1. Spirit Fanfics >
  2. Como cães e gatos >
  3. Fim

História Como cães e gatos - Fim


Escrita por: jofanfiqueira

Notas do Autor


Finalmente terminei. Demorei para postar este último capítulo porque escrevê-lo foi complicado, eu tinha tanta coisa para abordar, não queria deixar nenhuma ponta solta. E acho que não deixei, mas realmente só relendo tudo para ter certeza. Quero agradecer a todo mundo que acompanhou a história, quero agradecer por cada comentário de incentivo. Eu amo escrever independente de qualquer retorno, mas receber avaliações, solicitações, etc é sempre muito bacana e estimulante.
Vocês sabem que eu tenho um carinho enorme por esse casal, então tentei fazer esse último capítulo refletindo todo esse carinho. Espero que gostem.
Abraço e obrigada por tudo.

Capítulo 47 - Fim


Nova York, 6 de dezembro.

Estava nevando em Nova York e a proximidade do Natal deixava as ruas enlouquecidas, mais que o normal. Depois de quase um mês na cidade, eu e Juliana já estávamos com certa experiência em andar pelo mar de pessoas sem sermos levadas pela correnteza, já tínhamos nossas lojas prediletas, cafés prediletos, minha irmã até mesmo estava fazendo um curso de curta duração sobre jornalismo ativista. E é claro que passar um mês numa cidade fora do seu país de origem, numa cidade que é um dos maiores centros comerciais e culturais do mundo é um sonho, o Central Park, os museus, as pessoas novas, as festas, e eu estava genuinamente contente por essa a cidade na qual meu pai e seus novos sócios estavam, passar um mês longe do meu namorado convencido não seria suportável se eu estivesse numa cidadezinha pequena do sul dos EUA.

Eu obviamente não tive a opção de ficar em casa depois que seu Ricardo simplesmente proibiu que eu mantivesse contato com tio Caio, o que me deixava sem um responsável legal no Rio de Janeiro, já que Bárbara nunca está numa só cidade, devido à supervisão das novas filiais da Forma. Juliana também estava sentido falta de Lucas, mas para ela a coisa era menos dramática, ela de fato escolheu passar esse mês fora, sentiu que merecia depois de tanto estudarem para o vestibular e contato que ela pudesse voltar em tempo para acompanhar o nascimento do afilhado, tudo estaria bem.

Entramos no táxi às cinco da manhã - todas nossas malas fizeram necessário dois táxis, Juliana havia comprado o suficiente para duas vidas em presentes, principalmente para o afilhado -  era finalmente hora de voltar para casa e eu mal poderia esperar para rever todo mundo.

—Não foi tão ruim, foi? – Juliana pergunta sorrindo.

—Não, claro que não. Foi supreendentemente muito bom.

—Não deixe o seu Ricardo ouvir isso. – Minha irmã comenta animada. -  Foi ótimo, mas eu realmente quero ir para casa, meu afilhado em alguns dias. E eu preciso estar lá, a Martinha precisa de mim.

—Ela não mudou de ideia sobre contar a verdade? – Questiono.

—Não. E eu sei que isso torna as coisas mais complicadas, mas eu realmente não me importo, eu só quero que a minha amiga seja feliz e se é isso que ela deseja, mesmo que não me pareça a decisão mais acertada do mundo, eu vou apoiar.

Não digo mais nada sobre o assunto, passamos o resto do percurso falando sobre aspectos de Nova York que nos fariam falta, ainda tínhamos 10 horas de vôo pela frente.

...................................x............................

Rio de Janeiro, 6 de dezembro.

Saio do trabalho e vou direto encontrar com a Martinha que me aguarda na lanchonete para irmos para a sua última aula de Yoga antes do parto, que estava programado para daqui a três dias. Depois disso, pretendíamos buscar Juliana no aeroporto. O voo dela estava previsto para chegar às cinco horas da tarde. Eu havia insistindo em passar para pegá-la, já que estou com o carro de Juliana enquanto ela está em Nova York, mas Martinha, obviamente, não me ouviu e saiu de casa sozinha.

De longe, olhando em direção à lanchonete, vejo Jabá, ele tinha sumido desde que as aulas terminaram, me sinto culpado por não ter tentando ajudá-lo com tudo que estava acontecendo, conheço-o suficientemente bem para saber que ele é o tipo de pessoa que pode terminar de se afundar se deixada sozinha. À medida que me aproximo percebo que ele parece bem, está bem vestido, sem o aspecto de abandono que encontrei na última vez que o vi, percebo ainda que ele está conversando com alguém, então dou mais alguns passos e posso ver os cabelos loiros de Martinha e ouvir sua voz.

