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História Como cães e gatos - Drama


Escrita por: jofanfiqueira

Capítulo 17 - Drama


As pessoas ao redor, o barulho dos instrumentos sendo recolhidos, os zumbidos de suas conversas, tudo parece insignificante. Eu e Fábio estamos sentados de frente um para o outro apenas nos olhando, apenas mantendo nossos olhos firmes um no outro, como uma espécie de jogo.

-Manu, o Jabá já foi e eu estou chamando um Uber pra gente, ok? – Juliana pergunta atrapalhando. Contrariada, tiro meus olhos de Fábio e encaro minha irmã concordando com ela, aviso que precisamos esperar por Isabela que foi ao banheiro alguns minutos antes. Suspeito que minha amiga tenha saído apenas para permitir que Fábio e eu tivéssemos algum tempo sozinhos, mesmo que estivéssemos tão cercados de pessoas. Juliana se afasta para falar com Martinha e Júnior, sentados numa mesa próxima à nossa, posso ouvir quando ela convida Martinha para voltar conosco.

Quando olho para Fábio novamente seus olhos acharam outro objeto de interesse: Lucas e Luiza que ainda discutem no canto do palco. Luiza parece mais calma, embora seus braços permaneçam cruzados enquanto Lucas fala.

-Você está bem? – Questiono.

-Desculpa. – Ele diz me olhando.

-Tudo bem. Eu acho muito bacana esse cuidado que vocês dois têm um com o outro.

-Eu só quero que ela seja feliz e algo me diz que não vai ser com esse cara.

-Você não acha que ele pode se apaixonar por ela?

-Poderia, se já não gostasse de outra. – Ele olha pra Juliana e depois volta a me olhar.

- A Ju tem namorado Fábio.

-Mas ela gosta dele? Ela gosta do Jabá? – O cenho de Fábio franzido me causa uma sensação esquisita, percebo que o ver em agonia parece me causar o mesmo sentimento.

-Não sei. Acho que sim. Eu não me sinto confortável falando sobre isso. – Confesso.

-Desculpa. Você tem razão. Vamos combinar o seguinte, não vamos falar sobre isso. Não vamos deixar que entre no meio da nossa história, ok?

-Ok! – Concordo. Me esforço para não sorrir, o modo como Fábio me olha me faz querer sorrir como uma idiota.

-Como vai ser amanhã? Eu te beijo na frente de todo mundo assim que você passar pelo portão ou esperamos pelo intervalo? – Fábio questiona com uma expressão cínica.

-Nem brinca com isso! – Retruco sorrindo.

-Vamos!? – Juliana pergunta se aproximando com Martinha ao seu lado.  

-A Isa foi no banheiro. – Digo.

-Tudo bem. Martinha, entra lá no Uber e fala que já estamos indo, por favor?  

Martinha se afasta e Juliana senta na mesa ao lado de Fábio.

-Então, Fábio... quais as suas intenções com a minha irmã? – Ela questiona. Respiro fundo torcendo para que Fábio não devolva a pergunta, a lembrança do que acabamos de conversar me deixa mais tranquila.

-Eu quero me casar com ela, talvez na próxima semana. – Fábio diz bem sério. Isabela chega para meu alívio.

-Olha a Isa ai! – Digo ficando de pé. – Até amanhã Fábio.

-Até amanhã. – Ele diz piscando.

-Tchau cunhado. – Juliana diz beijando o rosto de Fabio.

Entramos no Uber e a briga entre Lucas e Luiza é o assunto do trajeto, tópico fortemente alimentado por Martinha. Quando chegamos em casa, Martinha e Juliana vão para o quarto da minha irmã e eu sigo para o meu com Isabela, meu pai nem mesmo reclama, chegamos ainda mais cedo do que o combinado entre ele e Juliana. Além disso, ele tem problemas maiores. Bárbara continua se negando a volta pra casa, está agora hospedada na casa de Tita. 

-Vou fechar a janela pra você não sair flutuando. – Isabela diz sorrindo. Sinto mesmo que posso flutuar se quiser.

-Eu acho que estou perdida. – Digo me sentando. – É assim mesmo que as pessoas ficam? Se apaixonar é isso tudo?

-Não tenho certeza. – Isabela responde ainda sorrindo. – Acho que às vezes você acha que está apaixonada e descobre que não era bem assim. Minha mãe me contou que ela gostava muito de um homem antes de conhecer meu pai, mas que nunca se deu conta até que ele não estava mais lá... então eu acho que é uma questão de sorte, sabe? É preciso muita sorte pra se apaixonar por alguém e essa pessoa fazer o mesmo, pra que o mundo permita isso... muita coisa precisa conspirar a favor.

-Eu não conhecia esse seu lado romântico. – Afirmo.

-Não é romantismo, não no sentido popular da coisa. É racionalismo. Lógica. Nem sempre a gente consegue o que quer, nem sempre as coisas são reciprocas. Apenas aproveite o que você sente, o que o Fábio sente. Isso deve ser incrível.

