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História Como Esquecer Alguém - Alguém se afastou


Escrita por: GSilva

Capítulo 12 - Alguém se afastou


Fanfic / Fanfiction Como Esquecer Alguém - Alguém se afastou

Capítulo 10 – Alguém se afastou

 

            Fiquei parado, olhando fixamente nos olhos de Thomas. As pessoas tinham se afastado de nós, como se estivessem com medo da minha reação. Eu apenas segurei o celular em minhas mãos e repeti o áudio, rezando, rezando para que reconhecesse a voz de outra pessoa. Mas o timbre do Lucas era inconfundível, eu nunca conseguiria confundir a sua voz. Senti os olhares das minhas amigas ao meu lado, apreensivas. Sem saber o que falar, sem saber o que fazer, agarrei o celular com toda a força e o joguei no chão.

            Estilhaços voaram para todos os lados e Thomas se levantou bruscamente.

            — Meu celu...

            — Cale a boca! — Gritei, interrompendo-o.

            Aqua, Alicia e Alison se aproximaram com passos lentos, senti a presença delas, e as três me abraçaram levemente. Minha mente estava apenas em um vazio, num branco, eu não pensava em nada, não sentia nada, não queria nada. Simplesmente não podia acreditar. Não, aquele não podia ser ele. Não podia. Eu vi o amor nos olhos dele, na casa abandonada. Nós queimamos juntos. Ele...

            — Desculpe, Greg, mas eu avisei que isso podia acontecer. — Disse Thomas, com um olhar caridoso, se aproximando.

            — Por favor, cale a boca... — Murmurei, quase choramingando.

            — Você deveria tomar mais cuidado com quem se apaixona, Greg. Ele não foi o primeiro a te magoar. — Thomas continuou teimosamente. Ficamos frente à frente, ele com um olhar caridoso e eu com os punhos cerrados. Ele era maior do que eu, então tive que olhar para cima para poder olhá-lo nos olhos.

            — Cale a boca... — Repeti, com os dentes cerrados.

            — Eu apenas te ajudei. Você sabe que fiz isso por você. — Rebateu ele. Senti um aperto se intensificando no meu antebraço. Quando virei o rosto, vi Alison segurando-me fortemente.

            — Cale a boca, Thomas, ou vamos calá-la por você. — Disse ela, olhando furiosamente para o garoto. — É verdade que o Lucas não é o primeiro a magoar o Greg, e você não será o primeiro com quem lidamos.

            Thomas desviou o olhar de mim para elas e recuou, parecendo amedrontado. Ele apontou um longo e fino dedo para mim, olhando-me seriamente.

            — Apenas lembre-se, Greg. Lembre-se de quem abriu os seus olhos. — Disse ele. — Você vai me agradecer um dia.

            E então Thomas olhou para o lado e caminhou até a porta, saindo da sala. Foi nesse momento, enquanto o olhávamos sair, que Larry entrou apressadamente.

            Ele estava carregando a mochila de um lado só das costas, usando uma bermuda e uma regata. Pude ver os músculos dele se contraindo quando entrou na sala, as tatuagens nos seus braços, e seu olhar de apreensão e revolta. Larry olhou para mim e a tão esperada explosão de sentimentos veio. Ele era a única pessoa que eu queria ver naquele momento. Larry estreitou as sobrancelhas e largou a mochila no chão.

            — Greg, o que houve? — Perguntou ele. — Por que está chorando?

            Não tinha percebido que estava chorando até ele me dizer. E, de fato, as lágrimas escorriam como um riacho. Não pude deixar de imaginar como devia estar parecendo uma criança chorona na frente da sala de aula inteira.

            Larry se aproximou, sem dar importância às pessoas ou aos olhares, e esticou os braços. As garotas se afastaram e me deixaram abraçá-lo. Os outros alunos estavam em silêncio e a sala inteira tinha se transformado num suspiro baixíssimo.

            — O que houve? — Repetiu ele, descansando a cabeça nos meus ombros. Eu o apertei contra mim, ciente de que a única coisa que conseguia pensar era na escuridão em minha mente. — Fale...

