1. Spirit Fanfics >
  2. Como Esquecer Alguém >
  3. Alguém avisou

História Como Esquecer Alguém - Alguém avisou


Escrita por: GSilva

Capítulo 11 - Alguém avisou


Fanfic / Fanfiction Como Esquecer Alguém - Alguém avisou

Capítulo 9 – Alguém avisou

 

            Não me lembro se dormi ou se apenas desmaiei, só me lembro de ter acordado. Os braços de Lucas rodeavam meu corpo, me abraçando, e ambos estávamos deitados no colchão velho. Um lençol branco e fino quase transparente nos cobria e eu não perguntei onde Lucas tinha achado aquilo. O corpo dele estava quente no meu, pele contra pele, e sua respiração no meu pescoço me provocava arrepios. Um mínimo movimento foi o responsável por acordá-lo também.

            — Greg. — Disse ele, abrindo os olhos. Um feixe de luz solar (que não estava lá antes) entrava por uma fresta na tábua da janela e se derramava sobre o rosto de Lucas. Sua pele, incrivelmente branca, brilhava, e seus lábios, abertos, estavam mais vermelhos do que nunca. — Ai meu Deus. Isso foi...

            — Ótimo. — Interrompi, sorrindo e me virando para ele. Ambos ficamos lado a lado, eu deitado sobre o peitoral dele e ele me abraçando como se nunca mais fosse largar. Nossas pernas se entrelaçavam, nuas, enquanto ele me apertava contra si. — A única coisa realmente ótima que me aconteceu nos últimos meses. — Acrescentei.

            Ele riu, um som abafado pelo abraço, e beijou meu ombro. Cada mínima sensação de toque da pele dele na minha me fazia queimar. Ainda estávamos queimando, passando de chamas para brasas.

            — Eu não... — Disse ele. — Eu não sabia como você ia reagir.

            Eu sorri.

            — Como mais poderia reagir? — Perguntei.

            — Não sei. Pra mim, essa história de pintar o seu rosto numa parede e de dizer que te amo parece um pouco macabro. — Disse ele. — Como se eu fosse um perseguidor.

            — Você é. — Rebati. — Só que achou a presa certa para perseguir.

            Meus cabelos roçaram no peitoral dele quando me virei, ficando de bruços. Ele sorria com amor, não como uma pessoa feliz, mas sim como a própria felicidade em pessoa. Ele parecia tão alegre, como se sempre quisesse estar ali, como se todas as coisas que aconteceram em nossas vidas estivessem completas e nos dirigissem exatamente àquele lugar.

            — Eu te amo. — Disse ele.

            Eu fitei seus olhos antes de responder. Suas írises estavam mais douradas, focadas em meu rosto, com seus matizes pintados de amarelo pela luz do sol. Não pude ficar em silêncio, mesmo que não fosse completamente verdade.

            — Eu também te amo. — Respondi.

 

            Deitei-me normalmente de novo e ficamos abraçados por mais um tempo. Ele passou esse tempo mexendo no meu cabelo ou traçando linhas com seus dedos sobre minha pele, e eu fechei os olhos.

            Minha intensão não era dormir, na verdade, era pensar. Eu precisava pensar. Estava tão perto dele, de Lucas, e ainda assim me sentia distante, como se não fôssemos namorados. Ele tinha me seduzido, me levado para um lugar desconhecido, e eu sucumbi ao desejo de tê-lo completo para mim, por mim e em mim. Mas, foi quase inevitável não pensar nas consequências daquilo. Eu tinha me aproximado dele tanto, mais do que já tinha me aproximado de qualquer pessoa. O que será que Larry ou Andrew falariam se descobrissem? Como eles reagiriam? Fiquei pensando nisso, enquanto Lucas me abraçava, com uma dor no peito, pois relembrei o momento que Andrew foi embora de uma forma inesperada. Eu vou dizer isso para ela. Como gostar de alguém, sendo um sentimento tão puro, pode ser tão confuso? É tão simples. Você gosta de alguém e quer ficar com tal pessoa, mas por que tudo se torna tão complicado por causa disso?

