História Committed - Quem é a mulher mais sortuda do mundo?

Os três estabelecimentos não eram tão longes do DEO, portanto Alex e Maggie resolveram fazer todo o caminho andando. A desculpa de irem andando era para, literalmente, refazer os passos das vítimas, mas no fundo elas queriam continuar aproveitando ao máximo a companhia uma da outra.

Aproveitar todo o ar leve que as rondavam com todas as brincadeiras que estava fazendo sobre serem noivas. Não era sempre que tinham um caso que não precisavam analisar a cena do crime, sem corpos, sem confusão – pelo menos até o momento – e que podiam interagir descontraidamente sem terem que se preocupar com alguém tentando matá-las.

- Ela não gosta de mim. – Maggie comentou entre um dos assuntos. Alex a olhou com confusão, não fazia a mínima ideia a quem ela estava se referindo. – A Supergirl, ela não gosta de mim.

- Claro que ela gosta de você. – respondeu quase em um fio de voz, tentando passar firmeza no que dizia. A verdade era que ultimamente Kara estava mesmo agindo de forma diferente sempre que as três estavam dividindo o mesmo ambiente, só que ela não fazia a mínima ideia do motivo. – A Supergirl gosta de todo mundo.

- Menos de mim. – esboçou um sorrisinho. – Afinal, qual é a história de vocês duas? Às vezes eu acho que ela tem ciúmes de nós duas.

- História? – Alex soltou um riso, sem graça. Por que ela não podia responder as perguntas da Maggie como uma pessoa normal? Sem parecer uma retardada? – Não tem história nenhuma.

Alex colocou o pé na rua com o intuito de atravessá-la e sentiu a mão de Maggie a puxando para cima da calçada. Nem percebeu que quase ia sendo atropelada por atravessar a rua sem olhar.

O carro buzinou e o motorista colocou a cabeça para fora da janela, proferindo alguns palavrões que, por sorte, elas não conseguiram entender, caso contrário Maggie estava pronta para rebater todos os xingamentos.

Assim que seus olhares se cruzaram, Maggie balançou a cabeça, rindo do sorriso sem graça que Alex estava lhe mandando como forma de agradecimento por ter salvado a sua vida. Quem poderia imaginar que uma mulher com toda aquela postura séria podia ser uma das mulheres mais sem jeito que ela conheceu na vida?

Mas a culpa era de quem?

Com todas as pessoas que já havia trabalhado na vida, Maggie era a única que a deixava daquele jeito parecendo uma adolescente em sua primeira paixão. Na verdade, nem quando se apaixonou pela primeira vez se sentiu da forma que se sentia sempre que estava na presença da detetive.

Aquilo ia mesmo acabar a enlouquecendo em algum momento. Ela tinha certeza. E, caso não enlouquecesse, todos os seus sentimentos iam acabar a matando, como quase tinha acabado de acontecer.

– Ela não tem ciúmes de nós duas. – resolveu continuar sua resposta para que o clima não ficasse mais constrangedor do que já estava. Para ela, pois Maggie parecia se divertir com o momento. - Eu e a Supergirl somos quase... Irmãs.

- Irmãs? – Maggie pegou no braço de Alex na hora que elas foram atravessar a rua novamente. Não ia arriscar deixar a morena ser atropelada. Não ia arriscar perder a morena. – Isso também pode explicar. Afinal, eram só vocês duas antes de você me conhecer.

Talvez isso explicasse mesmo o motivo de Kara estar agindo tão estranha nos últimos dias. Entretanto, se esse era o motivo, porque a irmã não podia simplesmente dizer? Mas, levando em consideração tudo que ela estava sentindo e que também não revelou para Kara, não tinha o direito de cobrar muita coisa da sua irmã não.

- Vocês estão me ouvindo?

Falando na Garota de Aço...

Alex e Maggie se entreolharam, rindo. Ela tinha mesmo uma superaudição até quando não estava a usando para ouvir o que as duas estavam conversando.

– Por que eu não estou ouvindo vocês. – Kara continuou avulsa das risadas que as duas estavam dando por causa de sua interrupção. - Como eu vou saber que vocês estão com problemas se eu não estou ouvindo se vocês estão com problemas ou não?

- Nós não estamos com problemas – respondeu Maggie assim que ativou o comunicar. – Ainda.

As duas pararam de frente a floricultura.

Pegando Alex completamente de surpresa, como costumava fazer, Maggie entrelaçou sua mão na dela. Se estavam fingindo que eram um casal tinham que começar a agir como um sempre que fossem entrar em um estabelecimento, caso contrário não iriam conseguir pista nenhuma.

