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História Como cães e gatos - Nem em mil anos


Escrita por: jofanfiqueira

Capítulo 8 - Nem em mil anos


O jogo termina dois a um, meu time perde. Jogo um pouco de água no rosto e visto a camisa, enquanto os garotos terminam suas cervejas. Pontuo que precisamos começar a jogar numa praia recomendável para banho, porque embora aquela seja uma das minhas praias prediletas é complicado resistir à vontade de entrar no mar depois de um jogo. Carlos concorda e combinamos de jogar na Praia da Macumba qualquer dia desses.

-Um dia inteiro de sol, futebol, vôlei. – Thiago diz. – Vai ser incrível. Convide a nossa artilheira. Por sinal, cadê ela? Eu no seu lugar não sairia de perto daquela... – Encaro meu amigo, devo estar transparecendo minha irritação pois ele para imediatamente. – Mas falando sério, vocês não têm nada mesmo? São só amigos?

-Enquanto ela quiser que sejamos só amigos. – Respondo.

-Eu sabia! – Thiago diz em voz alta, ele parece muito satisfeito consigo mesmo.  

-O que exatamente você sabia? – Larissa questiona. Ela caminha em nossa direção.

-Eu sabia que você ficaria melhor com essa cor de biquíni. – Thiago responde sorrindo.

-Isso porque você ainda não viu o resto. – Ela retruca fazendo menção à parte escondida pelo minúsculo short jeans. – Já estão indo? Uma pena. – Larissa fala me encarando. Seus olhos verdes parecem me desafiar como a esfinge. Algo dentro de mim me alerta sobre o perigo, eu conheço bem a peça, sei do que ela é capaz.

-Estamos sim. – Carlos diz. – E você tente não ficar na rua até tarde, sabe como é a nossa mãe.

-Sim senhor. – Ela diz com um tom de deboche. – Fábio, você deveria aparecer lá pelo colégio, tem feito falta, principalmente atrás da quadra. – Ela afirma fazendo referência às várias vezes que estivemos naquele lugar, juntos. Percebo que Larissa não meche mais comigo, percebo que, finalmente, tudo passou, a raiva pelo que ela me causou, o desapontamento, a atração, não havia mais nada. Claro que ainda a considero bonita, ela é realmente agradável de se olhar, mas só isso. Não há mais nada além da beleza.

-Tenho certeza que tudo continua do mesmo jeito sem mim. Funcionando perfeitamente. – Respondo. – Até mais. – Digo caminhando.

Andamos até a parada de ônibus. Carlos pega uma condução no sentido contrário, Tiago e eu seguimos pra Santa Teresinha.

-Acho que eu devo algum dinheiro pra uns dos meninos. – Tiago diz.

-Pelo que? – Questiono.

-Eu apostei que você voltaria com a Larissa, mas acho que te subestimei. Ou talvez eu tenha superestimado o poder dela.

-Um pouco das duas coisas. – Respondo. – Me faça um favor, se um dia eu voltar com a Larissa, você pode me bater. De preferência na cabeça, normalmente é assim que as pessoas curam amnésia nos filmes, não é?

-Pode deixar. – Ele afirma.  

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-Alguma coisa errada? – Pergunto a Juliana. Minha irmã está na varanda do apartamento pensativa. Caminho até ela que me encara.

-Uma parada chata aconteceu. – Ela diz. – Mas nada com o que você precise se preocupar. Quer ouvir uma notícia boa?

-Claro!

-Eu estou namorando. – Ela afirma entusiasmada. Às vezes fico impressionada com o modo como Juliana muda de humor, às vezes, ela passa muito tempo triste sem motivo aparente, em outras ocasiões parece a pessoa mais animada e cheia de energia do mundo. – Não vai perguntar com quem? – Ela questiona me encarando.

-Lucas? Jabá? – Pergunto. Realmente não sei qual dos dois panacas ela poderia ter finalmente escolhido.

-Jabá! -Ela responde. – E nem me fala do Lucas. Ele o Jabá brigaram hoje na escola, o Lucas tentou socar o Jabá e acabou se machucando, foi horrível. -O rosto de Juliana ganha uma expressão de tristeza. Juliana é incrivelmente impulsiva e, no processo, acaba agindo sem ponderar o modo como suas ações podem machucar os outros, mas, ao mesmo tempo, minha irmã também é muito sensível à dor alheia, uma coisa que de fato admiro. Ela realmente se preocupa com os outros, se doa. Principalmente quando percebe que causou algum mal a alguém.

-Sinto muito. – Falo tentando demonstrar solidariedade. – Mas meio que era de se esperar né Ju? O garoto é apaixonado por você desde sempre. Você nunca notou isso?

-Acho que eu passei tanto tempo idealizando o Giovane que eu só vim descobrir que o Lucas sentia alguma coisa quando ele me beijou.