—Fico feliz que você esteja melhor. – Ela afirma encarando-o. Seus braços estão cruzados encima da grande barriga, meu primeiro impulso é de me aproximar, mas não faço isso. Saio do campo de visão e entro na lanchonete pela porta lateral, estou perto o suficiente para ficar de olho nos dois. Jabá sempre adorou Martinha, sempre teve uma postura defensiva sobre ela, eu sabia que ele poderia deixar o mau exemplo que teve em casa falar mais alto em algumas situações, e nunca vou esquecer que ele forçou um beijo em Luiza, mas parte de mim acredita que ele é o mesmo garoto com quem eu jogava bola quando pequeno, parte de mim sabe que ele sempre quis se afastar das coisas ruins, ser totalmente diferente do pai.

—Estou. Obrigado por ter me ajudado com as datas das provas, me enviado os assuntos, você sempre cuidou de mim. – Jabá afirma. Ele dá um passo para frente e percebo que o clima fica estranho entre os dois. - Então, quando esse bebê nasce?

—Em alguns dias.

—Onde estão os seus conjugues?

—Eles não... A Juliana está nos Estados Unidos. Chega hoje. E o Lucas já deve estar vindo por... aí! – Martinha grita. – Tem alguma coisa estranha acontecendo.

—A sua bolsa... – Jabá fala se aproximando de Martinha. Avanço na direção dos dois.

—Martinha, estou aqui. Vamos, vou te levar para o hospital.

—Vamos chamar um táxi. – Jabá afirma apoiando Martinha. Enquanto isso minha amiga protesta dizendo que é cedo demais, que ela não está pronta, que as coisas do bebê não estão prontas.

—Eu estou de carro, está estacionado aqui perto. Vou buscar.

—Não precisa. – Jabá afirma pegando Martinha no colo. Nós vamos juntos, é mais rápido.

Jabá senta nos bancos traseiros, segurando Martinha que está parcialmente deitada, o corpo encostado no peito de dele, enquanto eu dirijo.

—Alguém precisa ligar para minha mãe. E para Jéssica. – Ela grita.

......................................x..................................

Rio de Janeiro,

Entro no ofegante, vindo direto do aeroporto e arrastando Manuela comigo. Seu Ricardo foi u único que seguiu para casa, levando nossas malas. Assim que entramos na recepção, dou de cara com Lucas. Ele está sentado ao lado de Jabá, ambos apreensivos, mas há algo na expressão e Jabá, algo como um choque, que faz com que eu sinta um arrepio na espinha.

—Como ela está? – Pergunta Manuela colocando sua praticidade em ação. Lucas se levanta do notar nossa presença e me dá um abraço apertado.

—Ainda bem que você está aqui. Eu senti sua falta. – Ele fala passando as mãos em minhas costas.

—E eu a sua, meu amor. – Respondo-o beijando-o.

—Oi Manu, é bom te ver também. – Ele afirma encarando minha irmã – A Martinha está dormindo agora. Jéssica está no quarto. Nós estivemos com ela enquanto o bebê nascia...

—Vocês dois? – Pergunto surpresa.

—Sim, nada mais justo. – Jabá afirma ficando de pé. – Me deixem perguntar uma coisa, quando vocês pretendiam me contar que esse garoto é meu filho? – Ele pergunta. Conheço Jabá bem o suficiente para entender que quando ele prende a mandíbula e se esforça para manter um tom baixo da voz, é porque ele está realmente furioso.

—Quando a Martinha quisesse contar. Essa história não é minha. E você tem que admitir que... – Me calo, sei que o que pretendia dizer poderia piorar tudo.

—Que ela tinha razão? Que eu seria um pai tão ruim que ela preferiu mentir para todo mundo dizendo que estava grávida do Lucas? E como isso funciona para você Juliana? Seu namorado seria o pai de mentira do bebê pelo resto da vida e vocês quatro viveriam felizes para sempre?

—Jabá, não é bem assim. Você estava namorando com a Ju quando transou com a Martinha, ela estava com medo de partir o coração da amiga, de perder a amizade da Juliana. Depois, você não estava exatamente na melhor das situações para que ela se sentisse bem para contar sobre a gravidez.

—O que ela achou? Que eu ia jogá-la de uma escada? Eu nunca faria mal nenhum a Martinha!

—Jabá, baixe seu tom de voz, por favor, estamos em um hospital. Vamos conversar lá fora. – Sugiro. -Eu e você.

—Não. Você Juliana, é a última pessoa do mundo com quem eu quero ter essa conversa. Eu vou embora, mas avisem a Martinha que ela tem muito o que explicar.

Assim que ele sai eu me sento colocando a mão na cabeça. Martinha vai surtar quando souber disso.

—Como ele descobriu? – Manuela pergunta.

