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História Como cães e gatos - Paraty, Parte 1


Escrita por: jofanfiqueira

Notas do Autor


Capítulo maior que o normal, espero que gostem!

Capítulo 43 - Paraty, Parte 1


Depois de muita conversa e algumas interseções esperadas, como as de Joana e Juliana (Ju disse ao meu pai que não havia mal nenhum em me deixar viajar com a turma da escola para uma casa que pertencia a uma das minhas melhores amigas e na qual adultos responsáveis estariam nos vigiando) e algumas interseções não esperadas, como a de Bárbara (minha irmã mais velha disse que eu precisava de um pouco de descanso e normalidade de depois dos últimos acontecimentos em nossa família) meu pai concordou em me deixar viajar para Paraty.

“Você pode ir” ele disse “contanto que lembre que essa viagem pode determinar se eu vou não permitir que vocês namorem”. Juliana me disse não para não contestar o absurdo que era aquela afirmação e simplesmente aceitar o trato, todo o resto poderia ser visto depois que eu voltasse de viagem, pois o que realmente importava era que eu estava indo.

-Você não vai mesmo? – Pergunto outra vez a Juliana enquanto estou arrumando a minha mala, ela está sentada na minha cama, me ajudando a dobrar algumas roupas.

-Não. Separou biquíni? - Ela perguntou. Como se eu levar ou não um biquíni fosse mais importante do que o seu relacionamento com duas das pessoas que minha irmã mais ama no mundo.

-Ju, você sabe que vai ter que falar com eles não sabe? Com o Lucas e com a Martinha. Você pode ignorá-los por enquanto, principalmente agora que as férias vão começar e você já está liberada pelo trimestre, mas como vai ser quando as aulas voltarem em agosto?

-Eu vou pensar em alguma coisa. – Ela diz cabisbaixa.

-Ele está arrasado Juliana, ela também. Vocês são melhores amigas e ela está triste, grávida e indo para um evento escolar que importa bastante para ela. Você deveria estar lá para oferecer o seu suporte. E eu sei que você está magoada, mas...

-Eu não estou magoada. – Ela diz me interrompendo. – Eu não estou chateada com eles.

-Então qual o problema? – Pergunto curiosa. – Se você não está brava por eles terem mentido, então qual é o problema?

-Você ficaria com alguém pelo qual a sua melhor amiga é apaixonada? –Ela pergunta. Seus olhos verdes me desafiam a terminar de pregar a tampa do caixão de sua infelicidade. Penso em Bruna de imediato, mas ela não era de fato minha amiga, ela não estava de fato apaixonada por Fábio, ou pelo menos é nisso que eu gosto de acreditar. Além disso, eu e o Fábio já estávamos envolvidos antes mesmo dela entrar em cena.

-Eu não sei. – Respondo. É a melhor coisa que eu posso dizer nessa situação.

-Não, você não ficaria.

-Pode acontecer, ninguém controla o que sente.

-Claro que controlamos Manuela. Não somos animais selvagens. Além disso, eu nem mesmo posso usar a desculpa de dizer que eu estava apaixonada. Eu só estava sendo uma idiota.

-Então é isso? Você não vai mais falar com nenhum dos dois? Nem com o Lucas nem com a Martinha? Você vai simplesmente se culpar pela história toda e deixar de lado o fato de que ambos te amam?

-Eles estão melhor sem mim, acredite. Eu vou acabar decidindo que eu gosto de alguma outra pessoa qualquer e acabar machucando o Lucas, ele não merece isso. E Martinha, bem... ela nem mesmo deveria querer ser minha amiga.

-Mas ela quer. – Insisto. – E o Lucas te ama, se você tivesse visto o modo como ele ficou ao seu lado. E e eu sei que você o ama. Eu te conheço. Não jogue isso fora, você vai se arrepender. – Digo firmemente. – Você deveria vir para Paraty e apoiar sua amiga, deveria procurar o Lucas e dizer como está se sentindo.

Alguém bate na porta. Caminho até a maçaneta e encontro meu tio do outro lado. Ele está sorrindo, o rosto um pouco vermelho do sol.

-Está pronta? O Fábio e a Luiza já estão aqui. – Ele pergunta me dando um abraço.