            Eu não consegui falar, apenas fiquei segurando-o. Ele passou as mãos por minhas omoplatas, forçando-me para si. Senti os olhares das pessoas queimando nossas peles e percebi que precisávamos sair de lá.

            — Vamos... Vamos para fora. — Eu disse. Ele murmurou um “uhum” no meu ouvido e se afastou, segurando meu ombro.

            Num borrão, vimos a professora de Biologia parada na porta da sala. Ela estava com as mãos na cintura e, obviamente, não queria que fôssemos para qualquer outro lugar. Dispensei a mulher com um olhar sério e cheio de significado que poderia amedrontar qualquer um.

            Larry continuou com as mãos nos meus ombros até chegarmos ao pátio, onde ele me largou e finalmente pude respirar ar fresco, longe daqueles olhares e pessoas. Estávamos sozinhos no pátio. As lágrimas pareciam queimar minha pele, lembrando-me do momento que eu e Lucas éramos apenas uma chama no colchão. Lembrar-me dele apenas me machucava, me dava uma sensação de desespero, mas ainda assim não conseguia tirá-lo da cabeça. Como ele pôde? Não, não podia ser ele. Só podia ser um truque sórdido do Thomas, algo para me aproximar dele e me afastar de Lucas. Só podia ser isso.

            — Pode me contar agora? — Larry perguntou, com um olhar solidário. O olhar caridoso dele era muito mais diferente do que o de Thomas, carregado de uma verdadeira vontade de ajudar e não de uma soberba e desejo de me ter em seus braços.

            — Lucas. — Respondi. — Ele...

            Hesitei. Eu não conseguia dizer. Ainda estava com inúmeros sentimentos, mas o maior deles era a dúvida. Eu não podia acreditar que aquilo era verdade, não queria acreditar. Então, talvez, se eu falasse em voz alta, aquilo poderia de fato se tornar realidade.

            — O que ele fez? — Larry perguntou. — Ele te machucou?

            — Ele me magoou. Ele mentiu para mim. — Respondi, com as lágrimas explodindo através dos meus olhos novamente.

            Cambaleei para frente, para Larry, e ele me segurou em seus braços. Não foi um abraço de verdade, pois meus braços não contornaram seu corpo, mas as mãos dele se uniram nas minhas omoplatas. Fiquei pensando em como ele tinha braços tão largos para alguém menor do que eu.

            — Calma... — Disse ele. — Fique calmo.

            Ele abaixou a cabeça e me deu um beijo no meio dos cabelos. Foi estranho. Mas, mais estranho do que aquilo, foi que seu ato de carinho aliviou um pouco a dor.

 

“Eu fiz isso porque nunca fui bom com as palavras. Eu disse que nunca dei certo com ninguém, exceto com você. Eu nunca soube o que dizer nas horas que precisava falar algo, exceto com você. Eu nunca fui bom com as palavras, Greg, então usei meu maior dom para te mostrar o quanto eu te amo. E eu te amo muito.”

 

            — Já está mais calmo agora? — Larry perguntou.

            Ele tinha me levado para o local mais abandonado do colégio, onde sabíamos que ninguém ia nos achar: as mesas de xadrez. Lá, as mesinhas estavam todas abandonadas, a grama parecia não ter sido cortada há meses e lixo se acumulava no canto do muro.

            — Já. — Respondi, abraçando a caneca de chá que ele tinha preparado para mim na cantina, enquanto eu secava minhas lágrimas no banheiro.

            — Pode me contar, exatamente, o que aquele idiota fez com você?

            — Não o chame de idiota. — Censurei-o. Ele estalou a língua e revirou os olhos.

            — Ok...

            — Ele mentiu para mim. — Respondi, desviando o olhar. — Tem um áudio que estão divulgando por aí, você até já deve ter visto.

            — Eu ouvi falar.

            — No áudio, ele disse coisas horríveis sobre mim.

            — Que tipo de coisas? — Larry perguntou, parecendo absurdamente interessado.

            — Algo sobre eu ter sido um idiota por ter magoado certas pessoas, e como eu ia sofrer nas mãos dele. Ele até disse que não é gay. — Respondi.