—Essa pergunta se responde sozinha. Venham ver. – Ele fala seguindo pelo corredor. Assim que chegamos em frente à da sala onde ficam as incubadoras neonatal. – Qual deles você acha que é o Luquinhas? – Meu namorado pergunta.

Observo os pequenos bebês, a maioria deles dormem. Entre os pequenos há uma criança morena com muitos cabelos, é óbvio que aquele garoto é filho do Jabá.

....................................x........................

Com tudo que aconteceu, só vejo Fábio no dia seguinte à minha volta para o Brasil. Estou em casa quando a campainha toca e eu encaro seu sorriso arrogante do outro lado da porta. Me jogo em seus braços e ele começa a me beijar imediatamente, tanto que, Bárbara, que está de saída, nos encara dizendo “isso aqui ainda é a sala de estar, procurem se recompor”, antes de passar pela porta.

—Meu Deus, como eu senti sua falta. – Fábio afirma passando a boca pelo meu pescoço.

—Uma pena que eu não posso dizer o mesmo. – Brinco. O comentário faz com que Fábio puxe minhas pernas para cima das suas, dando um firme aperto em minhas coxas. – Você quer ver o quanto eu não senti sua falta lá no quarto?

—Não me provoca Manuela. – Ele retruca se restringindo. – O seu pai chega a qualquer momento e eu entro na lista negra dele junto com o Caio e a minha mãe.

—Bom, agora você não precisa mais se preocupar. – Aviso encarando-o. -Você totalmente cortou o clima com essa conversa. – Não via meu tio em meses, pois, ele se negava a me ver às escondidas, dizendo que eu precisava respeitar a vontade do meu pai. E não parecia que meu pai estava prestes a mudar de ideia, na verdade, seu Ricardo ficou ainda mais furioso quando Giovane não quis continuar na Forma, pois, não poderia mais ser treinado por Tio Caio. – Como ele está?

—Bem. Ele e a minha mãe estão empolgados com o centro de treinamento. – Fábio conta. O lançamento do Centro, um espaço para formação de novos jogadores de vôlei, chamado “Areias do Rio” foi inaugurado dias antes da nossa viagem para os Estados Unidos.

—Fábio, eu sei que já te perguntei isso, mas o que aconteceu quando vocês chegaram em casa? Depois do meu aniversário. Você me disse que a sua mãe decidiu acreditar no tio Caio, mas como? O que ele disse que fez com que ela acreditasse nele?

Fábio se ajusta no sofá, se afastando um pouco. Seus olhos me encaram, ele parece ponderar.

—Você disse que não ia me esconder nada, que não ia mentir para mim. E eu preciso saber disso Fábio. – Apelo. – Meu tio é uma das pessoas mais importantes do mundo para mim, foi ele quem esteve ao meu lado quando a minha mãe se foi, que cuidou de mim, que foi nos meus plantões de escola, que me levou para treinar, ele foi meu pai por tanto tempo, eu não posso simplesmente aceitar a ideia de que ele não pode estar na minha vida. E a sua mãe é uma pessoa honesta, justa, ela não estaria com ele sem uma boa explicação, me conte, por favor.

—Se eu te contar, você promete que não vai fazer nada? Promete que vai deixar com que eles lidem com isso da forma como bem entenderem?

—Claro que não. Se houver alguma coisa que eu possa fazer, eu vou fazer. E eu poderia mentir para você e dizer que sim, prometer ficar calada, mas estou sendo honesta na esperança de que você também seja.

—Tudo bem. – Ele afirma passando uma de suas mãos em minha perna de forma carinhosa. – Mas tente não ser precipitada como a Luiza, ok? Nada do que eu vou dizer é de fato uma prova contra o seu pai, mas Carmem disse numa das cartas que enviou ao Caio que tina enviado uma carta para o Ricardo contando que estava grávida, e ela foi embora porque não queria mais ser a amante dele, não quando sua mãe estava doente e ela se sentia a pior pessoa do mundo.

—Então o meu pai sabia sobre a Joana? – Pergunto tentando assimilar. – E qual o envolvimento do tio Caio nisso tudo?

—Ele era amigo da Carmem, ele ofereceu dinheiro para ajudá-la, e eu acho que ele tinha uma certa queda pela mãe da Joana, mas pelas cartas, isso é tudo. Eles eram amigos, ela confiava nele.

—Você acha que o meu pai recebeu essa carta?

—Eu não sei meu amor. A única coisa que eu tenho certeza é de que o Caio achava que ele sabia da Joana, mas achou que não era um segredo dele para contar. Você está bem?

—Estou. –Respondo encarando os olhos de Fábio. – Obrigada por me contar.

—O que você vai fazer?

—Perguntar ao meu pai sobre isso, só não sei como ainda. Eu não quero causar mais brigas, nem quero que a Joana se sinta mal com isso tudo, mas não posso deixar que essa história me afaste do tio Caio. Você pode fazer fotos dessas cartas para mim?

