1. Spirit Fanfics >
  2. Como cães e gatos >
  3. Conversas francas

História Como cães e gatos - Conversas francas


Escrita por: jofanfiqueira

Capítulo 42 - Conversas francas


A volta de Juliana para casa vem fazendo com que, pelo menos por um tempo, as coisas pareçam dentro do eixo em nossa família. Juliana está em casa, Bárbara está em casa, somos novamente nos quatro. Além disso, Joana tem aparecido com frequência e ela e Bárbara parecem mais amistosas.

 Meu pai tem estado extremamente presente, principalmente por causa de tudo que eu e ele conversamos sobre a possível bipolaridade de Juliana, ainda a ser comprovada ou negada, de qualquer forma, os remédios que ela vem tomando para evitar qualquer tipo de sequela parecem conter qualquer mudança de humor. Seu Ricardo mudou totalmente de posição com relação a Lucas, até mesmo Bárbara tem estado mais educada ao redor de nosso cunhado, talvez a visão do quanto ele se importa com Juliana tenha feito com que ambos mudassem de ideia. E é claro que eu já sabia disso, mas o fato de que ele só saiu de perto dela nos momentos que fora obrigado, a expressão em sua face, tudo isso só fez fortalecer a minha certeza sobre o relacionamento dos dois. Aquele é um nível de devoção que só o amor pode garantir.

Mesmo em recuperação, Juliana não perdeu a oportunidade de ir colocando os pingos nos is, uma das primeiras coisas que perguntou ao meu pai foi sobre a viagem para o exterior na qual ele pretendia nos levar. Seu Ricardo respondeu, e eu cito: “Minhas prioridades são outras no momento: vocês”. Eu não quero me apegar demais à essa ideia de reabilitação do meu pai, mas confesso que isso me deixa esperançosa. Além disso, ele retirou a vigilância vinte e quatro horas de cima de mim, e nem mesmo fez escândalo quando tio Caio disse que Fábio e Luiza estavam me fazendo companhia em seu apartamento. Claro que a situação não permitia escândalos, Juliana estava internada e a última coisa passando na minha cabeça era aproveitar o momento para namorar, mas devo admitir que dormir nos braços de Fábio pareceu a coisa mais certa do mundo.

-Pronto, tá entregue. –A voz da minha irmã me tirou dos meus pensamentos sobre os braços de Fábio, olhei para o lado e encarei os olhos azuis e penetrantes de Bárbara. – Tudo bem?

Notei que estivemos em silêncio o caminho inteiro. Na verdade, eu mal troquei suas palavras de forma civilizada com a minha irmã mais velha desde nossa última discussão. Tudo aquilo parecia pequeno perto ao que aconteceu com Juliana.

-Bárbara, eu sei que eu não disse isso... nem tentei demonstrar, mas eu estou feliz que você esteja em casa... eu não sei se é algo permanente, e eu entendo e acho mais que justo que você tenha sua vida, você passou tanto tempo sendo nossa mãe, e às vezes pai.... enfim, eu só queria dizer isso, que eu estou feliz de ter você por perto.

-E eu estou feliz de saber que você se sente dessa forma meu amor. Manu, de verdade, eu sinto muito pela forma como tenho agido. Eu não posso prometer que não vou mais ser do jeito que sou, mas uma coisa é certa: não importa aonde eu more, eu vou sempre estar por perto enquanto você e a Ju precisarem de mim. Porque mesmo que não pareça e mesmo que eu faça as coisas desse meu jeito torto, eu amo vocês mais que tudo nesse mundo.

-Eu sei. – Digo soltando o cinto para abraçar minha irmã. – Você só precisa lembrar que é nossa irmã.

-Obrigada. Obrigada por ser tão capaz de perdoar, você é exatamente como a nossa mãe e eu tenho certeza de que ela está orgulhosa da mulher que você está se tornando. – Ela responde sorrindo. – Agora vá para aula! Eu ainda posso dizer isso?