-Só preciso de mais um minuto. – Respondo voltando minha atenção para a mala. – Você não pediu para que eles subissem?

-O Fábio achou melhor não abusar da sorte com o seu pai.

-Ele nem mesmo está aqui. – Juliana diz. Meu tio se aproxima dela e pergunta se ela está bem, comenta ainda que ela parece abatida.

-Falta de sol. – Argumento. – Ela deveria estar vindo com a gente.

-O médico já te liberou? – Ele questiona preocupado.

-Já. – Juliana responde. – Já posso correr maratonas. Mas não se preocupe, não quero ir para Paraty.

Fecho minha mala e meu tio a carrega, deixando o quarto primeiro. “Desço em um segundo” grito para ele.

-Eu espero que você mude de ideia. – Digo sorrindo.

-Eu não poderia ir de qualquer jeito. O papai quer que eu veja um médico hoje, ele disse que é importante.

-Um médico? Que médico? – Pergunto me sentindo agitada.

-Te conto quando souber. Agora vá embora por favor. – Ela diz levantando da minha cama.

-Tchau! Ligue para o Lucas. Pense em como ele só fez isso para te proteger, para que você não tivesse que sofrer.  – Insisto.

-Boa viagem Manuela. Não faça nada que eu não faria. – Ela responde piscando para mim.

......................................x..................................

Estou sentado no banco da frente junto com Caio que dirige concentrado na estrada enquanto Luiza e Manuela conversam animadamente no banco traseiro. Luiza está particularmente alegre com a ideia de conhecer Paraty, eu também não conheço, mas a única coisa que de fato me anima é a ideia de passar mais tempo a sós com Manuela. Fora isso, estou preocupado com o fato de que ainda preciso me reunir com Belinha e Martinha para estudar. E embora seja conveniente para mim a carona de Caio, eu realmente queria ter ido no ônibus com elas, isso me daria mais tempo para me preparar, pois, estranhamente, estou nervoso.

-Eu achei que a Tânia vinha junto. – Manuela diz. É uma observação bastante atrasada, considerando que já deixamos a cidade há pouco mais de duas horas, temos ainda, pelo menos, mais uma hora e meia pela frente.

-Ela queria, mas eu precisava conversar com vocês sozinhos. – Caio responde.

-Isso parece algo que um assassino diria. – Luiza observa sorrindo. – Você nos matar? Porque padrastos parecem sempre imprevisíveis nos filmes. – Ela continua. Caio dá uma risada nervosa e eu noto que sua pele extremamente branca fica um pouco vermelha.

-Não Luiza, eu não vou matar vocês. Mas tem algo que eu queria discutir com você e com o Fábio, e com a Manuela também porque ela é o mais próximo que eu tenho de um filho e a opinião e felicidade dela importa tanto para mim quando a de vocês importa para Tânia.. e para mim também.

-Que tom sério. – Observo. – Até parece que você quer... – Eu paro no meio do caminho. Sei exatamente o que ele quer falar conosco.

-Quer o que Fábio? Deu para ficar mudo agora? – Luiza questiona. Olho para a minha irmã. Seu rosto moreno brilhando devido aos raios de sol que entram pela janela, ela parece com o meu pai, ela parece tanto com ele e eu não consigo não pensar nele nesse momento.

-Vocês querem casar? – Eu pergunto finalmente.

-Não exatamente. – Ele diz. Caio solta uma das mãos do volante e ajusta o cinto em seu peito, sinto que ele está desconfortável, mas não faço nada para ajudá-lo a se sentir melhor, na verdade, eu provavelmente estou contente de ver que ele está se sentindo desconfortável. Embora eu o considere um homem bom, embora eu possa ver o quão feliz minha mãe está desde que eles começaram a namorar, eu aprecio seu sofrimento.

-O que você quer dizer com “não exatamente”? Você não quer casar com a minha mãe. – Pergunto propositalmente exagerando no meu tom de indignação, mas eu posso adivinha a resposta.

-Fábio! – Luiza chama minha atenção. Caio diminui um pouco a velocidade, em momento nenhum ele tira os olhos da pista, suas duas mãos estão de volta no volante, firmes, o carro continua firme como elas. Ele só está tendo problemas em articular as frases, então eu sei que posso continuar. – Mas como assim ‘não exatamente”? – A própria Luiza questiona, menos perceptiva do que eu sobre as ações de nossa mãe.

