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História Arquétipos Patéticos - Entre lágrimas de dor e escárnio


Escrita por: Lyssu

Notas do Autor


Olha quem está aqui postando capítulo nos horários mais impróprios...
eu mesma!
atrasei?
atrasei... mas culpem minha vida de escrava!

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH
estou muito louuconaaaa
cara, CASN tá com 365 favoritos... mar gente como foi isso?
midira!!! sei exatamente como foi...
um muito obrigada a minha tsundere linda e a todos os que indicaram CASN a seus amigos e nos grupos que fazem parte... sério quero beijar cada um de vocês!
é muita felicidade pra pouca boca torta XD

Boa madrugada meus amores... dormir é para os fracos.. negócio é ler fanfic... Q
fiquem com esse pov cheiroso do Namjoon pra vocês! :3

Capítulo 5 - Entre lágrimas de dor e escárnio


Fanfic / Fanfiction Arquétipos Patéticos - Entre lágrimas de dor e escárnio

 

Por vezes, incontáveis, me vi diante da mesma situação e como covarde, um escravo sem grilhões, caminhei por aqueles corredores e cumprimentei todos os rostos devassos de quem sempre o viu como um objeto. O lucro de muitos ali estava estampado nos sorrisos dele. Na sua pele exposta. Na capa de uma revista qualquer. Na minha dor latente.

Para permanecer ao seu lado, eu segui acenando e fingindo uma simpatia que não era minha. Esse era o meu teatro. Se Seokjin, meu namorado, é um grande modelo, sou um ótimo ator, embora minha formação acadêmica seja em exatas. Embora eu sempre tenha acreditado que os números eram minhas melhores companhias, não foi o que escolhi. Nem sempre fazemos as melhores escolhas. Nem sempre procuramos o que nos faz bem... Principalmente, quando amamos. E eu amei tanto... ainda amo.

Infelizmente...

...para a minha felicidade.

Um copo de whisky a mais para engolir toda a minha frustração e segurar os meus lábios naquela curva ascendente idiota pelo resto da noite. Antes de sair de casa, Seokjin insistiu “vamos, é importante para mim”. Ah, eu sabia que não seria uma boa ideia. Entretanto, não conseguiria negar nada a meu namorado por muito tempo. Principalmente quando seus lábios grossos se entreabriram admitindo que ele precisava de mim ao seu lado. E mais uma vez eu cedi aos seus caprichos, aos seus pedidos entre beijos.

Não inconscientemente. Eu sabia o porquê sempre me curvava as suas vontades, me adaptava aos seus moldes. Era algo simples de entender, porém não era fácil. Resumindo; não me sinto digno de estar ao lado de alguém tão incrível. Seokjin sempre foi perfeito. E eu era apenas um rascunho de qualquer coisa que nunca seria metade do que ele era. Então como posso explicar o sentimento que se apoderou da minha razão quando um dos garotos mais bonitos do colégio se declarou para mim? Gratidão? Talvez, naquele dia, fosse isso. Eu era grato por ele ter me desejado. E, quando aceitei ser seu namorado, eu só não queria estar só.

Um “trauma” típico de uma adolescência solitária, onde eu era sempre o primeiro e o último a ser escolhido em situações tão distintas. O primeiro para algum trabalho imbecil que os professores faziam questão de ser em dupla ou em grupo. O último para todo o resto. E se não fosse pela minha inteligência – ou a necessidade angustiante de se destacar em algo –, eu teria passado desapercebido como um desses rostos que aparecem nos álbuns da escola e ninguém sequer reconhece. Muito menos, lembra o nome.

Se não tivesse gasto todo o meu tempo livre com os livros – ninguém nasce com a tabela periódica na cabeça ou conhecendo o teorema de Pitágoras –, talvez não estaria com as costas doloridas de tanto cumprimentar aquela gente que era mais tediosa que programas sensacionalistas; pois, assim como todo o resto, Seokjin me notou através das minhas notas. Através do meu rosto estampado no mural de destaques da escola.

A primeira vez que Jin me escolheu foi para um trabalho de matemática, onde eu fiz pouco caso como sempre e o ignorei. Os dias passaram e sempre que ele tentava se aproximar ou falar sobre a nossa tarefa, eu desviava do assunto ou simplesmente não comparecia aos incontáveis encontros que ele marcava na biblioteca. No fim das contas, fiz todo o trabalho em casa com meus inseparáveis fones de ouvido que naquela época era meu melhor par para qualquer situação.

