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História Como cães e gatos - Verdades e Consequências, parte 2


Escrita por: jofanfiqueira

Capítulo 33 - Verdades e Consequências, parte 2


Depois do beijo entre minha cunhada e Tiago eu realmente pensei que as coisas tivessem chegado ao máximo, mas claro que eu estava enganada. A primeira vez que a garrafa parou em mim foi Carol quem me desafiou. Escolhi consequência, afinal de contas, ela não sabia nada sobre mim, e teria dificuldades em perguntar algo.

-Eu te desafio a entrar no mar. Você passou o tempo todo vestida. – A menina diz como se fosse a coisa mais natural do mundo.  

-Entrar no mar? – Antônio questiona. E a gente vai ficar aqui parado enquanto ela entra e volta para poder jogar? Ela não pode só tirar a roupa? Já que você, claramente, tá querendo ver a garota só de biquíni.

Não conheço esse Antônio o suficiente, mas gosto do modo como ele é cruelmente verdadeiro. É claro que a tal da Carol só queria me tirar da minha zona de conforto. Eu deveria ter escolhido verdade. Penso em Isabela, ela me diria que esse tipo de comportamento é abusivo e que eu não deveria ceder. Mas não tenho nada a esconder.

-Você não precisa fazer isso. – Fábio diz.

-Claro que precisa. As regras são... – Larissa começa, mas eu a interrompo.

-Tudo bem! – Digo ficando de pé, retiro meu short jeans deixando a parte de baixo do meu biquíni a mostra, em seguida, me dispo da enorme blusa xadrez que estou usando. – Você quer que eu dê uma voltinha? – Questiono ainda de pé. Me sinto exposta, todos me encaram, mas permaneço firme. Tiago solta um “fiu fiu” e outros agitam. Me sento novamente e Fábio beija meu rosto. – Acho que agora é a minha vez, certo? – Questiono. Rodo a garrafa, por sorte, ela para em Carlos. O jogo vai seguindo até que é a vez de Lua girar, a garrafa aponta para Fábio.

-Verdade ou consequência? – Ela pergunta.

-Verdade! – Fábio responde.

-Com quantas pessoas daqui você já transou? – Ela pergunta. Sinto uma raiva me invadir.

-Uma. – Ele responde já girando a garrafa. Todos me encaram, principalmente Luiza, mas minha cunhada, diferente dos outros, não parece esperar por uma explosão minha, seu olhar é de solidariedade. O jogo segue e eu não presto muita atenção, sinto uma vontade enorme de ir para a casa. Olho o relógio, ainda são quatro e meia. Meu constrangimento sai um pouco de foco quando Gustavo desafia Brenda a beijar alguém da roda e ela escolhe Lua.

-Pronto! Agora todo mundo sabe e vocês podem parar de cochichar. – Brenda diz sorrindo. Lua parece um pouco constrangida.

-Mas alguém quer sair do armário? – Antônio pergunta. – Acho que agora é o momento apropriado. Não? Tudo bem, mas acho que se a gente balançar ainda caí mais alguma coisa dessa árvore.

-Você não tem limites tem? – Amanda questiona encarando o irmão. Enquanto isso, Brenda já está girando a garrafa que para apontando para Luiza.

-Verdade. – Minha cunhada dispara.

-Gostou do beijo? – Brenda pergunta sorrindo. Luiza está claramente embaraçada. Tiago, sentado ao seu lado, olha para ela curioso.

-Não foi ruim.

-Isso não é uma resposta honesta. – Brenda argumenta. – Se tivéssemos um lugar apropriado vocês teriam que ficar juntos por sete minutos.

Nunca joguei verdade ou consequência antes, mas já ouvi falar disso. Os norte-americanos chamam de “sete minutos no paraíso”, o casal pode fazer nada nesse meio tempo, mas aposto que isso não aconteceria entre Luiza e Tiago. Eu nunca pensei nos dois juntos, mas o beijo não mentia, ouve um momento que em todos nós ficamos calados, apenas observando-os enquanto eles se olhavam, como se só estivessem os dois na praia inteira. Posso ser inexperiente, como todos aqui já sabem pela resposta de Fábio à pergunta de Lua, mas não sou idiota.  