-Você nunca se apaixonou?

- Não, mas eu não sinto por isso. A paixão parece infernal. – Ela argumenta, ambas caímos no riso.

-Obrigada por tudo. – Digo abraçando Isabela. – Por guardar esse segredo, por ter sempre algo sincero pra me dizer. Você é uma pessoa incrível.

-Eu sei! E você não é tão ruim.

-Essa sim é a Isabela que eu conheço. Sarcástica e um pouco seca.

Passado nosso momento emocional, tomamos banho, preparamos um lanche e ligamos a TV do meu quarto na tentativa de escolher algo para assistir enquanto comemos. Isabela insiste em um seriado sobre estudantes canadenses, ela explica a premissa enquanto eu organizo minha mochila para a escola no dia seguinte.

-Ok, podemos assistir sua série.Só preciso procurar meu livro de história, acho que deixei lá na sala. – Digo saindo do quarto.

A sala está um pouco iluminada pela luz que vem da cozinha, de lá, também veem as vozes de Martinha e Juliana, ambas baixas. Não dou atenção e caminho para o interruptor, mas quando escuto o nome de Luiza paro e me aproximo devagar.

-Porque ele é um capricho pra você. Ele, o Jabá. Qual vai ser o próximo dos seus caprichos? – Martinha questiona.

-Martinha, isso não é verdade.. – Juliana diz com uma voz de choro. – Eu sinto muito se parece, eu sinto muito se isso te machucou, mas você é minha melhor amiga, eu nunca faria nada pra te machucar, não de propósito.

-Juliana, eu te adoro. Você sabe disso. Mas você nunca pensa antes de agir. Eu sei que você é uma boa pessoa, que não faz essas coisas de caso pensado. Mas isso não faz diferença no fim das contas, faz? Quando uma pessoa atropela alguém, seja sem querer ou propositalmente, esse alguém está morto e pronto, a intenção não muda o resultado.

-O que eu posso fazer? Apenas me diga o que fazer?

-Eu não posso te dizer o que fazer. – Martinha afirma. – E eu acho que também não posso dormir aqui. Eu vou embora.

-Martinha...

Corro de volta pro quarto tentando ao máximo não ser notada. Assim que fecho a porta me encosto nela aliviada e confusa. Isabela me encara.

-Achou?

-Hãm?

-O livro. Achou o livro?

-Não. Mas eu procuro amanhã cedo. Vamos assistir? – Pergunto tentando agir normalmente. Mas o que aquilo tudo significava? Talvez a discussão e Lucas e Luiza não tenha sido sem fundamento, ele havia ligado pra Juliana no dia anterior. “Não deve ser nada demais”, disse a mim mesma rezando para estar certa, o tempo todo, uma grande preocupação me atingia: Como Fábio reagiria se minha irmã fizesse a dele sofrer?

..............................x.......................

São quase onze horas da noite quando saímos do hostel, a discussão de Luiza e Lucas acabou em uma trégua, e por trégua quero dizer que eles se beijaram várias vezes antes de deixarmos o local. Ouvi minha irmã se desculpar quando eles se despediram, Lucas colocou a mão em seu rosto e ofereceu o perdão cínico de um sorriso, me imaginei oferecendo o perdão de um soco no estômago, era isso que ele de fato merecia. Só Luiza mesmo pediria desculpas por ter ciúmes do namorado que está apaixonado por outra pessoa. Seguimos para casa só nós dois, calados o caminho inteiro. Eu queria dizer umas boas pra Luiza, mas não faz sentido chutar alguém que já está caído. Assim que descemos da condução, a algumas quadras de distância da nossa casa, Luiza rompe o silêncio:

-Você não vai dizer nada? – Ela pergunta. Respiro fundo tentando conter todas as coisas que queria dizer.

-O que você quer que eu diga Luiza? Ou melhor: o que eu posso dizer que não vai te irritar? – Pergunto sendo o mais calmo possível.

-Então você também acha que eu estou sendo imatura? O Lucas acha, ele acha que eu estou sendo ciumenta sem motivos, mas eu vi o jeito que ele olhou pra ela Fábio, eu não estou ficando louca.

-Eu acredito em você. – Digo. – Mas você sabia que ele gostava dela quando começaram, você quis tentar isso.... – Quero pontuar que ela não deveria estar nesse relacionamento, mas não o faço. Não quero que ela me odeie.

-Porque eu achei que seria mais fácil. Eu achei que ele me conheceria melhor e veria que ela é uma idiota.

-Ela é um idiota e ele provavelmente sabe disso, mas isso não muda o fato de que ele gosta dela. Vamos pensar assim, você, por que o Lucas? Por que não outro cara?

-Eu gosto dele. Entendi seu ponto. – Luiza diz passando a mãos nos cabelos.

-O que eu faço?