Contudo, contrariando todas as minhas expectativas, Seokjin se chateou e contou ao professor que não tinha contribuído em nada, ocultando o fato de que isso só aconteceu porque me neguei a aceitar sua ajuda. Mais tarde ele me confessaria que havia sido seu primeiro e último zero na escola. Que a vontade de ser minha dupla surgiu no mesmo momento em que ele viu, pela primeira vez, as covinhas das minhas bochechas aparecerem. Segundo sua versão, elas imploravam por sua atenção.

Semanas, meses se acumularam e ele insistia em permanecer por perto. Comumente passávamos os intervalos nos entupindo de comida e compartilhando meus fones de ouvido na cantina da escola. E após as aulas, sentados numa sala de aula vazia que era utilizada para reuniões esporádicas, conversávamos e riamos de qualquer bobeira. Além de discutirmos toda vez que o assunto era minha falta de ânimo para socializar, afinal, Seokjin achava – erroneamente – que eu precisava de mais amigos. Sua cabecinha de garoto estrela não conseguia compreender que meu foco nunca foi quantidade, muito menos ser o foco.

Quando percebi, já estávamos próximos o suficiente para que ele visitasse minha casa e assaltasse a geladeira sem qualquer cerimônia. E não posso dizer que a reciproca não era verdadeira. Eu amava os iogurtes de sabores estranhos que a mãe dele comprava, e Jin adorava devorar o resto de pizza barata, ainda gelada, que a minha costumava pedir para “jantarmos”.

Eu não estava mais sozinho na escola, e Jimin – que estudava em outro colégio – já não era a única pessoa que me fazia companhia nos finais de semana. O que era um alívio, pois nessa mesma época o desgraçado mal tinha tempo para me dar atenção, já que estava alimentando sua queda por Hoseok e todo o seu tempo livre era dedicado a conquistar o garoto de cabelos ruivos. Então, quando Jin me chamou para sair na tarde de um domingo solitário e monótono, eu rapidamente me arrumei e esperei. Felizmente, não demorou mais de meia hora para que que ele estivesse na minha porta e me oferecesse o braço para eu apoiar a mão ali.

Fomos andando até um parque que ficava perto da minha casa e Jin estava visivelmente nervoso. Ele mordia o lábio inferior de cinco em cinco minutos e perguntava constantemente se eu estava confortável. Se estava muito frio ou muito quente. Se minhas pernas doíam. Se eu queria ir para outro local... A boca dele não passava mais do que poucos segundos fechada e logo se abria para mais uma sessão de questionamentos.

Naquele dia, estranhei o fato de ele estar tão arrumado e inquieto, era óbvio que algo estava fora do comum, aquele não era apenas mais um passeio para matar o tédio. E depois de sentarmos na grama, aproveitando da sombra de uma grande árvore, Jin retirou uma caixinha retangular do bolso da calça e me entregou. Nela continha uma pulseira, que ainda adornava meu pulso nos dias atuais e era delicada demais para alguém como eu, e um papel enrolado em formato de tubo. Era um poema. Uma carta sobre como ele havia se apaixonado por mim. E após eu conseguir ler de maneira incrédula cada palavra, ele fez sua última pergunta do dia...

“Aceita ser meu namorado?”

Agradeci. Aceitei.

Nos beijamos pela primeira vez.

A cada segundo ao seu lado, fui percebendo o tamanho da sorte que eu tinha em tê-lo. Ele era lindo, inteligente, sociável... Ele era tantos adjetivos bons que passei a adorá-lo. Venerá-lo. Contudo, foi ele quem disse o primeiro “eu te amo”, e eu só soube agradecer novamente. Embora, já o amasse tanto ao ponto de fazer todas as coisas que jurei jamais fazer por achar brega demais.

Andei em roda gigante. Recebi comida na boca. Fiquei imensamente feliz em ganhar flores e vários pinguins de pelúcia nos nossos aniversários de namoro. Aprendi a usar apelidos carinhosos. Objetos personalizados com foto de casal? Eu tinha de todos os tipos. Serenata? Cantei ao meu modo, baixinho, sussurrado ao seu ouvido depois de fazer amor com ele, enquanto suas mãos passeavam pelas minhas coxas suadas e eu me escondia como podia no seu peito para que ele não notasse o quanto eu estava sem jeito por ser tão frágil na sua presença...