-A Tânia não acha que casar seja o ideal. – Ele finalmente afirma. – Eu adoraria me casar com ela.

-E ela seria sortuda. – Manuela diz defendendo o tio. Tiro meus olhos dele e me volto para Manuela que me olha com se me desafiasse a dizer algo negativo contra o tio dela.

-Mas ela não acha que seja o ideal... – ele reforça. – E eu concordo com ela, pelo menos por enquanto.

-Então aonde exatamente essa conversa deveria nos levar? – Luiza pergunta.

-Eu gostaria de saber se vocês.... se vocês gostariam que morássemos todos juntos, nós quatro.

-E a Joana? – Luiza pergunta. – Somos cinco com ela.

-Eu não acho que a Joana iria querer se mudar para o meu apartamento. – Caio diz recuperando seu tom normal – mas a questão não é essa... o que eu quero saber é se vocês concordam com a ideia, eu sei que a Tânia nunca concordaria se vocês não estivessem confortáveis com a situação ou pelo menos dispostos a tentar.

-Claro! – Luiza diz sorridente. – Eu vou adorar.

-Manuela? – Caio pergunta.

-Eu só quero que você seja feliz tio Caio. E se a Tânia te faz feliz, boa sorte com esses dois. – Minha namorada diz, ela morde o lábio quando nossos olhos se encontram. Seu cabelo está preso em um rabo de cavalo e ela parece angelical demais para aquela expressão, pensar nisso me faz esquecer um pouco sobre a proposta de Caio.  

-Fábio? – Ele pergunta finalmente. Sou retirado dos meus pensamentos sobre Manuela e volto a encará-lo. – Você não vai dizer nada?

-Eu acho que estou disposto a tentar. – Digo. – Mas se você fizer a minha sofrer...

-Não se preocupe. A sua mãe é uma segunda chance que a vida está me dando e eu não vou desperdiçar.

Me pergunto o que ele quis dizer com “segunda chance”, é claro que Caio já deve ter se apaixonado por alguém e isso não deu certo, afinal, um cara de trinta e poucos anos que nunca se casou deve ter amado e perdido, mas não pergunto nada. Não é problema meu. De qualquer forma, ele parece bastante feliz com a taxa de 100% de aprovação conseguida.

......................x.......................

Chegamos em Paraty pouco depois do meio-dia. Depois de um almoço, seguimos para a casa de Isabela, que fica afastada do centro, mas é um refúgio maravilhoso. Beira mar, cheia de plantas, uma decoração que mescla o estilo rústico com cores vivas. Meu tio nos ajudou com as malas, se certificou de que estávamos supervisionados – já que Isabela e seus pais ainda estavam chegando de Angra - deixando o número de telefone dele, de Tânia e do meu pai com a governanta e, em seguida, nos deixou.

 

-Que lugar incrível! – Luiza disse se jogando na cama no quarto que vamos dividir. É um quarto grande com janelas azuis e uma pequena varanda. – Você viu essa vista?

-É mesmo incrível! – Concordo sorrindo pela animação da minha amiga.Me junto a ela em sua cama e ficamos deitadas conversando sobre o lugar. Até que seu telefone toca e ela atende uma chamada de vídeo de dona Tânia checando se está tudo bem.

-Vocês acham que a Isabela vai demorar? – Fábio pergunta entrando no quarto.

-Leva uma hora de Angra para cá, de carro pelo menos... então ela já deve estar chegando. – Pontuo me virando na cama para poder encará-lo. Noto que Fábio trocou a calça jeans por uma bermuda.

-Ótimo. Eu preciso ir no centro para estudar com as meninas. E eu também marquei de encontrar com o Tiago. – Ele afirma.

-O Tiago tá aqui? – Luiza pergunta sem disfarçar muito o tom de espanto e nervosismo em sua voz.

-Tá sim. Veio com um pessoal da escola. Está no alojamento, acabou de me mandar uma mensagem.

-Eles têm uma equipe concorrendo? – Luiza pergunta.

-Não, o professor de história deles dá aula numa escola particular que está concorrendo e resolveu trazer os alunos que tiveram melhores notas na matéria.

-Ele e quem? – Questiono encarando meu namorado.

