Troquei de roupa e desci para me encontrar com Túlio. Fomos para uma praça perto de casa. Lembrei que não podia demorar por causa do maldito jantar.
- Então. Qual a surpresa? -perguntei.
- Não tem.
- Eu estava dormindo. Você me acordou por nada!?
- Eu queria te ver. -ele diz.
- Ah, que lindo. E eu queria dormir.
- Tá foi mal. Mas não consegui falar com você na escola.
- Me desculpa. -falei triste. - Acordo com raiva sempre.
- Deu pra perceber. -ele ri.
- Não, é sério. Foi mal, as meninas ja estão acostumadas. Elas sempre me trazem chocolate.
- Da próxima eu trago.
- Próxima?
- Vamos ao cinema amanhã?
- Ah, não. É muita preguiça pra uma pessoa só.
- Eu trago chocolate, se for o caso.
- Que horas vem me pegar?
- As 19h.
- Ok.
E daí o assunto surgiu. Por vários momentos eu fiquei constrangida por não saber o que responder. Mas, deu tudo certo. Quando estava começando a escurecer voltei para casa e comecei a arrumar a casa e a fazer o jantar.
Queria pedir alguma coisa, talvez o prato pronto, mas mamãe instia que eu tinha que aprender a cozinhar. E com a casa limpa e a mesa arrumada, mamãe chegou e foi se arrumar, logo depois foi papai quem chegou.
Quando terminei a comida, comecei a fazer uma sobremesa. Afinal, eu tinha que aprender a cozinhar e tinha que testar meus dotes como confeiteira.
Fiz um brownie de chocolate com sorvete de prestígio, o sorvete eu comprei. Fui me arrumar, afinal um banho é muito bom. E eu estava tuda suada e com cheiro ruim.
Coloquei um vestido florido e deixei me cabelo secar. Coloquei uma rasteirinha e passei um perfume. Fiquei no quarto até eles chegarem. E o momento mais temido tinha chegado. Ele tinha chegado. Sabe quando seu inimigo está sentando na sua sala de estar e seus pais conversando com ele como se aquilo fosse normal. Ah que raiva.
- Mãe, posso colocar a comida na mesa? -perguntei assim que cheguei na sala.
- Se eles já quiserem comer sim. -olhei para a mãe de Júlio e pra ele.
O pai da Canalha havia morrido a um tempo atrás quando éramos meninos ainda. Apesar de quase não demonstrar a falta que ele faz, ele sente. Tipo no dia dos pais. O primeiro é o pior. Todos na sala fazendo graça com você por não poder dar alguma coisa digna. A saudade é como um fantasma que resolve aparecer de vez em quando.
- Ah, claro. -a mãe de Júlio sorri.
Outra que também escondia os sentimentos era ela. Todos sabiam o quanto ele fazia falta. Mesmo depois de tudo, ele era o pai dele. Tinha sido o marido dela. A dor permanecia ali. Lembrei de quando a mãe dele disse uma vez:
FLASCHBACK ON
Eu e Júlio estávamos entrando na adolescência e não nos soltavamos por nada. E foi quando o Júlio caiu e torceu o tornozelo. Eu chorei muito, ele não podia sair de casa e eu não podia ir a sua, quando nos encontramos todos e mamãe contou do meu drama, ela sorriu e disse:
- Júlio também sentiu bastante sua falta. Ele também chorou. Acho que vocês dois vão casar e ter lindos filhos.
FLASHBACK OFF
Na época eu não levei muito a sério. O que tínhamos era apenas uma amizade que levaria pra a vida toda e quando Júlio me magoou vi que eu gostava mesmo dele e que pra ele eu era só a amiga dele.
Fui para a cozinha e o canalha veio atrás.
- Não precisa me ajudar. -falei pegando a louça com o macarrão da mão de Júlio.
- Mas eu quero. -ele toma de mim e coloca em cima da mesa no centro e volta pra cozinha.
