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História Como cães e gatos - "Manuela!"


Escrita por: jofanfiqueira

Capítulo 35 - "Manuela!"


[Luiza]

Isso não está acontecendo. Isso não está acontecendo. Repito comigo mesma de olhos fechados, e então abro os olhos novamente e lá estão eles. Martinha e Lucas, ambos me encarando como se eu fosse um fantasma. “Ele não é o pai do filho dela” meu inconsciente me diz e por um minuto, apenas por um minuto, eu penso que as coisas vão ficar bem entre nós dois, “ele não me traiu, está tudo bem”, mas então um choque de realidade me atinge. Ele havia feito aquilo pela Juliana, para não magoá-la, ele estava namorando comigo e preferiu arriscar o que tínhamos, preferiu partir o meu coração para não machucar a Juliana. Claro que preferiu, ele a ama, sempre amou. Eu fui apenas um remendo, a segunda opção, o prêmio de consolação. E em parte eu sabia disso, não podia culpa-lo sozinho, mas eu também achava que com o tempo ele ia entender que me amava, não é assim nas histórias de amor? Cara é apaixonado por garota que a esnoba, até que conhece mocinha boa gente e entende o que é amor de verdade. Meus Deus como eu sou idiota!

Lucas se afasta de Martinha e caminha na minha direção, dou dois passos para atrás involuntariamente, meu corpo, sozinho, parece perceber que eu preciso me distanciar dele.

-Luiza, eu posso explicar...

-Explicar o que Lucas? Explicar que você não é o pai do filho da Martinha e ainda assim topou viver essa mentira sem se preocupar com o que isso faria a gente, comigo? Você não teve a menor consideração por mim...

-Luiza... – Martinha me chama, eu tiro meus olhos de Lucas para ela, seus olhos verdes estão cheios de lágrimas, a pele branca vermelha. – Não culpa o Lucas, ele só estava sendo um bom amigo, o melhor de todos. Se você quer mesmo culpar alguém, deveria me culpar. – Ela suplica.

Ah, mas eu quero culpa-la, quero culpar o mundo inteiro. Mas como eu poderia fazer isso? Foi o Lucas quem fez isso comigo, era com ele que eu namorava, era ele quem deveria ter tido o cuidado de tentar me preservar. Nesse momento, percebo que não tenho raiva alguma de Martinha, tenho pena, muita pena, mas nenhuma raiva.

-Você não é culpada de nada. – Respondo tentando me recompor. – E eu espero que tudo fique bem com você e com o seu filho, mas agora eu realmente preciso ir. Só queria te devolver isso. – Falo entregando a bolsa da garota. Saio da sala, Manuela permanece, talvez ela esteja em choque, assim como eu, não sei. Lucas vem atrás de mim e pega pelo braço, encaro seus olhos castanhos, eu costumava me perder neles, agora não sinto nada além de um grande vazio. – Que infernos você ainda pode ter para me dizer?

-Apenas, não conte para ninguém nada disso.

-Claro! – Digo sorrindo, é uma risada masoquista de dor e incapacidade de confrontar o absurdo as entrelinhas desse pedido. É claro que ele estava tentando continuar na sua cruzada de proteger Juliana. Por que ela? Por que ele não podia me amar como a amava? Espantei os pensamentos, só quero que ele desapareça da minha frente, só quero desaparecer. –Não se preocupe, eu nunca mais pretendo nem mesmo pronunciar o seu nome, imagine falar sobre qualquer coisa que te envolva. – Afirmo.

[Manuela]

Luiza e Lucas deixam a sala num rompante, de forma respectiva, e estou prestes a fazer o mesmo quando Martinha pede para que eu fique. Ela está chorando, e isso sozinho seria suficiente para me fazer ficar, mas não é só isso, aquela não é uma estranha, é a Martinha. A melhor amiga da minha irmã, eu a conheço desde que consigo lembrar. Martinha e Ju costumavam me vestir e me encher de maquiagem quando éramos mais novas, elas tinham uns nove anos, eu tinha seis ou sete. Detestava vestidos e batons, mas adorava ficar perto da minha irmã e de sua amiga. Ela sempre foi bondosa comigo, então eu não consegui ir, mesmo estando preocupada com Luiza.

-Você não deveria ficar assim, pode fazer mal para o bebê.

-Você deve estar achando que eu sou uma pessoa horrível.

-Eu te conheço o suficiente para saber que isso não é verdade. – Respondo. Me aproximo de Martinha, sento na ponta da cama. –Posso te perguntar uma coisa?