-Ok... eu.. eu gostei do beijo sim. – Luiza confessa.

Fábio não parece se importar com o comentário. Na verdade, ele parece mais interessado em passear seus dedos pela minha cintura. Interrompo seu recém descoberto passatempo para vestir novamente minha blusa. Está ficando frio.

A brincadeira segue. Até que Larissa gira e para em Fábio. Ela encara meu namorado com certa malicia no olhar. Faço um esforço de outro mundo para não ter pensamentos que Isabela indicaria como “reflexos da cultura patriarcal que ensina mulheres a competirem por homens”, mas termos como “vagabunda” circulam a minha mente.

-Sexta-feira, no bar, aquilo mexeu com você? Sonhou comigo depois?

-Acho que é hora de acabar com essa brincadeira. – Tiago diz.

Olho para Fábio. Sua expressão de culpa deixa tudo claro.

-Manuela...

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Tudo acontece tão rápido que eu mal consigo processar. Manuela levanta sem dizer nada e se afasta do grupo. Fábio vai atrás dela.

-Qual é o seu problema hein? – Tiago pergunta irritado olhando na direção de Larissa.

-Meu problema? – A loira devolve. – O Fábio vem com essa garota aqui, traz ela para andar com os meus amigos e eu sou a errada na história? Ah, tenha paciência!

-Larissa, eu te pedi para não causar problema. Era tão difícil assim? Bastava não provocar. – Carlos fala.

-Você é meu irmão. Deveria me defender, não ficar do lado dela.

-E desde quando você precisa de defesa? As pessoas é que precisam de proteção contra você...

-Não importa. Eu te defendo sempre! Eu fico do seu lado e eu cubro as suas mentiras. Guardo seus segredos. Mas é claro que eu sou o monstro porque não engulo quando uma pirralha metida aparece com o meu ex-namorado. – Ela grita.

Não sei do que ela está falando ao se referir a Carlos, mas não me importa. Aquilo é a gota d’agua para mim.

-Você acha que é a vítima aqui? – Tiago questiona. – Vamos ver! Primeiro você namora com o cara por mais de um ano. Traí ele. Inventa todo mês que a menstruação está atrasada só para depois perceber que não estava. E ainda tem a coragem de tentar fazer ele ficar maluco de vez com a história de estar grávida. Para que? Por diversão? Ele reprovou de ano! Teve que mudar de escola. Mas para você estava tudo certo, não é? Agora, quando ele está feliz novamente, você...

-Tiago! Cala a boca! – Brenda grita.

-Brenda, por favor. – Larissa pede.

-Você não pode ficar aqui ouvindo esse monte de absurdo sem dizer nada. Sem se defender.

-Que possível defesa ela poderia ter? – Questiono.

-Nenhuma. Você tem toda razão Tiago. Eu enganei o seu amigo para que ele voltasse para mim e depois mudei de ideia. Eu sou uma pessoa terrível. – Larissa afirma. Tem algo na sua expressão, algo que eu sei que já vi antes. Culpa, vergonha. Então, dessa vez, é Larissa quem vai embora. Carlos vai atrás dela.

-Acho que encerramos por aqui. – Antônio diz.

Todos começam a juntar suas coisas. Percebo que Manuela deixou suas coisas. Bolsa, celular, short. Me despeço de Carol, Felipe, Amanda e Gustavo. Eles são os primeiros a partir.

-Acha que eles foram embora? – Tiago pergunta.

-A Manuela deixou as coisas dela aqui, então acho que não.

-Vamos procurá-los. – Ele diz pegando no meu braço. Sinto um arrepio correr pelo meu corpo.

