Costa Rica – América Central.
Mexia distraidamente, com uma colher de madeira de cabo comprido, um conteúdo na panela sobre o fogão de chama acessa. Tenten observava a paisagem pela a janela. O vento estava intenso naquela tarde de início de inverno e assobiava acima do mar salgado e de areia.
Destinou atenção a massa, a qual estava sendo submetida a calor. Contudo segundos depois procurou por terceiros encontrando apenas Temari, sozinha, sentada no sofá mantendo um semblante reflexivo.
A temperatura amena do que a habitual não a impedia de utilizar um short jeans e uma camisa folgada. O cabelo sempre no usual penteado estava preso em um coque alto com umas mechas atrevidas escapando da amarra. Tenten achou graça a ver Temari daquele modo pela primeira vez.
A viu começar a lixar as unhas da mão enquanto mantinha o cigarro que fumava entre os lábios.
Temari não manifestou nada sobre o fracasso da operação fracassada até então. Cedeu atenção a sua tarefa, entretanto apenas por milésimos de segundos. O pensamento era disperso naquela tarde fria. O assobiar do vento cativou sua atenção novamente e logo os olhos castanhos miravam a linha do horizonte beijar o oceano.
Foi neste momento de contemplação que sentiu um leve toque em sua cintura. A reação negativa de seu corpo fora imediata e em frações de tempo a musculatura enrijeceu. Assustou-se com o toque inesperado.
- Desculpe-me. – Virou-se abrindo distância, contudo a ver um par de olhos azuis sorriu fraco. Era Ino, mulher que carinhosamente tinha dado um leve beliscão com finalidade de desperta-la de seu devaneio. Ao perceber a alteração comportamental atentou-se.– Não queria assusta-la.
Pediu e Tenten abandou a colher de madeira sorrindo efemeramente em seguida não captando a analise assídua da Yamanaka em si.
Tenten estava estranha e Ino não sabia o porquê.
No silêncio de Ino a Mitsashi regressou a mexer o conteúdo suspeito da panela ao mesmo tempo que a loira apoiava os cotovelos no mezanino próximo a pia.
- Gaara apresentou melhora? – Tenten indagou e em consequência os pares de olhos encontraram-se. O afirmar veio como resposta e o sorriso fino de Tenten se manteve por segundos. Ino captando-o elevou as sobrancelhas prevendo que Tenten tinha chegado a conclusões e talvez essas fossem precipitadas.
Ambos podiam negar ou tentar disfarçar que existe um envolvimento e de forma recíproca, todavia Ino não o deixava sozinho e Gaara não via mal nenhum nisto. Totalmente pelo contrário.
- Está tudo bem como você? – Ino inquiriu segundo mais tarde. Era notório o abatimento e consequentemente algo estava errado. Tenten não era Tenten. Estava quieta, as piadas tinham ido embora e nem o exercício corriqueiro não era realizado. Suas atividades restringiam a trocar meia dúzias de palavras com Neji e assistir televisão de olhos vazios.
- Sim e por que não estaria? – Retorquiu a questão e apresentou outra. Era sempre assim com Tenten quando algo estava errado. Ino avaliou-a novamente, visualizou o esfolhado no rosto, os pulsos enfaixados comprimindo os lábios no término da análise.
Fora flagrada subitamente forçando-a mudar o foco da observação. Tenten não tinha dito e não questionaria.
- O que está preparando de bom? – Ino substituiu a voz dura e altiva tão usual e costumeira para um timbre mais suave e até cômico, visto que a pasta acinzentada não era insumo alimentício e Ino detinha essa informação. Tenten riu e negou em seguida.
- Pasta explosiva. – Tenten tentou tirar um pouco na colher, mas devido a consistência do produto não obteve êxito. – Iria te oferecer um pouco, mas já passou do ponto.
- Sem problema. – Ino afirmou sorrindo. – Deixe para próxima.
Seguiu até a geladeira afim de servir-se de água. Minutos depois estava colocando o liquido em um copo. A água chegou a transbordar o recipiente devido ao devaneio da Yamanaka. Assim que percebeu o que fazia praguejou alto obtendo a atenção de Tenten, a qual cedeu atenção para Temari em seguida fazendo Ino imita-la.
- Caso não me engano este é o segundo maço de cigarro dela. – Tenten comentou sobre o consumo de cigarros de Temari, quando a viu retirar mais um do maço de cigarros. Ino negou a ver a cena.