...por amar demais.

E por esse motivo continuo aqui ao seu lado, mesmo que isso me sufoque e me tire o sono. Eu sei que em nenhuma hipótese seria suficiente para ele. Sei que sua carreira, seus sonhos, não devem ser desperdiçados por causa de um amor adolescente. Se assim ele quisesse, facilmente estaria com um outro amante. Outro alguém a dividir os lençóis consigo. Alguém que sentasse no seu colo nos dias de domingo e ouvisse suas histórias dos novos locais conhecidos, das novas pessoas em sua vida... Alguém a quem ele direcionaria aquele mesmo sorriso que estava sendo oferecido para mim, naquele instante. Então em todo momento que eu sentia vontade de correr, de escapar do seu amor, todas as vezes que pensei em terminar...

Eu agradecia...

...e continuava.

— Jin... podemos ir? Já está tarde, estou ficando com muito sono e você sabe como sou horrível em fazer sala... — Sussurrei ao seu ouvido e logo após senti sua mão segurar a minha por baixo da mesa onde havíamos sentado.

Por causa da sua carreira e do preconceito com casais do mesmo sexo no nosso país, nosso relacionamento era segredo para todos os que não fossem próximos. Ou seja, apenas poucos amigos sabiam que éramos namorados, mais que isso, éramos como casados. Mesmo que não tivéssemos compartilhado alianças, mesmo que não tivéssemos um papel para atestar isso, vivíamos como qualquer pessoa casada. Dividimos o mesmo teto, o mesmo quarto, a mesma cama. Dividimos a mesma pulseira delicada. Dividimos os nossos corpos há longos anos.

Embora, nem eu e nem ele soubesse cozinhar ou manter a casa arrumada. E nem pudéssemos trocar beijos ou carícias em público. Um teatro doloroso. Um sacrifício necessário. Tudo para que ele pudesse continuar realizando seu sonho. E por mais que Jin nunca tenha me dito que só poderíamos estar juntos se fosse dessa forma, foi assim que entendi. Nunca me senti confiante para exigir que meu namorado assumisse nosso relacionamento publicamente. Tinha medo que o amor pelo seu sonho se sobressaísse sobre o que ele sentia por mim. Seria arrasador...

— Podemos esperar até os parabéns? — Ele indagou levantando uma sobrancelha e apertando de leve os meus dedos. — Não queira sair da festa antes disso. O aniversariante acabou de fechar uma campanha comigo e não queria dar motivos para que me chamem de metido ou mal-agradecido. Fui escolhido para ser o modelo principal e...

— Seu amigo quer ir dormir? Nossa! A noite mal começou, criança. — Um homem à nossa frente se pronuncia para Jin, alguém da equipe de alguma coisa. Alguém que eu não lembro, pois não faço questão de guardar nomes – nem rostos – desagradáveis. E todas aquelas pessoas são tão mesquinhas e falsas com meu namorado que fica impossível não ter motivos para ter nojo de cada uma delas.

Elas não se importam se ele adoece, se ele está emocionalmente estável, se está constantemente preso numa dieta ridícula, ninguém se importa com Jin. Tudo o que veem nele não passa de ganância. A agenda que montavam para “seu melhor modelo” toda temporada era cada vez mais imoral, dias e dias onde as viagens se emendavam umas nas outras sobrando “folgas” para entrevistas e eventos como esse. Ele não podia respirar fora desse meio por mais de vinte quatro horas. Era como se, para realizar seu sonho, Jin tivesse que abdicar do direito sobre o próprio corpo. Sobre a própria vida.

— Ele deve estar cansado. Namjoon não tem costume de comparecer a essas festas, ele só veio hoje porque insisti muito. — Meu namorado tentou justificar a minha inquietação, mas o homem não lhe deu ouvidos e virou o rosto na minha direção.

— Não vá roubar nossa estrela da noite, querido. Se fosse para dormir cedo por que não ficou em casa, hm? — Ele piscou um olho e sorriu debochado. O perfume doce em excesso aumentava minha dor de cabeça causada pela música alta do local. E se não fosse pela consideração que eu tinha pelo meu namorado, já teria vomitado no copo daquele infeliz. Talvez ele tenha notado minha repugnância por si, pois fechou o cenho e voltou sua atenção para Jin. — Além de ser o aniversário de Jaebun, também estamos comemorando sua nova campanha. Vai ser maravilhoso, mal posso esperar para te ver nos telões. Todo mundo vai conhecer seu rosto, Jinnie. Todos vão te amar.