            — Greg? — Disse Lucas, me pegando de surpresa. Sua voz soava mais baixa agora, deixando de ser uma brasa para ser uma faísca. — Eu sinto dizer isso, mas precisamos voltar.

            De repente, a realidade voltou à mim.

            — Seus pais podem desconfiar. — Disse ele.

            — E os seus também. — Respondi. Ele estalou a língua e pareceu desviar o olhar, embora nem estivéssemos olhando um para o outro.

            — Eles não se importam se estou com um garoto ou não, só querem que eu não estrague a vida deles. — Ele respondeu.

            — Os meus se importam porque acham que eu estragaria a vida deles se ficasse com um garoto. — Respondi. — Isso me lembra...

            Virei-me rapidamente de bruços outra vez, olhando-o nos olhos. O feixe de luz não atingia mais seu rosto, tinha descido ao peitoral e agora iluminava a área entre suas costelas.

            — Seus pais sabem que você é gay? — Perguntei.

            — Não. — Respondeu ele, secamente. — Nunca contei e pretendo nunca contar. Meu pai é muito, muito intolerante no que diz respeito a essas coisas.

            — Me lembre de nunca conhecê-lo. — Respondi brincando. — Mas e a sua mãe? Irmã, irmão?

            — Eu sou filho único. E não, minha mãe também é homofóbica. — Ele disse, comprimindo os lábios e arqueando as sobrancelhas.

            — Eu nunca entendi porque existe esse tipo de ódio. — Comentei. — É só amor, nada mais. Duas pessoas que querem ficar juntas. Não interessa o que elas têm no meio das pernas. A sexualidade não deveria ser imposta aos outros.

            — Concordo. — Disse ele. — Mas eles não pensam assim. E você? Já contou para seus pais?

            Eu desviei o olhar, pensando. Meus pais sempre souberam que eu era/sou gay, então, não precisei exatamente contar para eles, apenas disse o óbvio. Porém, a situação não foi muito boa.

            — Já. — Respondi. — Quando me apaixonei por um garoto pela primeira vez. Eu estava tão iludido e tudo se acumulava na minha cabeça, então explodi.

            — Explodiu?

            — Sim. Eu dei um soco na nossa mesa de jantar e quebrei o vidro em vários pedaços, gritando “eu estou apaixonado por um garoto que vai embora!” ou algo do tipo.

            Lucas gargalhou, virando a cabeça para o teto da sala.

            — Eu queria estar lá. — Disse ele, sorrindo.

            — Vai por mim, você não quereria se tivesse visto o estrago. — Respondi. — Mas, enfim, meus pais aceitaram numa boa. Não que eles não sejam preconceituosos, pelo contrário, apenas não dizem ofensas na minha cara.

            — Eu preferiria ter pais assim. — Ele respondeu, apoiando a cabeça em cima dos braços. — Meu pai provavelmente me expulsaria de casa se soubesse, ou pior. Eu até já ouvi ele falando que mataria uma pessoa homossexual.

            — Meu Deus. — Respondi, verdadeiramente espantado. — Você deveria denunciá-lo, por mais que ele seja seu pai.

            — Eu sei.

            — Um dia eu vou à sua casa, de mãos dadas com você, e quero ver ele fazer alguma coisa conosco. — Respondi. — A não ser que você não queira.

            — Por mim tudo bem. — Ele disse.

 

***

 

            Felizmente, meus pais aceitaram a minha desculpa de “precisei ficar no colégio por causa de um trabalho” e não reclamaram da minha demora. Ryan foi o único que ficou desconfiado e até me perguntou com quem eu estava. Expulsei-o dizendo que não precisava dar satisfações da minha vida.