-Você quer saber porque eu não contei a verdade, porque inventei toda essa história com o Lucas, não é? – Ela pergunta. Aceno positivamente com a cabeça. – Eu estava brava com a Juliana por causa do Lucas, eu sabia que ela estava começando a perceber a burrice que tinha feito ao escolher o Jabá em vez do Lucas, mas o Lucas é meu melhor amigo e eu não queria que ela acabasse com o namoro dele e da Luiza, ele parecia tão feliz ao lado dela. E então eu e Ju tivemos uma briga, ela e o Jabá também estavam brigados, eu encontrei com Jabá, nós começamos a conversar, uma coisa levou a outra e acabamos dormindo juntos. – Ela confessa. –Foi estúpido, eu me senti terrível e nunca mais aconteceu novamente. E então eu descobri que estou grávida e o Jabá é o único cara com que eu já estive Manuela, eu nunca mentiria sobre...

-Ei, você não precisa se justificar quanto à isso, não para mim pelo menos. – Digo abraçando-a. – Eu só não entendo porque você e o Lucas fizeram isso.

-Eu fiquei com tanto medo de contar a verdade para a Juliana. E eu pensei em fazer um aborto, mas eu não queria, eu quero ter esse filho, de verdade, pode parecer idiota, eu sei, mas eu me sinto outra pessoa desde que descobri. Eu quero ter meu filho, cuidar dele.

Pessoalmente eu não entendo como alguém da idade de Martinha, com o futuro pela frente, pode querer ter um filho, mas respeito. Acho que existem diferentes possibilidades de futuros e que optar ter esse filho é uma escolha válida.

-Eu sabia que eu ia partir o coração da Juliana se contasse a verdade e eu estava disposta a fazer isso, mas então a notícia de que eu estava grávida surgiu e o Jabá me procurou perguntando se ele podia ser o pai e que se fosse eu tinha que falar logo para que ele pudesse me ajudar a “resolver” isso o mais rápido possível. Eu neguei, obviamente. Eu disse que ele não era o pai e contei tudo para o Lucas, aos prantos, e meu amigo disse que me ajudaria, ele disse que assumiria a paternidade do meu filho se fosse preciso e me prometeu que tudo ia ficar bem...

-Eu disse mesmo não disse? – Lucas pergunta. Ela sala precisa mesmo de mais privacidade, a cortina realmente não nos dá nenhuma. – Sinto muito por ter te pressionado hoje Martinha, eu não deveria ter feito isso, eu estava sendo egoísta, eu estava pensando apenas em mim mesmo. Mas tudo bem, leve o tempo que precisar.

-Martinha, eu entendo que você está com medo de contar a verdade. Com medo de como o Jabá vai receber essa notícia, mas você não precisa dele para ter esse filho. Você tem sua família, tem amigos, você não precisa fazer isso sozinha. – Afirmo.

Continuamos conversando e eu então eu subitamente lembro de Luiza. Lucas me conta que ela foi embora sem deixar ele explicar. Deixo claro que não tiro a razão da minha amiga. Lucas convence Martinha a ligar para Jéssica e assim que a irmã da garota chega eu e ele vamos embora. Jéssica parece irritada por Lucas ir embora, me sinto mal por ele.

-Eu não fiz isso apenas pela Ju, você entendeu isso, não entendeu? Eu não podia deixar a Martinha na mão. Pode tentar explicar isso para Luiza? – Lucas pergunta enquanto deixamos o hospital.

-Eu posso tentar, mas a melhor coisa que você pode fazer pela Luiza é deixa-la em paz. Ela é forte e vai conseguir superar isso, apenas mantenha distância dela. Além disso, você já tem coisas demais para se preocupar.

........................x...................

[Fábio]

Com a proximidade da segunda fase das Olimpíadas de História, eu, Belinha e Marta estamos intensificando nosso tempo de estudo, hoje, particularmente, estudei mais tempo apenas com Belinha, pois Martinha disse que estava um pouco enjoada e precisava sair mais cedo. Ana protestou um pouco lembrando que a segunda etapa é uma fase de grupo, uma fase em que nós três precisaremos estar afiados para lidar com as perguntas, mas Belinha fez questão de lembrar que Martinha está grávida e que a monitora de História teve um desempenho muito superior ao nosso na fase individual, merecendo um desconto duplo. Saí do Dom Fernão por volta das dezessete horas, quando Artur apareceu para buscar Belinha, vim direto para casa, achei que Luiza estaria aqui para que eu a explorasse por alguma comida, mas acabei me virando na cozinha. Estou assistindo um filme quando minha irmã entra em casa e passa direto para o quarto, chamo seu nome, mas ela me ignora, então desligo a TV e vou atrás dela.