Ao mesmo tempo em que o toque fazia com que o coração de Alex batesse descompensado, o toque também a deixava incomodada e desconfortável. Tinha medo de Maggie fazer algum comentário assim que sentisse sua mão suando. Não ia saber o que dizer, além de baixar o Gaguinho do Looney Tunes caso ela tentasse responder alguma coisa.

– Mas eu tenho esperanças que até o fim do dia... – Maggie continuou o momento “provocando a Supergirl” fazendo com que Alex relaxasse um pouco.

Kara riu ironicamente.

- Muito engraçado. – completou em tom debochado.

Elas resolveram que não iam estender as provocações. Afinal, elas não estavam cuidando de verdade dos preparativos do casamento, então precisavam trabalhar.

A dona da floricultura não parecia alguém que estava matando casais por ai, mas as aparências podiam enganar já que ninguém dizia que aquela senhora na frente delas era uma alienígena. Entretanto, a senhora parecia estar mais animada com o casamento do que as próprias noivas.

A senhora foi atenciosa, deu algumas dicas de flores para a decoração do hotel que Alex e Maggie falaram que seria realizado o casamento e ainda ofereceu alguns descontos. Realmente não parecia ter nada de suspeito ali.

Saindo da floricultura, as duas foram até a joalheria. Dessa vez Maggie não pegou Alex de surpresa quando resolveu ir todo o caminho de mãos dadas. Ela resolveu colocar o seu mantra de que não era nada demais em prática. Então, tentaria agir como se não fosse nada demais.

Como se não fosse nada demais estar na companhia de Maggie. Como se não fosse nada demais tudo que sentia sempre que a detetive a tocava. Como se não fosse nada demais o frio que sentia em sua barriga sempre que a morena sorria. Como se não fosse nada demais todos os seus sentimentos conflituosos sempre que o assunto era Maggie Sawyer.

- Posso ajudá-las? – perguntou o rapaz completamente solicito.

Elas estranham ver aquele rapaz ali. Deduziram que ele podia ser algum funcionário porque aquele não era o dono alienígena das fotos que Maggie havia mostrado mais cedo.

- Nós finalmente vamos escolher os anéis. – disse Maggie, animada, agarrando-se no braço de Alex. – Na verdade, ela vai. – apontou com a cabeça para a morena.

- Quem é a mulher mais sortuda do mundo? – Alex percebeu o quanto aquilo tinha soado idiota assim que abriu a boca, mas pela cara de contente do rapaz, ela deveria estar convencendo. – Eu sou.

As duas se olharam com doçura, fazendo o rapaz realmente acreditar que elas eram um casal apaixonado. Bom... Um casal elas não eram.

- Tem alguma aliança em especial que vocês gostariam de ver?

- Eu não sei. – Alex se desvencilhou do braço de Maggie e caminhou até o mostruário. – O que você acha desse aqui, amor? – apontou para uma aliança aleatória.

- A que você preferir, vida. – parou ao lado de Alex. – Eu já fiz a minha parte te pedindo em casamento. – esboçou um sorriso de canto de rosto. – Você deve gostar de trabalhar aqui, não é? – direcionou a pergunta ao rapaz. – Ver todo dia casais felizes querendo selar um grande compromisso.

Kara fez um barulho debochado com a boca. Isso era o máximo que ela conseguia? Essas perguntas até o Winn conseguia fazer sem estragar o disfarce. Nunca ia entender o motivo de Alex ultimamente preferir trabalhar com Maggie do que com ela.

Maggie ignorou o barulho debochado em sua escuta. Alex precisava conversar urgentemente com a Supergirl sobre sua atitude. Ela não estava querendo roubar a agente de ninguém, ela só gostava de ter Alex como parceira. Somente isso.

Na verdade, não era somente isso, mas isso não vinha ao caso agora.

- Sem duvida alguma. – o rapaz tirou a aliança que Alex havia apontado no mostruário, respondendo a pergunta de Maggie. – É gratificante ver casais como vocês, felizes, querendo viver uma vida inteiro juntos. – entregou a aliança para Maggie. – Essa aliança é perfeita. Você deveria experimentar nela.

As duas se entreolharam. Podiam estar trabalhando disfarçadas por causa da missão, mas tinha momentos que aquilo parecia tão natural que elas ficavam até ser graça porque não deveria parecer tão natural assim. Por via das duvidas, o que restava era uma sorrir para a outra e torcer para que aquela sensação estranha no estômago de ambas passasse.

Alex estendeu a mão esquerda, esperando que Maggie colocasse a aliança e assim a detetive o fez.

Novamente elas sorriram, arrancando um largo sorriso do rapaz também. Ele sem duvidas estava na frente de um casal que iria mesmo ficar o resto da vida juntas. O único problema é que elas não eram um casal.