Mesmo que isso fosse possível, ainda sim não seria suficiente. Eles sempre procuram uma nova forma de explorá-lo até que não reste mais nada... Até que ele desmaie de cansaço ou de fome. Até que eventualmente o tempo o torne velho demais.

— Deixe de exageros, Joong-ki, mas não vou mentir que seria maravilhoso. Seria um sonho ser reconhecido no mundo todo pelo meu trabalho.

Antes que eu pudesse tentar convencer meu namorado a sair mais cedo, um grupo de cinco pessoas se aproximou da nossa mesa. Logo estavam todos sentados conversando futilidades, enquanto Jin tentava acompanhar o assunto como podia. Respirei fundo e tentei pensar em outras coisas que me fizessem esquecer daquelas pessoas. Lembrei de Park Jimin e me indaguei sobre como ele conseguia se relacionar com tanta gente, mesmo que fosse apenas com finalidades sexuais. Para mim, era difícil até respirar o mesmo ar de algumas pessoas. E pelo que o meu amigo de infância me contou, ele nunca foi muito exigente com personalidades, nem com aparências. Contanto que tivesse um pinto, Jimin estava fodendo.

Era triste, mas era a realidade.

Aquilo era estranho, talvez pelo fato de namorar com o mesmo homem há mais de oito anos e esse ter sido meu primeiro e único namorado. Mas não conseguia me imaginar transando com outra pessoa que não fosse Seokjin. Talvez eu seja apenas alguém que se nega a se entregar a um desconhecido por simples prazer carnal. E olha que até cogitar fazer sexo com um amigo era assustador. Não foi à toa que, quando Jimin tentou me beijar, levou um tapa no rosto e um aviso, “Se fizer isso de novo, não olho mais na tua cara.”. Depois desse pequeno “acidente”, o loiro percebeu que não deveria ultrapassar essa barreira comigo e até hoje ele tem se comportado para o bem da nossa amizade.

A comemoração seguiu entediante como já esperava ser, mas pelo menos pude agradecer pelo agente de Jin não estar lá. Aquele homem asqueroso me causava calafrios somente com o olhar e eu não estava com a mínima vontade de acabar de vez com meu sábado que mal havia começado, pois o relógio do meu celular indicava que ainda eram duas da manhã.

Mais uns goles de várias bebidas diferentes e já conseguia sorrir com mais facilidade, fazendo alguns comentários chulos que disfarçavam minha vontade de pôr fogo naquela festa ridícula. Eu não costumava beber sempre, porém descobri que tenho uma certa tolerância ao álcool. Mesmo ingerindo uma quantidade maior que as outras pessoas, pareço mais sóbrio que elas. Sem mencionar que até hoje não fiz nenhuma merda para me arrepender depois. Infelizmente todos os meus arrependimentos vinham de momentos de sobriedade e auto depreciação, então nem poderia culpar o álcool.

Eu costumava ferrar com minha vida conscientemente.

Depois de momentos de tortura e sorrisos forçados, cantaram os parabéns para o aniversariante que agradeceu a presença de todos e anunciou a campanha que meu namorado estrelaria. No telão montado atrás do palco, era reproduzido um comercial da marca de cosméticos. Nele Jin aparecia num labirinto de espelhos, porém cada imagem refletida fazia algo diferente. No fim, ele tocava num dos espelhos e todo o resto quebrava. Todos aplaudiram e naquele momento não pude deixar de me sentir orgulhoso, pois ele era realmente bom no que fazia e todos estavam elogiando seu talento e beleza.

Durante aquele instante, me permiti abandonar a raiva que eu tinha do seu trabalho e aplaudi-lo o mais forte que consegui. Um dos meus únicos gestos sinceros naquela noite que arrancou um sorriso tão lindo do seu rosto que me fez continuar com aquilo até que minhas mãos implorassem por sossego.

Ainda foram necessários mais de quarenta minutos para que Jin terminasse de cumprimentar a todos e se despedir. No caminho, enquanto ele dirigia, liguei o rádio e ajustei o volume para que a música ficasse baixinha, quase inaudível. E como recompensa por eu ter me comportado a noite toda, meu namorado cantou durante todo o percurso até nossa casa. Ele fazia algumas alterações nas letras das músicas de forma que elas se encaixassem com nossa história, e eu não pude deixar de soltar uma risada a cada frase improvisada.