-Eu não sei ao certo Manuela. – Ele fala com uma expressão de compreensão. – Mas você não tem...

-Eu sei. – Digo interrompendo-o.

-Vejo que vocês estão instalados! – Isa fala sorrindo. Ela está usando apenas um biquíni e uma blusa branca grande toda desabotoada, seus cabelos ainda úmidos.

-Alteza, veio a nado? – Fábio pergunta sorrindo.

-Não seja idiota. Eu vim de lancha, com o resto da minha corte. – Ela diz sorridente.

-Que bom que você chegou! – Luiza fala ficando de pé. – Queremos sair. Sua casa é maravilhosa, mas o nerd do meu irmão precisa estudar e eu quero passear por Paraty, talvez encontrar um turista maravilhoso.

-Você vê muita novela e pouco noticiário – Fábio diz.

-Eu vou só tomar um banho e podemos ir. Vocês estão precisando de alguma coisa? Meus pais vão voltar para Angra, essa é a ideia deles de supervisão, eles ficam de longe e me dão confiança, contanto que eu nunca a quebre.

-Contanto que eles nunca saibam que ela foi quebrada. – Digo sorrindo.

-Exatamente! – Ela afirma. – Vem comigo Luiza, quero te mostrar a vista do meu quarto.

Assim que elas saem Fábio senta ao meu lado na cama, eu permaneço deitada de bruços.

-Vamos precisar conversar sobre isso? - Ele questiona passando uma das mãos em meu cabelo.

-Sobre o que? – Devolvo a pergunta me fazendo de desentendida.

-Sobre Larissa.

-Não. – Respondo firme. – Você só precisa se preocupar em estudar e em me encher de atenção nos intervalos.

-Só isso? – Ele pergunta se inclinando por cima de mim, as pernas prendendo as minhas. – Isso é fácil.

-A porta tá aberta e os pais da Isabela ainda devem estar por aí.

-Eles não vão ligar. – Ele diz me encarando com ternura. Nem mesmo tento argumentar, passo minhas mãos por seu pescoço e nos beijamos.

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Entro na sala relutante. Meu pai faz questão de entrar comigo. Acho que seria menos constrangedor se ele tentasse me acompanhar numa consulta ginecológica do que isso, ele não pode esperar que eu me sinta bem falando com um psiquiatra em sua presença. Ainda assim, entro na sala e respiro fundo. Não sei bem o que esperar dessa conversa.

Meu pai senta e a médica se apresenta, fazemos o mesmo. Meu pai explica o porquê da nossa visita e eu fico de queixo caído quando ele diz que a minha mãe teve transtorno bipolar e ele acredita que eu também tenha. Olho para ele sem acreditar naquilo, mas, para ser honesta, eu não sei muito bem com o que estou impressionada, não sei quais as implicações de um transtorno bipolar.

A mulher agradece a introdução feita pelo meu pai e diz que precisa conversa comigo a sós, ele se levanta e passa a mão no meu ombro de forma carinhosa, seu olhar é como um pedido de desculpas.

-Agora que estamos a sós Juliana, você pode me dizer como se sente? Existe algo que você queria conversar? Alguma coisa te incomodando no momento? – Ela questiona. Imagino como a resposta disso levaria ela a saber se tenho ou não um transtorno bipolar. Meu pai deve estar ficando louco, procurando alguma explicação biológica para a bagunça que nossa vida se tornou. Ainda assim, já estou aqui, decido que não custa nada conversar com ela.

-Essa é como uma consulta normal de terapia? – pergunto. – Eu posso falar sobre como estou me sentindo?

-Claro. – Ela diz com um sorriso que inspira confiança.

-Ok, meu pai contou sobre o meu acidente. Sobre como ele acha que tudo isso tem a ver com alterações de humor, mas eu provavelmente sou apenas uma pessoa inconsequente.

-E por que você se sente assim? – Ela pergunta me encarando.

-Porque eu sempre machuco as pessoas que eu amo sem perceber que estou fazendo isso, ou talvez eu saiba e ainda assim as machuque.

-Você pode ser menos abstrata e me dar um exemplo de como você as machuca?