- Ela está um pouco nervosa com tudo o que aconteceu. – Ino justificou e levou uma mecha do cabelo atrás da orelha colocando as mãos nos bolsos do jeans por fim. – Entre uns dias ela já vai estar melhor.
- Espero que sim. – Tenten comentou e cortou o fornecimento de gás a chama enquanto Ino bebia a água que serviu a si.
- Eu vou ver como ele está. – Ino referia-se a Gaara. – Sakura deve estar terminado o curativo.
E foi a vez de Tenten avalia-la. As olheiras abaixo dos olhos estavam visíveis e os fios dourados fora de lugar induzia Tenten crer que Ino tinha tido uma péssima noite de sono. Partiu para longe após despedir-se com um aceno de mão.
A morena olhou mais uma vez para Temari e em seguida perdeu-se na paisagem novamente.
O dia parecia tão sombrio e gelado.
*
- E pronto. – A gaze branca sugou o pouco de sangue que os pontos geraram. Sakura cortou a linha e depositou a agulha em um vasilhame metálico. Tinha feito a remoção da bala a um tempo considerável e por alguma razão desconhecida os pontos sempre arrebentavam. – Tome cuidado para não arrebentar novamente.
Solicitou a Gaara e arrancou as luvas brancas. Os olhos verdes avaliavam-no. Por questões de centímetros a bala não tinha perfurado um órgão vital, caso contrário Gaara sangraria até morrer.
- Tomarei. – Gaara sentou-se e vestiu a camisa. Sakura o avaliou clinicamente. Gaara estava bem fisicamente e o ferimento não estava comprometendo-o, mas os cuidados eram necessários.
- Amanhã limpamos novamente. – Sakura destinou um sorriso fino a Gaara, ele não estava tão divertido como habitualmente costumava ser, entretanto compreendia que tudo era recente demais para voltar como era antes. – Descanse, certo?
- Certo. – Gaara levou a mão até os olhos ao mesmo tempo que Sakura recolhia o material que havia utilizado. – Por favor, pode chamar a Ino?
- Acho que não será preciso. – Gaara olhou para Sakura e depois para porta, lugar onde Ino permanecia de braços cruzados.
Sakura sorriu para Ino e fitou Gaara rapidamente deixando o quarto sem mais delongas. Gaara retomou a mesma posição anterior e Ino deixou a porta para ocupar o lugar onde a Haruno estava a pouco.
- Já faz dois dias que tudo aconteceu. – A incerteza a tomou assim que resolveu iniciar o assunto delicado. Abaixou os olhos não querendo encarar o semblante inexpressivo de Gaara. – Onde estão suas piadas?
Onde estava Gaara? Não era o mesmo. Decidiu encara-lo e quem desviou os olhos fora o ruivo colocando-os sobre a paisagem solitária através da janela.
- Estou atualizando o meu repertório. – O sorriso foi imediato ao escutar a resposta. Gaara retornou olha-la. – Neste meio tempo o serviço fica indisponível.
- Uma pena. – O sorriso do ruivo surgiu. Era reconfortante saber que tudo, aparentemente, estava bem depois do desastre e não precisaria culpar-se pela morte de Hinata também. Ino o viu se perder nos próprios devaneios. Aproximou-se ao abandonar a cadeira e sentar-se na cama enquanto, em silêncio, sua cabeça procurava as palavras corretas para iniciar um assunto específico que requeria cuidado.
– Você quer conversar?
- Não. – Ino escutou e o viu menear negativo – Não agora.
Gaara deitou-se por completo ao levar um braço para detrás da cabeça usando-o como travesseiro. Ino permaneceu com a mesma postura observando os traços do ruivo. Era estranho olha-lo. Era estranho o ver quieto e reflexivo.
- Está bem. – Não rebateu a rejeição ao assunto. Gaara não queria falar e mesmo que seu desejo em saber o que havia acontecido entre ele e os cães aumentasse. Desejava, acima de tudo, que Gaara se abrisse para este assunto. – Tenten está estranha.
Mudou o foco da conversa.
- Todos estão. – Obteve uma resposta instantânea e seca. A comunicação aberta que Gaara costumava ter havia sumido. – Não se preocupe. Tudo retornará ao normal rapidamente.
Ino permaneceu encarando-o. Estava diferente e por algum motivo aquele Gaara parecia ser o verdadeiro. Não sabia se gostava dele. Ele ao perceber a avaliação esforçou-se para conseguir segurar a mão mais próxima da Yamanaka.
- Vai ficar tão longe assim? – Inquiriu e Ino negou no automático. Atentando-se para fatos que não tinha percebido anteriormente. O que faria se Gaara morresse? Surtaria?