- Serviu perfeitamente. – observou o rapaz.

Por causa do comentário, Alex resolveu olhar para aquela aliança em sua mão. Ela era realmente perfeita.

- Maggie? – a voz de uma mulher despertou as duas do transe que estavam por causa daquela aliança do falso noivado. – O que você... – intercalou o olhar entre Maggie e Alex. – O que vocês estão fazendo aqui?

- Bom...

Alex realmente não sabia o que responder para aquela mulher, afinal, ela era a namorada de Maggie. O que ela ia dizer? “Oi, tudo bem? Nós estamos aqui comprando a aliança para o nosso casamento. O que você acha?”.

- Quem é essa mulher? – Kara perguntou pelo comunicador. – Está tudo bem?

- Me desculpe Felicity, eu ia te contar. – Maggie resolveu tomar a frente da resposta, ganhando um olhar confuso de Alex. – Eu e a Alex... – coçou a cabeça, procurando a melhor forma de dizer aquilo, mas não tinha melhor forma. - Nós vamos nos casar. – forçou um sorriso.

A agente do DEO quase caiu para trás por causa das palavras de Maggie. Ela entendia que as duas estavam em uma missão disfarçadas, entretanto Maggie podia muito bem ter chamado a namorada para conversar do lado de fora e explicar absolutamente tudo. Alex podia ficar incomodada toda vez que Maggie citava a namorada em suas conversas, mas ela não queria que as duas terminassem por causa de um mal entendido.

E não era somente Alex que quase caiu para trás por causa da revelação de Maggie. Felicity parecia muito indignada com o que ouviu. Tanto que a mulher demorou alguns bons segundos para conseguir fazer com que palavras saíssem de sua boca entreaberta.

- Você é inacreditável! – exclamou a mulher, bastante aborrecida. – Bem que me avisaram que você costuma mesmo esquecer muito rápido as pessoas. – soltou um riso, de nervoso. – Você... – balançou a cabeça em negativo. – Eu teria cuidado porque ela vai te machucar.

No DEO, Kara e Winn se entreolharam. Esperavam de tudo nessa missão, menos ex-namoradas aparecendo para tornar todo aquele disfarce mais real. O universo às vezes tinha uma forma estranha de ajudar nas coisas, não é mesmo?

- Felicity...

Maggie deu um passo para frente. Ela queria ir atrás da loira e consertar todo aquele mal entendido, mas não podia estragar o disfarce.

Percebendo que não tinha a menor condição de continuar dentro da joalheria depois de toda aquela confusão, Alex inventou uma desculpa qualquer e saiu puxando a detetive para fora da joalheria.

- Maggie se você quiser eu posso...

- Está tudo bem Danvers, não se preocupe. – o tom de voz da morena mostrava que estava longe de tudo estar bem. – Eu me resolvo com ela depois. Nós temos um alienígena serial killer para pegar, esqueceu?

- É uma péssima hora para comentar que trabalhar com vocês é muito divertido porque nós vemos de tudo? – Winn perguntou sem se preocupar com a repreensão que iria levar por causa daquilo.

Elas resolveram ignorar a perguntar e partiram para a confeitaria que não ficava muito longe dali também.

Para a surpresa das duas, depois de arrancarem muitos elogios da dona da confeitaria e comentários como “vocês duas tem sorte de terem que se encontrado”, a mulher entregou para elas um convite para uma festa de degustação de bolos que era realizada pela confeitaria toda semana para casais que já estavam com a data de casamento marcada.

- Pode ser assim que selecionam os casais. – comentou Kara enquanto Alex e Maggie deixavam a confeitaria.

- O problema é saber como eles selecionam os casais. – Alex também comentou. Ainda em duvida se aquele era mesmo o estabelecimento responsável pela escolha dos casais para um destino não muito “e viveram felizes para sempre”. – Pelo que eu entendi toda semana vão dezenas de casais para essa festa.

- E até o momento a polícia de National City só encontrou três corpos. – Maggie passou na frente de Kara em seu comentário. – A não ser que existam casais desaparecidos.

- Nós podemos ir checar. – propôs Alex, novamente cortando qualquer coisa que Kara iria dizer. – Às vezes ele pode ter começado os assassinatos nas últimas três semanas.

- Ou se começou antes ele pode ter deixado os corpos em lugares mais difíceis de serem encontrados. – completou Maggie, ganhando um positivo com a cabeça de total acordo de Alex. – Com que roupa você vai para a festa? Temos que ser o casal mais gostoso do lugar. – mandou uma piscadela para Alex.

A morena riu, sem graça.

Se não encontrassem aquele alienígena serial killer logo, ela não sabia quanto tempo conseguiria continuar levar tudo como se não fosse nada demais.