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História Intersex - A história de Emma - G!P - Cap 4


Escrita por: KikyoArtemis

Capítulo 4 - Cap 4


Entrei na casa onde cresci, nada havia mudado. Ao menos a decoração, pois um lar deixou de existir há muitos anos.

 

"Bom dia mãe." Beijei-a "Seu marido esta por ai?"

 

"Seu pai foi pescar com seu tio. Ele é seu pai Emma, não importa o que você fale." me olhou severa e cruzou os braços

 

"Se ele não me aceita como filha, não o aceito como pai."

 

"Emma" soltou o ar e os braços frustrada "Custava você tomar os hormônios? Você sabe que o sonho dele sempre foi ter um menino não uma..."

 

"Uma aberração? É isso?" ironizei

 

"Você sabe que eu não ia dizer isso filha."

 

"Mas foi o que ele me disse aqui nessa sala a 15 anos atrás."  Tirei o presente dela da sacola "Trouxe pra senhora" Estendi o embrulho dourado.

 

"O único presente que me interessa é ver vocês dois conversando de novo." Cruzou os braços rejeitando meu presente . O joguei no sofá.

 

"Cadê o Neal? Já preparei meu dia com ele." Cruzei os braços.

 

"Então faça a operação Emma. Se transforme numa mulher completa ao invés de ser isso."

 

"Neal!" gritei em direção as escadas. Poucos segundos depois meu irmãozinho desceu. Abaixei para abraça-lo. "Preparado pra passar o dia todo comigo?"

 

"Sim" Os três anos de cabelo bagunçado gritou. "Tchau Ingrid" 
Se despediu da minha mãe, que pegou uma mochila do Ben10 e me entregou.

 

"Obedeça sua irmã Neal."
Ele a ignorou.

 

"Fique com Deus mãe." Dei um beijo na bochecha dela.

 

"Pensa no que falei filha."
sorri amarelo saindo com Neal que pulava alegre, me contando sobre um amigo da escolinha.

 

Neal é fruto de uma relação extra conjugal do meu pai, dinheiro comprou a progenitora, jogando o menino aos cuidados de minha mãe.
Toda semana passo um dia com ele, e toda semana escuto as mesmas palavras da minha mãe.

 

Quando as mudanças da puberdade chegaram para mim meu pai foi embora. 
Eu fiquei sentada na varanda vendo ele colocar suas coisas no carro.
Todas as coisas que eu amava.
Seus livros de literatura, tacos de golfe, vara de pescar, discos dos beatles, ele mesmo.
Eu estava confusa, transformações inesperadas em meu corpo, em minha vida. Eu não sabia o que era, uma garota, um garoto? 
Sentada na grama quando ele se ajoelhou na minha frente e disse que só precisava de um tempo para digerir tudo, e prometeu que iria apoiar minha decisão.


Ele não cumpriu sua promessa. 

 

 

 

 

 

"E depois vamos assistir Era do gelo, e depois comer pipoca, e depois  tomar sorvete e depois..." meu irmão falou empolgado.

 

"Calmo garoto, perdeu até o fôlego falando." brinquei diante da emoção de Neal "Vamos comprar os ingressos primeiro."

 

"Quero maçã!" apontou para uma loja de doces, que em uma das suas exposições tem maçãs do amor.

 

"Tá, mas só uma." Me aproximei e grande foi minha surpresa ao ver Regina ali.

 

"Posso ajud..." Ela interrompeu a frase no meio ao me ver. "Oi Emma." sorriu

 

"Regina." sorri incomodada. Durante as duas semanas que estou dando aulas a ela, sempre fiz questão de ter mais alguém conosco. E sempre evitei qualquer proximidade nossa, mas agora, ver ela ali... Droga! Essa mulher está em todos os lugares?

 

"Meu irmão quer uma maçã do amor." apontei para Neal e ela se apoiou sobre o balcão sorrindo para ele.

 

"E qual dessas deliciosas maçãs esse lindo rapaz quer?" levantou a sobrancelha de forma divertida

 

Neal sorriu envergonhado e apontou uma cheia de confete.

 

"Hum, essa é deliciosa." Pegou a maçã e colocou no suporte, entregando para meu irmão que atacou como se disso dependesse sua vida. Tirei minha carteira.

 

"Quanto é?" perguntei.

 

"Não precisa. Eu estou dando pra ele. Seu irmão é lindo." sorriu

 

"Desde quando você trabalha aqui?" Admirei o uniforme branco colado em seu corpo.

 

"Dois meses. Não é tão ruim. Ganho boas gorjetas." deu uma piscada com aquele sorriso diabólico.
Claro, papais adoram agradar a linda atendente, irritei. Entendi da onde veio as notas tão trocadas.