-Claro que pode. – Digo soltando uma risada.

Estou caminhando pelo corredor ainda vazio, em sentido a sala de aula quando Fábio me alcança. Ele pega na minha mãe e sorri, respondo o sorriso sem nem mesmo notar, me sinto tão feliz ao vê-lo que de fato posso sentir meu corpo ficando mais leve.

-Bom dia. – Ele diz me beijando no meio do corredor.

-Vocês perderam totalmente a noção, foi isso? – A voz de Luiza questiona. Afasto meus lábios dos de Fábio, encaro seu olhar por alguns segundos e depois me volto para minha cunhada que me encara com um sorriso de reprovação.

-Se eu não estiver enganada, o seu irmão nunca teve noção alguma para perder. – Retruco sorrindo, minha piada faz com que Luiza solte uma gargalhada. Fábio, por sua vez, finge estar indignado com a minha afirmação.

Caminhamos juntos para nossa primeira aula do dia, português. O tempo passa rápido, ou talvez eu ainda esteja sentindo falta da escola e não o perceba corretamente. Na última aula, Ana, nossa professora de história, anuncia que a final da Olimpíada de História irá acontecer em duas semanas e que será em Paraty. Em seguida, ela parabeniza Fábio e a turma bate palmas, alguns assoviam.

-Podemos ir? – Ana, uma de nossas colegas de sala, pergunta.

-O diretor considera isso uma conquista importante para escola, por isso conseguiu ônibus com a Secretaria de Educação. Quem tiver interesse deve passar na secretaria e solicitar um formulário para que os responsáveis autorizem. Viajamos no dia anterior a competição, e voltamos na manhã seguinte. São dois dias fora.

-Vai ter alguma espécie de hotel? – Bruno pergunta.

-Alojamentos coletivos cedidos pela Secretaria de Educação, vocês só precisam levar seus próprios lençóis.

-Podemos nos hospedar por conta própria? – Isabella pergunta. Todos a encaram e ela rapidamente procura se justificar, odeia a fama de garota rica, assim como eu, embora seja isso que ela seja. –É só que os meus pais possuem uma casa em Paraty e poderíamos acomodar algumas pessoas.

-Bom, isso é algo que eu não tinha previsto. – Ana diz. – Mas acho que se o seus pais não se incomodarem e se os pais dos alunos que forem ficar lá também não, não vejo problema.

O sinal toca e caminhamos pelo corredor juntos, eu, Luiza, Fábio e Isabela. Fábio implica com Isa dizendo que ficaria honrado em “pernoitar em seu palácio, oh, rainha de Paraty”. Eu belisco levemente a palma de sua mão fazendo-o parar e ele nem mesmo protesta, apenas me encara com um sorriso delicioso.

-Você é terrível. – Digo quando nos afastamos delas.

-Ela não se importa. – Olho para ele com descrença e então ele se retrata. – Ok, ela não se importa tanto. Além disso, esse é meu charme. Se eu não implicar com as pessoas o que mais eu posso oferecer a elas?

-Nada! – Eu falo tentando não sorrir. – Você só deveria me oferecer, seja lá o que for.

-Eu não sabia que você era possessiva. – Ele diz me beijando.

-Claro que sou. Com tudo que eu amo.

-Então você vai para Paraty? Manter um olho em mim? Sabe, eu ouvi dizer que caras que chegam nas finais de Olimpíadas de história fazem muito sucesso com as mulheres. Ouvi dizer que as Olimpíadas de história são o novo futebol e que as “marias-teorias” estão por toda parte.

-Marias-teorias? – Pergunto gargalhando.

-É, terríveis. Sedentas por datas, fatos históricos.

-Então eu acho que vou ter que ir, vou ter que ficar de olho nelas e em você.

..............x...............

