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História Como cães e gatos - Voto de confiança


Escrita por: jofanfiqueira

Capítulo 36 - Voto de confiança


Estou no sofá pelo que parece uma eternidade, enquanto meu pai caminha pela sala falando milhões de coisas sobre como eu sou nova demais para ter um namorado e nos lembrando que, supostamente, nos odiamos e, simultaneamente, com os olhos no telefone. Mal consigo encarar Fábio, ele está sentado na poltrona que fica ao lado do sofá, sinto inveja do modo controlado como ele encara seu Ricardo, também sinto uma vontade imensa de estar segurando a mão dele nesse momento, sei que seu toque me passaria segurança, me deixaria menos desconfortável. Em vez disso, estou com a pele queimando da vergonha.

-Pai, pelo amor de Deus, para que todo esse escândalo? A Manu tem quinze anos, não doze. – Juliana afirma. – Além disso, a Bárbara começou a namorar com essa idade e estava tudo bem.

-É diferente! – Meu pai fala num tom muito alto.

-E eu posso saber por que é diferente? – Joana questiona enfrentando-o. Eles são tão parecidos, o modo impositivo como se colocam no mundo. Talvez Bárbara tem um pouco de fundamento, não nos seus atos, mas no modo como se sente intimidada por Joana, ela é mesma a mais parecida das filhas, talvez meu pai possa se ver mais nela.

Estou tão concentrada pensando em Joana, talvez porque quero prestar atenção em qualquer coisa menos do que de fato está acontecendo, que demoro um pouco para me situar do quão humilhante é esse momento acrescendo a ele o fato de que não estamos apenas eu, meu pai e Fábio. É claro que isso tinha que acontecer justamente hoje, com a casa cheia, com Giovane e Joana como expectadores. Só ficaria melhor se a campainha tocasse e a Bárbara aparecesse.

-Porque a Bárbara na idade da Manuela já era madura o suficiente para saber das coisas, e ela teve a mãe dela para ensinar o certo e o errado, para ensinar como lidar com garotos e esse tipo de coisa... - Sinto uma raiva tomando conta de mim, basicamente ele acredita que eu seja uma grande idiota. – E você também não namorou antes dos dezesseis. – Meu pai diz encarando Juliana.

-Olha Ricardo, eu sei que não tenho nada a ver com isso, mas o Fábio é um garoto excelente. – Giovane diz.

-Claro que é! Eu também era um excelente garoto aos dezesseis anos, só queria passear de mãos dadas e trocar bilhetes, aposto que você também. – Meu pai diz com deboche. – E você tem toda razão Giovane, isso não é assunto seu.

-O senhor está passando um pouco dos limites... Fábio começa a dizer, mas meu pai o interrompe.

-Ele é tão bom que está namorando com a minha filha as escondidas. Se fosse mesmo bom, teria vindo falar comigo, até mesmo o Jabá fez isso. – Seu Ricardo argumenta.

-Claro, e isso tornou ele o namorado do ano. – Juliana pontua.

-Eu queria contar... – Fábio começa a dizer, mas meu pai o interrompe dizendo que de boas intenções o inferno está cheio e que todos dizem “eu ia fazer isso, eu pretendia fazer aquilo...” e então a campainha tocou e a realidade da chegada ainda foi pior do que o meu delírio sobre Bárbara. Olhei para o rosto do meu tio e desejei a habilidade de desaparecer, ele é a única pessoa do mundo que eu não quero nunca desapontar e sei que ele está irritado, sei pelo modo como seu rosto branco está avermelhado, é assim que ele fica quando discute com alguém, suponho que ele e Tânia devem ter se desentendidos, já a mãe de Fábio parece um pouco nervosa. Meu tio parece perceber pois passa as mãos pelos ombros dela de forma solidária, o movimento parece fazer ambos se desarmarem um pouco.

-O que está acontecendo aqui? – Tio Caio pergunta. Tânia passa seus olhos entre mim e Fábio com um olha de repreensão que parece dizer “eu avisei que isso ia acontecer”.