-Essa é uma pergunta que você precisa responder sozinha. – Comemoro mentalmente meu autocontrole nessa situação, mais um pouco e eu poderia ser considerado uma espécie de Gandhi. Viramos então na esquina de casa e minha onda de calmaria se mostra uma marola de pouca força, vejo minha mãe e o tio da Manuela aos beijos no portão.

-Olha só! – Luiza diz. Nos aproximamos e minha irmã provoca o casal, ainda abraçados eles não estão cientes de nossa presença. – Então, quando vamos ser apresentados ao seu namorado mãe?

Minha mãe se afasta de imediato. O rosto vermelho, um pouco sem fôlego. Caio permanece firme, não gosto do ar de convencido que ele tem.

-Eu pensei que vocês só iam chegar mais tarde. – Minha mãe diz tentando se recompor.

-Eu adoraria ter chegado mais tarde ou ser incapaz de enxergar, qualquer uma das opções. – Digo irritado. Caio deixa escapar uma risada e eu o encaro.

-Sua mãe disse que você era um pouco dramático, mas não tanto.

-E as pessoas dizem que você é um pouco babaca, mas ver de perto é outra coisa. – Digo entrando.

-Fábio! – Luiza e minha mãe dizem em coro. Não olho para atrás, sei que estou sendo dramático, o cara tem razão, mas é estranho encontrar sua mãe aos beijos com alguém, mesmo quando você sabe que ela merece encontrar alguém e ser feliz.

Entro em casa e encontro Giovane e Joana no sofá vendo algo na televisão. A garota está deitada no colo do namorado.

-Fábio, aconteceu alguma coisa? Seu rosto está vermelho. – Joana diz, ela se senta, parece genuinamente preocupada.

- Apenas um evento traumático, mas eu vou ficar bem. – Afirmo.

-Como assim? Explica essa história.

- Eu acabei de ver a minha mãe e o seu atual chefe se beijando no portão.

-Ricardo? – Giovane pergunta.

-Caio! – Digo. A ideia de minha mãe e Ricardo é ainda mais assustadora.

-Só isso? Eu achei que você tivesse sido assaltado ou coisa do tipo...

-Meu amor, acho que o cara tem razão. Um assalto seria menos constrangedor que encontrar a minha mãe aos beijos. – Geovane diz. Joana sorri olhando para o namorado e depois se volta para mim.

-Vocês homens são todos uns bobos mesmo, né? Acham que mães, esposas, irmãs, namoradas são posses.

-Você não é minha posse? – Giovane pergunta brincando com Joana. – Isso é um absurdo, porque eu sou sua posse.

-Você é minha posse com certeza! – Joana afirma gargalhando. – Fábio, sua mãe passou muito tempo sozinha, ela merece isso. Merece ser feliz.

-Eu sei. Eu só queria um pouco de aviso, e adoraria não precisar encontrar os dois praticamente transando no portão.

-Aí como você é exagerado Fábio! – Luiza diz entrando em casa. – Boa noite. – Ela diz ao notar a presença de Giovane.

-Boa noite. – Giovane responde sorridente. Nunca havia notado, mas ele e Joana sorriem de forma semelhante, sorrisos verdadeiros. Gosto dos dois juntos.

-Não deem ouvidos ao Fábio. Ele é um senhor de oitenta anos preso num corpo de um adolescente de dezesseis.

-Você deixou os dois sozinhos?

-Claro. Você também namora sem a minha supervisão certo? – Luiza pergunta sendo irônica.

-Não seja irônica. Isso é coisa minha.

-Claro, você é um único que pode ser um idiota nessa família. Me desculpe.

Giovane sorri e Luiza se desculpa por ele ter que ouvir nossa discussão.

-Não, eu estou achando graça. Vocês me lembram de mim e do meu irmão. Nós éramos assim, discussões bobas que acabavam em dez minutos. – Joana encara o namorado com uma expressão triste. – Não, nem comece ele diz beijando-a no rosto. Você não tem culpa nisso. E não tem nenhuma outra pessoa no mundo com que eu desejaria estar agora. – Eles começam a se beijar e Luiza solta ruídos que supostamente endossam a fofura do casal.

-Bem... – digo sem jeito. – Acho que já vi momentos íntimos alheios demais por hoje. Boa noite pra vocês. Eu vou dormir e tentar apagar alguns desses momentos da minha memória. Entro no banheiro e quando retiro minha camisa sinto nela o cheiro de Manuela, fecho os olhos e lembro de nossa proximidade mais cedo, seu corpo, seus lábios, aquelas eram memórias que eu não queria esquecer.


Notas Finais


Voltei! Gostaria de ter postado antes, mas realmente não deu.
Espero que tenham gostado!
Eu sei que teve pouco Fabiela nesse capítulo (prometo que no próximo terá bem mais) mas é que eu sou muito Jovane e queria colocar um pouquinho do casal em cena, mesmo que pelo ponto de vista do Fábio. Talvez eu inclua um POV Joana mais pra frente, só pra matar essa minha vontade (ou escreva um one shot do casal pra não atrapalhar o andamento da fic, ainda não sei).


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