—Não sei Manuela. Acho melhor não.

 ...............................x................................

Entro no quarto e Lucas está dormindo na poltrona enquanto Martinha cochila na cama, me aproximo do carrinho neonatal e encontro o pequeno Lucas acordado, encarando o mobile de carrinhos coloridos que gira vagarosamente acima dele, em seu segundo dia de vida, o garoto já parece mais velho do que de fato é. Luquinhas é um menino enorme, extremamente parecido com o pai. Era óbvio que Jabá veria os traços, principalmente considerando o fato de que o bebê nasceu antes de nove meses, já que pela falsa conta de Martinha, para ser filho de Lucas, o garoto ainda deveria esperar mais duas semanas para nascer. Retiro-o do berço e passeio pelo quarto conversando com ele.

—Sequestrando crianças do berço? – Lucas pergunta. Me viro em sua direção para encontrá-lo de olhos abertos me encarando, sua expressão bastante cansada.

—Como vai a vida de falso pai de primeira viagem?

—Terrível. Me prometa que nunca teremos filhos.

—Nenhum! -  Digo sorrindo. – Eu provavelmente vou roubar esse aqui para mim. Já está pronto e você já é considerado como pai de qualquer forma. – Martinha ronca fazendo com que tanto eu quando Lucas a encaremos. – O que deram para ela?

—Ela estava enjoada e a enfermeira passou uma medicação, ela disse que daria sono.

Escutamos batidas na porta e Lucas levanta para atender. Assim que ele abre a porta corro meus olhos para encontrar Jabá parado nela, conheço-o suficientemente para reconhecer aquela expressão de “alguém me tirou do chão”.

—Posso entrar? – Ele pergunta.

—Eu não sei se é isso que a Martinha quer. – Lucas responde.

—Eu estou perguntando por educação, aquele é o meu filho. É claro que eu posso entrar. – Ele afirma dando um passo na direção de Lucas, meu namorado não recua. Então eu caminho até eles e peço para que Jabá entre. Ele mal me olha, sua atenção vai diretamente para Luquinhas que se move em meus braços.

—Posso? – Pergunta. E eu passo o garoto para ele com cuidado. Parte de mim acha que eu estou fazendo algo errado, que Martinha era quem deveria decidir sobre isso, como Lucas sugeriu, mas Jabá parece precisar disso mais do que qualquer outra coisa no mundo, o modo como ele olha para o filho, eu conheço aquele olhar, eu já o vi tantas vezes, ele costumava me olhar com uma ternura similar. – Está certo? – Ele pergunta um pouco desajustado. Eu nunca vi Jabá segurando uma criança antes, mas ele parece fazer isso consideravelmente bem. Ajusto um pouco o braço para que o pequeno fique com a cabeça melhor apoiada. – Ei, garotão... – ele começa a falar. – Eu sou seu pai.

—Ele tem o seu queixo. Seus olhos. – digo sorrindo.

—E o nariz da mãe. – Ele pontua sorrindo.  – Como ela está? – Pergunta olhando para Martinha.

—Bem. – Respondo. Olho para Lucas, ele saberia dizer melhor o estado de Martinha, já que esteve com ela a noite toda, mas meu namorado se recusa a falar qualquer coisa.

—Que bom! Olha, eu tenho que ir. Preciso voltar para o trabalho, não posso ser demitido, principalmente agora, mas avisa para Martinha que eu vou voltar, que eu quero conversar com ela.  

—Claro. –Afirmo pegando o garoto. Luquinhas chora um pouco e Lucas se aproxima, se oferecendo para embalá-lo. Ele é muito melhor com o menino do que eu, então passo-o para seus braços.

Abro a porta para Jabá e caminho com ele até a saída do hospital.

—Você está bem com tudo isso? Por ter descoberto assim? – Pergunto.

—Claro que não, mas pelo menos não estou mais bravo. Ela também te enganou por um bom tempo, não enganou? – Ele questiona. Os olhos castanhos de Jabá são mesmo iguais aos do filho.

—Sim, mas eu entendi.

—Você não fiou brava por eu ter dormindo com a Martinha?

—De verdade? Não. Eu gostei muito de você Jabá, sinceramente, mas eu sempre soube que a Martinha te ama, se alguém tinha o direito de estar brava, era ela. Eu não ia deixar a minha melhor amiga sair da minha vida por isso.

—Ama? – Ele pergunta curioso. Me arrependo imediatamente de ter dito isso.

—Você precisa mesmo perguntar? Jabá, você pode ser muitas coisas, mas não é burro. Nunca foi.

