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História Como Esquecer Alguém - Alguém revelou


Escrita por: GSilva

Capítulo 20 - Alguém revelou


Capítulo 18 – Alguém revelou

 

            Andrew acelerou o carro conforme entrávamos numa avenida. Seus olhos ainda estavam centrados na estrada, olhando para os carros à nossa frente e para as placas de sinalização. Já eu... Apenas tinha olhos para ele. Não conseguia pensar em alguma coisa para falar, então apenas fiquei olhando-o por grande parte do trajeto.

            De vez em quando, me dispunha a olhar para os lados, para ver se reconhecia alguma casa ou algum ponto de referência, mas todas as minhas tentativas terminaram sem nem um resultado. Eu não conhecia aquele lugar, não sabia para onde ele estava me levando. Supus, também, que colocar o rádio para tocar não adiantaria em nada no nosso silêncio, até porque o clima de luto ainda pairava sobre nós.

            — Estamos quase chegando. — Ele disse, sem tirar os olhos da estrada, quebrando nosso silêncio. — Não vai me perguntar por que o tirei do colégio e o trouxe para cá, sem ao menos deixá-lo conversar com o Lucas?

            Eu fiquei estupefato. A primeira frase dele desde que tínhamos entrado no carro, mas, mesmo assim, não gostei da entonação na voz dele. Parecia, pelo tom e pelo modo como Andrew falou, que ele achava que eu não estava me importando com a situação. Idiotice, é claro, porque eu estava muito preocupado com tudo aquilo.

            — Eu pensei que fosse um segredo. — Respondi.

            — Não é. — Ele respondeu. — Só é muito sério.

            — Okay. — Respondi, prolongando as vogais. Não gostei do jeito dele, do modo como falou, parecendo tão centrado e convicto em algo que não queria me revelar. Obviamente, ele não queria me contar, mas, aparentemente, não cabia a ele revelar ou não a verdade. — Bom, então... Por que está me levando para a casa da Alexia?

            — Ela quer te contar algo.

            — Sim, você já disse. Mas, o que é tão horrível assim, a ponto de te deixar tão fechado? — Perguntei novamente. Ele apenas virou o rosto para o outro lado e não respondeu. — Bem, você pediu para perguntar.

            — Não. Eu só queria que você falasse alguma coisa. — Respondeu ele. — Queria ouvir a sua voz.

            — Então bastava me perguntar sobre qualquer outra coisa.

            — Sim. À propósito, acho que Thomas vai ter que ir para um hospital. — Ele respondeu, com um leve sorrisinho no canto dos lábios. E aquela foi a primeira vez que eu quis sorrir desde a sexta-feira, desde a morte de Larry. Era Andrew, ele me dava essa sensação, essa vontade de ser feliz apesar de tudo.

            — Eu também acho. — Respondi. — Mas receio que fiz algo errado.

            — Como assim?

            — Você disse que não foi ele, disse que não foi o Thomas que assassinou o Larry. — Respondi.

            — Sim, mas... Não vá me dizer que não queria bater no Thomas. — Ele disse sarcasticamente. Dessa vez, eu sorri de verdade.

            — Ok, eu queria. Mas, que fique bem claro, aquilo foi para vingar a briga que ele teve com você no ano passado.

            Andrew gargalhou e virou o volante. Entramos numa ruazinha adjacente à principal, com fileiras e mais fileiras de carvalhos em ambos os lados da calçada. Reconheci as espécies das árvores porque me dediquei à Biologia no Ensino Fundamental. Ele continuou pela rua esburacada até chegar ao seu final (era uma rua sem saída) e de repente parou.

            Um calafrio percorreu todo meu corpo. Eu sabia que estava sendo estúpido, que não devia pensar naquilo, mas não podia deixar de achar tudo tão íntimo. Há algo estranhamente íntimo em ficar sozinho com alguém num carro, numa rua sem saída. Quis abrir a porta do automóvel e sair correndo pela rua, gritando algo sem sentido, mas me contive.

            — Chegamos? — Perguntei. Ele assentiu lentamente antes de destrancar as portas do carro.