Foi puxada para perto e o corpo seguiu como se fosse um imã. Sem intenção acabou acertando a ferida recém costurada.
– Ei, vai com calma aí. – Gaara solicitou numa evidente reclamação ao leve impacto. Por sua vez Ino trincou os dentes ao perceber o deslize logo exibindo o nada típico sorriso forçado de desculpas. Gaara o comtemplou e o cenho franziu milésimos depois. Alguém estava passando tempo demais com Tenten. – Isso é novo.
Comentou sobre o sorriso e Ino resolveu ir para a outra mediação da cama ficando longe da ferida.
- Desculpe, não era a minha intenção. – Arrumou o travesseiro ao deitar-se de lado próximo o suficiente de Gaara, passando observa-lo. Este também se virou para obter contato visual com a loira.
- Não foi sua intenção ferir meus sentimentos? – Riu com a frase sem sentido enquanto via a expressão dramática de Gaara. – Meu coração está em mil estilhaços.
- Não te avisaram que sou cruel? – Ingressou na brincadeira e Gaara negou encenando surpresa observando um sorriso que ele aprendeu adorar abrir-se em câmera lenta.
Gaara estava de volta.
- Avisaram. – Recordou-se dos avisos nadas sutis de Neji. – Mas sou um cara que gosta de correr riscos.
- Interessante. – O tom de voz da Yamanaka adquiriu um sonoridade diversa e nova para Gaara. Este ao reconhecer o tom malicioso da loira, novamente, juntou as sobrancelhas. - Então essa noite você será o meu soldado?
E tinha como negar aquela pergunta? Entretanto outra questão surgiu a sua cabeça.
- Não acha que estamos indo rápido demais? – Brincou, pois já tinham passado desta fase fazendo Ino exibir uma feição de decepção. – Estou ferido. Será que tenho permissão?
- Serei seu álibi. – Ino mordeu o lábio inferior e findou o espaço existente. A mão de dedos compridos e bonitos envolveu-se na madeixa escarlate aproximando o rosto de Gaara com o seu.
- Mesmo assim ainda é perigoso. – Gaara murmurou devido à proximidade. Caso desejasse poderia contar os riscos das írises dos olhos dela. A mão de Ino deslizou para a nuca fazendo os lábios roçarem numa doce tortura e carícia. Inspirou fundo assim que ele tomou a iniciativa, contudo recuou para observa-lo por mais um instante.
- Você não tem escolha. É viver ou morrer. - A dureza regressou feroz para voz da loira e Gaara conteve o sorriso. Negou com a cabeça entendo a mudança abrupta e o real sentido do que Ino havia expressado. O movimento de sua cabeça gerou um leve roçar de narizes. – Talvez um de nós não esteja aqui amanhã.
Sussurrou ao sentir, novamente, o sentimento recente. Logo os lábios encontraram-se e o braço do ruivo a puxou para cima do corpo sem lembrar da ferida. A qual ardeu, entretanto, o beijo demorado agia feito anestésico.
O amanhã era previsível, era certo. Contudo apenas para aqueles que viviam a ponto atingi-lo e mesmo assim não era garantia que pudesse desfruta-lo por inteiro.
Ino e Gaara não tinha está estabilidade do amanhã, da semana que vem ou o próximo mês. A prova que tudo poderia acabar em questão de segundos estava abaixo do coração do ruivo. Era morrer ou viver. Perder segundos porquê?
O tempo não espera por ninguém.
*
A chaleira de tom colorido apitou indicando que a água estava em temperatura adequada para o preparo do chá. Sakura levantou-se da cadeira pertencente a cozinha, para onde seguiu após novamente fechar a ferida de Gaara, para agarrar a alça da chaleira e preparar o seu chá.
Enquanto colocava o liquido fervente na xícara o bilhete posto na panela por Tenten chamou sua atenção. Sakura juntou as sobrancelhas em confusão e riu em seguida achando o conteúdo do bilhete um tanto cômico, bem como perigoso. Este indicava para não mexer na panela em hipótese alguma.
Afastou-se de imediato com a xícara em mãos indo para o balcão. Sentou-se, depositou a xícara no mezanino escuro e massageou a nuca enquanto com a outra mão folheava uma revista sem interesse.