—É. Eu sei. E você pode até não acreditar, mas quando eu soube que ela estava grávida, parte de mim desejou que aquela criança fosse minha e não do Lucas, a ideia dos dois juntos, aquilo realmente me incomodou, então, no fim das contas, talvez eu nem mesmo estivesse brigando por você.

—Estranhamente, isso é mais reconfortante do que é um insulto. – Afirmo sorrindo.

—Por que ela não me contou? Essa é a parte que eu não entendo. Ela não queria te magoar, ok, mas e depois que você descobriu?

—Jabá, você vem de uma família complicada. Todos os problemas com seus pais, se eu tivesse engravidado de você quando estávamos juntos, a minha primeira opção seria um aborto. E acho que a Martinha pensou que você poderia querer isso, e você estava passando por uma fase ruim, deixou de ir para aulas, brigou com todo mundo, teve aquela coisa da Luiza.

—Eu já pedi desculpas por isso. Eu estava tomado por ciúmes, eu nem mesmo pensei em como aquilo violava o espaço da Luiza, como aquilo era errado, como aquilo era um crime. Eu pedi desculpas para ela, para Tânia. Você sabe melhor do que ninguém que eu não quero repetir os erros do meu pai. Então eu quero ser um bom pai Ju, de verdade.

—Eu acredito em você, e estou orgulhosa. – Digo abraçando Jabá.

............................................................x...............................................

Embora a festa oficial de formatura da turma do terceiro ano só vá acontecer em alguns dias, uma festa de despedida informal está acontecendo hoje no hostel e eu estou a caminho com Lucas e Juliana.

—A Martinha vai? – Pergunto.

—Não. O Luquinhas está com cólicas, eu mesma quase desisti para ficar com ele, mas o Jabá disse que ia ficar com eles, achei melhor dar algum espaço. – Minha irmã conta enquanto dirige. Sentado ao lado dela na frente, Lucas faz uma expressão de desgosto quando ouve o nome de Jabá. Sei que ele acha que a ideia de se aproximar de Jabá é um erro, eu mesma já havia ouvido ele dizer que Martinha acabaria decepcionada. – Além disso, ele só tem duas semanas de nascido. A Martinha mal quer sair do lado dele para ir ao banheiro.

—Claro que ela quer. – Lucas conta sorrindo. – Ontem ela estava totalmente descabelada e tomou um banho de quase uma hora só para ficar em paz por um tempo enquanto eu colocava o garoto para dormir.

—Mas ela irá para formatura, certo?

—Claro! Está me enlouquecendo com o vestido. Disse que nada cabe nela. – Juliana conta estacionando. - Prontinho, chegamos. Você, - Ela fala pegando no rosto do namorado. – Desamarra essa cara linda e tenta se divertir, eu tenho certeza de os três vão ficar bem.

—Sinto muito. - Lucas fala. – Eu devo estar parecendo um idiota. Eu só realmente não quero que a Martinha dependa do Jabá porque ele pode não estar lá amanhã, e acredite em mim, eu quero que ele esteja, mas ela precisa considerar essa possibilidade. Você sabe muito bem como a Martinha pode ser um pouco irracional e se deixar levar pelas emoções.

—Vamos dar um voto de confiança, ok? Ele está tentando, você também deveria tentar. Agora chega disso, vamos dançar e aproveitar, é a nossa última festa como alunos do Don Fernão.

Descemos do carro e eu recebo uma mensagem de Fábio que pergunta onde estou. Aviso que estou entrando na festa, mas antes que possa fazer isso encontro com Antônio na porta.

—Procurando a entrada? – Pergunto brincando com ele.

—Esperando por você para me guiar. – Ele retruca sorrindo. – Acabei de descer do táxi.

—E a Isa?

—Veio com a Luiza. Já está lá dentro. Vamos entrar?

—Claro!

.................................x.............................

Estou encostada contra o corpo de Tiago enquanto o pessoal monta o som, olho para a direita e vejo Lucas entrando com Juliana, é a primeira vez que vejo o casal em algum tempo, percebo que essa é também, a primeira vez que não sinto nada ao vê-los, nenhum ressentimento, nenhuma vergonha, apenas o calor do fato de que estou nos braços do meu namorado incrível. Sinto os braços de Tiago me segurarem de forma mais protetiva, como se ele estivesse imaginando o modo como ver meu ex com Juliana poderia me fazer sentir.

Percebo que, atrás do casal, Manuela e Antônio se aproximam. Juliana cumprimenta Fábio, que está mais perto dela com um abraço ouço quando ela se refere ao meu irmão como “cunhadinho”, Lucas apenas acena positivamente para Fábio que mal responde, depois eles falam com Isabela e, por fim, Juliana me dá um olá sem jeito, já Lucas é um pouco mais cortês. Respondo educadamente, mas só isso. E então eles se afastam para ficar, suponho, com o restante do pessoal do terceiro ano que estava mais na frente.

