos conversar?"

Ela me alcançou no caminho pra casa, enquanto eu pensava ter sido discreto o suficiente pra não ser notado enquanto matava a última aula do dia. Percebi que seus cabelos perdiam o brilho característico de sua coloração quando estavam úmidos. Ela vestia um casaco de lã puído e jeans enquanto carregava alguns livros junto ao peito.
Eu sabia sobre o que ela queria conversar...

E eu realmente não estava disposto a pensar nisso agora.

"Estou meio ocupado agora, pode ser depois?" Eu perguntei, tentando escapar de enfrentar o que quer que ela trouxesse. Ela não respondeu, apenas ficou lá parada, me olhando com aqueles intimidantes olhos azuis. Entendendo isso como um sim, eu me virei e comecei a caminhar na chuva fina, até que o som de sua voz me fez parar.

"Seu avô matou meu pai, Mark."

                                 ***

"Eu não sei muito dos detalhes, minha mãe nunca foi de falar muito comigo sobre isso." Falou ela. Havíamos ido até o Carl's para conversar, onde Lucy estava mais agitada que o normal com a visita da inspeção sanitária. "Eu descobri isso porque sou extremamente enxerida e me esforçava pra escutar as conversas." Ela sorriu brevemente à alguma lembrança que lhe surgiu à mente. "Mas meu pai nunca fez o tipo suicida, sabe? Não acredito que ele fosse se matar nos deixar sozinhas." Concluiu ela, tomando um generoso gole de seu chocolate quente.

Toda a história estava tomando proporções estranhas demais pra que eu pudesse absorver. 

Meu avô matou o pai de Lizzie...?

"E qual a ligação entre sua mãe e meu pai, tem algo a ver com isso?" Eu perguntei, tentando desembaraçar os nós que se formavam em minha cabeça. Ela pareceu pensar um pouco antes de responder, com se estivesse tentando resumir tudo o que sabia a respeito.

"Eu conheço seu pai desde que me entendo por gente, acho que ele era amigo do meu pai." Começou ela, antes de parar mais um pouco para pensar. "Ele sempre esteve com a gente, sabe? As vezes sumia e depois aparecia, mas nunca passou um ano sem aparecer." Olhou para mim com certa intensidade, antes de continuar. "As coisas só começaram a parecer estranhas pra mim quando nos mudamos pra cá."

"O que aconteceu quando se mudaram?" Eu perguntei. Ela deu uma risada curta e tomou mais um gole de sua caneca fumegante.

"Você." Disse ela simplesmente. Vendo minha cara de espanto, ela continuou. "Eu não sei exatamente o porquê de termos nos mudado pra cá, mas sei que ele teve algo a ver com isso. E, bem, antes de chegarmos aqui ele me avisou sobre você." Concluiu ela. Rindo ainda mais da minha nova expressão de surpresa. "Acha mesmo que nos encontramos aqui por coincidência?" Perguntou ela com um ar de humor. Eu comecei a me lembra de quando nos conhecemos ali naquele mesmo local, mais tarde eu já me senti enganado por saber que Elisa não só a conhecia, como também era prima dela. Naquela hora eu não sabia exatamente como me sentia ao saber que aquilo ia além de qualquer armação de Elisa.

"Meu Deus..." Foi tudo o que eu consegui dizer. Ela se tornou repentinamente séria ao continuar a falar.

"Seu pai me disse que precisava falar com você e pediu minha ajuda com isso. Me disse que Elisa te conhecia e que seria mais fácil me aproximar de você através dela." Terminou de beber o chocolate quente virando completamente a caneca acima de sua cabeça. "Por sorte, quando eu perguntei a Elisa se ela conhecia algum cara legal aqui, ela falou especificamente sobre você." Concluiu ela. Eu devia estar transparecendo toda a surpresa que me assolava porque ela riu novamente. "Minha mãe também gostou de você quando o viu aqui." Acrescentou ela em tom reconciliatório.

"Também...?" Eu perguntei, sem saber como fora capaz de reparar naquele detalhe de sua fala naquele momento. Ela baixou os olhos, olhando para suas mãos de dedos longos e elegantes, seu rosto se tornando subitamente vermelho.

"Eu gosto de você, Mark. Acho que isso tornou tudo mais fácil no início, mas complicou tudo depois, não é?" Comentou ela, com um sorriso triste no rosto.

"O que te fez me contar essas coisas agora? Sua mãe pediu?" Ela confirmou balançando a cabeça. Lembranças da momento em que encontrei Melissa e meu pais em minha casa voltaram a minha mente.

