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História Com amor, Lizzie - V


Escrita por: Brokenprince93

Capítulo 6 - V


Fanfic / Fanfiction Com amor, Lizzie - V

"Posso ver que as coisas estão indo bem, não é?" Perguntou meu pai, sentado a minha frente em uma das pequenas cadeiras do Carl's. Ele tomava um café preto e forte enquanto eu me contentava com um chocolate quente como forma de aplacar o frio causado pela chuva constante que caía lá fora. Eu costumava pensar que um bom chocolate quente era algo capaz de curar até as mais dolorosas feridas da alma; hoje eu tenho certeza.

"Você tem espiões por lá também?" Eu perguntei, sem olha-lo diretamente. Seus machucados — causados pela briga com os seguranças do prédio quando ele havia ido até lá tirar satisfações com meu avô — estavam se curando com rapidez, de forma que já não era mais possível dizer com certeza se ele havia mesmo levado uma surra.

"Não diria espiões, eu só conheço alguns funcionários da época em que trabalhava lá." Respondeu ele, sorrindo. "Mas então, qual a função que ele te deu?" Perguntou ele.

"Ele não disse ainda, só me disse pra voltar lá na segunda-feira que ele já teria tudo arranjado." Eu respondi. Meu pai balançou a cabeça lentamente, como se tivesse percebido algo. Algo que eu provavelmente não percebera. "O que foi?" Eu perguntei. Ele me encarou com olhos sérios por alguns instantes antes de responder, como se pensassem na melhor maneira de me responder.

"Bem, é provável que ele te envolva em seus assuntos 'escusos'", começou ele, fazendo um sinal de aspas com as mãos ao dizer a palavra "escusos". "Ele não vai assumir nenhum risco de você se tornar algum tipo de delator no futuro — o que é exatamente o nosso plano —, então é provável que ele faça de você um cúmplice." Ele manteve o olhar sério ao terminar de falar, enquanto eu não sabia como responder àquilo. 

Nesse momento de silêncio mútuo, enquanto eu pensava no que exatamente a palavra "cúmplice" implicava em relação ao meu avô — algo que eu logo descobriria —, Melissa chegou com um copo de plástico contendo o que parecia ser 500ml de café puro.

"Hey", disse ela se sentando na cadeira à minha direita e colocando seu meio litro de café sobre a pequena mesa. Parecendo compreender o silêncio predominante, ela estendeu uma de suas mãos e colocou sobre as minhas. "Seu pai me disse que você aceitou ajudar", comeceu ela, "muito obrigada, Mark; obrigada por tudo o que você está fazendo por Lizzie." Eu não soube o que responder à isso também, me faltava coragem de encara-la naquele momento.

"Não se preocupe, Mark", falou meu pai, me observando como sempre. "Tudo está indo bem com a minha parte do acordo, acho que vou conseguir convencê-la." Melissa esticou sua outra mão até as de meu pai.

"Não sei o que seria de nós sem vocês..." disse ela com lágrimas nos olhos, longo antes de Lucy chegar e apresentar à Melissa todo o seu descontentamento com clientes que levam grandes quantidades de café ao seu estabelecimento que foram comprados em outro local.

                               ***

Então chegou o sábado, início de Novembro, aniversário de Jessica. Pela data, não foi uma grande surpresa descobrir que seria uma festa a fantasia com temática de Halloween. Eu odiava festas, mas acredito que não existam palavras suficientes para explicar o quanto eu odiava festas a fantasia. 

E o quanto eu talvez ainda odeie, principalmente depois daquela.

"Até que não está muito ruim". Comentou Lizzie, me observando vestido na fantasia que havia me conseguido enquanto segurava a agulha que estava usando para fazer os reparos necessários nas vestes. "Duvido que exista algum Batman mais bonito na festa." Concluiu ela com certa satisfação pelo seu trabalho de costura.

"Duvido que exista outro Batman na festa..." Eu disse, olhando de maneira crítica para a fantasia antiga que ela me fizera vestir. "Aliás, tem certeza que isso é do Batman?" Perguntei, fazendo com que ela risse.

"Claro que é!" Respondeu ela, indignada com a pergunta. "Só é o Batman da época do meu pai, essa fantasia era dele. Minha mãe deu a ideia de te emprestar pra que você não usasse o fato de não ter conseguido uma fantasia como desculpa para não ir na festa." Concluiu ela.

"Eu tenho tanta experiência em não ir à eventos como esse que você jamais saberia se eu estivesse usando uma desculpa ou contando a verdade, acredite em mim." Eu disse, fazendo-a revirar os olhos e rir novamente. "Tem certeza que não tem problema?" Eu perguntei, me referindo ao fato de eu estar usando a fantasia que fora de seu pai.