Observo enquanto Antônio e Isabela se beijam, Fábio e Manu trocam carinhos, então me viro para encarar Tiago, sua pele bronzeada, seus olhos castanhos, os lábios maravilhosos. Pego sua mão e caminho com ele, nos afastando da pequena multidão, do barulho do som que está sendo passado pela banda que deve começar a se apresentar a qualquer momento.

—Onde estamos indo? – Tiago quer saber. Sua voz fala diretamente em meu ouvido.

—Para um lugar mais tranquilo. – Afirmo passando para a área de descanso do hostel. Um espaço que contém algumas cadeiras confortáveis e redes, mal podemos ouvir o barulho depois que fecho a porta. – Eu preciso te dizer uma coisa. – Afirmo encarando-o.  

—Eu deveria me preocupar? – Ele pergunta me olhando com curiosidade, noto que ele está de fato apreensivo. – É sobre o Lu....

—Não! Quer dizer, de alguma forma sim, mas isso não é sobre ele. É sobre nós dois, é sobre você. É sobre como eu estou feliz do seu lado. Eu precisava te dizer isso, esses últimos três meses têm sido os meses mais felizes da minha vida e você é o culpado por isso. – Um sorriso aparece no rosto de Tiago e ele se aproxima colocando suas mãos calorosas na minha cintura, colando nossos corpos. – Me deixe terminar, eu quero te dizer que, finalmente, não existe espaço para ninguém mais além de você e que eu te amo.

—Você tem noção do quanto eu queria ouvir isso? – Ele pergunta. – Luiza, eu também te amo. Você é incrível, engraçada, inteligente e linda, absurdamente linda. E a coisa que eu mais quero no mundo é isso, ser capaz de fazer você feliz.

—Então eu tenho uma boa notícia: Você está fazendo um ótimo trabalho! – Digo beijando-o.

..........................................x...................................

—Você pode me ajudar aqui? – Manuela pergunta virando de costas para mim e apontando o vestido.

—Tem certeza de que o seu pai não volta para casa hoje? – Pergunto me aproximando, minhas mãos seguram o zíper do vestido, deposito um beijo no pescoço de Manuela.

—Tenho certeza Fábio! Certeza absoluta! – Ela enfatiza. Quando termino de descer o zíper, Manuela fica de frente para mim e baixa a parte de cima do vestido, exibindo seu sutiã. Coloco minhas mãos em sua cintura me aproximando.  – Ele vai dormir na casa da Tita. –Por que? Você está com medo?

—Não. Eu estava pensando em dormir com você na cama dele, deve ser bem maior. Aproveitar para conhecer os segredos do meu sogro. – Digo beijando Manuela.

—É isso! – Manu diz.

—Eu nem fiz nada ainda. – Afirmo sorrindo.

—Não seu cafajeste! Essa é uma ótima ideia. Como eu não pensei nisso antes? Precisamos vasculhar as coisas do meu pai, procurar por essa carta.

—Você ficou maluca Manuela? – Pergunto levantando.

—Não. E para referências futuras, da próxima vez que você insinuar que estou maluca, as coisas não vão ficar boas para o seu lado – Ela diz estreitando os olhos.

Assisto enquanto Manuela veste uma camisa e até tento protestar contra a ideia novamente, mas ela se nega a me ouvir, então resolvi seguir a ideia de quando não podemos contra alguém temos que nos juntar a ele.

 Entramos no quarto de Ricardo, é um cômodo bastante organizado, me sinto mal olhando os pertences íntimos de alguém, mas o fato de que não há nada para se olhar me deixa mais tranquilo. Meu sogro tem apenas roupas, filmes e álbuns em seu quarto, basicamente isso. Manuela olha até os bolsos das jaquetas e paletós do pai, e depois disso partimos para o escritório, que, diferente do quarto, é uma bagunça. Papéis por todos os lados, cadernos de anotações, levamos o dobro do tempo e ainda assim não encontramos nada.

—Satisfeita? – Pergunto quando Manuela se senta na cadeira do pai parecendo frustrada.

—Eu pareço satisfeita Fábio? – Ela me pergunta. Me aproximo de Manuela e dou um beijo em sua testa.

—Meu amor, às vezes a melhor coisa é não encontrar nada. Se eu e a Luiza não tivéssemos achado a carta da Carmem tudo estaria bem agora, talvez devêssemos deixar o passado quieto. Não é como se pudesses voltar no tempo e saber o que aconteceu com a carta, qualquer outra coisa pode ter acontecido além da opção em que seu pai recebeu e não se importou o suficiente para procurar a Joana.

—Você não é só um rostinho bonito. – Manuela diz rindo. - Vem comigo, tem mais um lugar que ainda não olhamos.

