História Como Acabar Com Um Amor - Tarde de mais

No final Júlio aprendeu um pouco. Até foi bom a aula. Ele não fez nada e nem eu.

Cheguei em casa cansada. O dia tinha sido longo. Estava anciosa para sair com Túlio. Queria ficar deitada. Minhas costas estavam doendo. O treino tinha sido muito pesado e eu ainda tinha que arrumar a casa. Mamãe e papai iriam sair pra comemorar algo e Jason iria sair com a namorada.

Fiz um lanche e comecei a arrumar tudo. Terminei e já era tarde. Tomei um banho gelado e me arrumei. Uma blusinha solta, um short e uma rasteirinha. Não me preocupei muito com maquiagem e cabelo.

Assim que Túlio chegou, pensei na ideia de ficar em casa mesmo. Eu estava cansada, e ele também acho que estava. Minha casa seria melhor do que um cinema lotado de pessoas.

Ele adorou a idéia. Fui até o armário e não tinha muitas guloseimas. Então fomos comprar.

- O que acha que deveríamos levar para nossa noite? -ele pergunta.

- Chocolate. -Respondi na hora.

- Além do seu chocolate!? -ele sorri.

- Ahm... Pipoca, refrigerante, umas batatinhas e balas.

- Tá. Então vamos para a melhor seção do supermercado. -pegamos uma cestinha e fomos.

Eu estava tão feliz por fora, nem parecia que por dentro eu sofria, que estava chorando muito. Que aquele sentimento estava voltando e eu estava fazendo de tudo para que isso não viesse a tona, que nenhum de nós sofresse se algo contraditório acontecesse.

- Sisi? Está tudo bem? -Túlio pergunta.

- Sim. Porquê não estaria? -sorri falso.

- Tem uma lágrima caindo. -ele a limpa.

- Saudades de um tempo que não volta. -parei em frente à vários doces. - Qual você quer?

- Tá tudo bem mesmo? -ele volta a perguntar.

- Olha, não precisa se preocupar. Vai passar. -falo pegando algumas balas.

- Não te quero triste.

- Não é tristeza. É saudade. -falo brava. - Saudades de quando tudo era perfeito.

- Eu to aqui pra fazer esse tempo voltar. Mas, parece que você não aceita a minha ajuda. Quer fazer as coisas sozinhas.

- É porque consigo.

- Está mentindo.

- Não. Não estou. E se estivesse precisando, você seria a primeira pessoa a quem iria recorrer.

- Me deixa com você? Pelo resto do nosso tempo. Pelo menos até a faculdade?

- Você vai sempre estar lá, até depois. Porquê amizades como a sua não se conseguem fácil.

- Amizades. -ele revira os olhos. - Somos amigos então?

-Sim.

- Tá. Vamos terminar para ir ver o filme.

Estava sentindo que ele não estava sendo verdadeiro comigo. Eu odiava entrar em brincadeiras onde não me avisam que estou brincando.

Compramos as coisas. E decidimos trocar o filme por uma maratona de séries. Passamos em uma locadora e pegamos uma série que nós dois gostamos. The Walking Dead.

Arrumamos tudo em potes e coloquei o refrigerante nos copos. Começamos a ver, eu não tinha medo desse gênero e todos curtiam comigo. "A Siena agora é homem, ela não tem medo de filme de terror" Eu simplesmente ria. O machismo deles era legal. Eu me divertia com aquilo.

E como eu já era viciada na série e -Túlio também fomos repitindo as falas. Era muito engraçado. Ainda mais quando tinha algum zumbi e imitavamos as cenas. Teve uma cena de romance na qual ele pedia a menina em namoro e fomos recriar a cena.

- Olha, eu sei que não sou muito bom nisso. -Túlio diz e eu seguro o riso. - Siena, quer namorar comigo?

- Não. Você errou a fala. Vai de novo. -falo rindo.

- Não errei não.

- Errou sim. Deixa quieto. Não precisa fazer de novo.

- Siena, você é a maluquinha mais lerda que eu já vi em toda a minha vida.

- Migo, não precisa falar o que eu já sei. -joguei o cabelo.

- Esse Migo não caiu bem. Que tal amor?

- Você é muito engraçado.

- Tá tarde. Eu já vou. -ele pega as coisas dele.

- Desculpa. Fica mais.

- Não, tudo bem. A gente se fala amanhã. -ele sai.

                      * * *

- Atrasado. -falei assim que Júlio adentrou a biblioteca.

- 15 minutos.

- 40 pra ser exata.

- Quanta saudade cê tava de mim.

- Eu tô com saudades da minha cama e se não andarmos logo com isso eu vou dormir aqui mesmo.

- Eu pesquisei aquilo que me pediu. -ele me entrega as folhas.

- Que bom.

- Fica comigo? -Júlio diz depois de um longo silêncio tentando estudar.

- Não. -digo grossa.

- Por quê ?

- Não sou tuas nega que tu pega uma vez e descarta.

- Eu não faço isso.

- Não faz isso comigo. Mas com a escola inteira sim.

- Ta.

- O que a professora está falando dessas aulas?

- Que estão me ajudando muito.

- Espero, estou perdendo bastante tempo aqui.

- Você está perdendo tempo comigo. -ele corrigi. - Isso é bom.

- Não, não é. Eu podia estar dançando com as meninas agora. Mas, pelo menos eu ganho uma nota extra também.

- A professora está te dando nota pra me ajudar?

- Você acha mesmo que eu iria vir te ajudar sem receber nada em troca?

- Achei que faria isso pela nossa amizade.

- Achei que a nossa amizade tinha acabado.

- Eu não dormi com a Roberta. Eu não me encontrei com ela. Eu passei a noite virando um jogo e esqueci do acampamento no outro dia. Eu nem sei como ficou sabendo que eu estava com ela. Pode perguntar a minha mãe. Eu acordei era 2h da tarde.

- E por que não me mandou nenhuma mensagem? Por que não se deu o trabalho de fazer uma ligação avisando que estava bem e falando o que tinha acontecido.

- Eu achei que ficaria tudo bem entre a gente.

- Pois é. Não ficou. -fechei uns livros meus que tinha levado e coloquei dentro da bolsa e saí.

- Siena espera. -Júlio me puxa pelo braço.

- Vai tentar me convencer de que agora? -falei com lágrimas nos olhos.

- Que eu adoro você. -ele me beija.

Dou um tapa na cara dele. Eu havia dito que não era pra ele fazer aquilo. Quase todas as garotas do colégio morreriam pra estar no meu lugar. Mas eu sabia que elas queriam atenção. E aquilo não se podia comprar nem mendigar. Ah, eu tenho pena delas.

- Tarde de mais. -falei chorando.