Era por momentos como aquele que eu não desistia de nós... Era por ainda perceber que eu não amava só que eu me agarrava como podia a sua presença. Ele podia ter seus defeitos, ele podia perseguir seu sonho como um louco – sacrificando mais do que deveria –, mas uma parte dele me amava ternamente. E isso era mais que suficiente para que eu agradecesse.

E continuasse...

 

•Ꝋ•

 

Acordei de manhã com gritos, Jungkook berrava totalmente ensandecido. A voz do garoto atravessava as paredes como se estas fossem feitas de folhas de papel. Minha cabeça latejava pela enxaqueca da noite passada que só havia piorado, fazendo meu mau humor se tornar ainda mais insuportável. Ao abrir os olhos, notei que Jin não estava mais na cama e então lembrei que ele havia me dito que tinha um almoço para ir junto de alguns dos seus amigos modelos. Um evento que tinha mais haver com trabalho que amizade.

Passei a mão pelo tecido frio ao meu lado – constatando que meu namorado já havia saído há um certo tempo – e inspirei profundamente para não matar o futuro pai dos filhos do meu único amigo. Nem fiz questão de prestar atenção ao que o moleque dizia, levantei num impulso rápido e abri a porta pronto para mandar Jungkook ir gritar num motel – de preferência com Jimin.

— Mas que merda de gritaria é essa? — Gritei – de maneira hipócrita ou não – andando pelo corredor e estagnando na entrada da sala. Estava pronto para xingar o garoto plantinha de todos os palavrões que eu conhecia quando a cena a minha frente me calou por completo. Sangue. A blusa branca de Jimin estava tingida com a cor vermelha numa mancha que era maior que um palmo. A mão pequena se encontrava tampando o rosto na altura do nariz e estava coberta pelo líquido escarlate que escorria pelos seus dedos e aumentava ainda mais aquela marca no tecido. Jungkook andava de um lado a outro com as mãos enfiadas no cabelo gritando coisas desconexas como “me desculpe”, “hospital”, “minha culpa”. — O que aconteceu? — Perguntei abaixando o tom e me aproximando do loiro.

— Estávamos brincando e o Kookie acertou meu nariz com um chute... Foi sem querer... — Jimin explicou calmamente e pelo fato dos seus olhos se fecharem, soube que ele sorria por baixo da mão. Esse corno não sente dor? Segurei o seu pulso, abaixando-o e livrando seu rosto para observar o estrago; porém não dava para saber a gravidade da coisa devido ao sangue.

— Hyung, me desculpa... Droga, droga, droga! Eu não queria... E se tiver quebrado? — O dongsaeng tremia e estava totalmente pálido; tão nervoso que não consegui evitar me sentir sensibilizado e perdoá-lo pela gritaria. — Acho que vou vomitar... — Falou com a voz trêmula, mas ao invés de cobrir a boca, levou a mão aos olhos.

— Kookie, não se preocupa. Não foi nada de mais, eu é que sangro muito por qualquer coisinha. Desde pequeno sou assim... — Jimin disse meio fanho; julgando pela força do garoto plantinha, aquilo não era qualquer coisinha. O pouco nariz que ele tinha deveria ter afundado de vez dentro do rosto. Se tivesse sorte, ele poderia resolver tudo com uma cirurgia. Se não tivesse... poderia fazer cosplay de Voldemort pelo resto da vida.

— Jimin... Eu não queria... Foi sem querer... Eu avisei para não... Droga! Tá sangrando muito. Acho que eu quebrei seu nariz... — Faltava pouco para os olhos dele saltarem das órbitas e o queixo tremia com sua agonia; Jeon estava visivelmente a ponto de surtar.

— Jungkook, se acalma. Se esse desgraçado está rindo é porque está bem e, de certa forma, ele merecia esse chute. Quer ajudá-lo? — Ele me olhou e concordou com a cabeça freneticamente; seus olhos estavam cheios de lágrimas que ele parecia prender como podia. Era engraçado como aquele garoto enorme parecia uma criança assustada por ter feito a maior besteira do século. — Então traga uma toalha limpa molhada com água, precisamos limpar isso.