            — A Alexia mora aqui. — Andrew respondeu, apontando para a última casa da rua: um pequeno “sobrado” de tijolos e concreto, uma casa simples, porém conservada.

            — Então é aqui que vocês estão se encontrando? — Perguntei, arqueando as sobrancelhas. Tentei criar um clima legal entre nós, talvez até engraçado, mas ele não sorriu e virou o rosto para o outro lado.

            — Na verdade, não. Ela não me deixa vir aqui, apenas de vez em quando.

            — Como assim? Ainda não estão prontos para um almoço em família?

            — Não, não é isso. — Ele respondeu. — Venha, você vai entender quando vê-la.

            Eu não perguntei o que aquilo significava, por que ele soava tão sério e preocupado sobre algo que obviamente me envolvia, e apenas comecei a andar. Ele não disse mais nem um palavra, mas podia sentir sua presença logo atrás de mim, como um guarda-costas.

            Eu não queria entrar lá, mas precisava descobrir a verdade e, se Andrew realmente tinha convicção naquilo, então, tinha que reencontrá-la.

            O terreno da casa começava num pequeno jardim de carcas-vivas e gnomos-de-jardim, cortada por uma passarela de pedra que interligava o portão da propriedade até entrada da casa. Eu fui à frente, olhando para os lados, tentando absorver cada mínimo detalhe daquele local. Pretendia memorizar tudo aquilo, certo de que todas as pessoas iriam me perguntar sobre como era a casa da Alexia.

            — Ela está lá dentro. — Disse Andrew.

            Continuei. Falando em termos de nerd, aquele momento parecia ter saído de um roteiro de algum filme de terror: eu, à frente, Andrew mais atrás, esperando a minha entrada numa casa misteriosa. Tudo pareceria menos tenebroso antes não fosse pelo céu que começava a escurecer. Rezei para que não começasse a chover. Finalmente, subi o curto lance de escadas que levava à entrada da casa e me virei para trás.

            — Não precisa bater. — Disse ele.

            Eu franzi o cenho e me virei para a porta novamente. Um calafrio percorreu toda a minha espinha, fazendo-me arrepiar. Algo parecia errado, algo parecia tremendamente errado, como se eu estivesse entrando na toca de um dragão ou coisa parecia. Rezei para não morrer queimado. Engraçado, não? Numa hora, rezei para não chover, noutra, rezei para não morrer.

            Coloquei minha mão na maçaneta e, com uma leve pressão em torno do metal gélido, movi a placa de madeira para frente. A porta rangeu conforme foi se abrindo e um cheiro horrível subiu. Parecia algo morto, alguma carniça, que vinha diretamente do corredor principal. Com uma última olhadela para Andrew, que parecia muito tenso, entrei na casa.

 

            O cheiro horrível foi se intensificando conforme aproximamo-nos do centro da casa, pelo corredor principal. Tudo estava escuro e não havia nem um sinal de alguém naquela casa, além de mim e de Andrew. Porém, pensei que Alexia ainda era muito nova para poder morar sozinha.

            — Onde estão os pais dela? — Perguntei, com a voz baixa por nenhum motivo em especial.

            — Eles a abandonaram. — Ele respondeu, sem nenhuma paz na voz.

            — O quê?!

            — É verdade. E eu não tive muito tempo para arrumar essa bagunça. Eles a deixaram. — Disse ele. — Assim que souberam da doença.

            — Doença? — Perguntei. Ele permaneceu em silêncio e olhou para o lado.

            Eu olhei para onde seus olhos apontavam e notei um lance de escadas que levava até o andar superior. Pelas paredes havia retratos de uma família. Tive que me aproximar mais das fotos para perceber que era a família dela – engraçado, eu nunca pensei que ela poderia ser boa para qualquer pessoa, mas era. Vi retratos de uma família feliz, num parque de diversões, numa praia, em Londres e até no Egito.

            — Ela já viajou muito, não é? — Perguntei.

            Andrew se aproximou de mim e disse numa voz gutural.

            — Ela está lá em cima. Pode subir. Eu vou ficar aqui mesmo.

            Olhei para ele com piedade, pensando em como eu, sendo quem era , conseguiria conversar sozinho com Alexia sem esbofeteá-la na cara. Ele parecia mais sério do que nunca, então apenas me virei para a escadaria.