-Tiago... – Brenda diz se aproximando. – Sinto muito por ter gritado com você, mas é que a Larissa é minha melhor amiga e eu não podia deixar aquilo continuar. Eu sei que ela pode ser terrível em milhões de aspectos. Sei que o namoro dela com o Fábio foi ruim para ele, que a Larissa fez coisas que não deveria ter feito. Mas você não faz a menor ideia de como foi para ela, de tudo que ela passou. E ela realmente gostava do Fábio. Talvez ainda goste.

-Ela estava grávida não estava? De verdade? – Pergunto. Brenda prende o lábio como se tentasse decidir o que dizer, mas não precisa. Eu sei exatamente qual era a resposta.

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-Manuela! Dá para você parar e me ouvir por um minuto? – Digo finalmente a alcançando. Estamos perto da avenida, afastados da praia. Manuela se vira para me encarar, seus olhos estão vermelhos, cheios de lágrimas. Ela olha para cima impedindo das lágrimas de cair.

-Tudo bem. Me explica... fala para mim Fábio, qual a justificativa que..

-Não aconteceu nada, eu juro! – Digo.

-E nada mexeu com você? Foi isso?

-Se você tivesse ficado lá e me deixado responder, saberia que não. – Falo tentando me aproximar, Manuela recua um pouco. Eu não poderia contar para a Manuela que aquilo de fato mexeu comigo, principalmente porque não foi algo emocional, foi apenas físico. Não significava nada.

-Então por que não me contou que ela estava no bar?

-Porque eu te conheço o suficiente para saber que você ficaria chateada.

-Com o que Fábio? Que diabos aconteceu?

-Ela e Brenda nos chamaram para jogar. Eu e o Tiago aceitamos. Eu sei que não deveria ter aceitado, mas eu queria deixar claro que ela não representa nada para mim. Mas em algum ponto da noite ela começou a se insinuar e...

-Ela ofereceu algo que eu não ofereço. Foi isso? – Minha namorada questiona constrangida. Respondo acenando positivamente com a cabeça.

-Mas isso não faz diferença. – Afirmo. -Manuela, presta atenção eu nunca faria nada para te machucar, nunca.

-Você ainda... – Ela respira fundo. – Ainda gosta dela?

-Não! Eu quero ficar com você.

-Por que? Por que você quer ficar comigo quando aquela garota que é linda, uma mulher e não é uma pirralha, quer, claramente, voltar com você? – Ela questiona. Deixo escapar um sorriso e Manuela me encara. – Qual a graça?

-Qual a graça? A graça é que você é faixa Laranja de Jiu-Jitsu e briga com caras o dobro da sua idade, mas se deixa intimidar por algo assim.

-Não seja sarcástico comigo. – Ela diz parecendo ainda mais brava. – O que você queria? Que eu batesse em vocês dois?

-Não meu amor, eu só estou tentando te dizer que você não precisa ficar intimidada com nada que venha da Larissa, ou de qualquer outra. Eu quero estar com você por que eu te amo. E eu nunca me senti assim antes.

-Eu estou falando sério com você Fábio. Essa é a sua chance de pular fora. Eu não vou te odiar por isso. – Manuela afirma. Uma lágrima solitária começa a escorrer pelo lado esquerdo do seu rosto. Passo minha mão impedindo-a de cair.

-Manuela, você tem razão, eu poderia sim estar com ela se quisesse, e eu sei que isso pode soar presunçoso, mas o ponto é que eu não quero. Eu não quero ela. Eu quero você. – Manuela permite minha aproximação e eu a abraço. Sinto o cheiro de mar nos seus cabelos. -Isso aqui, o que nós dois temos... Isso significa mil vezes mais do que qualquer coisa que eu tive com ela ou com qualquer outra pessoa. Dá para colocar isso nessa sua cabeça?

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-Luiza, você acha que é verdade? – Tiago me pergunta. – Acha mesmo que a Larissa estava grávida e abortou?