Alguém bate na porta e eu peço para que entre. Assim que a porta é aberta encaro o rosto sempre preocupado de Lucas. Quero dizer a ele que estou bem, que não tem mais nada de errado, quero me desculpar outra vez, mas tenho quase certeza de que não vai adiantar. Se ele já era cauteloso antes mesmo desse acidente, eu não acredito que vou poder convencê-lo de que estou bem só com as minhas palavras. Em vez disso, me sento na cama e dou meu melhor sorriso para ele, na esperança de que, aos poucos, ele perceba que eu estou bem.

-Como você está? – Ele pergunta sentando na cama ao meu lado e beijando minha testa. Seguro seu rosto perto do meu, passo a mão livre por sua barba e então beijo sua boca.

-Agora eu estou melhor. – Digo sorrindo maliciosamente. Ele dá um sorriso tímido, como se não esperasse por aquilo. – Estou impaciente, quero sair dessa cama, desse quarto, dessa casa.

-Como foi a consulta? – Questiona se ajustando na cama.

-Ótima. Ele disse que eu estou bem, que já posso começar a restabelecer a minha rotina, mas sem fazer muitos esforços, estou pensando em ir para escola hoje.

-Já? – Ele pergunta parecendo assustado.

-Eu estou entediada, até mesmo estudar seria uma boa coisa para se fazer no momento.

-Já vamos entrar de férias Juliana, qual o ponto disso? Você deveria aproveitar, fazer as provas de casa e voltar em agosto.

-Você acha que também vão me deixar fazer o vestibular de casa? Cursar jornalismo da UFRJ por correspondência? Ou talvez você possa me arrumar uma daquelas bolhas plásticas. – Digo perdendo minha paciência. Lucas me encara como alguém olharia para uma criança que fez algo terrível, se estivesse dividido entre a sensação de ultraje e a ideia de que ela não pode suportar a pena que merece. – Sinto muito. – Digo frente ao seu silêncio. – É só que... eu estou bem Lucas, de verdade.

-Você tem alguma noção do quanto eu estava assustado? Alguma noção de como eu me sinto culpado e de como eu estaria agora se você não estivesse aqui? – Ele pergunta colocando sua cabeça perto da minha.

Eu não pensei nisso. Nem por um minuto. Nunca pensei que ele pudesse ter se sentindo culpado, isso nem mesmo faz sentindo. Eu acordei e tudo foi sobre mim, exames, recuperação, visitas, nós mal pudemos conversar direito sem mais ninguém nos acompanhando.

-Lucas, não foi culpa sua. Nem do meu pai, nem da Bárbara. A culpa foi minha, e só minha. Eu não precisava ter reagido da forma como reagi. Eu não deveria ter saído da praia e entrado no carro no estado que eu estava.

- Uma semana atrás você estava em coma Juliana. – Ele diz num tom baixo, como se falar sobre o meu estado anterior pudesse, subitamente, me colocar nele outra vez - Será que é mesmo exagero meu não querer que nada de ruim te aconteça?

Eu tento imaginar como eu me sentiria se a situação fosse contrária, se eu estivesse no lugar dele. Fecho meus olhos e a minha cabeça lateja um pouco, perto da parte raspada - eu tenho um buraco no cabelo que pode ser discretamente coberto caso eu o arrume da forma certa – levo minha mão até o local.

-Você está bem? – Lucas pergunta.

-Estou. – Respondo abrindo os olhos. – Eu sinto muito. Você tem toda razão, eu não preciso me apressar. – Digo acariciando seus cabelos. – Agora venha, deite aqui do meu lado e vamos assistir alguma bobagem até a hora de você ir para aula. – Então eu lembro de uma coisa. – Você me disse ontem que queria conversar comigo, era sobre isso? Sobre como você estava se sentindo.

-Não. – Ele responde. Sua expressão ganha um tom de tristeza.

-Você pode me falar Lucas. Seja lá o que for, eu estou bem.