            Conforme meus pés tocavam os degraus, a escadaria rangia e parecia reclamar do meu peso. Continuei lentamente, passando meus dedos pelo corrimão, absorvendo a suavidade da madeira, olhando para mais retratos que adornavam as paredes daquele ponto. Quando cheguei lá em cima, nem tive coragem de olhar para baixo, porque provavelmente desceria correndo para Andrew. A atmosfera naquela casa parecia muito terrível.

            A escada terminava num corredorzinho que levava a uma única porta. Meu coração disparou. Aquilo realmente parecia um filme de terror. Meus passos se tornaram mais lentos, mas minhas mãos começaram a tremer violentamente. Fui me aproximando, mais e mais, cuidando para não fazer alarde com o assoalho que rangia, e de repente me encontrei frente a frente com a porta.

            Não precisa bater.

            Minhas mãos contornaram a maçaneta e eu a girei lentamente. Essa porta não rangeu quando entrei, ao contrário, parecia estranhamente silenciosa. Quando meus olhos se ajustaram ao novo cômodo, quase caí para trás por causa do choque.

            Aquele sótão não parecia, em nenhum detalhe, com o resto da casa. O teto e o chão eram de uma tonalidade branco-amarelada e as paredes pareciam estranhamente rosadas. Um carpete bem grosso se estendia pelo chão e eu o toquei assim que entrei, sentindo sua maciez. Duas grandes janelas estavam na parede oposta e pouca luz (por causa do tempo que se fechava) entrava por elas. Olhei primeiramente para a direita, observando os detalhes do papel-de-parede, mas, quando olhei para a esquerda, realmente levei um susto.

            Alexia estava lá. Quero dizer, nem bem a reconheci. A garota estava deitada numa cama, com lençóis brancos, e um monte de travesseiros. O local parecia adorável, mas ela não parecia mais a mesma. Levei um tempo para reconhecê-la. Alexia não parecia mais àquela garota bela, forte e corajosa que me confrontava no ano passado, pelo contrário, agora sua aparência tinha se reduzido ao puro desastre. Eu pude ver seus ossos salientes no pequeno vestido rendado que vestia, seus cabelos escassos, revelando seu couro cabeludo, seus olhos fundos e as maçãs do rosto proeminentes. Pude ver como ela parecia frágil, como um barco de papel numa correnteza, e, de repente, um reflexo de choque passou por mim. Ela estava com alguma grave, terrível e irremediável doença.

            — Alexia? — Perguntei, me aproximando. Ela me mirava com aqueles olhos arregalados e eu contive um grito. — Alexia? É você?

            — Greg. — Respondeu ela. Sua voz soou muito mais rouca do que de costume, parecendo um robô. — Sim, sou eu. Não faça essa cara.

            Eu olhei para ela por mais um tempo. Tamanho foi o choque que eu tive, tão grande que mal pude desviar o olhar dela.

            — Venha, sente-se. O meu amor disse que você estava vindo. — Ela respondeu. Eu franzi o cenho por um milésimo, até perceber que o “meu amor” era, na verdade, Andrew.

            Olhei para a cama ao lado dela. Havia uma cadeira lá, na qual, provavelmente, Andrew sentava ao lado da Alexia, todos os dias, e rezava por algo que não podia ter. Mas o que me chamou mais a atenção não foi a cadeira, mas sim o criado-mudo além dela. Havia muitos comprimidos em cima daquele criado-mudo.

            Aproximei-me da cadeira e, puxando-a lentamente para perto de mim, sentei-me sem fazer nem um ruído.

            — O que aconteceu? — Perguntei.

            Ela exibiu um sorrisinho doce e levantou os braços magros, que mais pareciam dois gravetos de tão magros. Em sua mão havia um aparelho, algo que eu já tinha visto. Eu sabia o nome, mas perguntei ainda assim:

            — O que é isso?

            — É um gravador. Para todos... — Ela parou, tossindo violentamente, e depois voltou a falar com a voz falhando. — Para ninguém dizer que você está mentindo.

            — Mentindo? Mentindo sobre o quê? — Perguntei.