- Por que está fazendo isso? -perguntei me escorando no balcão. -Por que está aqui Canalha?
- Virei o canalha da história? -ele pergunta pegando os copos.
- Você sempre foi. -falei sorrindo.
- E você gosta desse Canalha. -ele vem se aproximando.
- Você sonha com isso desde sempre. Não é mesmo?
- Você é quem sonho comigo todas as noites. -ele me beija.
Eu não sabia com reagir a isto. Eu realmente não estava esperando isso. Nem queria. Eu queria seguir em frente. Não queria que fosse assim. Porque se fosse, amanhã ele não iria falar comigo e iria debochar de mim para os amigos.
- Não. Você não pode fazer isso. Você não fazer isso. Não comigo. -dei um tapa em sua cara.
- Mas, você é louca. -ele leva a mão ao rosto.
- Você pode brincar com qualquer uma, mas eu sei do que você gosta Cocielo. Eu sei dos seus esquemas e não é de hoje. Eu quem te acorbetava lembra.
- Eu mudei.
- Pra pior.
- Siena, seu país chegou com as bebidas. -mamãe grita.
- Conversaremos depois. -ele diz e me ajuda com os copos.
* * *
- O jantar estava ótimo. -a mãe de Júlio diz assim que termina.
- Você está muito bom na cozinha, maninha. -Jason diz.
- E esse brownie!? Estava uma delícia. -mamãe diz.
- Okay gente. Agora eu lavar tudo. -falo pegando os pratos.
- Não filha. Nós duas lavamos. -mamãe diz se referindo a mãe de Júlio.
- Eu e Jason vamos para o escritório. -papai diz.
- E eu para o meu quarto. -falei me levantando.
- Não. Nós vamos conversar na sala. - Júlio me puxa. Vou processar ele, daqui a pouco estou com manchas nos pulsos.
- Você vai ter que me ensinar Geografia. -ele diz.
- Geografia? Isso não é mais um pretesto pra me ver não ?
- Se não acredita pergunte a Sandra. Ela quem pediu.
- Okay. -eu digo. - Por que a Roberta falou que vocês estavam namorando? Ontem na festa.
- Ela é louca.
- Você me chamou de louca.
- É porque nós ficamos esses dias. E como todas essas garotas iguais fazem. Acham que sou posse delas.
- Deu pra entender.
- E sobre aquela noite...
- Olha. Eu não quero entender nada. Eu estou muito bem assim.
- Não. Não estamos. Você me bateu agorinha. -ele diz revoltado.
- Você me beijou. -digo no mesmo tom.
- Você é e sempre vai ser minha amiga. Mesmo não querendo.
- Eu sei. Mas isso não quer dizer que eu não odeio você. -sorri.
- Podemos começar amanhã?
- Eu tenho um compromisso amanhã com o Túlio.
- Porque você gosta desse mauricinho?
- Eu não gosto dele. Só vou saie com ele.
- Se não gostasse dele não teria aceitado.
- Eu não pretendo ter nada com ele.
- Não é o que parece.
- Quarta feira. Me espere as 15h na biblioteca. Se eu chegar e você não estiver lá eu desisti disso antes de comecar.
* * *
No outro dia, fui para a aula normal e com sono. Quando eu não estou com sono?
Conversei com Túlio para que pudéssemos levar minhas amigas e ele não gostou muito da ideia dizendo que era somente para nos dois.
Depois eu entendi a ideia dele.
- Maluquinha. -ele diz quando estávamos almoçando no gramado.
- Eu sei quem sou. Falaram isso pra mim ontem. -olhei pra onde Júlio estava com os garotos.
- O que aconteceu ontem? -ele pergunta.
- Ele foi lá em casa. -digo.
- Depois de tudo o que ele fez. -ele fala revoltado.
- Você não sabe da metade do que ele fez. E ele já foi meu amigo.
- Desculpa.
- Você não fez por mal.
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