Jungkook foi em direção à cozinha, enquanto fiquei tentando enxergar algo em meio ao sangue que ainda escorria pelas narinas de Jimin. Ao contrário do outro, este estava calmo como se tivesse quebrado uma unha. Na verdade, eu tinha certeza que por dentro ele deveria estar querendo gritar e chorar de dor; porém se fizesse isso seu príncipe teria um ataque de culpa, então ele se limitava a respirar pesado e tentar fazer graça da situação.

Rapidamente o destruidor de narizes voltou trazendo um bolo de toalhas encharcadas que deixaram um rastro de água por onde ele passou. Em meio ao desespero, devia ter esvaziado a gaveta, pois o emaranhado de tecidos ia desde o fim do seu queixo até sua barriga, molhando toda a parte da frente da roupa que usava. Ele parecia ainda mais sem cor, então pedi que se sentasse logo antes que desmaiasse; já me bastava ter que cuidar daquele trouxa masoquista que sangrava como se tivesse sido esmagado por um rolo compressor.

O que não deixava de ser uma meia verdade...

Depois de pegar uma das toalhas que Jungkook trouxe e limpar o ferimento, vi que a situação estava como eu imaginava. Uma merda. Bastou olhar uma vez para o rosto limpo para saber que se tratava de um ex-nariz. Pelo menos ele ainda podia respirar pela boca, então dava para sobreviver. Jimin sempre me disse que eu era uma pessoa negativa, por isso eu estava tentando aprender a ver o lado bom das coisas com ele. Talvez não fosse da melhor forma – admito –, porém eu estava me esforçando. Ou talvez eu só estivesse rindo da desgraça alheia já que aquilo parecia uma punição divina para todos os pecados daquela alma corrompida. E justamente sua vítima teve o prazer de ser o seu algoz, embora este parecesse ser o que mais sofria com a situação.

Coitado...

Jungkook gritou mais algumas palavras, se xingou de vários palavrões – que desconhecia que ele usasse – e enterrou as mãos no cabelo. Entreguei a toalha para Jimin e pedi que ele segurasse o pano contra o rosto, inclinasse a cabeça para frente e respirasse pela boca; como uma boa criança que obedece a mãe, ele tratou de fazer tudo direitinho controlando a dor como podia.

Fui até o aparador próximo a porta e peguei as chaves do carro que estavam sobre o tampo de madeira escura. O cirurgião plástico moderno tratou de pegar sua primeira cobaia no colo e, se a situação fosse outra, até arriscaria a tirar uma foto da cena. Simplesmente acho eles o casal perfeito, e sei que o – agora literalmente – sem nariz adoraria ter uma foto dessas. Mas, como temos outras prioridades, descemos os andares de elevador e fomos em direção ao carro. Jeon sentou no banco traseiro ainda segurando sua noiva no colo, e pude jurar que vi aquela bunda enorme do loiro se remexendo aproveitando-se do contato do moreno.

É um doente mesmo!

Por essa ação e outras quinhentas, posso afirmar que um chute foi apenas dez porcento do que aquele tarado merecia. Ele é meu melhor amigo, mas não deixa de ser um imbecil.

Dirigi o mais rápido que podia ao hospital mais próximo, ouvindo a melação do casal no banco traseiro. Jungkook beijava a testa do outro, enquanto pedia mais um milhão de desculpas e prometia cuidar do Park. Arriscaria dizer que o sem noção estava adorando ter levado aquele chute, pois sorria feito um retardado e se agarrava forte ao peito largo, onde encostava a cabeça. Não demorou muito para ele perceber que se demonstrasse um pouco de dor, recebia ainda mais carinhos do seu dongsaeng e logo começou a fazer manha.

Sim, vivi para ver Park Jimin se derretendo no colo de um outro homem. E isso era uma das coisas mais engraçadas que já havia presenciado. Logo ele, Park Comedor Jimin, agindo feito uma poc dengosa. Se antes eu já não estava muito preocupado, agora queria mais que seu nariz tivesse se partido mais que o Titanic no naufrágio.

Ele merecia!

