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História Como cães e gatos - "Lucas"


Escrita por: jofanfiqueira

Capítulo 41 - "Lucas"


Seu Ricardo me deixa entrar para ver Juliana e eu sigo a enfermeira até o local. Encontro-a cheia de tubos, a imagem é ainda mais assustadora do que a cena da ambulância. Observo seu peito subir e descer e aquilo me dá certa calma. Apesar do estado, Juliana não está na UTI. Os hospitais púbicos costumam classificar os quartos por tipo de lesão e gravidade, então ela está na área vermelha da neurologia. Apenas um outro paciente com ela, um senhor que teve um derrame, a enfermeira me contou quando questionei sobre o porquê de Juliana ter que ficar sozinha. Ela explicou que independentemente da idade, quando um paciente está na sala vermelha descordado, ele não precisa de acompanhante. Cada sala tem enfermeiros de plantão.


Fico em pé ao lado de Juliana observando-a. Aos poucos, crio coragem e pego em sua mão. Me sinto idiota, mas preciso falar com ela. Gostaria de saber se ela pode ouvir, mas tenho que fazer isso.


-Ei... – começo falando. – Eu espero que você possa me ouvir minha patricinha marrenta. Eu estou aqui te pedindo para, por favor, não desistir. Continue lutando ok? Eu preciso que você sai dessa... – meus olhos rapidamente se enchem de lágrimas. – Eu te amo tanto Juliana, e eu sinto muito por tudo, por não ter sido melhor com você. Por não ter te contado toda a verdade. Então, por favor, apenas acorde... - Seguro um pouco mais firme na mão dela. – Suas irmãs precisam de você, todas elas...até mesmo a Bárbara. E o seu pai, meu Deus, eu sei que vocês não estão nos melhores termos, mas o seu pai está arrasado, ele precisa de você... eu preciso de você. Como por um milagre, Juliana abre os olhos e me encara.

-Juliana! – Afirmo eufórico. – Enfermeira! Ela acordou.

E então as coisas ficam confusas. Juliana começa a se tremer, seus olhos parecem revirar um pouco. A enfermeira soa o alarme de emergência e avança na direção de Juliana virando-a de lado.

-O que está acontecendo? – Pergunto assustado.

-Apenas se afaste. – Ela grita. Seus braços seguram o corpo de Juliana firmemente enquanto o monitor que regula seus sinais vitais parece descontrolado. A equipe médica entra correndo pelas portas brancas e eu me encosto na parede enquanto eles trabalham. É como se eu não mais existisse, como se nada mais existisse além de Juliana e as pessoas que a circulam, as pessoas que tentam salvar sua vida.
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Levanto da cama cansado. Foi uma noite tão estressante que é como se eu nem mesmo tivesse conseguido dormir. O medo nos olhos de Manuela ficou na minha cabeça, teria ficado com ela se pudesse, mas sabia que Ricardo não iria permitir. E ela já havia testado os limites do pai quando resolveu me beijar na frente dele. Lembrei do modo como Bárbara me olhou enquanto estava abraçado com Manuela, aquela lá é desprezível. Talvez seja estranho pensar dessa forma, mas uma pequena parte de mim se perguntava: Por que não ela? Por que era Juliana deitada naquela cama? Mas eu sei que Manuela sofreria da mesma forma, ela é louca pelas irmãs, então espantei o pensamento mesquinho, escovei os dentes e me juntei à minha família que está reunida, com exceção de Joana que já foi para Forma, na cozinha.
Encaro Caio, ele havia dormindo aqui em casa, seu rosto estampava uma expressão de tristeza.

-Notícias da Juliana? – Perguntei me sentando.

-Eu falei com o Ricardo agora pouco. Ela teve uma crise convulsiva um pouco depois que saímos de lá, mas... – Caio diz engolindo seco.

-Ela está bem? – Percebo que a minha voz sai mais alta que o normal.

-O médico teve que fazer um furo no crânio para diminuir a pressão e controlar as convulsões, então o quadro é basicamente o mesmo, eles só estão um pouco mais cautelosos.

-Por que o Ricardo não transfere a Juliana para um hospital particular? – Minha irmã questiona.

-O Ricardo acredita que o serviço público é tão capaz quanto o privado. – Minha mãe interfere. – Mas talvez ele devesse reconsiderar dessa vez.

-Eu também acho. – Caio diz. – Mas liguei para um amigo que é neurologista e ele me disse que em comas causados por traumas o procedimento é exatamente o que está sendo adotado. Ele ficou de passar lá no hospital hoje e conferir a Juliana, mas disse que não há muito que possa ser feito além de esperar.

-Ela vai ficar bem. – Luiza diz colocando a mão no ombro no namorado da minha mãe.

Fico orgulhoso da minha irmã por ser um dos seres humanos mais decentes que conheço, qualquer outra pessoa em seu lugar estaria desejando a morte da Juliana ou, pelo menos, não se importando a mínima. Mas aqui está ela, dando forças à Caio.