Entramos na garagem privativa e várias caixas estão empilhadas, começamos a vasculhar tudo. A primeira coisa que encontro são pertences de Manuela e as irmãs de quando eram pequenas, roupas, sapatos e coisas do tipo. Manuela olha as coisas com carinho se deixando levar pela nostalgia. Continuo procurando até que acho algo interessante, alguns cadernos velhos com uma aparência desgastada, folhas um pouco amareladas.

—Amor, vem aqui! –Chamo Manuela que está do outro lado.

—O que você achou?

—Acho que são diários. – Afirmo folheando-os ao lado dela. – Você quer ler?

—Você lê. – Manuela diz parecendo um pouco receosa.

Novembro de 1993

A minha mente vagueia por conta própria e vai para lugares tão longes que ninguém mais poderia encontrar o caminho. Ela pode viajar por milhares de quilômetros em apenas segundos, e voltar dessa viagem cheia de perguntas. Perguntas sobre todos os aspectos da minha vida. Questionamentos sobre a morte, o amor e o significado da existência. Há um furacão de emoções embrulhado em um grande nó dentro da minha cabeça tentando me deixar louca. Um nó selvagem, sem sentido.

Fico na cama por dias, mas algumas horas depois, eu poderia estar de pé em um telhado gritando com uma euforia intensa. Eu tenho dois monstros dentro de mim lutando por um primeiro lugar onde o vencedor não recebe nada além de mágoa.

Na fase maníaca, eu me sinto como a rainha do mundo, eu ando com uma confiança que nenhum ser poderia nunca abalar.  Sou invencível, posso fazer qualquer coisa. Eu posso fazer chover.  Eu posso mudar a maneira como você vê o mundo e eu lamento por aqueles que não veem o mundo através dos meus olhos. Sinto muito pelas pobres almas que não conseguem encontrar a luz no final do túnel. Eu sou apaixonada pela minha família. Meu marido. Minha filha. Eu estou no topo do mundo e nada ou ninguém pode me tirar daqui.

Mas então eu caio, despenco do topo do mundo e nada faz sentido. Acredito que a vida é nossa punição. É o que conseguimos, mesmo pensando que merecemos felicidade e amor. Tenha essa certeza de que não há esperança, não há nada, que todo o amor é um esforço vazio. Eu não quero ir aos torneios, não quero fazer nada, não quero pegar no colo a minha filha ou fazer amor com meu marido. Não quero nada. Desconfio de tudo, de todos, acredito que sou um fardo. Me pergunto por que Ricardo ainda está comigo. Digo para ele ir embora. Digo que ele merece mais, que eu não posso fazê-lo feliz porque sou feita de tristeza e ele não merece isso.

Quando termino Manuela está chorando. Solto os diários na caixa e a pego meus braços, confortando-a.

—Eu não acredito que ele a traiu. Como ele pode fazer isso? – Ela questiona. Passo a mão no rosto de Manuela enxugando-a.

—Talvez ele não soubesse. Talvez ele não fizesse a menor ideia de como isso a afetava. E eu não estou tentando justificar a traição, apenas fazer com que você não esqueça de que seu pai é humano.

—Eu não acho que eu poderia suportar isso. – Ela fala.

—E você nunca vai precisar Manuela. Eu não posso prometer que vou estar do seu lado pelo resto das nossas vidas, embora eu seja apaixonado por você o suficiente para acreditar que você é amor da minha vida, porque somos muito novos, mas eu posso te prometer que enquanto estivermos juntos, e eu espero que seja para sempre, eu nunca, nunca, vou te trair. De forma alguma. – Digo beijando-a.

Depois de um tempo voltamos a olhar os diários, a maioria dos escritos são sobre como ela se sentia no dia-a-dia com a doença, sobre a vida no geral. Achamos algumas fotos antigas, e, finalmente, a carta. Ainda selada.

....................................x...........................

—O que isso quer dizer? – Juliana pergunta me encarando com a carta na mão. Encontrei-a no meio das coisas que pertenceram à minha mãe e estavam armazenadas na garagem.

—Quer dizer que estivemos sendo idiotas o tempo todo e brigando por um mal-entendido. – Afirmo. – Tio Caio estava dizendo a verdade, nosso pai estava dizendo a verdade. Não tem nenhum vilão nessa história.

—Não é exatamente um mal-entendido. A nossa mãe escondeu a carta deliberadamente Manuela. Se você quiser um vilão, ela pode ser considerada como uma nesse cenário.

—Você pode julgá-la? Quer dizer, ela estava doente, tentando manter a família unida. Você não faria mesmo? – Pergunto encarando-a. Foi a pergunta que Fábio me fez quando encontramos a carta e eu me senti tão em choque quanto imagino que Juliana esteja. – Além disso, ela não abriu, ela não sabia o que tinha aí dentro, ela só não quis que seja lá o que fosse atrapalhasse a nossa família.