Conto para ela sobre Martinha, Lucas e Jabá. Toda a história, ou pelo menos tudo que sei. Conto que eu sabia que Marta, minha melhor amiga, era apaixonada por Jabá e ainda assim flertei com ele, conto que deixei ele pensar que eu gostava dele e que, ao mesmo tempo, eu também brinquei com os sentimentos de Lucas. Conto que eu percebi que amava Lucas e ainda assim permaneci com Jabá... conto sobre a gravidez de Martinha e a mentira que eles inventaram para me proteger.

-Eu deveria estar feliz por eles terem mentido para mim? – Pergunto. Nem mesmo havia percebido antes que estava irritada com aquilo, com a mentira.

-Claro que não. Mas será que isso deveria mesmo ser maior do que a importância que essas pessoas têm na sua vida? - A mulher pergunta me encarando.

-Não. – Confesso. – Mas não é só isso. Eu também não acho que eles merecem uma pessoa tão terrível em suas vidas. Eu não sei porque eu ajo da forma como ajo.

-Talvez o seu pai tenha razão. – Ela pontua me encarando. – Talvez você tenha mesmo um transtorno de bipolar e essas ações não sejam culpa sua.

-Seria extremamente conveniente, não seria? – Eu pergunto irritada. – Mas até que ponto essa condição me isenta? Até que ponto é a doença falando ou fazendo coisas? O que de fato sou eu mesma? Ou eu posso sempre usar como eu bem entender?

-Não é esse o ponto Juliana, tudo que você sente é verdadeiro e válido. Um diagnóstico e o tratamento correto vai te fazer ter mais consciência de como agir frente a esses sentimentos.

.....................x...................

Eu, Luiza e Isabela passamos boa parte da tarde no centro histórico de Paraty. Isabela nos contou sobre a arquitetura colonial, passeamos pelas lojinhas de artesanato, fomos até a casa da cultura, tiramos várias fotos. Depois voltamos para casa dela e aproveitamos um pouco da praia. Foi bom passar uma tarde só com elas, sem preocupação alguma, foi só quando entramos no restaurante para encontrar o pessoal para jantar que voltei a pensar em Juliana, foi o rosto cansado de Martinha que trouxe minha irmã de volta para minha mente.

-A barriga dela já está bem aparente. – Luiza comenta ao ver Martinha se sentar.   

-Mais de quatro meses de gravidez. – Eu disse meio distraída. Martinha estava sentada entre Fábio e Belinha, a professora Ana na cadeira de frente para eles, todos conversaram descontraidamente. Belinhas sem seu dreads, exibia fios loiros enormes e me pareceu ainda mais bonita.

-Boa noite! - Isabela falou se aproximando. – Atrapalhamos?

-Não. Nós já encerramos por aqui. – Ana disse. – Vocês podem jantar, eu tenho que voltar para encontrar com o pessoal da organização e acertar alguns detalhes.

-Tem certeza que não quer jantar com a gente professora? – Fábio pergunta.

-Tenho sim. Realmente preciso ir, durmam cedo, os três. E não se atrasem amanhã.

-Pode deixar professora, eu vou cuidar deles. – Martinha disse sorrindo.

-Tão maternal. – Belinha brincou passando a mão no ombro dela.

Assim que Ana se levantou, Fábio sugeriu que mudássemos para uma mesa maior.

-O Tiago tá vindo encontrar com a gente. E tem também o Artur, mas alguém? – Ele pergunta.

-Não. Acho que é isso. – Belinha responde.

Luiza e Isabela sentam lado a lado, Belinha completa o terceiro lugar ao lado de Isabela. Eu, Fábio e Martinha ocupamos o outro lado da mesa, restando apenas duas cadeiras vagas, as duas pontas.

-Você está linda. – Fábio diz enquanto me sento, em seguida, ele se aproxima e me dá um beijo.  – Linda e cheirosa. – Completa falando baixinho no meu ouvido.

-Estudaram muito? – Luiza pergunta.

-Bastante. – Belinha começa a dizer. – É claro que vai ser difícil ganhar considerando todas as escolas particulares inscritas, mas é bacana saber que chegamos até aqui. Do que você tá rindo, ela pergunta encarando Fábio?

-De como você ensaiou bem essa desculpa. A Belinha é a louca do desempenho, quando ela tira um nove ela surta. Semana passada estávamos estudando e ela não conseguia se concentrar porque fez um trabalho em dupla com o Artur e a nota não foi nove.