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Entro na casa de Tio Caio e dois pares de olhos me encaram com um olhar que eu já conheço e odeio, o mesmo que as pessoas me davam logo depois da morte da minha mãe. Sei que elas não fizeram nem fazem por mal, ninguém sabe muito bem como agir ou o que dizer nessas situações, Luiza e Isabela não seriam exceções. Fiquei surpresa de encontrá-las aqui.

-Eu achei que você fosse querer um pouco de companhia. – Tio Caio afirma colocando a mão no meu ombro. Sinto vontade de dizer que, naquele momento, ninguém poderia me dar o que eu queria, estou presa nos meus pensamentos, frustrada, cansada... quero gritar, quero tentar fazer o mundo girar ao contrário, voltar no tempo, impedir que qualquer mal acontecesse com Juliana, quero ela aqui, quero seu sorriso sarcástico, seu olhar desafiador, quero ela de volta. Mas como eu explicaria isso para alguém? – Você quer tomar um banho? A Bárbara separou algumas roupas para você e o seu material da escola também. Mas você não precisa ir para escolha amanhã se não quiser. Suas coisas estão no quarto de sempre. –Ele afirma caminhando para a cozinha.


-Eu sinto muito por tudo que está acontecendo Manuela, de verdade. – Luiza fala me abraçando.
-Obrigada. – Respondo. Não sou mais criança, não posso correr e me enfiar no armário como fiz quando a minha mãe morreu. Agora os olhares de pena e solidariedade precisam ser encarados, agora eu preciso responder, agradecer, preciso ser civilizada.


-Como você está se sentindo? – Isabela perguntou me dando um abraço. Era exatamente aquela pergunta que eu não queria ouvir. Como eu estou me sentindo? Não havia palavras suficientes para expressar o modo como estou me sentindo.


-Vocês se importam se eu tomar um banho? – Pergunto. A meninas dizem que não e me acompanham até o quarto.


-Você sabia que eu nunca tinha vindo aqui antes? É incrível como o Caio é extremamente organizado.

- Minha mãe costumava dizer que ele tinha TOC. – Conto. Percebo que eu não sei dizer se essa memória é minha ou se eu a ouvi de outra pessoa e absorvi, criei as imagens. Imagino o que pode acontecer com as memórias que tenho de Juliana.


-O Caio vive querendo que a gente venha usar a piscina do prédio, mas a minha mãe sempre diz que eu o Fábio não podemos chegar perto de nada sem destruir.


-É uma boa piscina. – Afirmo tirando a blusa. – Isa, você pode pegar uma tolha no armário, por favor, acho que o Tio coloca na última prateleira.

Entro no banheiro e deixo a água quente correr pelo meu corpo, levo mais tempo que o normal. Ali, com a cabeça debaixo do chuveiro, eu não posso ouvir nada além do barulho da água, me sinto mais leve. Depois de algumas batidas na porta eu acabei saindo do banho.

-Sinto muito. – Isabela disse. – Eu achei que algo tinha acontecido com você aí dentro.

-Estamos no sexto andar. Eu não ia pular pela janela. Eu nem caberia naquela janela. – Respondo como se aquele fosse um pensamento normal. Percebo que é a primeira vez que Isabela não tem a resposta para tudo.


Escutamos batidas na porta e eu termino de me vestir. Estou com a tolha na mão secado o cabelo quando Luiza abre a porta e, para minha surpresa, é Fábio quem está parado na frente da irmã.

-O Caio me pediu para checar vocês. Ele foi comprar o jantar.

-Acho que vamos colocar a mesa então. – Isabela fala empurrando Luiza para fora do quarto. É quase como se fosse um dia normal, como se nada tivesse acontecido.

-Claro, a mesa.... – Escuto Luiza falar se afastando. Eu deixo escapar uma risada, então aquilo, imediatamente, parece errado, eu não deveria sorrir. Sinto as lágrimas começarem a rolar pelo meu rosto, me sento na cama de escondo meu rosto com as mãos, caindo no choro de vez. Fábio senta ao meu lado e coloca suas mãos sobre as minhas, delicadamente baixando-as. Encaro seus olhos enquanto ele seca minhas lágrimas. Não é pena aquilo em seu olhar, é outra coisa... é cumplicidade. É como se ele soubesse exatamente o que estou sentindo, como se também pudesse sentir.