Chegamos ao hospital e Jungkook parecia achar que tinha quebrado as pernas do loiro, pois continuava carregando o corpo dele de um lado ao outro. Após fazer a ficha e contar o que houve para a recepcionista, ela nos direcionou para uma ala onde haviam algumas macas. Para a surpresa da enfermeira que nos atendeu, quando esta indicou a cama que Jimin ficaria, o dongsaeng sentou sem desgrudar do seu filhote de coala que já tinha enlaçado as pernas na sua cintura. E mesmo sobre os protestos da mulher, continuaram daquela forma. A fim de justificar a situação para ela, sussurrei que o Park tinha um pouco de demência e que só se acalmava quando estava perto do moreno. A enfermeira arregalou os olhos e – talvez por não desejar ter que lidar com um escândalo de um lunático – desistiu de insistir, indo chamar um médico.

Soro, remédios para dor e muito gelo. Duas horas passaram desde que chegamos ao hospital, o casal Jikook estava deitado um de frente para o outro na cama apertada. Jimin já dormia por conta dos analgésicos enquanto Jungkook falava manso passando uma de suas mãos no cabelo descolorido e selava os lábios fartos entre suas palavras inaudíveis.

Anteriormente, o médico também tentou separar os dois, porém o Park realmente se fez de doido e fingiu não escutar ninguém, não soltando seu homem por nada. E é por essas e outras que não consigo compreender o porquê de eles continuarem com essa fachada de amizade que obviamente é mais colorida do que a bandeira gay. É tão claro que os sentimentos envolvidos são...

Travei ao observar a silhueta loira e esguia se aproximar. Se Jungkook ainda tinha chance de reatar o namoro, provavelmente esta acabava de ser assassinada. Haejin estava com uma prancheta em mãos e, julgando pelos seus olhos inchados, que se enchiam de lágrimas diante a cena, ele não estava nada feliz.

 

 

 


Notas Finais


E então... considerações?
aushaus
O que dizer desse Namjin mais sofrido que eu cortando cebola? (porque além de chorar, ainda corto os dedos)
O que dizer desse Jin que não nota o quanto o namoradinho tá sofrendo por fingir ser amiguinho?

E sobre esse Jikook que não sai de cima, mas num fode? audaushdau
Vou nem comentar sobre esse Jimin que mesmo sem nariz não aquieta o fogo no cu...

só queria deixar claro que eu sou como o Nam nessa fic... só se fode na vida e encontra a felicidade no otp! adaushuda
Nam maior Jikook shipper que você respeita!

~x~ ~x~ ~x~ ~x~ ~x~ ~x~ ~x~ ~x~

Juro que amanhã vou tirar o meu tempo livre para responder todos os comentários com amor!
Então não desistam Jimin e continuem comentando!
quero ficar com meus dedos doloridos de responder seus comentários! s2

Postei uma fic nova Jikook e ficaria muito feliz se vocês dessem uma chance a ela... tem uma temática totalmente distinta de CASN, mas se puderem ler... ficarei imensamente grata!

Sinopse:
Jeon Jungkook é um artista plástico renomado que se mantém no anonimato graças a Namjoon. Um amigo que além de agir como intermediário entre o artista e seus clientes, é dono de uma galeria de arte, onde frequentemente o mais novo expõe.
Sua rotina é quebrada a partir do momento em que ele se vê imerso em sonhos que parecem ser reais demais para uma simples criação de sua mente. Neles, um garoto sempre aparece nas mais diversas situações, mas em todas o fim é o mesmo. Ele se mata das formas mais dolorosas possíveis para Jungkook que se sente de alguma forma ligado ao garoto de pele pálida, lábios cheios e cabelos coloridos.
Os sonhos acabam provocando uma forte obsessão no artista que se vê impulsionado a retratar o garoto suicida em todos os seus tons. Entretanto, ao contrário do que Jeon pensava, Park Jimin não era fruto da sua mente...

https://spiritfanfics.com/historia/the-colors-of-you-10054660

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Gostaria de agradecer a minha rainha, Tsundere mozona, @park-chan por fazer esse banner e uma outra capa pra CASN... assim você me mal acostuma!
Leiam a Apenas Clichê e todas as outras fics dessa mulher!
https://spiritfanfics.com/historia/apenas-cliche-9569932

~x~ ~x~ ~x~ ~x~ ~x~ ~x~ ~x~ ~x~

Também gostaria de indicar outra fic maravilhosa da minha neném coala, ao qual eu participo como revisora :3
https://spiritfanfics.com/historia/suffocating-jikook-yoonseok-8340829

~x~ ~x~ ~x~ ~x~ ~x~ ~x~ ~x~ ~x~

Amo vocês! s2
até o próximo capítulo :3


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