"Não, não tem." Respondeu ela, se aproximando e tocando a fantasia na altura do meu peito, onde o símbolo do morcego estava. "Ele teria gostado de você, Mark." Comentou, desviando os olhos dos meus e fitando o chão. Eu toquei sua mão em meu peito e ficamos assim por um bom tempo, até que Melissa invadiu o quarto de sua filha e pareceu surpresa ao me ver.

"Mark..." disse ela com os olhos arregalados. Depois olhou de soslaio para Lizzie, provavelmente em busca de alguma explicação coerente para o fato de eu estar no quarto dela sem que ninguém mais estivesse em casa.

"A fantasia, mãe." Disse Lizzie, retirando a mão do meu peito e usando-a para apontar para minha direção. "Eu estava fazendo um ajustes, papai era bem maior que ele." Melissa pareceu soltar a respiração que estava prendendo ao ouvir a explicação da filha.

"Ah, sim... Tudo bem." Respondeu a ruiva mais velha. "Espero que goste de comida tailandesa, Mark." Continuou ela, mostrando as sacolas. "Vou colocar isso nos pratos, espero vocês lá em baixo." Disse ela enquanto saía do quarto afobada.

"Acho que ela ainda está um pouco traumatizada pelo... bem, pelo que aconteceu depois da festa no bar..." Comentei, me sentindo subitamente envergonhado por estar ali. Lizzie sorriu.

"Bem, podia ser pior. Pensei que ela fosse te jogar pela janela."

                                  ***

Era um dia ensolarado. O sol queimava tudo o que tocava sem nenhuma piedade.
Péssimo dia para um funeral, pensou Richard consigo mesmo. Haviam arranjos de flores por todas as partes enquanto pessoas com um sotaque estranho conversavam em sussurros pelo gramado extenso do cemitério. Ele não sabia se seria bem vindo ali, mas sabia que devia muito àquele homem. Todos aqueles anos de amizade o haviam trazido até ali, onde seu peito começara a doer ao perceber que seu amigo estava em um caixão fechado; não poderia ver seu rosto uma última vez. Caminhou lentamente em meio àquele sotaque irritante que puxava a letra R excessivamente em cada palavra e colocou uma das mãos sobre o caixão.

"Me desculpe, velho amigo..." Sussurrou ele para a caixa de madeira escura que continha o corpo de seu amigo.

"Tio Rick..." Uma voz fina chegou até ele vinda de algum lugar próximo ao chão. Ele se virou e percebeu se tratar da garotinha mais linda que ele já havia visto.

"Hey, Lizzie..." ele se abaixou para ficar da altura da menina. Ela devia estar com sete ou oito anos agora, pensou. Ainda pequena para sua idade. "Eu sinto muito", disse ele. A menina não respondeu, ficou apenas olhando para ele com aqueles grandes e profundos olhos azuis, como os da mãe. Aliás, não havia nada de Josh naquele rostinho esculpido em delicadeza e força, os traços vikings de sua mãe e sua família escocesa predominavam em sua face. As bochechas altas logo abaixo dos olhos, deixando-os puxados como os de um gato, como se fossem rasgos em seu belo rosto.

"Será que algum dia ela se perguntaria se Josh era realmente seu pai?" Pensou ele enquanto a observava.

"Mamãe disse que foi culpa sua", falou a garotinha, olhando para os próprios pés. Richard não conseguiu responder, se ainda tinha alguma dúvida a respeito da recepção que teria ali, a menina lhe dera a resposta. Ali não era seu lugar, não depois de tudo o que acontecera. Ele se levantou novamente, olhando a garotinha do alto. "Se cuida, Lizzie", disse ele, pensando que era melhor sair logo dali antes que Melissa o visse. Se dirigiu apressado para a saída do local apenas para encontrar Melissa parada junto à porta com cinco escoceses de boa estatura — como ela — ao lado.

"Você de repente me parece ter adquirido muita coragem, Richard. Caso contrário, jamais teria colocado os pés aqui." Disse ela. Ele notou imediatamente que nunca a vira daquela maneira até então, era como se estivesse a ponto de pegar seu machado viking de duas lâminas e corta-lo ao meio a qualquer instante. Seus olhos cheios de lágrimas adquiriam uma intensidade intimidadora, qualquer indivíduo são que fizesse contato visual com ela naquele momento provavelmente perceberia que o melhor a fazer era correr por sua vida e se salvar. Mas ao que parece, Richard não era o que se poderia chamar de "homem são" naquele instante. Ele estava cansado de fugir. "Se tivesse tido essa coragem há pouco tempo atrás, provavelmente não precisaríamos desse funeral agora, não acha?"

Ele achava, só não conseguiu dizer isso em voz alta na hora. Ficou sem palavras ao ver os seis gigantes caminhando em sua direção com sede de sangue.



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