História Como criar camundongos imaginários em casa. - Querido Diário.

 São Paulo SP 15/06/2015 20:53pm

  Querido diário, desde ultimo verão não tenho escrito aqui, peço desculpas é que minha vida tem sido monótona demais para escrever algo. Para te atualizar sobre mim; esse é meu ultimo ano na escola e eu ainda não tenho amigos ou namorada, minha mãe continua achando que tenho depressão e vive insistindo para que eu saia do quarto e "seja uma adolescente normal" palavras dela não minhas, meu pai continua me olhando como se fosse o culpado da minha possível depressão e eu estou de saco cheio deles acharem que estou depressiva. Mas por que a repentina vontade de escrever novamente aqui. Aconteceu algo tarde passada, foi no cetro da cidade, perto do museu de história, onde fica uma cafeteria famosa aqui, onde eu vi a garota mais bonita que eu já vi em toda a minha vida. Ela tinha seus cabelos pintados de rosa claro; um sinal perfeito de espontaneidade. Ela estava sentando no canto com um fone de ouvindo azul que combina com os seus tênis, lembro-me que estava chovendo e ela lia um livro igual naqueles filmes de romance americano, o livro entretanto não era dentro dos padrões de expectativas, o título era um tanto estranho, porém sua capa era mais estranha ainda, parecia ter sido desenhada por uma criança de seis anos de idade, estampado em grafite por toda capa estava escrito:

    "Como criar camundongos imaginários em casa"

  Achei meio difícil que exista um livro com esse conteúdo e tenho curiosidade em saber se era somente uma metáfora ou se ele realmente ensinava a criar camundongos imaginários.
  Ela lia o livro com toda a atenção do mundo e a cada página virada uma risada diferente. Ela pediu uma, duas, três, ao todo foram sete xícaras de café. Eu tomei umas dez para não perde nenhum movimento dela.
  Pensei em falar com ela e cumprimenta-la, mas também pensei que ela pudesse se sentir aborrecida por ter sua leitura interrompida.
  Pensei que nunca a veria novamente, mas também pensei que talvez fosse melhor assim, talvez ela não gostasse de meninas como eu.
  Nas duas semanas seguintes eu voltei a cafeteria para ter a sorte de esparra com ela, porém ela não retornou ao café, eu espero vê-la novamente um dia.

  São Paulo SP 15/07/2015 15:40pm

  Querido diário, hoje eu finalmente a vi de novo, ela estava em uma loja de cds no shopping, ela tinha na mão um cd do Arctic Monkeys e cantarolava uma musica dos mesmos. Dessa vez fui falar com ela e voz quase não saiu me sentir envergonhada, mas ela pareceu achar graça e me chamou para dançar e por mais que não tivesse musica tocando e nenhuma pista de dança, eu aceitei o convite. Dançamos enquanto cantávamos desafinadamente Do I Wanna Know e todos da loja nos olharam como se fossemos duas malucas.
 E finalmente soube o nome dela; Karyna.
 Karyna era vegana e tinha avós indianos. Tivemos tempo para conversa enquanto procurávamos incansavelmente em uma biblioteca o segundo volume do livro que ela lia quando a vi pela primeira vez.

      "Como criar camundongos imaginários em apartamentos"

  trocamos número e ela disse que me mandaria uma mensagem.
  Nunca gostei muito de trocar aparelhos por livros, mas não quero que se sinta ofendido se de uns dias pra cá eu te coloque em segundo lugar.

  São Paulo SP 10/08/2015 03:40am

  Querido diário perdoa-me a hora e já faz tanto tempo que não lhe escrevo. É que hoje, quase um mês depois de conhecer Karyna nos beijamos pela primeira vez.
  Ela estava incrivelmente linda no luau - em que ela mesma organizou para comemorar o aniversario de uma das amigas dela - foi uma noite divertida e eu nunca havia me sentido tão feliz em toda a minha vida, minha mãe não se importou em me deixar ir a festa, pois ela achou que finalmente eu estava deixando de ser depressiva. Karyna dançava uma musica da Sia e sorria como se o mundo fosse dela - talvez de fato fosse - não sei direito como tudo aconteceu, só sei que me perdi em seus olhos e quando me dei conta já estávamos nos beijando e eu podia jurar que naquele momento, o mundo havia parado.
   Não sei lhe dizer se estamos namorando ou ficando, mas eu odiaria ter que esquecer de tudo que aconteceu hoje.

