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História Com amor, Lizzie - III


Escrita por: Brokenprince93

Capítulo 4 - III


Fanfic / Fanfiction Com amor, Lizzie - III

Senti o gosto de sangue em minha boca enquanto tentava me levantar com certa dificuldade. Passei a mão pelos lábios para limpar o sangue que descia pelo queixo e a dor que senti me deu a entender que eles estavam machucados. Definitivamente aquela era a maior surra que eu já havia levado em toda a minha vida.

Aplicada por minha mãe.

Eu podia ver bem o desespero em que ela estava apenas observando seu rosto enquanto meu pai tentava acalma-la. 

"Não é culpa dele, Selma. Não devíamos ter escondido isso dele por tanto tempo." Falou ele enquanto minha mãe desabava em prantos. Estranhamente eu não estava me importando muito, estava meio que anestesiado a tudo o que acontecia ao meu redor. Talvez fosse uma forma inconsciente de me preservar diante de toda essa situação. "Eu não devia ter deixado vocês sozinhos, a culpa disso tudo é minha." Continuou ele, agora mais abraçando do que segurando a mulher. "Venha, vamos lá pra cima." Disse ele enquanto guiava a mulher em direção às escadas. "Nem pense em fugir, Mark. Você não teria uma casa pra voltar dessa vez." Falou ele do primeiro degrau.

O silêncio tomou conta do ambiente a medida em que os dois se afastavam da sala. Não estava chovendo mas o tempo nublado sugeria que poderia começar novamente a qualquer instante, o clima refletindo bem o que minha vida havia se tornado.

"Você sabe o porquê de eu estar naquele estado na última vez em que no encontramos?" Ouvi a voz do meu pai formular essa pergunta enquanto ele retornava à sala e se sentava a minha frente no outro sofá. Eu não respondi, fiquei apenas encarando seu rosto tentando não transparecer nenhuma emoção. "Eu fui atrás de você assim que Melissa me disse..." ele passou as mãos pelos cabelos castanhos e bagunçados - como os meus - e pegou uma caneca de cima da mesinha de centro. Percebi que suas mãos tremiam enquanto ele a segurava com força. 

"Ela está me seguindo?" Eu perguntei, tentando não denunciar nenhuma emoção pelo meu tom de voz também. Meu pai confirmou com um aceno de cabeça. 

"Desde que seu avô te fez aquela visita." Explicou ele. "Sua mãe me contou." Acrescentou, quando viu minha cara de dúvidas a respeito de como ele tinha conhecimento daquilo. "Eu fui atrás de você e... bem, seu avô fez aquilo comigo." Falou ele, se referindo à sua aparência quando invadiu minha casa com Melissa. "O segurança dele fez, melhor dizendo." Completou, enquanto segurava a caneca como se fosse seu único ponto de apoio em meio à um furacão.

Eu não queria lembrar...
Eu não podia lembrar...

"Há essa altura, você já sabe o que seu avô faz da vida, não é?" Perguntou ele. "Além de ser um empresário de relativo sucesso no meio de equipamentos hospitalares, quero dizer." Eu não respondi, mas tinha uma vaga ideia do que ele queria dizer. "Você sabe, não é?" Perguntou novamente balançando a cabeça positivamente como se respondesse a sua própria pergunta. "Você descobriu quando fez a idiotice de ir até ele." Afirmou, depois se levantou e começou a caminhar pela sala, parando de frente para a janela e afastando as cortinas para ver a rua lá fora. "Que órgão você deu a ele em troca daquele cheque, Mark?" Ele estava chorando quando fez aquela pergunta, assim como eu estava quando a ouvi.

Eu não queria lembrar...
Eu não podia lembrar...

"Responda." Disse ele com a voz embargada. "Você não pode fugir disso para sempre. Se você foi homem o suficiente pra fazer esse tipo de escolha, então você deve ser homem o suficiente para falar a respeito." Ele havia se virado novamente para mim, e me olhava fixamente esperando alguma resposta.

"Do mesmo tipo de homem que você foi quando nos abandonou?" Eu perguntei, em uma tentativa de mudar o foco da conversa. Ele não se alterou, seu rosto continuou a me observar com a mesma expressão de dor de antes.

"Não, não me refiro ao tipo de homem que eu sou. Me refiro ao tipo de homem que o pai de Lizzie foi." Disse ele. "É esse tipo de homem que eu espero que você seja, Mark." Ele caminhou novamente até o sofá e sentou. "Eu sei o que você fez, seu avô fez questão de me contar quando fui até lá; embora eu ainda tivesse esperanças de não ser verdade..." Ele ficou em silêncio por alguns instantes enquanto eu fazia o possível para não olha-lo nos olhos. "Mark, eu só preciso ouvir isso de você para que possa te ajudar." 