-O que você está fazendo aqui? – Seu Ricardo questiona indo na direção do meu tio. – Eu chamei a Tânia.

-Você chamou a minha namorada, para falar da minha sobrinha com o meu enteado, acho que isso responde sua pergunta, não responde? – Tio Caio devolve.

-Gente, vamos tentar ser racionais aqui, ok? – Joana começa a argumentar. – É só um namorico infantil, não é como se eles estivessem planejando fugir e casar.

-Não é um namorico infantil. – Sei que Joana está tentando ajudar, mas odeio ser tratada como criança. – E eu o Fábio nos amamos.

-Isso não vai ajudar no seu caso. – Juliana alerta.

-Se amam? – Meu pai ri. -Você tem quinze anos Manuela. Você não saberia o que é amor nem mesmo que ele gritasse na sua cara.

-Essa é uma forma extremamente disfuncional de se referir a amor. – Fábio pontua evidentemente cheio de sarcasmo. Tânia o repreende.

-Vocês já sabiam disso? – Meu pai pergunta a Tânia e tio Caio

-Não. – Minto antes que ela possa responder, Fábio me encara contrariado, mas não mudo de ideia, não quero que a mãe dele se meta em problemas por minha causa.

-Eu agradeço a sua tentativa de me proteger Manu, mas não é o certo. Ricardo... – Tânia começa a dizer se aproximando do meu pai. – eu sabia sim do namoro deles, mas o Caio não sabia. E eu entendo que você esteja irritado por descobrir do jeito que descobriu, mas eu não acho que a Joana tem razão, podemos conversar com eles, você coloca seus termos e seguimos em frente. Além disso, você não precisava ter me chamado aqui dessa forma, essa é conversa que não precisa envolver tanta gente.

Sinto vontade de me levantar e abraçar Tânia. Meu pai está agindo de forma irracional. Juliana concorda e convida Joana e Giovane para seu quarto, assim podemos conversar mais tranquilamente, mas Giovane sugere que é melhor ir embora. Joana prefere ficar e segue com Ju. Sinto que as coisas vão ficar mais tranquilas quando meu pai se senta, ele passa a mão nos cabelos.

-A Manuela não tem idade para namorar!

-Impedir ela de namorar não vai mudar nada. – Tio Caio afirma.

-Você não tem direito de me dar conselhos sobre a minha filha, sobre nenhuma delas. – Meu pai grita. Sinto que a raiva dele por tio Caio não é sobre nossa relação de proximidade, sempre que meu pai, tio Caio e Tânia estão no mesmo ambiente o nível de hostilidade entre os dois aumentam.

-Elas são minhas sobrinhas, e nem você nem ninguém vai me impedir de lutar pelo bem estar delas.

-Caio, por favor, você não está ajudando. – Tânia fala tocando carinhosamente no meu tio. Sigo o olhar do meu, ele acompanha o movimento, aquilo o irrita. Percebo então que ele está interessado nela. – Ricardo, eu já conversei com o Fábio, já disse que esse namoro precisa ser supervisionado, eu não gosto da ideia dele namorando uma garota mais nova, mas...

-Mais nova? Quantos anos o seu filho tem? – Meu pai questiona exaltado. Coloco a mão na cabeça, é agora que a merda deve atingir o ventilador.

-Dezesseis, vai fazer dezessete em breve.

-Ótimo, essa conversa acaba aqui então. Manuela, você está proibida de namorar com o Fábio e ponto final. E você Tânia... você deveria ter me contado sobre esse namoro quando soube... por sinal, há quanto tempo você sabe?

-Eu soube tem um mês, acho. – Minha mãe afirma. – Mas você não pode simplesmente...

-Um mês?! Só pode ser brincadeira!! – Meu pai aumenta o outro tom outra vez, Tânia tenta falar, mas ele continua e fala cada vez amis alto. - Que tipo de pessoa deixa uma coisa dessas acontecer, e se fosse a Luiza? Você iria gostar disso? Eu não quero saber dois juntos. Isso é um absurdo...