O nariz perfeito da Haruno captou o aroma de frescor típico de banho recente e devido a isso os olhos saíram das figuras inanimadas da revista. Virou-se para o lado encontrando Shikamaru adentrando os limites da cozinha ainda sem a camisa, algo bastante anormal na personalidade do Nara. Observou-o pegar a camisa do ombro e começar a vestir-se. No processo acabou notando o enorme samurai tatuado sobre a pele das costelas direitas. A figura impressionante foi coberta segundos depois.
- Tatuagem bacana. – Sakura comentou e levou a xícara aos lábios. Shikamaru acendeu um cigarro fitando-a em seguida. – Tenho uma tão elaborada quanto a sua.
- Sério? – A fumaça saiu após as palavras. Shikamaru sentou-se no banco ao lado e Sakura sorriu fino. Era obvio que estava brincando ao comparar a sua tatuagem com a do Nara, contudo Shikamaru aparentou levar a sério, o que era compreensível visto que não tinha visualizado nenhuma tatuagem em Sakura.
- Preparado? – Inquiriu de forma descontraída. Shikamaru afirmou positivo. Para uma primeira conversa que não envolvia trabalho a pauta segui bem. Sakura esticou a mão esquerda para frente, abaixou o dedo indicador e o mediano exibindo o anelar e a simplória tatuagem: seis risquinhos, os quais simbolizava um bigode de gato. – Ganha do seu samurai de lavada.
Shikamaru negou desacreditado rindo ao mesmo tempo que Sakura observou o cigarro. Desviando os olhos em seguida para revista.
- Qual é a história por detrás do bigode de gato? – Shikamaru virou o corpo com finalidade de fitar Sakura constantemente. – Importa-se?
Questionou em relação ao cigarro visualizando a Haruno negar ligeiramente. Nicotina já não era um problema para si.
- Não, sem problema. – Apoiou a mão no maxilar. – Minha tatuagem foi uma homenagem ao meu gato. Eu tinha apenas 17 anos quando a fiz.
- O que houve com ele? – Shikamaru tragou o cigarro. Estava derrotado e precisava conversar com alguém de bom humor mesmo que a conversa fosse sobre gatos.
- Ele morreu atropelado. – Sakura franziu o cenho recordando-se do felino. – Eu falei para ele não atravessar a rua, mas ele não me deu ouvidos e atravessou.
- Fim trágico. – Sakura concordou e sorriu. Tinha ficado melancólica após a morte de seu gato por pelo menos uns quinze dias.
Shikamaru olhou para o fogão e franziu as sobrancelhas ao ler o bilhete. Sakura conteve o riso quando o viu destinar um olhar horrorizado ao bilhete levando o cigarro a boca rapidamente. Sim! Tenten estava fazendo explosivos na cozinha da casa.
- Acho que aquilo é bem perigoso. – Comentou ao passar a mão pelo rosto.
- Tem um bilhete dizendo para não mexer. – Sakura virou-se para olha-lo. – Você acha? Eu tenho certeza.
- Tem razão. – Arrematou a conversa entorno dos explosivos. A Haruno inspirou fundo a ver que o Nara não tinha vindo até ela para conversar sobre tatuagens, gatos e explosivos. – Gostaria de te perguntar uma coisa.
- Vá em frente. – Sakura encarou-o vendo a expressão séria e cansativa do Nara. – Você ouviu a conversa do carro, não é?
Adiantou-se facilitando o assunto.
- É, eu escutei sim. – Shikamaru a viu arregalar os olhos rapidamente e forçar um sorriso. – Burlar o sistema de avaliação médica não é para qualquer um.
Sakura o viu fumar e focou nos olhos negros em seguida retornando para xicara de chá. Malditos comunicadores!
- Devo agradecer o elogio? – Questionou e Shikamaru negou em seguida. – Espero que essa nova informação não mude nada.
- Não muda. – Shikamaru retorquiu rapidamente e Sakura repuxou um sorriso. – Na verdade muda sim.
Entretanto o sorriso morreu e os olhos verdes afrontaram Shikamaru novamente. O Nara negou e passou a mão no queixo.
- Como você conseguia inibir a droga no organismo? – Perguntou direto e Sakura desviou os olhos. – Apenas uma curiosidade.
- É um pouco complicado explicar. – Sakura arrematou e abriu a revista novamente sentindo-se levemente constrangida. Shikamaru notando a mudança da Haruno acendeu outro cigarro.
- Quero que me mostre. – Falou e Sakura estranhou. – Existe a possiblidade?
Levantou-se e esperou a resposta de Sakura. Com que finalidade Shikamaru queria obter conhecimento de seus feitos?