Eu havia fugido. 

Tinha aproveitado a comoção gerada no ambiente da sala para correr até a porta e depois até o lago, onde havia ficado algumas horas chorando desesperadamente, deixando Melissa e meu pai para trás.

Aparentemente, Melissa não tinha contado a Lizzie sobre o que eu tinha feito. E a notícia de que meu avô tinha matado o pai dela me fez sentir ainda pior. Teria me submetido àquele acordo em vão?

Melissa usaria mesmo o dinheiro do homem que matou seu marido para curar sua filha?

Lizzie aceitaria ser curada pelo dinheiro do homem que matou seu pai?

Estava bastante inclinado ao não em ambas as respostas e isso me trouxe um nó na garganta que não podia ser desfeito.

"Eu preciso ir, obrigado por me contar sobre isso." Eu falei enquanto me levantava, pegando a mochila e o guarda-chuvas. Lizzie me puxou pelo braço antes que eu pudesse me dirigir até a saída.

"Eu não sei o que você fez, Mark." Falou ela me dando aquele seu olhar congelante característico. "Mas pra minha mãe ter me pedido pra falar com você depois do que aconteceu entre nós, a coisa deve ter sido grave." Ela parou por alguns instantes, talvez esperando que eu dissesse o que ocorrera.

O que não aconteceu.

"Bem, se cuida." Falou ela, soltando meu braço.

"Você também."

                             ***

"Achei que você tivesse dito que nada mudaria entre nós." Eu falei, enquanto a garota enfiava a chave na fechadura. Alicia se virou assustada, seus grandes olhos castanhos se destacando na luz branca do dia nublado.

"Mark... Há quando tempo está esperando aqui?" Perguntou ela, vestida com botas e um sobretudo preto e velho, a julgar pela aparência.

"Não muito." Menti. "Podemos conversar?" Ela me olhou com seus olhos fundos e cansados por alguns instantes.

"Claro, entre. Podemos conversar enquanto eu faço o jantar." Respondeu ela enquanto destrancava e abria a porta, me convidando a entrar com um gesto.

A casa estava estranhamente quieta para um lugar que costuma ter tanta gente convivendo. "Não tem ninguém aqui, meus pais estão trabalhando até tarde hoje, Aysha está com a Sra. Conniston descendo a rua e os gêmeos estão na escola ainda." Explicou ela, colocando a bolsa sobre a mesinha no corredor e me indicando a fazer o mesmo. "E Ryan, bem, esse deve estar roubando alguma coisa por aí" acrescentou ela, balançando negativamente a cabeça em sinal de reprovação. Ryan sempre fora o problemático da vizinhança, me lembro que tinha medo dele quando criança e minha mãe sempre me dizia pra ficar longe dele. "Veio pra falar sobre o clube, né?" Perguntou ela enquanto lavava as mãos e começava a separar alguns legumes na bancada da cozinha.

"Não, vim pra falar sobre nós." Eu respondi. Era impressionante a coragem que eu adquirira recentemente para falar com as pessoas. Talvez eu não tenha percebido na época, mas era uma clara influência de Lizzie em minha vida. Alicia também pareceu achar isso impressionante - ou ter ficado surpresa -pois ficou parada com a faca no ar me encarando. "Você disse que nada mudaria entre nós, depois da conversa que tivemos." Eu a recordei. "Você sabe que aquele clube não sobreviver sem você." Ela baixou os olhos para a cenoura que estava cortando.

"Não é por sua causa." Começou ela, largando a faca sobre a bancada e me olhando com olhos tristes. Ela havia prendido seu cabelo e estava usando um avental verde por cima de uma camiseta do Mickey que provavelmente esteve o tempo todo embaixo do sobretudo.
Por alguma razão eu nunca a achei tão bonita como agora. "As coisas têm andando complicadas aqui em casa, Mark. Infelizmente eu não poderei mais participar do clube." Aquilo me atingiu como uma bala de canhão no peito.

"Alicia... O que você está dizendo?" Eu comecei, sem saber exatamente o que dizer. "O filme é seu, o clube é seu! Não poderemos termina-lo sem você!" Concluí em uma súplica. Ela balançou a cabeça negativamente.

"Ambos foram ideia sua, tanto o filme quanto a criação do clube." Começou ela, "tudo o que eu fiz foi ajudar, mas você foi sempre o idealizador das coisas, Mark" disse ela, sorrindo. Fiz menção de dizer algo mas ela me interrompeu. "Não espero que você ou os outros entendam, mas eu preciso trabalhar agora às tardes. Infelizmente isso significa não poder participar mais do clube."