            Fiquei deitado na minha cama por todo o resto da tarde, e foi algo realmente desagradável de se fazer. Sempre que me virava, esperava sentir o toque quente de Lucas sobre a minha pele, ou quando olhava para cima e esperava vê-lo olhando para mim. Depois, na minha casa, tudo estava frio e eu mal conseguia pensar direito. As lembranças dos braços dele sobre mim, da respiração dele contra a minha pele, das mãos dele segurando o meu quadril... Tudo isso me tirava a concentração.

            Foi aí que meu celular vibrou ao meu lado. Meu coração disparou de imediato. Pensei que poderia ser Lucas, perguntando se podíamos nos encontrar novamente, mas, desbloqueando a tela, vi que aquilo não era verdade.

            Era Andrew.

 

            Ele: “greg”

            Eu: “oi”

                   “como foi?”

 

            Ele ficou digitando por um longo tempo e me preparei para ler uma verdadeira bíblia, mas foram poucas palavras.

 

            Ele: “Eu falei para ela que você nunca me amou. Ela não acreditou. Ela disse que você mente.”

 

            Eu olhei aquela mensagem como se ela fosse algum bicho venenoso, com medo de levar uma picadura fatal, apesar de saber que a pessoa por trás daquilo tudo, Alexia, era muito mais venenosa do que qualquer animal no planeta.

             

            Eu: “como assim? Eu não menti”

            Ele: “mentiu, sim”

                    “vc mesmo me disse que eu fui seu primeiro amor”

 

            Revirei os olhos.

 

            Eu: “sim, eu disse, mas ela não sabe”

                   “eu namoro agora, se ao menos ela soubesse disso...”

                   “vc contou para ela que eu estou com o Lucas?”

            Ele: “não”

            Eu: “então conte”

                   “faça qualquer coisa para ela acreditar”

            Ele: “Mas, Greg, você sabe que não será bom se ela ficar sabendo”

            Eu: “Eu sei, mas não posso deixá-la te magoar”

 

            Fechei o aplicativo de conversas antes que ele pudesse responder. Ignorando todas as negligências de linguagem, todos os erros ortográficos e de concordância, aquelas mensagens eram muito verdadeiras. Eu coloquei meu sentimento nelas, abri mão de tudo naquelas palavras: deixei que ele dissesse a verdade. Eu mesmo disse a verdade, falando que não queria vê-lo magoado por ela.

 

***

 

            No dia seguinte, o Colégio Vargas parecia especialmente repleto de alunos. Imediatamente ao entrar, senti que as pessoas olhavam para mim. Não sabia por quê. Ryan disse que Alanis estava esperando por ele na sala de aula e eu o deixei ir, porque, principalmente, não queria ser um empecilho na relação dos dois – eu já tinha sido o cupido.

            Conforme fui me aproximando da sala de aula, mais e mais pessoas olhavam para mim. Algumas sorriam, outras apontavam, mas a maioria parecia esperar uma atitude da minha parte. Eu não imaginava o que todas essas pessoas queriam; eu devia chorar, gritar ou bater em alguém? Elas continuaram me olhando quando cheguei ao pátio do ensino técnico, onde havia mais alunos com mais olhares acusatórios. Fiz uma carranca e passei por eles, tentando ignorá-los.

            Quando cheguei à sala, constatei que algo realmente estava diferente. Todas as minhas amigas estavam lá, e em seus rostos eu via o mesmo olhar dos alunos do lado de fora.

            — Meu Deus, o que houve com todas essas pessoas? — Perguntei, me aproximando delas e retirando minha mochila. Afastei a cadeira para poder me sentar, deixando a mochila em cima da mesa, mas a resposta de Aqua me fez congelar.

            — Como assim? — Perguntou ela. — Como assim você não sabe?

            — Não sei do quê? — Perguntei, me aproximando dela. — É algo sobre Andrew? E eu e ele conversamos ontem sobre a Alexia. Se ela fez algo, eu juro que vou...

            — Relaxe. — Disse Alicia. — Não é sobre o Andrew. Não o vemos desde ontem e também não acreditamos que ele vai voltar.