"Eu não quero a sua ajuda!" Eu respondi imediatamente. "Eu não sei o que te faz pensar que eu precise dela, mas você está enganado." Eu continuei, toda a raiva, angústia e frustração guardada naqueles últimos dias sendo descarregada diretamente sobre meu pai. 

E, devo dizer, ele foi capaz de suportar tudo aquilo deu uma forma que eu jamais seria.

"Você não significa nada pra mim, você nunca foi nada pra mim!" Eu me levantei e comecei a caminhar de um lado para o outro na sala, enquanto ele me observava ainda sentado. "O que te faz pensar, por um instante que seja, que eu acredito nesse papo de pai preocupado? O que te faz pensar que eu quero sua ajuda para o que quer que seja depois de você ter me abandonado sem nenhuma explicação?" Naquele momento eu me dei conta de que estava gritando, e aquela percepção me assustou um pouco. Nunca pensei que eu seria capaz de me descontrolar daquela maneira.

Eu estava me segurando para não sair correndo dali novamente.

"Eu tenho nojo se você." Eu disse em voz baixa, tentando compensar toda a gritaria anterior. Ele estava de cabeça baixa, olhando para o chão, de maneira que seu rosto não estava visível para mim.

"Você tem razão, Mark." Começou ele. "Em tudo o que você disse; eu nunca fui um pai para você e sei que é errado eu querer isso agora. Mas é algo que eu não consigo controlar..." ele colocou as mãos na cabeça em um gesto de desespero. "Meu deus... quando eu soube que você tinha estado naquele lugar... Com ele... Eu quase fiz besteira, Mark." Ele se levantou e caminhou até próximo de onde eu estava. "Você só está errado quando diz não querer minha ajuda, garoto. Porque você ainda não sabe no que eu propus te ajudar."

"Eu não preciso da sua ajuda pra nada." Eu respondi prontamente. "Na verdade, se você morresse agora não faria diferença nenhuma na minha vida. Se você tivesse morrido durante esses anos todos eu provavelmente nem saberia, nao é? Eu estaria fodido do mesmo jeito que estive... e quer saber? Eu vou sair dessa do jeito que eu sempre saí! Eu vou sair dessa sozinho!" Eu estava gritando novamente e perceber isso enquanto o olhava estava sendo insuportável naquele momento, de modo que eu me afastei e lhe dei as costas. 

"Eu posso convencer Lizzie a fazer a cirurgia." O modo como parei de respirar ao ouvir aquelas palavras deve ter denunciado que aquilo foi capaz de me atingir, porque ele continuou com ainda mais confiança. "Não adianta negar, por mais que você diga que não se importa ou precisa de ninguém, é óbvio que isso não se aplica a ela. Do contrário você não teria feito o que fez." Eu me mantive em silêncio, ele havia encontrado uma brecha enorme em mim, e não hesitaria em explora-la. "Eu posso salva-la, Mark." Eu me virei pra ele e pude ver por sua expressão que ele falava sério. "Eu só preciso de uma coisa de você. E pelo acordo que você fez com seu avô, eu diria ser algo bastante razoável." Seus olhos brilhavam com um misto de sentimentos que eu não pude decifrar. "E é algo que também irá te ajudar a sair da enrascada em que se meteu." 

"Eu não quero, não estou interessada em nada que você possa oferecer." Eu disse, tremendo descontroladamente. Aceitar o que quer que ele tivesse a oferecer era tudo o que eu mais queria naquele momento. Um momento em que eu não enxergava nenhuma saída para nenhuma das questões que ele se propôs a me ajudar. 

Eu não sabia como convencer Lizzie a usar o dinheiro para tentar se salvar e também não sabia como me livrar do que havia prometido a meu avô.

E quanto a essa ultima...

A absurda verdade é que meu avô vendia órgãos. 

Eu sabia disso no momento daquela conversa com meu pai, mas talvez não soubesse - ou não quisesse saber - das implicações daquilo. Algo que eu fui forçado a encarar com o tempo, uma vez que havia lhe prometido os meus próprios.

"Então você vai simplesmente deixar Lizzie morrer?" Meu pai perguntou. Como eu não lhe dei resposta, ele se dirigiu até a porta e parou no batente antes de fecha-la atras de si. "Se é isso o que você quer, não vou interferir mais." E fechou a porta. Me deixando lá parado com milhões de coisas passando por minha mente em cada segundo.

Milhões de pensamentos sobre uma vida inteira sem Lizzie.

A ideia da morte de Lizzie era tão insuportável que quando dei por mim já estava do lado de fora, olhando meu pai de afastar em direção à seu carro parado do outro lado da rua. Uma chuva torrencial tinha começado e me deixou encharcado em segundos.

"ESPERA!" Eu gritei em meio a toda aquela água. Ele se virou e ficou me encarando parado no meio da rua, também completamente molhado. "O que eu preciso fazer?" Eu perguntei. 

E posso jurar que havia um sorriso em seu rosto naquele instante.



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