-Venha aqui. – Ele diz deitando na cama e puxando meu corpo para perto do seu. Me deito e ele passa seus braços ao meu redor, ficamos assim, calados enquanto ele acaricia meu rosto e eu acabo adormecendo.
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Uma semana se passou desde o acidente de Juliana. Depois da realização de um pequeno furo em seu crânio para redução da pressão intracraniana, o quadro foi melhorando. Assim que ela ficou estável o suficiente, Ricardo concordou em transferir Juliana para um hospital particular. Estar num quarto privado nos deu a oportunidade de passar mais tempo com ela. Ricardo está por lá quase sempre, mas eu, Bárbara e Caio fazemos turnos alternando a vigília incessante. Escola, trabalho, tudo ficou de lado... mas eu não me importo. Nem mesmo gosto de sair de perto de Juliana e quando faço isso, obrigado por Ricardo ou Bárbara, não consigo parar de pensar nela nem por um minuto. Estou sentado numa das poltronas enquanto Bárbara ocupa a outra, não trocamos muitas palavras, mas essa semana perto dela me fez perceber o quanto ela e Juliana se parecem no quesito temperamento, ambas são extremamente explosivas, falam primeiro, fazem primeiro, só pensam depois. A principal diferença é que Juliana tem um jeito esperançoso e animado de olhar o mundo, Bárbara é o posto disso, parece que ela sempre espera pelo pior das pessoas.

-Posso entrar? – Martinha pergunta abrindo a porta. – Eu estava aqui na clínica ao lado esperando para fazer um exame e resolvi aproveitar o horário de visitas


-Você já entrou não entrou? – Barbara diz se levantando. – Lucas, eu vou pegar um café, você quer alguma coisa?

-Não. Obrigado. – Agradeço assistindo a minha cunhada deixar o quarto.

-É bom saber que altera o mau humor dos diabos dessa daí. – Martinha diz.

-Ela só não é boa em lidar com as coisas, mas está sofrendo muito com tudo isso.
A expressão no rosto de Martinha muda, em parte pelo que eu disse, mas também pela aproximação com Juliana. Ela não está mais com os tubos que ajudavam a respirar, apenas alguns fios monitoram atividade cerebral e sinais vitais, mas é sempre assustador ver alguém que você ama nessa situação.

-Ela vai ficar bem não vai? – Martinha pergunta. A barriga da minha amiga começa a mostrar de forma considerável. – Ela precisa ficar bem Lucas!

-É claro que vai. – Aproximo de Martinha e a abraço.

-Hormônios estúpidos. Eu é quem deveria estar te dando forças, não o contrário.

-Você e a Juliana são melhores amigas Martinha. Você é uma das pessoas que ela mais ama no mundo todo, é eu sei que você a ama incansavelmente, toda essa mentira sobre a gravidez é só uma prova disso.... então é claro que tá tudo que você se sinta dessa forma.


-Eu não fiz só pela Ju. Eu também estava sendo egoísta, ainda estou. Mas eu juro que se ela acordar eu vou contar toda a verdade para ela. – Martinha olha para Juliana e pega em sua mão. – Eu juro que nunca mais vou esconder nada de você amiga. E ainda te deixo escolher o nome do meu filhote. Acorda!

-Já imaginou? – Questiono sorrindo. – Ela provavelmente nomearia o seu filho de Juliana ou Juliano.

-Isso é bem a cara da Ju.

-Todo o pessoal da escola está rezando pela Juliana e o idiota do Correia fez uma palestra sobre os perigos da direção, como se isso fosse fazer com que nos sentíssemos melhor. A Juliana teria odiado. Lucas... – Sinto a cautela no tom da minha amiga ao dizer meu nome. – Os meninos queriam muito ver a Juliana, o Júnior e o Jabá.


Não gosto da ideia do Jabá visitando Juliana, mas sei que a decisão não é minha. Sei também, que se estivesse no lugar dele, iria querer poder vê-la. Imagino que aquilo deva ser difícil para Martinha também, por mais que ela negue, sei que é apaixonada pelo Jabá, ela sempre esperou que ele sentisse o mesmo e quando ele começou a demonstrar interesse pela Juliana essas esperanças foram amassadas.

-Você não vai dizer nada?

-Acho que eles podem vir Martinha, mas não sou eu quem pode dar essa permissão. Você deveria falar com a Bárbara ou com o Ricardo.

-Você tem razão, eu vou fazer isso. Agora eu tenho que ir, tenho mesmo um exame. Você precisa de alguma coisa? Ah... e eu sei que você não está com cabeça agora, mas separei o material das aulas para você. Para Ju também.

-Obrigado, mas não, não preciso de nada. E pego o material com você depois.

-Me mantenha atualizada. – Ela disse se despindo de mim e, em seguida, de Juliana.

Um pouco depois da saída de Martinha, noto um pequeno aumento nos batimentos cardíacos de Juliana. Estou prestes a gritar pela enfermeira, embora ela já tenha me dito que esse tipo de coisa é normal, quando Juliana abre os olhos.

-Meu Deus! – Digo num misto de susto e felicidade. – Juliana! Meu amor, você está bem? Consegue falar?

-Lucas...

-Oi, eu tô aqui...

-Não. Lucas... o nome do bebê deveria ser Lucas.


Notas Finais


Gente, desculpa pela demora. Mas precisei me mudar de última hora e tudo ficou uma bagunça. Só agora consegui me organizar para continuar. Vou tentar postar o mais rápido possível para recuperar o tempo perdido.
beijos!


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