            — Então é sobre o quê?

            Aqua sinalizou para que eu me abaixasse perto dela e obedeci silenciosamente. Senti os olhares dos outros alunos da sala queimando as minhas costas.

            — As pessoas estão... — Disse ela, pausadamente. — As pessoas estão divulgando um áudio na internet. Um áudio sobre você.

            Reconheci o recado. Chamávamos de “áudio” um fragmento de voz gravada que podia ser compartilhado e enviado de pessoa para pessoa. Mas, por que diabos havia um áudio meu circulando por aí?

            — O quê? — Perguntei, semicerrando os olhos numa careta.

            — É um áudio sobre você, mas não é você quem está falando. Não sabemos quem é. — Disse Aqua. — Mas... mas parece o seu namorado falando.

            — Só que ele parece bem assustado, para falar a verdade. — Alison interrompeu. — Se é que isso conta em alguma coisa. Parece que alguém gravou ele dizendo isso.

            — Isso o quê? O que diz no áudio? — Perguntei.

            — Acho melhor você descobrir isso sozinho. — Disse Aqua.

            — Mas eu não recebi nada! — Rebati.

            Alicia se intrometeu, aproximando-se de nós.

            — Olha, boatos dizem que foi o Thomas quem começou a espalhar tudo. — Disse ela. — Ele é um sociopata. Acho que você deve ter uma conversa bem séria com ele.

            — Também acho. — Respondi, levantando.

            Quando me virei para trás, vi o tal do sociopata sentado pacificamente em seu lugar, uma paz que eu estava prestes a mudar.

 

            Fui caminhando lentamente na direção dele. Suas mãos tocavam num aparelho celular e ele parecia realmente distraído com qualquer que fosse o joguinho violento. Sem nenhum aviso prévio, e sem me aproximar demais, bati com ambas as mãos em cima da mesa dele. O barulho ecoou pela sala e pelo corredor.

            — THOMAS. — Eu disse, assustando-o. O celular caiu no chão. — O que você fez?

            — Greg? — Disse ele.

            — Não me venha dizer que não sabe do que estou falando. — Interrompi. — O que você fez?

            Ele olhou em volta. Todas as pessoas olhavam para nós, todas queriam saber o que estava se passando. Eu não retirei o olhar dele, mantive meus olhos centrados.

            — Eu... — Disse ele. — Eu fiz isso pelo seu bem. Não era para ter saído publicamente.

            — Mas que merda, Thomas, me mostre logo o que você fez! — Respondi, sem nem um pingo de piedade.

            Thomas se abaixou, pescando o celular do chão com uma careta. Ele desbloqueou a tela com as mãos trêmulas e eu tive a certeza de que tinha o assustado.

            — Aqui. — Disse ele, me entregando o celular lentamente. Eu olhei para a tela e constatei que, de fato, era o aplicativo de mensagens de onde gravávamos nossos “áudios”.

            Olhei lentamente para a tela e apertei no botão de “play”. Imediatamente o som começou a tocar num volume alto.

            Reconheci a voz. De fato, era a voz do Lucas. Eu nunca conseguiria, nem que quisesse, confundir aquele som, aquela voz. Ouvir aqueles timbres me fez lembrar de como queimamos na cama no dia anterior. Mas, o que ele estava dizendo, além de não fazer sentido algum, parecia mais como uma pedra de gelo:

            — Você quer que eu fale? Ok, eu falo. Eu nunca gostei do Greg, apenas fiquei com ele porque estava esperando a oportunidade perfeita para humilhá-lo na frente de todo mundo. Ele é um idiota pelo que fez os outros passarem, e eu seria muito mais idiota se ficasse com ele porque gosto. Eu nem gosto de homens. Ele vai sofrer em minhas mãos.

            Levantei meu olhar para Thomas novamente, e ele estava com as sobrancelhas arqueadas na minha direção. Com sarcasmo, ele disse:

            — Eu avisei.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...