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História Com amor, Lizzie - IV


Escrita por: Brokenprince93

Capítulo 5 - IV


Fanfic / Fanfiction Com amor, Lizzie - IV

Meu avô vendia órgãos.

Como seria isso? Você pode estar se perguntando.

Bem, ele basicamente fazia empréstimos impossíveis para pessoas que sabia que não teriam como pagar a quantia, fazendo-as assinar um de seus contratos que diziam em alguma linha minúscula o que aconteceria se não pagassem em um curtíssimo prazo. Claro que esses contratos não possuíam nenhum valor legal, talvez fosse só para alivia sua consciência. Se é que ele tinha alguma.

E, logicamente, ele também não fazia o trabalho sujo, apenas conseguia clientes - e às vezes matéria prima - para quadrilhas que atuavam em países subdesenvolvidos e que possuíam a estrutura para realizar o transplantes nesses locais. Então ele se encarregava de encontrar potenciais clientes e os encaminhava aos locais onde seriam realizados os transplantes - às vezes junto com a pessoa "inadimplente" - sempre em algum país pobre da América Latina. 
Como eu vim a saber depois, havia toda uma rede que propiciava esse tipo de negócio. Ele contactava pessoas ricas que estavam em alguma fila de transplantes de órgãos e as oferecia a sua "alternativa mais rápida" para a questão. Ao confirmar o interesse da pessoa contactada, meu avô avisava as quadrilhas nesses países que tratavam de conseguir o órgão necessário - se ele já não tivesse conseguido - e deixavam tudo preparado para o transplante, enquanto meu avô tratava de fazer com que os clientes chegassem até o local. 

E caso você também não esteja entendo todas as implicações disso, quando não conseguiam desviar órgãos que originalmente iriam para pessoas nas filas de transplantes ou retirar os de alguém que não pagou a dívida em tempo hábil, eles matavam pessoas para retirar seus órgãos pouco antes do momento do transplante.

Geralmente pessoas que deviam muito dinheiro para o meu avô.

Como eu.

                               ***
Depois de entrar em acordo com meu pai sobre o que cada um faria pelo outro, tive de começar a cuidar do que cabia a mim. 

E o primeiro passo foi sair do clube de cinema.

"O que você está dizendo, Mark?" Era Thom, seus olhos arregalados de espanto e surpresa ao ouvir o que eu tinha a dizer.

"Alicia acabou de nos deixar, cara!" Esse era Mike, dono de cabelos afro e olhos escuros como a noite, que agora me olhavam com incredulidade. 

"Sinto muito, eu também terei que trabalhar agora, depois das aulas." Esse era eu, sem nenhuma coragem de olhar para nenhum deles naquele momento. Samantha se levantou de sua cadeira e saiu da sala sem dizer uma palavra, o que machucou mais do que qualquer coisa que ela pudesse dizer.

"Se ele sair, eu também saio. Não vou fazer par romântico com algum de vocês." Essa era Jessica... Bem, vocês já a conhecem.

"Cala a boca, Jess." Respondeu Thom. "Você não sairia nem se fosse a única restante." A garota fechou a cara mas não disse mais nada. Todos sabiam do quanto ela precisava de qualquer atividade extracurricular. "Olha, Mark..." Thom começou a dizer. "Eu não sei o que está acontecendo com vocês, e não cabe a nenhum de nós aqui julga-los. Volte assim que possível, okay?" Eu balancei a cabeça, concordando.

"Peça desculpas a Sam por mim." Eu disse, me referindo à garota que abandonara a sala pouco antes. Eu não queria ter feito aquilo, mas não tinha outra opção. 

"Hey, Mark!" Uma voz soou às minhas costas pouco depois de eu ter deixado a sala de reuniões do clube e eu não precisei me virar para saber à quem ela pertencia. Jessica saiu pouco depois de mim e agora se aproximava, tentando acompanhar meus passos. "Poderia parar de andar um pouco para conversarmos?" Perguntou ela, ofegante. Fiz o que ela pediu, sem dizer uma única palavra. Ela ficou me olhando por alguns instantes antes de falar.

"É meu aniversário no próximo sábado e meus pais decidiram me dar uma festa e tal..." disse ela enquanto me mostrava dois convites que segurava. "Eu sei que você provavelmente não vai, mas..." Peguei os convites da mão da garota e fiquei olhando os pequenos envelopes cor-de-rosa. 

"Tem razão", eu disse, devolvendo os envelopes. As chances de eu ir àquilo eram mínimas.

"Fique com eles, talvez você ainda mude de ideia." Disse ela antes de se virar e voltar à sala de reuniões. Guardei os convites na mochila e fui apressado até a lanchonete, meu estômago me lembrando que eu não havia comido nada no café da manhã. 
                                   ***
"Você vai na festa da patricinha, não é?" Elisa se juntou a mim na mesa enquanto eu devorava meu segundo sanduíche. Sua pergunta me fez encara-la com a boca cheia por alguns instantes, esperando que meus olhos fossem capazes de expressar minha surpresa por ela saber sobre a festa. "Eu pedi pra ela te convidar, assim eu não serei a única pessoa normal por lá." Disse ela, enquanto eu questionava mentalmente seus conceitos de normalidade. "Você pode levar Lizzie, ela te deu dois convites, não foi?" Eu confirmei com um aceno de cabeça antes de engolir e finalmente poder falar.

"O que você vai fazer lá? Dar os parabéns pra sua amiga?" Eu perguntei, Elisa fez cara de nojo antes de responder.