-Pode ir parando. – Tio Caio diz entrando no meio entre meu pai e Tânia. Você não vai gritar com a Tânia, está me entendendo?

-Eu estou na minha casa e....

-Dá para parar?! Vocês dois. – Tânia se impõe. – Nunca mais grite comigo dessa forma. – Ela fala encarando meu pai. – E você...  – ela olha para Tio Caio. – Eu te amo, mas não preciso que me defenda, eu sei me virar. – Ricardo, eu não vou fazer nada para impedir que eles se vejam, eles gostam um do outro. Eles são jovens, não idiotas, o que precisam é que conversemos com eles, eu já falei com o meu filho quando ele me contou do namoro, sugiro que faça a mesma coisa com a Manu. Eu confio no Fábio, você deveria dar um voto de confiança a sua filha, deveria acreditar que a criou bem o suficiente para que ela possa distinguir o certo do errado sem que você aponte isso para ela.  

-Mas esse é o problema! Ele não nos criou bem o suficiente, ele mal esteve aqui. – Juliana fala entrando na sala com Joana atrás dela. Algo em mim sabia que a minha irmã não estava simplesmente sentada em seu quarto tentando nos importunar, é claro que ela estava escutando tudo. – Você percebe o que acabou de acontecer aqui? A Manuela me contou sobre o Fábio, o Fábio contou a mãe dele, mas é claro que você não sabia de nada pai, porque você nunca escuta, você nunca presta atenção no que está acontecendo em nossas vidas, você diz que vai se esforçar que vai melhor, mas na primeira oportunidade que tem de se mostrar diferente acaba caindo nos hábitos antigos. Você sabia que eu terminei com o Jabá? Sabia que estou namorando com o Lucas agora? Sabia que a Manuela vai mudar de turma no Jiu-Jitsu? Sabia de alguma coisa da vida da Bárbara além do trabalho? E da Joana? Alguma vez você sentou com ela e falou sobre como foi para ela crescer sem um pai? Você se esforça demais em todos os momentos errados, como gora, não pode tentar impedir o namoro da Manu, isso não vai te fazer um bom pai da noite para o dia, isso não é se importar. E eu não vou deixar que você faça isso com a Manuela.

Um silêncio se estabelece por tempo suficiente para transformá-lo de constrangedor em insuportável, a raiva que estava sentindo do meu pai também muda, vira algo mais próximo de pena, as palavras de Juliana foram duras, necessárias, mas extremamente duras. Tânia pede para que Fábio se levante e avisa que estão indo embora. Fábio levanta e se despede de mim com um “tchau” e pequeno toque no meu braço. Assim que eles saem do apartamento me levanto e vou atrás, meu pai parece consumido demais pelo discurso de Ju para se importar. Eles tinham acabado de pegar o elevador então desço correndo pelas escadas. Encontro-os já na garagem.

-Tio Caio, posso falar com você? Não vai demorar, prometo. - Falo um pouco nevosa. Tânia diz que ela e Fábio vão esperar no carro, mas antes que sigam os impeço, preciso falar com todos eles. – Eu só queria me desculpar com vocês dois, com os três na verdade. Tio Caio, eu deveria ter lhe contado sobre Fábio, eu só não sabia muito bem como falar sobre isso, é um pouco vergonhoso.

-Ei... tudo bem. Quer dizer, eu iria apreciar se você tivesse me contado e você deveria sim ter dito ao seu pai.

-Eu sinto muito, de verdade. Tânia, eu sinto muito por ter te colocado nessa posição, meu pai é seu chefe e eu não queria que nada disso tivesse acontecido.

-Você é uma querida por se preocupar Manuela, mas eu vou ficar bem. Seu pai só está zangado e ele até tem certa razão, não em querer separar você, mas eu também não gostei quando a Luzia começou a namorar o Lucas que é três anos mais velho, então eu consigo entender como ele deve estar sentido. Tente dar um desconto. Tenho certeza que ele só precisa de tempo para se acostumar com a ideia. – Tânia afirma. Olho para Fábio, achei que a parte de me desculpar com ele seria mais fácil, mas não na frente do meu tio. – Cinco minutos, esperamos você no carro. – Tânia diz sorrindo. Espero eles se afastarem.