-Ele te beijou? – Questiono surpresa.

-Sim. E depois eu beijei ele. Eu fiz sem pensar, na festa do Junior, a Joana e o Gio estavam dançando grudados e eu tentei fazer ciúmes usando o Lucas.

-Mesmo sabendo que ele gostava de você? – Pergunto com um tom de desapontamento.

-Eu sei Manu, eu sei e realmente não preciso do sermão.

-Desculpa. – Digo. – Eu não tive a intenção. Mas se te serve de consolo, eu acho que o Lucas logo, logo supera isso. Tem muita garota naquela escola que é louca por ele.

-Eu espero que ele supere. – Juliana diz entrando. Fico na varando por um tempo, apreciando a vista. Imagino como Luiza irá se sentir ao descobrir o que aconteceu. Aliviada por Juliana estar finalmente fora do páreo? Triste pela confirmação de que Lucas realmente gosta da minha irmã? Fico com o conforto de que ela, provavelmente, só saberá disso no dia seguinte.

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Desligo a televisão depois que minha mãe aparece na sala me lembrando, pela terceira vez, que tenho aula no dia seguinte. Ela aproveitou a ocasião para reiterar que não está nada contente com o fato de que eu venho saindo novamente com o pessoal da antiga escola. “Se você voltar a se meter naquelas confusões” ela ameaçou com as mãos cintura. Levanto contrariado e sigo para o quarto, assim que entro um barulho estranho me chama atenção, acendo a luz e percebo que o som vem de Luiza, minha irmã está deitada na cama, em posição fetal, choramingando.

-O que aconteceu? – Pergunto sentando na ponta de sua cama.

-Você não vai querer saber. – Ela responde.

-Ok, me deixe tentar reformular. O que foi que aquele mané do Lucas fez? Porque isso pode ser algo relacionado a ele.

Luiza senta na cama e enxuga um pouco os olhos com as mãos.

-Ele brigou com o Jabá, partiu pra cima dele, na escola. – Ela responde soluçando.

-E você está chorando por isso? Luiza, o que você precisa entender é que nós, homens, somos idiotas. É claro que eles brigaram, mas vão estar bem amanhã, se você for mesmo chorar toda vez que o cara que você gosta der um soco em alguém...

-Você não entende. – Ela afirma me interrompendo. – Lucas partiu pra cima do Jabá porque soube que ele está namorado com a Juliana. Por causa dela. O tempo todo eu achei que ele estava apenas tentando algo porque Juliana estava disponível e é bonita e descolada... mas ele brigou com o melhor amigo por ela. Ele a ama.

-Ou talvez ele esteja apenas com o orgulho ferido. – Digo tentando acalmá-la, mas, honestamente, não acredito em minhas próprias palavras. – Eu sinto muito que você esteja passando por isso, ok? Chore o quanto quiser agora, mas me prometa que amanhã você não vai dar esse mole na escola. Se você gosta mesmo do Lucas, precisa ser você mesma, a garota forte e persistente que sempre foi e não essa versão terrível que está aqui na minha frente, essa não é Luiza que eu conheço. Faça isso ou parta para outra. – Digo beijando o topo da cabeça da minha irmã.

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Chego na escola e há certa inquietação pairando no ar, escuto os cochichos sobre Jabá, Juliana e Lucas, mas não dou atenção. Caminho até a arquibancada onde Fábio está sentado ao lado de Luiza, Carla e Bruna. Estranho sua presença, já que, normalmente, ele passa mais tempo sozinho ou conversando com algum dos garotos da nossa turma.

-Bom dia. – Digo sentando alguns degraus abaixo de Luiza. Carla e Bruna me respondem, assim como Fábio, mas Luiza apenas dá um sorriso meio torto. – Tudo bem? – Pergunto encarando-a.

-Eu não acredito que ela tenha mesmo escolhido o Jabá. – Carla diz. – O Lucas é muito mais bacana, sensível.

-Realmente não vejo graça nesses alunos do terceiro ano. – Bruna afirma. Percebo que ela está olhando pra Fábio quando diz isso, não consigo evitar encará-los. Na verdade, desde que Bruna havia nos dito que era interessada no Fábio eu detesto qualquer proximidade entre eles. – Não com tantos garotos bonitos na nossa turma. – Fábio sorri, espero pelo encontro com seus olhos, mas ele me evita, ou talvez me ignore, prefiro não saber qual a resposta certa.

-Não temos tantos. – Isabel, uma menina da nossa turma, diz se aproximando do grupo. – Apenas uma ou duas exceções. – Ela também olha pra Fábio, mas ele simplesmente a ignora, percebo que ele agora está usando fones de ouvido. - Alguns meninos do terceiro ano que ficaram na turma da manhã foram pra festa do Junior e contaram que a Juliana beijou o Lucas lá. Parece que ela estava tentando causar ciúmes no Giovane. – Isabel comenta.