"Ela é prima do Matt, da banda. Ela o pediu pra tocarmos na festa, e como aquele playboy idiota não sabe dizer não..." respondeu ela, dando de ombros e em seguida desviando sua atenção para a entrada da lanchonete. "Ótimo, aí vem ela. Você sabe o que fazer", disse, me olhando como se me desafiasse a fazer algo diferente.

"Hey", disse Lizzie, sentando-se ao lado de Elisa e de frente para mim. "Elisa disse que você precisa falar comigo. O que é?" Perguntou a garota ruiva. Olhei rapidamente para Elisa que não havia mudado a cara de quem me mataria se eu não fosse a festa e levasse sua prima ruiva perfeita.

"Sim..." eu comecei, sem ter muita prática em chamar garotas para sair. 

"Temos uma festa pra ir nesse sábado, ele te pega as 19:00." Disse Elisa por mim.

                               ***
"Podemos ir pra casa juntos?" Perguntou Lizzie depois que Elisa havia saído apressada para seu treino de futebol. "Queria falar com você sobre algumas coisas."

"Eu não irei pra casa depois daqui, tenho umas coisas pra resolver na cidade." Eu respondi, sem me esquecer do acordo com meu pai. "O que é?" Perguntei. Ela pareceu um pouco desconfortável em falar sobre o que quer que fosse ali, na lanchonete, mas pareceu perceber que não tinha muita escolha.

"Bem... é o seu pai, sabe?" Começou ela, hesitante. "Ele apareceu lá em casa ontem todo molhado, dizendo umas coisas." Ela me olhou em busca de compreensão, mas eu ainda não tinha a capacidade dela de ler mentes. 

Embora eu pudesse ter um bom palpite naquela hora.

"O que ele disse?" Eu perguntei, ela mordeu o lábios em sinal de nervosismo antes de responder.

"Ele disse que conseguiu a cirurgia." Falou ela de uma só vez, parecendo se sentir mais leve ao fazê-lo. Eu olhei para ela uma pouco surpreso, sem entender o porquê de aquilo a incomodar daquela maneira.

"Meu Deus, Lizzie. Você não devia estar feliz por isso?" Eu perguntei. Ela pareceu ainda mais desconfortável com minha pergunta.

"É que foi meio de repente..." Ela começou a responder e parou por uns instantes. Fitando seus dedos brancos, longos e elegantes. "Eu já tinha me acostumado com a ideia, sabe? De morrer." Eu me mantive em silêncio enquanto ela continuava a observar suas mãos sem me olhar. "Eu não sei mais o que eu quero." 

Ouvir aquilo me assustou, eu jamais havia pensado daquela maneira. Talvez eu tenha percebido naquele momento que eu nunca fizera ideia de como aquela garota podia se sentir sobre toda aquela situação que a afetava.

Ela já tinha se acostumado à ideia de morrer, provavelmente até evitava pensar em qualquer resultado diferente daquele.

"Eu sei que o que eu vou te pedir agora é extremamente egoísta, até mesmo para os meu padrões, mas eu preciso te pedir isso..." Eu comecei a dizer, ela me olhou com ansiedade enquanto me esperava continuar. "Faça isso por mim. Se não for por sua você, por sua mãe ou por quem quer que seja... Faça por mim." 

Ela desviou os olhos novamente, mas não rápido o suficiente para me impedir de ver as lágrimas que se acumulavam neles. "Como você é idiota, Mark." Começou ela, "é claro que eu farei a cirurgia". Ela me olhou novamente com um sorriso no rosto. "Eu só achei tudo isso um tanto repentino." Concluiu. Eu também sorri.

"Só não quero..." Eu comecei, sem conseguir terminar o que ia dizer. Um nó havia se formado em minha garganta ao pensar no que diria a seguir. Ela levantou uma sobrancelha em sinal de dúvida. 

Só não quero que você morra, eu pensei.

"Não é nada", eu disse, ajeitando a mochila no ombro. "Preciso ir agora, se cuida." Já havia me levantado e estava me  dirigindo à saída quando ela falou.

"Eu não vou morrer, Mark. Eu prometo."

                             ***

Devo confessar que estar naquele prédio novamente não me causava nenhuma sensação agradável. A sede administrativa da empresa do meu avô ficava no centro da cidade, em uma construção imponente com vinte e cinco andares. Sempre que o via eu me perguntava o porquê de eu estudar em uma escola pública quando meu avô tinha tanto dinheiro.

Passei pela portaria sem dificuldades dessa vez, já que a recepcionista aparentemente se lembrava de mim e apenas fez um sinal para que eu passasse até os elevadores escondidos.

"De quanto precisa agora?" Foi a pergunta que o velho me fez ao me ver sair do elevador que ia direto para a sua sala no último andar.

"Não vim por dinheiro dessa vez", eu respondi, "até porque eu não tenho mais nenhum órgão para dar como garantia." O velho me encarou por alguns instantes, talvez pensando se eu realmente havia dito aquilo, e depois deu uma gargalhada.

"Bom, temos que admitir que cem mil é muito dinheiro, garoto." Ele se levantou e fez sinal para que eu me sentasse na cadeira a frente de sua mesa. O céu observável atrás de sua mesa estava repleto de nuvens escuras.

"Não para você", eu disse antes de me sentar. "Mas como eu disse, não foi por isso que vim até aqui hoje." Ele me observou por mais alguns instantes com certa curiosidade.

"O que quer então?" Perguntou.

"Preciso de um emprego", respondi, "e que pague bem. Tenho dívidas muito grandes pra um garoto de 17 anos."

A parte de pagar bem não havia sido especificada por meu pai, mas não custava tirar um pouco de proveito da situação, não é?

Ao menos foi o que pensei na hora...



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