-Não tenho certeza, mas pela cara da Brenda eu apostaria que sim. – Respondo. Estamos caminhando pela orla da praia no sentido no qual Fábio e Manuela saíram. – Eu não sabia de tudo aquilo que você falou. Não sabia que a Larissa tinha traído o Fábio, nem que ela falava aquelas coisas.

-O namoro deles era a maior furada de todas. E eu sei que eu costumava brincar sobre a possibilidade deles voltarem, mas eu nunca torci para isso. A Larissa era louca pelo Fábio, ninguém pode negar isso, mas a Larissa é louca. Ela dizia sim que estava com a menstruação atrasada e deixava o Fábio maluco, era uma espécie de tortura mental.

-Ele nunca me falou nada disso.

-Claro que não. Porque é assim que o Fábio é, ele máscara o que sente com sarcasmo e ironia e segue em frente como se tudo estivesse bem. Até que as coisas ficam insuportáveis e ele perde todo o controle. Além disso, ele nunca falaria do assunto com você Luiza. Você é a irmã mais nova dele, ele sente que precisa te proteger, te ajudar, não o contrário.

Tiago tem razão. Fábio sempre foi assim. Quando nosso pai foi embora ele ficou evidentemente triste, mas com pouco tempo estava sendo passivo-agressivo sobre o assunto. Até hoje, ele age dessa forma quando alguém o menciona. 

 -Você acha que eu deveria contar a ele sobre a história de que a Larissa possivelmente estava grávida?

-Não. De forma alguma, não é uma história sua para contar. Se alguém tiver que contar isso para o Fábio, esse alguém é a Larissa. E, particularmente, eu espero que ela nunca conte, se é que é mesmo verdade. Ele tá bem, tá feliz. E não há nada que ele possa fazer sobre isso além de se sentir culpado.

-Você tá certo. - Admito. - Mas é estranho isso, quer dizer, era fácil simplesmente culpar ela por tudo antes, mas agora... só de imaginar que ela pode ter passado por isso sozinha. É horrível.

-É horrível sim, mas a Larissa poderia ter contado a verdade ao Fábio. Eles poderiam ter decidido juntos o que fazer. Ela não precisava ter passado por isso sem ajuda.

Não sei muito bem o que pensar sobre o assunto. Por um lado, caso ela tenha mesmo feito um aborto, eu sinto pena da Larissa que precisou passar por isso sozinha. Por outro, eu sinto que Fábio tinha direito de saber. Gostaria que a Isabela estivesse aqui, ela saberia exatamente o que dizer sobre o assunto. Olho para frente e vejo meu irmão e Manuela abraçados.

-Olha eles ali. – Indico. Estão a uma distância considerável.

-Luiza, espere um minuto... – Tiago diz me segurando. – Eu sei que isso, bem... talvez não seja o momento, mas será que qualquer dia desses, quando você estiver se sentindo melhor com toda essa história do seu ex e...

-Sim. – Digo interrompendo-o. Droga! E se ele não fosse mesmo dizer o que eu estava pensando? – Ia me convidar para sair não ia? Porque só agora eu pensei em como posso ter me precipitado.

-Ia sim. – Ele responde sorrindo.

-Qualquer dia desses então. – Devolvo. Estou me sentindo genuinamente bem pela primeira vez em muito tempo. 


Notas Finais


Não me odeiem, eu gosto de fazer com que as coisas seja menos preto no branco.
Ainda não sei no que isso vai dar, não sei se o Fábio vai saber dessa história ou não, mas acho importante mostrar que nem todo mundo é necessariamente bom ou mal, que todo mundo tem seus problemas. Queria mostrar que a Larissa continua sendo um pessoa terrível, mas que ela não é só uma pessoa terrível. Enfim... próximo capítulo - existente apenas na minha mente - trará revelações para Jucas, detalhes sobre como Luiza se sente com relação a essa aproximação com Tiago e um pouco de desentendimento entre nossos protagonistas lindos, mas prometo que tudo isso só vai deixá-los mais fortes. Abraços!


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