 

Outro cliente chegou e ela foi atender. Desci meu irmão do banco, e sem que ela estivesse olhando, coloquei algumas notas grandes na caixa de gorjeta. Acenei e fomos comprar os ingressos.

 

Um filme bom para passar o tempo com uma criança. Uma criança que devorou a pipoca nos trailers. Saímos para nosso almoço.

 

Ao passar pela loja de doces, avistei Regina sem uniforme conversando com outra atendente. Neal foi correndo em direção a ela que sorriu ao vê-lo ali.

 

"Sem doce agora Neal." falei me aproximando.

 

"Só um Emma." Me implorou com os olhos de gato de botas,  Regina nos observava.

 

"Estamos indo almoçar agora. Doce só mais tarde." Vi um brilho passar nos olhos da morena.

 

"Não. Quero agora." Neal emburrou cruzando os braços.

 

"Ei" Regina se abaixou "Que filme você assistiu?"

 

Ele soltou os braços e contou animado detalhes do filme. Interessante que primeiro contou o final para só depois começar a contar o resto.

 

"Neal, não conta o final, você nem sabe se ela já assistiu." falei

 

"Tanto faz saber final antes ou depois. Dá no mesmo." Voltou a contar mais detalhes, eu já estava ficando impaciente.
 

Desisti de explicar que revelar o fim frustra as expectativas

 

"Neal, temos que ir almoçar, já tá ficando tarde.” Regina e ele me olharam esperançosos... Droga. "Se a Regina puder ela pode vir conosco pra você continuar contando." me rendi

 

"Você pode?" perguntou com os olhos brilhantes a Regina.
Ela assentiu com a cabeça e levantou, de imediato ele pegou sua mão  e a puxou em direção aos elevadores. E eu fiquei esquecida para trás.

 

Durante todo o trajeto até o elevador, ele contava sobre várias coisas e ela ouvia atentamente, as vezes falava também. Neal sempre é indiferente a todo mundo, com minha exceção, mas acredito que agora encontrei um adversário.

 

Chegamos ao elevador e Regina me olhou de canto de olho quando a porta foi fechada, sorrindo para si mesma.

 

 

 ***

 

O almoço correu bem, apesar que Neal quase não comeu nada e Regina não parava de me olhar. Depois fomos a uma casa de jogos, com Neal que chamou Regina para disputar com ele em todos os jogos. TO.DOS. Ela realmente estava se divertido, não parecia ser um fingimento para me agradar.  E isso me assustava um pouco.

 

***

 

Chegamos a minha antiga casa. Minha mãe ficou surpresa e sorriu largo ao ver a linda morena ali, que meu irmão não queria largar a mão por nada. Neal contou animado tudo que fizemos a minha mãe, o que pegou nos duas de surpresa, ele sempre a ignorava.

 

"Regina pode jantar aqui?"
Meu irmão perguntou esperançoso. E havia esperança nos olhos brilhantes de Regina e minha mãe. Respirei fundo e me rendi mais uma vez aos pedidos do caçula. Faço tudo por esse garoto.

 

"Tá bom." Neal abraçou Regina e minha mãe sorriu orgulhosa. "Vá guardar suas coisas e lavar as mãos Neal." falei

 

Ele puxou Regina pelas mãos rumo as escadas.
Minha mãe e eu ficamos  olhando eles sumirem na escada, e eu já sabia que iria começar...

 

"Emma, casa com ela."

 

"Mãe!" revirei os olhos, como? Da onde ela...? Aff

 

"Falo sério! Ela é elegante, bonita, Neal gosta dela. Até seu pai iria gostar dela."

 

"Não me importa a opinião dele. E eu não tenho nada com ela." cruzei os braços

 

"Mas deveria. Ela não quer você porque você é diferente? É só tomar os hormônios que el.."

 

"Mãe, pára! Eu não vou tomar hormônios para ser o que vocês querem que eu seja." Aumentei meu tom de voz "Não vou namorar ela porque você quer. Quando você vai entender que eu comando minha vida!?" 

 

"Não seja grosso Elijah! Sou sua mãe!" gritou

 

"Não me chama assim."

 

"É esse o nome que seu pai escolheu pra você." me apontou o dedo.

 

"Mas não é o nome que consta na minha certidão mais."

 

"Porque um médico idiota falou que tinha um problema com você!"

 

"Eu não tenho um problema!" gritei

 

"Você me envergonha sabia! Não me obedeceu e foi morar com uma garota esquisita de mecha ruiva ao invés d..."