-Era um trabalho de artes. Claro que tínhamos que tirar 10. – Ela retruca sorrindo. – E eu não estava atrapalhando nossos estudos, estava?

-Um pouco. – Martinha responde ficando corada. Todos rimos da situação.

Um tempo depois Artur chega. Ele dá um aperto de mão em Fábio que levanta um pouco o corpo da cadeira para cumprimentá-lo, depois ele cumprimenta rapidamente cada uma de nós, sendo bastante carinhoso com Martinha e, em seguida, senta-se na cadeira mais próxima de Belinha e dá um beijo na namorada.

-Não deixou nenhum desses gringos paquerarem a minha namorada, deixou? – Ele pergunta a Fábio sorrindo.

-O que? Eu tomei mais conta dele do que ele de mim. – Ela fala sorrindo para Artur. Fábio está com uma das mãos por cima do meu ombro enquanto a minha passeia pelos dedos dele, sinto que ele fica tenso com o que Belinha fala, ela mesma me olha rapidamente com certo receio, mas volta a sorrir de imediato.

-Encontramos com a Larissa. – Ele diz em meu ouvido. – Nada demais. –Não digo nada, ele está sendo honesto como eu prometeu. Seus lábios encostam no meu cabelo e eu sinto qualquer começo de dúvida ou insegurança se esvair.

-Vamos pedir? – Martinha questiona. Talvez sua proximidade tenha feito com que ela percebesse que eu havia ficado desconfortável, talvez ela me entenda bem demais depois de todos esses anos.

-Você passou a tarde inteira comendo. – Belinha observa.

-Não pode tentar controlar a minha comida. Eu estou me alimentando por dois.

-Ou três. – Fábio diz.

-Dois. Eu tenho certeza disso. – Ela responde sorrindo.

-E como é que tá o pai dessa criança? O grande L...Ai, você pisou no meu pé. – Artur grita encarando a namorada.

-Pisei! Para você deixar de ser inconveniente. – A loira responde olhando para Luiza. Até onde Artur e Belinha sabem o Lucas é o pai do filho da Martinha. Tiro minha atenção de Martinha para Luiza que parece ainda menos confortável.  

-Podemos pedir?! – Isabela diz acenando para o garçom.

-Mas o amigo do Fábio ainda não vai chegar? – Belinha pergunta.

-Sem problemas. O Tiago não é a pessoa mais pontual do mundo. Vamos pedindo e já já ele aparece.

Observo enquanto Luiza e Isabela conversam, mas minha cunhada não parece irritada.

Fazemos nossos pedidos e as bebidas vão chegando.

-Então, Isabela.... eu soube que você tem uma casa aqui. Quando vai ser a festa? Hoje? Amanhã? – Artur pergunta com sua já reconhecida cara de pau.

-Ambos os dias. – Ela diz sorrindo. Eu esqueço o quanto Isabela gosta de festas.

-Seus pais não se importam? – Belinha pergunta.

-Não mais. Eles costumavam se importar, mas são psicólogos e eu resolvi combater fogo com fogo dizendo que quando os pais colocam limites demais os filhos se tornam dependentes e poucos responsáveis. Agora eles acreditam que eu devo aprender com meus erros.

-Onde é a fila para adoção? – Artur questiona.

-Até parece... a sua mãe é super gente boa Artur. – Martinha pontua. – Os meus pais e o da Manuela sim são caretas. Falando nisso, como é que o seu Ricardo liberou a sua vinda?

-Com muita argumentação da Juliana. – Digo sorrindo. A menção de Juliana faz o sorriso sumir do rosto de Martinha, ela subitamente parece triste.

-Olha só quem chegou. – Isabela avisa. Olho para a entrada e vejo Tiago, ele está extremamente bonito, uma camisa de malha com manga longa, os cabelos um pouco bagunçados, a barba um pouco maior, um sorriso no rosto.

Fábio fica de pé e cumprimenta o amigo com um aperto de mão e um meio abraço, eu sempre acho engraçado o modo como os homens se cumprimentam.

-Minha lutadora predileta! – Ele diz. Eu estendo minha mão e ele a beija cavalheiramente.