- Sim, mas qual objetivo disto? – Sakura cruzou os braços vendo o sorriso do Nara. Era obvio que ela iria questionar.
- Nenhum. – Esperou pela resposta antes de afastar-se.
- Tudo bem. – Sakura meneou positivo. – Mas vou precisar de algumas coisas.
- Certo. – Shikamaru tragou o cigarro. – E tem como isso ficar entre nós?
Sakura, novamente, estranhou. Jogou rapidamente os ombros para cima e sorriu fino. Shikamaru devia ter os seus motivos.
- Está bem. – Respondeu e voltou para a revista deixando-o de lado a ponto de não ver o sorriso de contentamento do Nara.
- E realmente. – Chamou a atenção de Sakura esperando ela olha-lo para prosseguir. – Sua tatuagem ganha de lavada da minha.
Sakura riu e Shikamaru também logo evadindo-se do ambiente com pretensão de se isolar afim de refletir. Precisava de silêncio mesmo o ambiente estando compatível com o seu anseio.
*
Retirou uma mecha atrevida da frente de seu rosto tragando o cigarro em seguida. Ajeitou-se no assento sentindo-se desconfortável. O cigarro entre os dedos foi levado os lábios bonitos novamente ao mesmo tempo que os olhos no tom verde água observava a cena na cozinha.
Expeliu a fumaça da droga lícita, passou o dedo indicador na sobrancelha esquerda de um loiro escuro feito os fios capilares. Estava completando dois dias do fracasso da operação e Shikamaru mal tinha olhando em seu rosto.
- Como se eu quisesse. – Tragou novamente o cigarro. Estava inconformada e chegou a sorrir a ver Shikamaru conversando trivialmente com a Haruno na cozinha, mas logo o sorriso morreu. E ele não era de contentamento. Passava longe de ser.
Cerrou os olhos irritada, quando o cigarro quase no fim queimou os seus dedos. Praguejou alto e largou-o no cinzeiro. Esfregou os dedos irritados no lábio inferior e voltou a olhar para a dupla na cozinha.
Outro cigarro foi acendido.
- Estão disputando para ver quem fuma mais? – Temari virou a cabeça para encarar Sasuke, o qual havia acabado de chegar e sentar-se ao lado da Sabaku. O Uchiha a ver o semblante nada amigável de Temari desejou voltar no tempo, para que, não tivesse que engolir suas palavras de a pouco.
- Vai apostar suas fichas em mim para saber se estou disputando ou não? - Sasuke negou e Temari exalou fumaça mordendo o lábio inferior em seguida retornando a observar as pessoas na cozinha.
- Sempre vou apostar em você. – Temari deixou Sakura e Shikamaru para virar de lado e encarar Sasuke, o qual sorriu efemeramente. – Você sabe que tudo já estava ferrado quando chegamos lá.
Sasuke engatou no assunto antes que Temari revidasse sua provocação. O Uchiha a viu negar e passar o polegar no lábio inferior.
- Estava. – Temari concordou. O que tinha dado errado na operação? Ela tinha uma teoria e iria prova-la.
- Está tudo bem entre você e o Nara? – Sasuke arriscou a ver Sakura e Shikamaru rindo na cozinha. Temari levantou uma sobrancelha e Sasuke franziu o cenho assim que Shikamaru partiu para longe.
- Caso esteja referindo-se ao trabalho. – Temari virou para olha-lo. – Está tudo ótimo.
Manteve um sorriso repuxado no rosto.
– Isso é a única coisa que existe entre nós. - Sasuke arqueou uma sobrancelha, repuxou o lábio em um sorriso torto e pegou o baralho do bolso.
- Tenho que dizer que estou muito contente por saber que não existe “nada” entre vocês além de trabalho. – Sasuke, novamente, a provocou. E os dentes perfeitos do Uchiha foram exibidos em um sorriso estonteante. Temari encarou-o e sorriu fino.
- Acordou querendo ir visitar o demônio? - Perguntou séria, mas utilizando um tom satírico, o qual fez Sasuke rir. Porque, aparentemente, Sasuke era o único com coragem suficiente para encara-la de mau humor.
- Ah, não. – Respondeu baixo enquanto embaralhava as cartas. – Não sou fã de calor.
Temari sorriu e olhou de soslaio. A tensão que continha em seu corpo estava dissipando-se instantaneamente com a presença do Uchiha.
- Bem que sou irresistível. – Temari respirou fundo e revirou os olhos. Sasuke conteve o próprio riso e olhou de forma sugestiva para Temari. – O demônio iria cair de amores a me ver.