-Você viu a Manuela na academia? Porque eu estou tentando falar com ela, mas acho que ainda está brava, não me respondeu nenhuma mensagem, nem... – Paro quando percebo que Luiza está chorando. – O que houve?

-Eu não quero falar disso. E, especialmente, não quero falar disso com você. – Minha irmã responde enfiando o rosto no travesseiro. Me sento no chão, me encostando na lateral da cama. Não posso culpa-la por não querer falar comigo, não sou mesmo a pessoa mais compreensível de todas, principalmente com ela. Acho que é verdade que nós exigimos mais daqueles que mais amamos, e eu sempre espero que a minha irmã seja mais forte, mais esperta, que tome melhores decisões e acabo reagindo mal quando ela não atende essas minhas expectativas surreais.

-Prometo que não vou dizer nada de sarcástico ou cruelmente e desnecessário. – Falo tentando encorajá-la.

 -Eu descobri algo sobre o Lucas hoje.

-Algo pior do que ele ser pai do filho da Martinha? – Pergunto. Faço um esforço para expurgar qualquer tom irônico da minha fala.

-Por incrível que pareça sim. – Ela diz me olhando. Luiza senta na cama e me conta tudo que aconteceu, mas pede para que eu não conte nada a ninguém. Estou surpreso, genuinamente surpreso. Não sei bem o que dizer a Luiza. Por um lado, Lucas foi um bom amigo no momento em que aceitou participar daquela mentira, ele também estava fazendo isso para proteger a Juliana, o que é grande ira da minha irmã, mas eu consigo, estranhamente, entender suas razões, não posso dizer isso a Luiza, mas acredito que eu seria capaz de algo do tipo para proteger Manuela. Mas é claro que a minha irmã saiu como casualidade nesse plano, como uma baixa de guerra.

-Você sabe que vai ficar tudo bem, não sabe? Eu sei que você provavelmente não quer ouvir nada desse tipo agora, mas eu sei que você vai ficar bem Luiza. Você vai ser tão feliz, e a sua felicidade não precisa depender de um Lucas ou de qualquer outra pessoa além de você mesma. Eu não te digo isso com muita frequência, mas eu te admiro muito. Você é forte, corajosa, fala o que pensa, qualquer cara seria sortudo por você amá-lo e os que não conseguirem ver isso, bem, é ele quem vai sair perdendo.

-Você acha mesmo?

-Claro que acho. Você é filha da Dona Tânia, é claro que vai ficar bem. Eu vou te deixar sozinha, ok?

-OK! – Minha irmã responde com um pequeno, mas esperançoso sorriso. – Fábio... – ela chama quando já estou de saída. – Obrigada por tudo, por me dizer essas coisas.

-É tudo verdade. – Respondo.

...............x..............

-Manu, tem um pacote lá embaixo para você. – Juliana diz. Encaro minha irmã em sua preservada bolha de ignorância. Ela não sabia de nada sobre Lucas, Martinha e Jabá ainda, eu queria contar a verdade, queria mesmo, mas entendi as razões de Martinha e resolvi respeitar o tempo dela, já que a garota prometeu que resolveria as coisas o mais rápido possível. Ela e Lucas querem contar a verdade a Juliana juntos, querem que ela escute isso vindo deles. Acho justo. - Manuela, vai deixar o pacote esperando? – Ela questiona me puxando para a realidade.

-Que pacote é esse que chega numa hora dessas? – Giovane pergunta. Ele está sentado ao de Joana no sofá, hoje o projeto piloto de algo que Juliana e Giovane inventaram para tentar aproximar nossa família. Fico empolgada com o fato de que Juliana queira essa proximidade com Joana, mas ainda é estranho estarmos aqui, nos preparando para janta em família, sem a presença da Bárbara. Finjo que não escutei a pergunta e deixo para Juliana a tarefa de tentar explicar, o que me causa grande arrependimento no meio do caminho. Do jeito que a minha irmã é desencanada é bem capaz que ela simplesmente diga “é o Fábio, filho da Tânia, namorado da Manu”. Desço e encontro Fábio parado no lobby, ele parece não saber muito bem como agir, mas sorri ao me ver, então caminho com ele até o jardim, além de ser um local mais reservado, quero sair do possível campo de visão do meu pai que deve chegar a qualquer momento para o jantar.