—Não sei, mas eu realmente consigo entender o seu argumento. Então, o que vamos fazer com isso?

—Mostrar ao seu Ricardo, claro. – Afirmo. –Mas antes eu quero te mostrar isso aqui. – Falo entregando a Juliana os diários de nossa mãe. – Ela escreveu sobre a bipolaridade, eu não li tudo, mas tem muita coisa aí que pode te ajudar, eu acho. Além disso, me fez me sentir mais próxima dela.

—Obrigada! – Juliana diz me abraçando.

10 de julho de 2017

Juliana, Lucas e Martinha agora dividem um apartamento, os três foram aprovados na UFRJ e mesmo que Juliana não precisasse sair de casa, ela achou melhor se juntar ao namorado e a amiga. Juliana cursa Jornalismo, Martinha licenciatura em história e Lucas artes visuais, ele está, por sinal, fazendo vários trabalhos publicitários com grafite, graças à divulgação que Joana fez das artes que ele produziu para as filiais da Forma. Lucas e Jabá ainda não fizeram as pazes de fato, mas eles são sempre amistosos quando Jabá vai para o apartamento deles ficar com Luquinhas para que Martinha possa assistir as aulas tranquilamente. Jabá também está estudando, ele conseguiu uma bolsa integral numa universidade particular, então estuda pela manhã, faz estágio no período da tarde e passa as noites com Luquinhas. Ele e Martinha estão se entendendo aos poucos. Incapaz de negar o modo como se sente pelo Jabá, a loira diz que estão apenas “explorando as possibilidades”, enquanto Juliana diz que eles estão, na verdade, brincando de casinha.

Joana e Giovane se casam em alguns dias e o noivo parece mais ansioso e detalhista que a noiva, o que causa muitas risadas em todo mundo. Bárbara e Joana não são melhores amigas, mas o clima entre as duas melhorou bastante, principalmente, depois que Bárbara pediu desculpas por tudo que fez contra Joana. A sorte da minha irmã mais velha, é que ela guardou seus comentários racistas do passado para ambientes nos quais Joana não estava, caso contrário, tenho certeza de que estaria respondendo a um processo, o que ela de fato merecia. Bárbara e Gabriel continuam juntos, mas me parece que mais por comodidade do que por qualquer outra coisa, espero de verdade que eles percebam isso antes que seja tarde.

Tânia e Tio Caio são, provavelmente, o casal mais perfeito que eu conheço. É incrível testemunhar a cumplicidade entre os dois, o modo como ele é acolhedor com Fábio e Luiza. Eles realmente parecem uma família de comercial de margarina. E eu simplesmente adoro estar com eles, costumamos almoçar juntos no sábado, Tiago também, obviamente. O namoro dele com Luiza vai muito bem, ele é incrível, uma daqueles namorados de causar inveja em qualquer pessoa, e a Luiza realmente merece isso, principalmente depois de tudo que ela passou no último ano.    

Meu pai e Tio Caio não voltaram a ser melhores amigos, mas ao menos voltaram a suportar um ao outro e conviver nos mesmos espaços. O que permite que sejamos todos uma grande, confusa, e às vezes ressentida, porém feliz, família.

—O que você está fazendo? – Fábio pergunta beijando meu pescoço e sentando na cama ao meu lado.

—Escrevendo. Pensei em tentar fazer algo como a minha mãe. É bastante reconfortante. – Conto fechando o caderno.

—E o que você estava escrevendo? Meu nome do lado do seu com vários corações? – Ele pergunta claramente debochando.

—Por que você está na minha casa mesmo? – Pergunto me sentando.

—Porque eu sou seu namorado e você me ama. – Ele responde me dando um beijo. – Mas também porque temos que ir encontrar com a Isabela e o Antônio no cinema.

—Eu tinha esquecido. – Confesso passando os braços ao redor do pescoço de Fábio e beijando-o. – Você acha que o casal liberal vai ficar chateado se simplesmente ficarmos aqui em casa namorando? – Pergunto passando a minha boca pelo seu pescoço.

—Não, mas sabe que o seu pai abriu a porta para mim, certo? E que ele está em algum lugar dessa casa.

—Sabe Fábio, você continua o mesmo sem noção, estraga prazeres de sempre! – Brinco ficando de pé.

—E você continua a mesma marrenta e chata que eu conheci no ano passado. – Ele diz me pegando pela cintura. – Por sinal, não mude nunca. Eu te amo exatamente assim.


Notas Finais


E ai, o que acharam?
Estou escrevendo uma outra história sobre Malhação. Dessa vez sobre o casal Lica e MB, caso queiram conferir:
https://spiritfanfics.com/historia/old-habits-9568910


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...