- Cale a boca. – Sasuke riu e distribuiu uma remessa de cartas para Temari, agora, levemente descontraída. – Você daria um ótimo piadista.
- Tenho um excelente professor disponível 24 horas por dia. – Sasuke franziu o cenho ao dar pela falta de Naruto. Onde o Uzumaki tinha se metido? – Mesmo querendo ser psicólogo um piadista também não cairia mal.
- Sério? – Temari inquiriu interessada ao mesmo tempo que iniciava a partida. – E por que entrou para a Aeronáutica?
- Coisas de papai. – Temari levantou as sobrancelhas e meneou positivo. Às vezes, os pais são cruéis e Sasuke não tinha dado sorte.
- Leva jeito. – Temari comentou e tragou o resto do cigarro. Sasuke a encarou e depois olhou para Sakura no balcão sob avaliação de Temari. – Foi bacana ouvi-la em um momento como aquele.
- Posso ouvir você também, caso queira. – Sasuke olhou para as cartas. – Já que não tenho tanta utilidade fora de um caça.
- Raros os pilotos que tem. – Os olhos negros fitaram os verde água. O que Temari queria dizer com aquilo? Pilotos eram quão treinados como fuzileiros navais. Sasuke era mesmo ardiloso. – Eu só não esperava que tudo desse errado. Sempre fui cobrada em dobro em tudo o que eu fiz. Sempre dei o máximo para que todos saíssem bem e na primeira operação junto do Nara as coisas fogem completamente do controle.
Temari suspirou após abrir-se. Era complicado. Devido as cobranças de ótimos resultados sempre cobravam muito de Temari e ela exigia muito de si própria.
- Não deve se culpar por coisas que fogem do seu controle. – Sasuke apoiou o braço no encosto do sofá enquanto avaliava Temari. – É apenas isso o que te incomoda?
- Sim. – Temari sorriu junto do Uchiha. – Esqueça o piadista, você tem muito tato com pessoas.
- É o que todas costumam dizer. – Temari o fitou incrédula negando em seguida. Sasuke sorriu. – E falando de piadista sabe do paradeiro do Uzumaki? Faz mais de uma hora que não o vejo e sabe, não? Ele não sobrevive sem mim.
Temari riu aberto, olhou para Sakura e encarou o Uchiha. Fez sua jogada e arrumou as pernas no sofá.
- Então para quem não vive sem você ele está saindo-se muito bem. – Sasuke franziu o cenho assim que Temari fechou o semblante e acendeu outro cigarro. – Acredite se quiser, mas essa missão serviu para alguma coisa. Naruto e Hinata foram ao supermercado. Detalhe: juntos.
- Não brinca? – Questionou negando com a cabeça ao mesmo tempo que sorria. Era inacreditável. – Isso apenas sustenta a minha teoria da falta de sobrevivência sem mim. Nessa altura do campeonato Hinata já deve ter o matado.
*
- Você foi tapeado. – Naruto olhava, escutava e principalmente odiava o revirar de olhos da Hyuuga. No momento permanecia com a mão na cintura fitando Hinata verificar um produto que ele tinha adquirido umas lojas atrás no centro comercial.
- E o que você pretende fazer com isso? - Hinata balançou o jogo de videogame ao mesmo tempo que encarava o Uzumaki. – Caso não se recorde não tem videogame em casa.
- Eu sei. – Passou a mão na nuca seguindo o jogo com os olhos. – Pensei que era filme. Não precisava brigar com o cara. Você o xingou em russo e ele nem te devolveu o dinheiro.
Hinata bateu a porta do carro logo em seguida, colocou o cinto de segurança e esperou Naruto entrar no automóvel inconformada. Por que ele tinha vindo mesmo?
- Você sabe que não era para gastarmos mais do que o necessário. – Deu partida no automóvel. Vendo que Naruto não iria responder o olhou arrumando umas sacolas no carpete. – Por que não as colocou no porta-malas?
- Por nada. – Hinata juntou as sobrancelhas. Desconfiada parou de observar a pista para tentar ver o que tinha nas sacolas, entretanto em segundos voltou a destinar atenção ao trajeto. Com uma observação perspicaz em sua cabeça: Naruto não estava rebatendo-a. O conteúdo da sacola não foi adquirido na sua presença. Deixou isso de lado porque não deveria ser nada demais, afinal.
Naruto a olhou de soslaio, fitou a sacola, o jogo que tinha adquirido próximo ao para-brisa do conversível enquanto a vontade de ler o descritivo o corroía. Esfregou as próprias mãos e permaneceu em silêncio. Após operação passada o seu conceito formado da Hyuuga já não era o mesmo.