 São Paulo SP 13/09/2015 17:55pm

   Querido diário, finalmente conheci a família da Karyna e ela a minha, eles se deram muito bem por sinal. O pai dela é alguém muito engraçado e fez o melhor churrasco que já provei em anos, a mãe dela; Clarice, é a pessoa mais gentil e maluca que eu já vi, agora eu já sei de onde Karyna puxou a loucura.
   Nós formos para a casa de praia da avó já falecida dela. É um lugar lindo e perfeito para o fim de semana mais feliz de todo o ano. Fizemos pizza caseira e assistimos um maratona com todas as temporadas de Supernatural.
     
 São Paulo SP 8/11/2015 02:00am

  Querido diário, hoje é o pior dia da minha vida. Faz três meses que eu e Karyna namoramos, tem sido os melhores três meses da minha vida, as férias estão chegando e iremos viajar para o praia para passa todo o verão lá, sozinhas.
  Eu estava na aula de português quando Karyna me mandou uma mensagem dizendo que queria falar comigo urgente, meu coração gelou e ideia de que ela se cansou de mim e queria alguém melhor rondou pela minha cabeça o dia todo - antes fosse isso -. Não acreditei quando ela começou a fazer um discurso de que deveria ter me avisado antes e pediu desculpas com os olhos cheios de lágrimas. Meu mundo caiu quando ela me explicou que tinha uma doença grave e que não tinha cura ou tratamento, ela só tinha mais quatro meses de vida.
   Fiquei esperando ela me falar que era uma brincadeira de mal gosto, mas isso não aconteceu, Karyna tinha uma doença grave e iria morrer em quatro meses eu não aguentei isso, sair correndo.

 São Paulo SP 03/02/2016 19:05pm

  Querido diário, eu e Karyna estamos bem, eu me formei e resolvi que não vou fazer vestibular agora, quem sabe daqui a alguns meses. Formos viajar como combinado, foram as melhores ferias da minha vida. Comemos, transamos, dançamos, ouvimos todos os tipos de musicas, transamos mais, jogamos jogos que eu nem sabia que existiam, lemos livros que eu nunca imaginei ler, e continuamos com a nossa incansável busca de como criar camundongos imaginários em apartamentos.
    Embora não ache que exista esse segundo livro, pois nem mesmo na internet achamos o mesmo. A vida tem sido boa, fizemos um acordo de que esqueceríamos que existia uma doença e que ela tiraria a Karyna de mim um dia.

São Paulo SP 15/03/2016 11:35am

Querido diário, errei em pensar que existissem dias piores que hoje. O pior dia da minha vida sem duvida alguma a partir de agora é o dia 15/03/2016.
 Karyna morreu.
 Oito meses depois da gente se conhecer. As duas e meia da madrugada enquanto dormia, não houve dor, não houve aviso, ela se foi do mesmo modo que chegou; discreta e arrasadora, levando com ela uma parte de mim.
    O pior momento foi a hora do enterro, nunca me sentir tão péssima. Havia muita gente, até o porteiro do prédio dela, pois todos a amavam, Karyna era a pessoa que iluminava tudo ao seu redor.
  Estávamos todos de branco segurando balões coloridos como ela queria que estivéssemos e no final da cerimônia soltamos esses balões que seguiram juntos excerto por um que seguiu caminho sozinho. A maior decepção foi não ter dando a ela o livro que achei um dia antes do ocorrido, eu finalmente achei como criar camundongos imaginários em apartamentos e ela nunca lerá.
       Talvez eu não volte a escrever aqui, não sei se vou conseguir suporta essa dor achei que seria menos difícil, mas está sendo a pior dor que eu já sentir na minha vida, ela se foi dois dias entes do que esperávamos, dois dias a mais sem a Karyna. Minha vida vai volta a ser como era antes, porém alem de monótona ela será vazia. Se algum dia eu superar essa dor insuportável voltarei a escrever, caso contrário nunca mais me verá.
                     
        Obrigado caro amigo, por hora isso é adeus