"Podemos mudar as reuniões pro sábado." Eu sugeri, me recusando a aceitar que ela deixasse o clube. Ela abriu outro sorriso, um pouco mais duradouro, antes de começar a descascar as batatas.

"Eu trabalho aos sábados também e além de ter as coisas de casa para fazer, tem os deveres da escola..." Baixou os olhos concentrando-se em sua atividade. "Sinto muito, Mark." 

"Tudo bem, não se preocupe." Eu disse enquanto me levantava. "Eu vou indo, então. Tenho algumas coisas da escola pra terminar ainda." Eu disse, me sentindo abatido e derrotado por perde-la dessa forma. Ela levantou os olhos e ficou me olhando de pé em sua cozinha apertada. 

"Pensei que fosse ficar para o jantar." Comentou, rindo quando percebeu minha surpresa diante daquilo. "Eu insisto." Reforçou ela. "Você não sairá daqui de barriga vazia." Disse ela apontando a faca em minha direção. Aquela cena toda me fez rir, ela com seu avental e cabelos presos como uma legítima dona de casa. Fui caminhando até ela e peguei uma batata de cima da bancada.

"Tudo bem, desde que me deixe ajudar."

                              ***

Olhando hoje, acho que comecei a me afastar de Lizzie depois de ter falado com meu avô. Eu me sentia mal diante da situação em que aquilo havia me colocado e olhar para Lizzie só me lembrava do que eu tinha feito.

Já que ela fora a razão para eu ter feito aquilo.

Naquelas horas na casa de Alicia, eu conseguira deixar tudo aquilo de lado. Fomos buscar sua irmã na casa da Sra. Conniston juntos após terminarmos de fazer o jantar e comemos os três juntos antes de seus dois irmãos gêmeos chegarem famintos e devorando tudo o que havia pela frente. Aparentemente seu irmão mais velho não ia pra casa há alguns dia e felizmente - pra mim - ele não chegou naquele momento.

"Obrigado por ter vindo, fiquei feliz em te ver." Disse ela quando me acompanhava até a porta. A casa havia ganhado vida com a chegada dos mais novos e parecia bem mais acolhedora do que antes, com toda aquela bagunça. Bem mais acolhedora do que minha própria casa jamais seria.

"Obrigado por me receber, e principalmente pela comida." Respondi já do lado de fora da casa, colocando o casaco e ajeitando a mochila no ombro.

"Ninguém sai da casa dos Felix de barriga vazia, nunca te disseram isso?" Perguntou ela, sorrindo. Eu a havia visto sorrir diversas vezes enquanto estive lá naquele dia, comecei a me perguntar se ela sorriria assim sempre. 

Achando que a resposta seria não.

"Alicia... hum..." Eu comecei, procurando uma forma de falar sem ser muito invasivo. "Se você precisar de ajuda com algo, o que quer que seja, não hesite em me chamar." Eu falei, tentando desviar os olhos dela. Seus grandes olhos escuros brilharam ao me ouvir dizer aquilo, enquanto ela ainda mantinha o sorriso no rosto.

"É muito bom saber disso, Mark. Muito obrigado." Ela se aproximou devagar e repentinamente me abraçou forte, me apertando entre seus braços finos. Ela cheirava a cebola e ensopado de carne; o que me pareceu o melhor cheiro do mundo naquele momento. Eu retribuí o abraço e ficamos daquela forma por alguns instantes, antes de ela se soltar e entrar rapidamente para dentro, murmurando um "te vejo depois".

                                 ***

Se tem uma coisa que eu aprendi naquela época é que algo de ruim sempre acontece quando eu saio da casa de Alicia e vou pra minha. E daquela vez, não foi diferente.

Fui recebido por minha mãe com lágrimas nos olhos e um fortíssimo tapa no rosto que me arremessou ao chão da sala. Ela veio pra cima de mim e continuou a me dar murros com todas as suas forças enquanto gritava palavrões dos mais diversos significados. Alguns dos quais eu nem conhecia ou sabia que poderiam ser usados como xingamentos. Ela só parou quando alguém a tirou de cima de mim,permitindo que eu me levantasse um pouco e a visse com os olhos vermelhos e molhados, uma expressão de medo misturada com raiva perpassando seu rosto e seus cabelos completamente desarrumados.

E meu pai a segurando pelos dois braços.

"Me desculpe, garoto. Eu precisei contar a ela..."



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