- Quem diria que iria mudar. – Hinata cedeu atenção a frase olhando-o com o canto dos olhos. Aparentemente Naruto concretizava pensamentos em voz sem consciência.
- Mudar o que? – Questionou e Naruto negou com a cabeça arrancando o primeiro suspiro de Hinata. Certo que não se davam bem e nem de longe eram os melhores amigos, mas conversar também não arrancaria pedaço de ninguém. – Sei que já tivemos essa conversa, mas quero frisar novamente. Desculpe pelo o que disse sobre seu comportamento inconsequente.
- O inconsequente raposa vermelha. – Naruto a lembrou exatamente o modo de como Hinata havia se expressado. – E falou que eu não merecia minha farda.
- Está bem! – Irritou-se. – Lembro do que disse! Não precisa repetir. Apenas queria dizer que... ah! Deixe para lá.
Hinata desistiu cedendo total atenção a direção. Eles nunca iriam se resolver e propor uma convivência interacional menos conflituosa foi descartada assim que ele esfregou as palavras ditas anteriormente por ela na sua cara.
- Deixa mesmo. – Concordou sem mesmo saber o que seria dito, entretanto tinha uma leve noção. Mesmo achando as habilidades de Hinata surpreendentes não daria o braço a torcer. Era o que ela pensava. – Sei que não facilito também então me desculpa.
Finalmente pegou o jogo posto próximo ao para-brisa fitando o descritivo em seguida com finalidade de evitar contato visual com a Hyuuga, a qual fixou os olhos no trajeto e conteve o sorriso sutil. Então Naruto dificultava de propósito?
- Desde quando sabe ler em espanhol? – Perguntou na tentativa de iniciar uma conversa até chegar na residência, mas aos ouvidos de Naruto parecia mais uma provocação. Porque para ele tudo o que vinha de Hinata era isso: provocar.
- Não sei. – Hinata o viu guardar o jogo na sacola e cruzar os braços. Por que Naruto parecia um adolescente? E ela uma mãe chateada com o sujeito? Era duro admitir, mas era isso o que aparentavam. Hinata lembrou do sorriso do Uzumaki e da situação complicada que a operação havia se transformado.
Uma ideia peculiar e imprudente passou por sua cabeça.
Observou a via contramão totalmente vazia e ligeiramente desviou o carro do curso reto logo o colocando-o novamente no curso estável. Assustando Naruto no processo. Os olhos azuis arregalaram-se e as mãos foram parar no banco afim de segurar-se ao ser surpreendido.
Encarou Hinata. Ela estava tentando conter o riso após assustá-lo de propósito.
- Isso não tem graça! – Retrucou o ato de forma exaltada e Hinata começou a rir. Por que era divertido rir do desespero de Naruto? Mas ao perceber que o loiro se assustou demais tentou cessar o riso negando com a cabeça em concordância.
- Desculpe. – Fixou os olhos na pista, contudo segundos depois os desviou para Naruto. A vontade de rir regressou incontrolável.
– Não tem graça nenhuma. - Disse aos risos ao mesmo tempo que Naruto a olhava perplexo. Por que tinha mesmo vindo com ela até o centro comercial?
- Sakura te traumatizou mesmo. – Hinata comentou mais para si do que para Naruto. Divertindo-se com o desespero do loiro em situações de alto risco envolvendo automóveis.
- Isso não tem nada a ver com a Sakura. – Hinata desmanchou o sorriso singelo minutos depois. Por que Naruto estava falando tão sério? – Aos onze anos meu pai capotou o carro quando voltávamos do aniversário do Sasuke. Minha mãe ficou três meses em coma. Pensei que ela nunca mais iria acordar e desde então não gosto muito de automóveis.
Droga. Era o que Hinata queria expressar, mas manteve-se em silêncio. Todo divertimento esvaiu-se instantaneamente. Isso explicava parcialmente a aflição de Naruto, homem que avaliava com o canto dos olhos.
- Desculpe-me. – Pediu totalmente arrependida retornando ao seu comportamento habitual. – Eu não sabia disso.
- Tudo bem. – Naruto voltou ao seu normal enquanto Hinata refletia sobre a situação. – Está com a consciência pesada?
Minutos depois inquiriu.
- Um pouco. – Hinata respondeu sem refletir o porquê da questão. Naruto juntou as sobrancelhas querendo saber quão alto era o nível de empatia com a situação passada.