-Está bonito de barba. – Eu digo sorrindo. Tiago é sempre uma boa surpresa.

-Bonito o suficiente para você trocar o Fábio por mim? – Ele pergunta rindo para o amigo.

-Ok, não vamos nos exagerar. Guarde um pouco do seu charme para o resto da mesa. – Digo. – Essa aqui é a Martinha, aquele o Artur, ao lado dele a Belinha, Isabela você já conhece e eu acho que não preciso te apresentar a Luiza. – Afirmo dando um tom de provocação a essa última parte.

-De forma alguma. – Ele diz dando um beijo no rosto de Luiza que parece mais animada com a presença dele. Tiago senta na ponta vazia da mesa, ficando perto de Luiza e de Fábio. E então pega outro cardápio e faz seu pedido enquanto os nossos pratos estão chegando.

-Então Isabela, quando vai ser mesmo essa festa? – Artur insiste.

-Amanhã. Assim que a Olimpíada terminar, estão todos convidados.

-Que horas acaba mesmo? - Artur questiona.

-Vai até as 12h, depois disso tem uma cerimônia de premiação. – Martinha responde.

-Festa na minha casa, 18h. Todos convidados. Levem amigos. –Isa afirma.

-Podemos beber nessa festa? – Belinha pergunta.

-Eu só tenho dezesseis anos. Então oficialmente a resposta é não. Mas qualquer um que queria levar sua própria bebida, pode ficar à vontade.

Jantamos, continuamos planejando a festa de amanhã, pedimos sobremesas. Artur e belinha, eu e Fábio até dançamos ao som de um trio pé de serra.

-Eu preciso ir. – Martinha avisou. Olho para o relógio no pulso de Fábio e noto que já são nove horas. – Preciso voltar para o dormitório.

-Você está bem acomodada lá? – Isabela pergunta. – Porque você pode dormir na minha casa se quiser, eu deveria ter oferecido antes na verdade.

-Estou sim. É gentil da sua parte oferecer, mas acho que é melhor ficar por lá.

-Você deveria aceitar. – Luiza diz. Todos na mesa parecem surpresos, até mesmo eu que sei mais do que eles sobre toda a situação, pois, mesmo que Martinha não tenha dormido com o namorado de Luiza, ela ainda é um lembrete do que ele fez, da mentira, de como ele, deliberadamente, escolheu a magoar.

-Tem certeza? – Martinha pergunta olhando para Luiza.

-Absoluta. Vai ser mais confortável e você pode sair junto com o Fábio amanhã cedo.

Martinha é encorajada por Belinha, eu também digo que seria legal que ela fosse, assim como Fábio, e então ela aceita dormir na casa de Isabela. Pagamos a conta e nos despedimos de Artur e Belinha que precisam voltar para o alojamento antes do toque de recolher que é às 10h, combinamos com eles para que durmam na casa de Isabela amanhã depois da festa.

-Você não tem que voltar para o alojamento? – Isabela pergunta a Tiago que caminha conosco pelas ruas de Paraty.

-Não. O pessoal da minha turma está quase todo num hostel, eu estou com eles.

-Quem veio? – Luiza pergunta.

-Amanda, Carol, Gustavo... Lua, Brenda, Larissa...basicamente todo mundo.

Eu tento ignorar a menção ao nome de Larissa. Eu não tenho razões para estar preocupada. Fábio beija meu rosto enquanto caminhamos de mãos dadas, o beijo é como uma confirmação dos meus pensamentos. Deixamos que os quatro sigam mais na frente.

-No que você está pensando? – Pergunto.

-Em como vai ser morar junto com o Caio.

-Eu pensei que você tivesse concordado.

-Eu concordei, mas isso não muda o fato de que vai ser estranho. Deixar a nossa casa, eu moro ali minha vida inteira... eu sei que não é muita coisa, mas...

-Mas é a sua casa e eu adoro a sua casa. – Digo acariciando o braço de Fábio. – Eu entendo, mas eu acho que vai ser bom para vocês, para todos vocês.

-Olha se não são Yoko e Jhon Lenon. – Uma voz conhecida diz, olho para atrás e vejo Antônio, amigo de Fábio. Eles se abraçam e eu o cumprimento.  -Vocês viram o Tiago? – Ele pergunta.