-Talvez devêssemos ouvir uma opinião masculina. – Bruna sugere. – O que você acha Fábio? – Ela pergunta. Ele não ouve, então ela bate em sua perna e refaz a pergunta.

-Você quer mesmo saber? – Fábio pergunta com um sorriso maldoso no canto da boca. Ela responde que sim e ele prossegue. – Nós somos todos uns idiotas, só pensamos em uma coisa e vocês deveriam ficar longe. – Fábio afirma e recoloca os fones de ouvido. Seus olhos repousam nos meus rapidamente.

– Sua irmã não falou nada? – Isabel me questiona.

-Ela me contou que está namorando, mas só isso. – Minto.

-Quando? – Luiza pergunta me encarando.

-Ontem à noite.

-E você não me ligou para contar? – Ela pergunta ficando de pé. Luiza desce os degraus da quadra rapidamente. Fábio tenta interceder chamando o nome da irmã, mas ela avança sem interferências. As meninas a seguem e eu fico na arquibancada com Fábio.

-Não leve para o lado pessoal. - Fábio diz. – Tenho certeza de que quando ela cair em si vai se desculpar.

-Talvez ela esteja certa em ficar magoada. – Digo. – Que tipo de amiga não conta algo assim?

-O tipo que não quer machucar, que não quer causar dor. – Ele diz com um sorriso de encorajamento.

O sinal toca e as pessoas começam a esvaziar a quadra. Em pouco tempo somos só nós dois, fico desconfortável com o jeito que Fábio me olha, mas algo me impede de sair.  

-Pare de me olhar assim. – Digo. Fábio fica de pé e desce alguns degraus, parando exatamente no mesmo nível que estou, uma das mãos no bolso do jeans a outra segurando a alça da mochila. Fico de pé também, enfrento-o.

-E como eu estou te olhando? – Ele pergunta.

-Como se... Eu não sei. Apenas pare.– Respondo. Seus olhos estão fixos nos meus e, mais uma vez, os meus fogem. Encaro nossos tênis por alguns segundos e então Fábio coloca sua mão levemente no queixo, conduzindo-o pra cima.

-Você quer sair comigo? – Ele pergunta.  

-Você ficou maluco? – Digo sorrindo. – Nem em mil anos eu... – Fábio se aproxima e eu perco a fala, fico tensa.

-Não se preocupe, eu não vou te beijar. – Ele diz. – Eu prometi a mim mesmo que nosso próximo beijo vai partir de você.

-Ótimo. Assim ele nunca vai acontecer. – Retruco.

-Até quando você vai continuar com isso Manu? – Fábio pergunta.

-Com o que?

-Todo esse fingimento. Eu sei que você gosta de mim. Eu sei que você também quer isso. Eu vi o modo como você ficou na praia e agora pouco com ciúmes da Bruna.

-Ciúmes? Eu? De você? – Questiono um pouco afobada.

-Sim, de mim. – Ele responde. O excesso de segurança de Fábio me incomoda, faz com que ele pareça novamente apenas o idiota presunçoso que eu odiei desde o primeiro dia que conheci.

-Cara, você precisa parar de encher tanto a sua bola. Você deve ter crescido ouvindo que era muito bom, muito especial, não é? Anota meu conselho: Você não é! Você é só um idiota presunçoso que acha que o mundo gira a sua volta.

-Talvez. – Ele responde sem se deixar abalar. – Mas você é uma medrosa.

No meio da confusão não percebemos que Carlinha se aproximava.

-Manuela. – Ela chama. Me viro assustada. – Temos exercício em grupo.

Pego minha mochila e vou até ela, tento me recompor. Olho para atrás e Fábio está parado, me seguindo com seus olhos.

-Você não vem? – Carlinha pergunta pra Fábio.

-Não é problema seu é? – Ele questiona.

Olho para ele irritada, mas Fábio não parece se importar. Assim que entramos no corredor Carlinha me puxa para o banheiro.

-O que está acontecendo entre você e o Fábio? – Ela questiona.

-Nós só estávamos conversando sobre a Luiza e todo esse rolo com o Lucas.

-Parecia mais do que isso.

-Mas não é.

-Qual é Manu, eu já notei como você fica quando ele está por perto, toda essa discussão de vocês no começo do ano... e o modo como ele olha pra você.

-Você está enganada. – Digo sendo um pouco rude - Eu não brigava com o Fábio porque gostava dele ou vice-e-versa, isso é ridículo e essa ideia de que garotos implicam com garotas porque gostam dela é extremamente machista.

-Ok, tudo bem. – Ela diz parecendo convencida. – Só não esqueça que a Bruna gosta dele e que ela já deixou isso bem claro. 



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