-É sério que você ainda tá brava comigo? – Ele pergunta sentando num dos bancos. Eu estava brava com Fábio, muito brava, mas tudo que aconteceu hoje, a conversa com Isabela e, principalmente, o que Lucas fez por Martinha e Juliana colocou as coisas em perspectiva. Então agora, de verdade, encarando os olhos claros do meu namorado, tudo que eu quero mesmo fazer é me jogar nos seus braços, mas meu lado racional diz que precisamos ao menos tentar conversar.

- Eu não estou brava. –Confesso. – Mas, por mais que eu entenda as suas intenções, quero deixar claro que não preciso que você me proteja Fábio. Proteção demais pode ter efeito contrário, se você tivesse me dito o que aconteceu no bar, a Larissa não teria entrado na minha cabeça daquela forma, eu estaria preparada. E eu sei que existem coisas que eu vou preferir não saber, isso acontece em todo relacionamento, mas....

-Vem aqui. – Me chama me guiando pela cintura, sento ao seu lado colocando minhas pernas por cima de uma das suas coxas. – Eu prometo... – ela começa a dizer beijando meu pescoço. –Que eu não vou mais tentar te proteger, nunca mais. – Ele diz sorrindo.

-Isso não tem graça Fábio, eu estou falando sério. Às vezes a gente sente que guardar um segredo é necessário para proteger alguém, mas isso acaba complicado tudo. Eu não quero desconfiar de você, isso não é saudável... e eu não quero ter um relacionamento cheio de drama e tudo mais.

-Você tá falando da gente ou do quíntuplo amoroso mais complexo de todos os tempos?

-Quíntuplo?

-É... Luiza que ama o Lucas, que a ama a Juliana, que o ama a Martinha, mas ficava com o Jabá que não ama ninguém.

-Como você consegue fazer piada de tudo? – Pergunto encarando-o. Apesar da piada, Fábio está sério.

-A versão curta é que, basicamente, eu guardo tudo que sinto e uso sarcasmo como escudo. Para rever uma versão mais complexa você deveria falar com a minha mãe, ela lembra cada palavra que o psicólogo usou quando ela me obrigou a ver um depois do divórcio. – Ele termina de falar prendendo um sorriso, e então eu finalmente me desarmo. Percebo que Fábio é sempre assustadoramente honesto e que se ele não me contou sobre o bar é porque realmente acreditava que era a melhor coisa a se fazer. 

-Eu te amo.  – Afirmo passando minha mão no rosto de Fábio, ele me puxa para mais perto e nos beijamos.  

-Isso quer dizer que você não está mais chateada? – Fábio pergunta. Aceno a cabeça positivamente e ele fala algo sobre como deveríamos brigar com mais frequência, e então eu protesto batendo em seu ombro. Falamos um pouco sobre Luiza e Fábio garante que a minha cunhada ficará bem, aproveito e conto tudo que Martinha e Lucas me contaram, partes da história que a própria Luiza ainda não sabe e que, talvez, precise saber.

-Mas se o namorado do Jabá com a Juliana acabou, qual o impedimento? Eu entendo que ele vá ficar bravo, quem é que iria querer ser pai aos dezoito anos? Mas o que o Jabá efetivamente pode fazer? Abortar nem mesmo é legal, deveria, mas não é.

Encaro Fábio surpresa com a opinião dele sobre abortos, gosto de saber que ele suporta o direito das mulheres de escolher.

-Não sei. – Confesso. – Mas é o Jabá, você já viu como ele fica alterado com as coisas, como naquele dia lá no aniversário da Joana. E ele vai saber que o filho é dele se não for do Lucas.

Meu celular vibra e eu confiro uma mensagem de Juliana “Seu Ricardo está chegando”. Beijo Fábio e aviso que preciso ir, meu pai vai entrar pelo portão lateral, o que significa que não passará no mesmo local pelo qual Fábio irá sair, então acompanho meu namorado até o portão.

-Você acha que a Luiza deveria saber que o Lucas fez aquilo para proteger o bebê da Martinha e não só por causa da Juliana? Acha que isso pode ser positivo para ela?

-Se ela quiser falar sobre isso, você deveria contar sim. Não foi você mesma quem disse podemos machucar alguém tentando protegê-lo? – ele fala com um sorriso presunçoso, eu adoro esse sorriso, então coloco meus braços ao redor do pescoço de Fábio e o beijo novamente.

-Manuela! – A voz do meu pai grita, me separo de Fábio num pulo e encaro a mistura de surpresa e ira na expressão de Seu Ricardo.


Notas Finais


Estou super enrolada com trabalho, mas, finalmente, tive tempo de concluir esse capítulo. Desculpem pela demora, não ficou do jeito que eu queria, mas como realmente o tempo tá complicado, resolvi postar. Espero que gostem! Vou tentar não demora tanto.


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