-Quando você estava no hospital eu prometi que nunca mais ia esconder nada de você, eu prometi que se você acordasse eu contaria algo que eu estou guardando já tem um tempo.

-O que? – Pergunto curiosa. Talvez qualquer outra pessoa no meu lugar já tivesse imaginado os piores cenários, mas aquele é Lucas, ele obviamente não me traiu, ele não faria isso, e eu não posso pensar nada pior.

-Eu menti para você um tempo atrás, mas eu fiz isso para proteger outra pessoa... e eu sei que isso não justifica o que eu fiz...

-Lucas, apenas me conte de uma vez. – Digo com um sorriso encorajador.

-Eu não sou o pai do filho da Martinha. Eu e ela nunca tivemos nada.

-Mas então por que você...

-Porque ela me pediu... –Ele continua falando, mas eu não consigo prestar atenção, as palavras deles perdem espaço para as questões que faço a mim mesma: Que razão a Martinha teria para mentir? Por que ele pediria para o Lucas dizer ser o pai do seu filho. E então a resposta aparece para mim e as coisas finalmente começam a fazer sentido. É claro que Lucas não podia ser o pai daquela criança, eles sempre foram tão amigos, uma amizade como a deles não se transforma em simples vontade de transar, Lucas e Martinha são as pessoas mais tradicionais que eu conheço em minha faixa etária, é claro que eles não fariam sexo casual, ambos são românticos demais para isso. Eles teriam que estar apaixonado e se estivessem eu não estaria com o Lucas agora. Na verdade, se ele fosse mesmo o pai dessa criança, Lucas estaria com a Martinha. Ele nunca deixaria o filho dele de lado, mesmo me amando.

-Jabá! – Eu digo encarando Lucas. – O filho da Martinha é do Jabá, não é?

-Você deveria conversar com ela, não comigo. Eu só tinha que te contar que não é meu. Que eu te amo com todo meu coração e eu nunca poderia dormir com a sua melhor amiga.

-Vá embora! – Eu peço.

-Juliana...

-Lucas, por favor, vá embora.

Ele levanta da cana assustado e se afasta de mim cauteloso, ainda sem entender a minha ira.

-Vamos conversar...

-Não. Apenas vá embora. – Insisto firmemente. E então ele faz o que peço.

Me deito na cama e começo a chorar. E então escuto a porta se abrir novamente e me viro irritada, mas não é Lucas que encontro. É Bárbara.

-O que aconteceu? – Ela pergunta alarmada. – Se aquele garoto fez alguma coisa para...

-Não! – Digo tentando conter minhas lágrimas. -Não é culpa dele, ele não fez nada de errado. A culpa é minha. – Digo soluçando. Então conto a Bárbara que Lucas não é pai do filho da Martinha.

-Você não deveria estar feliz em saber disso? – Ela questiona sem entender. –Ah... é por que a sua melhor amiga te traiu com o Jabá? Eu pensei que você já tinha esquecido aquele traste...

-Não. Você está certa. Eu deveria estar feliz.... e não, eu não estou com raiva porque a Martinha me traiu, quer dizer, talvez um pouco... mas eu estou com raiva de mim mesma. E eu não podia olhar para o Lucas depois de perceber que eu sou a culpada de tudo isso. Eu sabia que ela o amava Bárbara, eu sempre soube, eu sabia que a minha melhor amiga era apaixonada pelo Jabá e, ainda assim, eu fui lá e fiquei com ele, eu namorei com ele, eu esfreguei o modo como ele se sentia por mim, e não por ela, na cara da coitada. Que tipo de amiga eu sou? Como eu posso olhar para o Lucas sabendo que ele nunca faria algo assim, sabendo que ele é leal e devotado? Eu não o mereço. Nem mesmo que eu tivesse dez vidas para me redimir eu ainda não o mereceria.


Notas Finais


Voltei! Finalmente. Espero que tenham gostado do capitulo.
O que acharam do final da novela? Abraços!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...