            Larry levantou uma sobrancelha e olhou para mim, sem nem um sorriso no rosto. Eu sabia que algo tinha o atingido pessoalmente quando não via um sorriso no seu rosto. Ele quase sempre sorria.

            — Me desculpe, Greg, mas verdades sejam ditas. Não faz nem um ano que você voltou e... — Disse ele, hesitando. — E isso já aconteceu.

            — Está dizendo que eu não deveria ter voltado? — Perguntei.

            — Não, não.

            — Mas, se eu não tivesse voltado, isso não teria acontecido. É isso que está dizendo?

            — Basicamente, mas... — Ele respondeu, desviando o olhar. — Olhe, eu sei que é difícil pra você. Eu sei que deve estar sendo bem difícil. Eu não gostaria se Anne falasse algo assim de mim, que nunca gostaria de ter namorado comigo ou algo do tipo. Mas... Mas você nem bem conhece esse tal de Lucas. Talvez essa seja a prova de que ele não é a pessoa certa pra você.

            — Nós transamos. — Rebati.

            Pela primeira vez, vi o reflexo de espanto nos olhos dele, retirando a visão de seu olhar preocupado. Ele se afastou de mim, pisando na grama seca.

            — O quê? — Perguntou.

            — Nós transamos. Ontem. — Respondi. — Eu fui para um local escondido, ver algo que ele queria me mostrar, uma pintura, e acabamos transando. Acontece.

            — Greg...

            — E agora eu descobri que ele fez isso apenas pra me humilhar. Daqui a pouco, descubro que existe uma sex-tape minha correndo pela internet. — Eu disse.

            — Lucas não faria isso, ele também apareceria no vídeo. — Larry respondeu, com humor. — E ele realmente não parece que poderia te magoar a esse ponto. Quem começou a espalhar o áudio?

            — Thomas.

            — E você acredita nele?

            — Não, mas... Mas a voz do Lucas é inconfundível no áudio. — Respondi. — Eu não confio no Thomas e definitivamente não gosto dele, mas, odeio afirmar, desta vez ele está certo.

            Ficamos em silêncio por pouco tempo. O vento atingia os cabelos de Larry e os fazia esvoaçar alegremente. Tirando todo o contexto onde eu estava envolvido, até consegui achá-lo incrivelmente bonito naquele momento. Porém, me lembrei de que Anne, minha “amiga”, não gostaria nem um pouco se descobrisse como eu me sentia em relação à Larry.

            — E Andrew? Ele já sabe? — Larry rompeu o silêncio.

            — Não, e pretendo não contar tão recentemente. Ele já está com problemas demais.

            — Estou sabendo. Algo sobre a Alexia. — Disse ele, colocando as mãos na cintura e olhando-me seriamente. — O que faremos agora, então?

            — Eu não sei. — Respondi, olhando para o chão.

            Larry se aproximou de mim com passos rápidos, como se estivesse com medo que eu caísse no chão e quebrasse. Ele retirou a caneca de chá (já frio) da minha mão e a deixou na mesinha de xadrez mais próxima.

            — Não adiantaria em nada ficar se lamentando, Gregory. — Disse ele, colocando as mãos nos meus ombros.

            — Eu sei.

            Havia um magnetismo nele, algo que me forçou a olhá-lo nos olhos. E, como o esperado, o sorrisinho costumeiro dele tinha voltado.

            — Então vamos descobrir a verdade sobre isso. — Disse ele.

 

            Quando retornamos para a sala, todos os alunos já estavam sentados e a professora nos olhou com repulsa. Fiquei imaginando o que todos estariam pensando, provavelmente “ele ficou magoado e já partiu para outro”, mas mal sabiam o que tínhamos planejado.

            Larry tinha feito um plano, um plano que requereria todos os meus poderes sociais e todas as minhas amizades, até mesmo Alanis (principalmente ela). Ele me contou tudo detalhadamente, enquanto voltávamos para a sala, e eu coloquei minhas próprias ideias no plano. Decidimos não falar para ninguém além de Aqua, Alison, Alicia e Ryan.