-Logo ali. – Fábio aponta para nossa frente.

-Sempre cercado de mulheres. É um verdadeiro dom que esse homem possui. É por isso que eu preciso dele.

-Yoko! – Digo sorrindo. – Era só o que me faltava.

-Bom, pelo menos ela e o Jhon Lenon foram felizes. – Fábio afirma. 

Observo enquanto Antônio se aproxima do grupo que para. Quando nos aproximamos todos já estão devidamente apresentados.

-Nós já estamos mesmo indo para casa. – Luiza diz.

-Tem certeza? – Antônio pergunta. Vocês todos podem vir junto, principalmente você. – Ele diz olhando para Isabela.

Isa o encara com seu melhor olhar de desinteresse, o mesmo que já vi ela distribuir em diversas outras ocasiões, inclusive quando o Tiago flertou com ela no hostel meses atrás.

-Como eu posso resistir a esse convite? – Ela pergunta sarcasticamente. – Vou pedir um táxi para minha casa agora mesmo.

-Você ainda não percebeu, mas tenho certeza de que já está interessada. – Antônio afirma sorrindo.

-Vamos! – Tiago diz puxando o amigo. – Vejo vocês amanhã! – Eles se afastam e eu observo a expressão no rosto de Luiza, ela parece desapontada com o fato de que Tiago foi embora, mas não fala nada.

.........................x.........................

-A Martinha já está instalada. Só vim ver se vocês duas ainda precisam de alguma coisa. – Isabela afirma ao entrar no quarto que divido com Manuela. Eu já tomei banho e estou de pijama, enquanto isso minha cunhada está passeando apenas de blusa enquanto separa algo para vestir depois do banho.

-Estamos bem. – Digo sorrindo. – Mas sabe do que eu preciso? Preciso que você se sente aqui e opine junto com a Manuela sobre o Tiago.

-Gato, ficou bem melhor de barba, e que corpo! – Ela diz sorrindo. – É opinião suficiente?

Manuela começa a rir e eu acabo caindo no riso também. Além disso, eu achei mesmo que ele ficou ainda mais bonito com aquela barba. Em seguida, conto para elas sobre como Tiago ficou de me convidar para sair depois do beijo maravilhoso que compartilhamos na praia, mas nunca deu notícia.

-Talvez ele seja tímido. – Isabela sugere.

-O Tiago? Ele é tudo menos tímido. – Afirmo – Estou começando a achar é que ele não está interessado, nunca esteve. Deve ter sido tudo coisa da minha cabeça.

-E por que seria coisa da sua cabeça? Você é linda! Inteligente, incrível. O Tiago teria sorte em sair com você, qualquer cara teria. – Manu me diz.

-Ah Manuela, você é minha amiga e minha cunhada, claro que você me acha todas essas coisas, mas o Tiago é mais velho do que eu e eu sei como as garotas olham para ele, ele poderia ficar com qualquer outra pessoa. – Desabafo. Lembro de como eu me senti quando estudávamos na mesma escola, Tiago nunca me deu bola, eu era só a irmã mais nova do Fábio.

-Ok, eu sei que eu não sou a pessoa mais experiente ou segura de todas para dar conselhos desse tipo, mas eu vi o modo como ele olha para você e é isso que importa, não como outras olham para ele. – Manu pontua. Aprecio seu esforço, mas ainda acho que estou certa.

-Você já parou para pensar que talvez ele esteja receoso? Quer dizer, você é a irmã do melhor amigo dele e ele acompanhou de perto parte desse drama com o Lucas. – Isa diz.

-O que eu deveria fazer então? – Questiono. Sei que Fábio e Tiago são amigos há muito tempo, sei que meu irmão é conhecido como super protetor, então talvez ela tenha razão.

-Tomar a iniciativa. – Isabela afirma. – Qual o problema de você chamá-lo para sair? Não podemos ficar esperando o tempo todo que os homens decidam quando começar e quando terminar qualquer coisa. Temos que dizer o que queremos, deixar claro o que queremos.

-Eu nunca teria coragem. Quer dizer... eu fui insistente com o Lucas, mas foi ele quem de fato... eu não sei se posso fazer isso.

-Ok, então que tal se você apenas convidá-lo para dançar amanhã na festa? – Manu sugere.



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