 

"Ruby! O nome dela é Ruby. E ela foi a única que me acolheu quando vocês me viraram as costas!"

 

Gritei e saí de perto dela indo em direção as escadas. Quando cheguei ao primeiro degrau vi Regina em pé segurando a mão de Neal. Ambos me olhavam com pena, com certeza haviam escutado tudo.

 

Balbuciei um "Sorry" e subi as escadas. Peguei a mão do meu irmão, brincar com ele sempre me acalma.

 

"Vou ajudar sua mãe no jantar." Regina desceu as escadas e eu fui para o quarto.

 

"Quero ir morar com você Emma."  Neal falou emburrado. "Não gosto daqui."

 

Sei como você se sente garoto.

Nunca pedi muito aos meus pais, só queria ser aceita, entendida. Não foi uma escolha minha nascer assim, ser o intermédio entre dois sexos e ser obrigada a escolher entre um. Mas eu optei por não querer mudar, me aceitar como sou, aceitar ser o mosaico.

 

Existe várias maneiras de negar amor a uma pessoa, e descobri na pele uma das mais cruéis, que é quando maquia-se o não-amor de amor. A aceitação de “Gosto disso em você, daquilo não.” Não dá para aceitar em partes, não para tolerar o que não quer.

 

A pessoa "tolera" você e diz o quanto "aquilo" é errado, mas por indulgencia suporta. 
Intolerância é isso: Suportar.

 

Não quero ser um ser humano suportado.

 

Não mereço isso, ninguém merece.

 

"Enfeite-se de quem eu quero que você seja, ou não quero saber de você." Não quero me enfeitar, quero ser eu mesma. O mundo já exige que eu me esconda demais.

 

Não quero uma mesa silenciosa, não quero demonstrar culpa por ser o que sou. Não sou o hiato de uma confusão.

 

Pode-se não concordar com uma ação, com uma escolha, mas não com uma existência.

 

Vital é ouvir a própria voz. Proclamar a própria liberdade. Caminhar com os próprios passos. O resto são coisas dos outros, não suas. Então o ato de tentar ser o que os outros querem que você seja, será sempre um ato falho. O desespero para realizar um sonho é sempre atalho ao pesadelo.

 

 

 

O jantar correu calmo, minha mãe respeitou a quarta presença ali. Fiz questão de colocar meu irmão para dormir antes de levar Regina para casa.

 

"Ele te admira muito." Regina falou se aproximando de mim. Sorri olhando meu irmão dormindo.

 

"Ele vive entrando no meu antigo quarto." olhei para ela "Ama dormir na minha cama e mexer nas minhas coisas."

 

"Ele quer ser você." me sorriu encostando a cabeça em meu ombro. "Posso conhecer seu quarto?"

 

Sai daquele gesto e fui em direção a porta. 
Abri a porta em frente e entrei.
"Esse era meu quarto." 

 

Ela entrou no quarto admirando todas as fotos e pôsteres de carros e motos. Uma bandeira do Iron Maiden na parede, uma toalha do nirvana na comoda  Fiquei na porta, não queria um interrogatório sobre minha vida passada.

 

Ela voltou e ficou me olhando

"Esse quarto não parece em nada com você."  sorriu e olhei o quarto. Realmente não há nem 1% meu ali, não sou fã de gritos com drivers ou riffs de guitarras elétricas, nunca fui. 

 

"Parece quarto de moleque, né?" Falei e ela  sorriu diabolicamente

 

"Você é tão clássica, as vezes retrô. E esse quarto... Ele é muito revoltado." se aproximou de mim e colou nossos lábios.

 

"Eu era revoltada." sussurrei entre o beijo.

 

 "Posso gostar disso." mordeu meu lábio inferior e aranhou minhas costas. Aprofundei o beijo a encostando na porta. Nossa troca  era selvagem, porém dessa vez notei que ela não fazia esforço para aprofundar.

Subi minha mão na lateral do seu corpo e parei em seu seio.

 

Gentilmente ela tirou minha mão e me sorriu envergonhada.
"Hoje não posso. desculpa"

 

"Tudo bem" sussurrei entendendo o porque e dei alguns passos para trás. Ela avançou e me beijou.

 

"Posso fazer pra você." Levou a mão em minha calça.

 

Tirei "Não precisa. Falei que tá tudo bem. E somos amigas lembra, você não precisa fazer isso."

 

Me olhou triste.

 

"Que foi Regina?" suspirei

 

"Se você não receber nada em troca, por que seria minha amiga?"

 

As vezes é um pouco complicado conviver com ela.

 

"Vou te levar pra casa. Vamos."

 

 



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