            Finalmente, quando o sinal para o intervalo bateu, na terceira aula, eu fui colocar a minha parte em prática.

 

***

 

            Caminhei lentamente pelo pátio. As pessoas continuavam a me olhar, com perguntas no olhar, como sempre, mas agora mais pareciam zombar da minha cara. Eu ignorei. Não podia deixar aquilo me abalar, retirar a minha força. Eu precisava me manter forte, apesar da humilhação e da vergonha. Então, mantive meu olhar centrado e meu queixo em pé enquanto me encaminhava para o ponto onde Lucas sempre ficava me esperando.

            A rotina não deu uma trégua naquele dia. Eu esperava que ele fosse estar lá, e ele estava. Mais um motivo para desconfiar do acontecido. Lucas 1, Thomas 0.

            — Greg. — Disse Lucas, quando me aproximei. Obviamente, todo mundo olhava para a gente. — Eu posso explicar.

            — Pode? — Perguntei, me aproximando. Foi a primeira vez que vi o reflexo do medo nos olhos dele, medo de me perder, medo de sentir que eu estava escapando entre suas mãos. — Com certeza pode. E vai.

            — Eu fui obrigado...

            — Não aqui. — Interrompi, sinalizando o lugar ao lado da quadra poliesportiva, um local aonde ninguém mais ia.

            Ele entendeu o recado e começou a me seguir. Durante o caminho, aproveitei para espantar os curiosos com olhares de afronta. Quando chegamos lá, ele se aproximou e colocou as mãos nos meus ombros. Eu me afastei como se o toque dele fosse venenoso, pois, talvez o fogo que ele me dera era, na verdade, um veneno.

            — Não me toque. — Eu disse, dando largas passadas para trás.

            — Eu posso explicar. — Ele repetiu. — Eu fui obrigado. Fui obrigado. Por favor, Greg, você precisa acreditar em mim.

            Lágrimas preenchiam os olhos dele e eu senti uma pontada de dó. Mas eu não podia sentir piedade, não naquele momento. Se Thomas estivesse falando a verdade...

            — Acalme-se. — Eu disse, seriamente, tentando não mostrar reação alguma. — Você vai me contar exatamente o que aconteceu, cada mínimo detalhe.

            Ele olhou seriamente para mim, franzindo o cenho, e engoliu em seco, preparando-se para falar.

 

***

 

            As palavras dele ecoavam em minha mente. Eu fiquei repetindo elas, ecoando-as ainda mais, tentando decorá-las para contar à Larry. Ele disse cada frase com uma entonação que provava a verdade, algo em que eu realmente acreditei. Lucas 2, Thomas 0.

            Mas, retirei todas as lembranças dele quando desci as escadas até o pavilhão do ensino médio normal. Nós tínhamos um plano, e eu precisava executá-lo com firmeza, não contar para ninguém. Então, esperava encontrar Alanis e Ryan parados na entrada do pavilhão, onde geralmente os via. Quando me aproximei, vi os dois abraçados.

            — Greg. — Disse Ryan, espantado.

            Alanis interrompeu o abraço imediatamente, vindo em minha direção. Ela abriu os braços para mim, desta vez, e sorriu tristemente.

            — Oh, Greg, faz tanto tempo que não conversamos. — Disse ela, me abraçando. — Eu sinto muito. Sei do que aconteceu. Eu realmente sinto muito.

            Ela soava como alguém que realmente se importava.

            — Sim, obrigado. — Respondi. — E é justamente por isso que vim falar com você hoje.

            Ela interrompeu nosso abraço, se afastando.

            — Eu quero que você faça algo para mim. — Continuei. — Vai ser um pouco constrangedor.

            — Ok, tudo bem. Tudo por meu amigo. — Ela respondeu.

            — Você só precisa manter segredo. Promete não contar isso para ninguém?

            Um longo instante de silêncio se formou entre nós. Meus olhos pulavam dela para Ryan e para ela novamente. Finalmente, Alanis, aquela garota tão amável, respondeu o que eu queria:

            — Prometo.



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