“Sou um coração batendo no mundo.”
Clarice Lispector
Nos dias que se seguiram resolvi ficar em casa, creio que não conversei com ninguém desde que entrei pela porta do quarto. Passei as tardes e as noites pensando em tudo que tinha me acontecido até hoje, não sei como aceitar as escolhas que Ele fez para mim, apenas sei que elas tem seu propósito. Aproveitei meu tempo para ler as velhas cartas que Will sempre me mandava e, de súbito, resolvi escrever para ele.
Reli as várias verdades escritas no papel branco e suspirei, olhando para a árvore que tinha as flores florescendo. Deixei a caneta cair em cima da mesa antes de ir até a janela e ficar olhando para o nada, apenas lembrando de todos os momentos em que Nash e eu caímos entre os galhos da mesma.
– Posso entrar? – balbuciou Nash da porta.
– Sempre – sorri para o mesmo que veio em minha direção estendendo um prato com um pedaço de pudim – Vim trazer seu pudim matinal e dizer que Cameron está na sala mais uma vez.
Cortei um pedaço do doce e comi, revirando os olhos aos ouvir o nome de Cameron. O mesmo não iria desistir tão facilmente, não é?
– Diga que estou dormindo ou sei lá, não quero vê-lo – balbuciei me sentando novamente na cadeira e arrumando as folhas no envelope – Pode postar isso para mim? – estendi o papel pardo.
– Claro – pegou o envelope e voltou para a janela – O que ele está fazendo?
– Quem? – questionei indo até a janela e vendo Cameron com o celular no ouvido e uma buzina a gás na mão – Ele tem que desistir.
– Você sabe que ele não vai – comentou Nash atendendo o celular – Cara, vai embora, ela não quer falar contigo.
– Por favor, Malina, me deixa subir! – Dallas disse pelo viva voz.
– Nash – fiz biquinho para o mesmo que arregalou os olhos em minha direção.
O mais velho largou o celular que caiu no chão e passou o braço por minha cintura antes que caísse no chão, depois tudo que consegui ouvir foi ele gritando por ajuda.
– Como ela está?
Ouvi o voz de minha mãe sussurrar de volta que estava bem e que nos deixaria a sós. Pude sentir sua mão acariciar a minha segundos depois e sorri ainda de olhos fechados, apenas sentindo o calor de sua mão na minha.
– Como você está, meu amor? – questionou baixo.
– Bem até e você? – pisquei poucas vezes até ver Cameron sentado na poltrona ao lado da cama.
– Melhor agora – dito isso me deu um beijo na mão e sorriu de lado – Você nos deu um grande susto, coisinha.
Assenti com a cabeça rapidamente enquanto fechava os olhos e apenas sentia a presença do mais velho. Pude sentir o mesmo acariciar minha mão com o polegar enquanto devia estar olhando para mim.
– Quero te dar algo – murmurei estendendo a mão para a mesinha ao lado da cama e pegando um livro encapado em azul – É meu, do Will e de Nash.
Entreguei a Dallas que o abriu e folheou algumas páginas onde haviam diversas frases e poemas que costumávamos ver em filmes ou livros antigos, estava cheio das minhas melhores lembranças.
– Não posso, amor, é seu e dos meninos – balbuciou me olhando nos olhos.
– Apenas aceite, não vou poder escrever nele para sempre. Afinal, é uma boa recordação de mim – sorri de lado para o mesmo que revirou os olhos – Aqui, leia esse – indiquei o pequeno poema rabiscado em marca texto.
– “O amor é sempre paciente e bom. Nunca é ciumento.” – o mesmo me olhou antes de continuar – “O amor nunca é ostentado ou orgulhoso. Nunca é rude ou egoísta. Ele não ofende e não é ressentido.”
– Escrevi ele faz uns dois anos, foi o Will que encontrou em algum livro que estávamos xeretando de madrugada no quintal – lhe contei rapidamente – Agora é seu, meu amor.
Peguei sua mão e dei-lhe um beijo, sorrindo rapidamente para o mesmo que colocou o livro de volta na mesa e se inclinou para deixar um selinho em meus lábios.
– Por favor, não me deixa – acariciei seus cabelos e pude sentir uma lágrima escorrer por meu rosto.
– Sabe que não posso prometer isso – sussurrei, tentando segurar minhas próprias lágrimas – Talvez Ele tenha um plano para mim maior do que eu mesma, meu amor, e não posso fazer nada para mudar isso.
Dallas assentiu calmamente e voltou a se sentar na poltrona, pegou minha mão novamente e deitou a cabeça na mesma enquanto chorava silenciosamente. Isso me parte o coração de mil formas diferentes.
Já havia se passado dois dias desde que entrei em observação e tratamento intensivo, o que me deixava entediada era não poder ter todos os meninos e as meninas aqui comigo toda hora, tínhamos que revezar os horários de visita e não era sempre que conseguia ver todos. O médico já tinha dito que o tratamento perdera o efeito fazia algum tempo mas que fariam o possível.
Me acostumar com a ideia foi fácil, afinal, um dia todos vamos para o mesmo lugar, não é? O que não me conformava é ter que deixar todos, principalmente Sky que é apenas uma criança, e não poder ver Will também me deixava de tal jeito. Há semanas venho me martirizando por causa disso, mas o que adiantava? Nada.
– Vai passar, meu anjo, prometo – sussurrava Nash para mim, ele estava abraçado comigo já fazia alguns minutos – Nós vamos dar um jeito, ok? – afagou meus cabelos rapidamente.
– Quero ir para casa, Nash. Por favor – balbuciei entre os soluços – Não quero mais ficar aqui, por favor.
– Nós vamos, anjo. Só mais essa tarde, o médico só precisa que a mãe assine a sua alta e você vai poder fazer o tratamento em casa, ok? Agora, uma coisa – olhei para ele que se sentou na minha frente e sorriu – Pare de chorar por que consegui algo para você, mas só se parar de chorar.
Concordei com a cabeça limpando as poucas lágrimas que ainda rolavam, o mesmo olhou bem para mim e até fez questão de puxar minhas pálpebras para ver se ainda chorava, o que me fez rir.
– Para, Nash. Me diz o que é – pedi pois minha curiosidade estava ficando grande.
– Não, acho que pode esperar mais um pouco – olhou para o lado e fez careta.
– Fala logo, Nashy – fiz biquinho em sua direção.
– Vocês mulheres fazem de tudo para conseguir o que querem – resmungou indo até sua mochila e tirando algo de lá – Marta não queria me deixar trazer, mas sabe como sou, peguei de qualquer jeito – tagarelou voltando para a cama e segurando um potinho transparente com pudim.
– Obrigada, Nash – peguei potinho e fiquei olhando para o mesmo – Vamos mesmo para casa? – questionei fitando seus olhos.
– Vamos sim, anjo.
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