- Um pouco quanto? – E desta vez Hinata estranhou. Por que a necessidade de saber o nível de peso em sua consciência por fazer tal brincadeira?
- Por que você quer saber disso? – Um sorriso. Apenas um sorriso aberto demais do Uzumaki o denunciou.
- Porque eu comprei um videogame. - Naruto arcou-se para frente e retirou o console da sacola com um sorriso estonteante no rosto. Aproveitando o momento para revelar a sua compra, diga-se de passagem, desnecessária. Naruto não era um chantagista emocional, contudo aproveitou-se afim de não levar sermões.
- Naruto! – Ele ao ouvir o seu nome ficou em alerta. – Você sabe que era para gastar somente com coisas essenciais e não com coisas supérfluas.
– Desculpe, mas no meu caso o essencial é visível aos olhos. – Hinata cerrou os olhos com a tamanha falta de senso de Naruto. E para melhorar a situação ele ainda tinha estragado o seu livro favorito citando uma frase do mesmo com modificações. Porque o correto era: o essencial é invisível aos olhos*. – No caso esse bonitão aqui.
- Você me deixou brigar com o comerciante?! – Hinata questionava o obvio e Naruto finalmente viu necessidade de defender-se. – Você sabia que era um jogo! Quantos anos você tem? Porque sua maturidade é bem baixa!
- E eu iria saber que você iria bater boca com o vendedor? – Naruto começou defendendo-se. – Não fazia ideia de que você soubesse que GTA 5 não é um filme.
Hinata inspirou fundo e deixou o ar sair pela boca praticamente em um assopro. Tudo fazia sentido e Naruto apenas podia estar tirando uma com sua cara.
- Claro que sei o que é GTA. – Retorquiu agora com o rosto um pouco vermelho. – Quando eu jogava seguia as pessoas de carro para ver onde elas iriam. Me diz, como Sasuke te suporta?
De tudo o que o loiro ouviu a única informação que o importou era a parte do: quando eu jogava seguia as pessoas. Ignorou até mesmo a ofensa. Não poderia ser ela, podia? Não!! Negou no automático ao mesmo tempo que observava o rosto de expressão irritadiça, pois aparentemente a garota dos seus sonhos estava sentada ao seu lado e eles viviam em pé de guerra.
- Você também faz isso? – Hinata o ignorou por uns segundos. Estava com muita raiva para responde-lo de imediato, mas afirmou positivo em seguida.
- Faz muito tempo que não jogo. – Informou. – E não quero nem saber. Você vai assumir a responsabilidade por isso.
- Está bem! – O Uzumaki estalou a língua no céu da boca voltando a atenção para o videogame, mas ainda pensando na informação recente.
- Você também anotava os códigos? – Naruto perguntou mantendo um sorriso bobo no rosto. Infelizmente, o único defeito de Sasuke a ver de Naruto, era o moreno não gostar tanto de videogames. Hinata sorriu ao lembrar das trapaças que eram possíveis com os códigos.
- Anotava sim. – Riu rapidamente e encarou Naruto. – A folha de caderno ficava horrível.
Amassada, suja, rasurada ao ser emprestada entre os amigos. Não muito diferente da folha de códigos do Uzumaki. Naruto concordou recordando-se desta parte de sua vida. Desviou os olhos para Hinata. Cabelo perfeito em um tom peculiar, uns leve arranhões no braço e um sorriso nostálgico na face.
- Tinha vezes que eu ficava apenas derrubando avião. – Naruto riu aberto ao lembrar-se e Hinata o acompanhou.
- Esse costume então é velho? – Perguntou assim que parou o carro, mas diferente das outras vezes que olhava para Naruto desta ela mantinha um sorriso na face. Feito o último que dera, mas aquele era em uma situação complicada.
- Um pouco. – Naruto olhou para casa. – Podíamos jogar mais tarde.
Sugeriu e esperou confirmação. Hinata quebrou o contato visual retomando a seriedade. Abriu a porta do carro afim de deixar o automóvel e retirar as compras do porta-malas. Naruto permaneceu dentro do automóvel com os braços apoiados na caixa do videogame refletindo sobre a sugestão.
- Me ajuda a levar as compras para dentro. – Hinata apareceu na janela. – E eu jogo primeiro.
Sorriu e seguiu para casa. Naruto ficou dentro do carro observando-a a afastar-se cada vez mais. Quem diria que a Hyuuga jogava em videogames. E quem diria que, aparentemente, Sasuke estava com razão.
- Maldito.
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