-Sinto muito. Você estava certo, eu deveria ter falado com o meu pai, contado da gente. – Começo. Fábio me dá um abraço apertado, ficamos assim por um tempo e então nos beijamos. 

-Manu, a minha mãe tá certa, o seu pai vai se acostumar, e enquanto isso nós vamos ser o casal mais comportado de todos os tempos, eu até namoro no sofá, com o seu pai nos encarando, se for preciso para ficar com você. – Ele fala sorrindo.

-Acho que eu queria um pouquinho desse seu sarcasmo. – Digo sorrindo.

-Eu te amo, não esquece. – Ele fala se afastando. – Ah, e fala para Juliana que eu não sabia que ela gostava tanto de mim. –Fábio brinca novamente, observo enquanto ele entra no carro e os três partem, não quero voltar lá para cima, mas preciso, então crio coragem e o faço.

.....................x..................

-Viu só o que você arranjou? – Minha mãe pergunta com recriminação suficiente para encher a Rodrigo de Freitas.

-Eu queria contar, mas eu precisava respeitar o tempo da Manuela. Além disso, que tipo de cara eu seria se eu ficasse forçando ela a assumir um namoro? Isso não se faz. – Argumento. A expressão da minha mãe se altera ao ouvir isso, ela me olha com ternura.

-Bom, pelo menos você me contou. Eu juro que se não soubesse desse namoro ia te jogar da janela daquele apartamento Fábio. – A afirmação exageradamente exaltada da minha mãe faz com que Caio caia na risada.

 –Acha que o clima vai pesar para você na Forma?

-Não, o Ricardo é profissional.

-Claro... – Caio solta sem tirar os olhos da estrada.

-Eu não vou nem responder. – Minha mãe retruca encarando-o. – Mas enquanto ele não quiser vocês juntos eu não sei bem o que posso fazer querido.

-Ele não pode me impedir de ver a Manuela. Nós estudamos na mesma turma, compartilhamos amigos, você trabalha na Forma, ela é irmã da Joana, como exatamente ele pretende fazer isso?

-Não subestime o Ricardo. – Caio diz.

-O que você quer dizer com isso?

-Meu filho, não dá atenção para o Caio não. Ele adora falar do Ricardo, na lista de esportes favoritos depois do vôlei. – Dona Tânia argumenta. Caio não diz mais nada sobre Ricardo, mas aquilo não me impede de ficar curioso sobre a insinuação dele, mas havia outra questão mais importante com relação ao Caio, saber como ele se sentia com relação ao meu namoro com Manuela, eu sei bem o quanto a opinião e aprovação do tio são importantes para ela. Então pergunto se ele não vai dizer nada sobre o assunto. Caio estaciona o carro na frente da minha casa e me encara, ele é um cara difícil de ler, talvez por isso eu não tenho gostado dele de cara.

-Você quer saber se eu estou feliz por você estar namorando com a minha sobrinha caçula que é como uma filha para mim? – Ele questiona erguendo as sobrancelhas. – É claro que não, mas eu não posso fingir que a Manuela tem seis anos de idade, ela tem quinze, é uma garota inteligente, linda, ajuizada, e se ela viu algo em você – ele fala essa última parte sorrindo. – Eu estou feliz de saber que ela está namorando com alguém que conhecemos, além disso, eu sei que você não é maluco de fazer a Manuela sofrer.

-Ah, mas isso ele não é mesmo. – Minha mãe acrescenta. 


Notas Finais


Voltei, sorry pela demora, outra vez. Essa semana tem sido corrida.
Espero que tenham gostado de como as coisas se desenrolaram com a descoberta do namoro da Manu e do Fábio, á viram que o Ricardo não vai ser moleza né? Abraços!


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