            Ela, pela primeira vez em muito tempo, pareceu dar um sorrisinho gentil para mim. Mas não era gentileza, com certeza não era. Era maldade.

            — Não está óbvio, Greg? — Disse ela. — Eu matei o Larry.

 

***

 

            Meu coração parou naquele instante. Eu apenas consegui olhá-la nos olhos durante um longo período, tentando captar seus sentimentos, mas tudo que vi ali foi uma garota cínica e sem piedade. Quis levantar para socá-la, mas minha compaixão falou mais alto, prendendo-me à cadeira.

            — O quê? — Perguntei.

            — Você ouviu. — Disse ela. — Eu matei o seu amigo.

            — Por quê? Como? Onde? — Perguntei novamente sem pensar duas vezes, com cada palavra atropelando a próxima. — O que aconteceu com você?

            — Eu vou te contar. — Disse ela, tossindo mais uma vez e se ajeitando na cama. — Mas só não me fique fazendo perguntas. Esses remédios já me dão dor de cabeça demais.

            Ela se sentou, com as costas encostadas à cabeceira da cama, olhando para mim com um fogo quase oculto no olhar.

            — Você deve ter se perguntado por que saí do Colégio Vargas. — Alexia começou. — Bom, até já deve ter imaginado o motivo. Por causa da Iliana. Mas meus problemas começaram desde bem antes, por causa de você. Na nossa primeira briga sociopata, quando você me expôs e fez com que Andrew terminasse comigo, eu não tinha para onde ir. Fiquei sozinha por um tempo, deve saber disso, e fiz amizade com algumas pessoas estranhas. Não demorou muito para alguém me oferecer algo que “mataria a minha tristeza”.

            Ela fez uma pausa, olhando tristemente para mim.

            — Eu comecei a usar drogas. — Disse ela. — Comecei com maconha, depois fui para as mais pesadas, e, quando a Iliana me drogou para se vingar de mim, tive a minha primeira overdose. Foi aí que descobriram a minha doença...

            — Andrew já mencionou isso...

            — Cale a boca, ainda estou falando. — Ela interrompeu grosseiramente. — Eu tenho uma condição um pouco rara que me fez ficar dependente dessas drogas. Eu não posso viver sem uma dose de crack por dia. Isso é horrível, eu sei, mas, junto com Andrew, consegui mais drogas para me manter viva.

            — Foi por causa disso que você saiu do colégio?

            — Sim. E tem mais. — Ela pigarreou um pouco. — Minha condição foi piorando, porque as drogas foram sugando a minha vida. Imagine. É a sensação de ter sua própria pele sendo retirada de você enquanto se está numa caldeira de água quente. É horrível. Mas, graças a Andrew, consegui passar por isso. Você entendeu o meu ponto, não?

            — Eh, acho que sim. — Respondi, estreitando os olhos. — Você está doente.

            — Não, não é isso. O que eu quis dizer é que amo o Andrew e toda a minha vida, literalmente, gira em torno dele. — Ela respondeu, revirando os olhos.

            — E onde Larry se encaixa nessa história? — Perguntei, sem medo de ser interrompido novamente.

            — Eu já ia falar. — Ela disse, tossindo mais um pouco. As mãos delas alcançaram um dos recipientes de medicamentos, lentamente, puxando-o para perto. — Eu estava aqui, sozinha, quando seu “ex-amigo”, Thomas, apareceu sem avisar. Fiquei com um pouco de medo, confesso, mas o recebi bem. Ele disse que tinha algo para falar sobre você. — Alexia fez uma pausa para tossir mais uma vez antes de continuar com seriedade. — Ele disse que você estava beijando o Andrew.

            — O quê?! — Respondi imediatamente. — De onde ele retirou isso?

            — Foi o que ouvi. — Ela respondeu. — Há alguns dias antes da morte do Larry. Imagine como me senti naquele momento, quando descobri que a razão da minha vida estava se agarrando com meu inimigo.

            — Alexia, nós não somos inimigos...

            — Quieto. — Ela interrompeu. — Eu fiquei com muita, muita raiva, mas consegui pensar o suficiente para elaborar uma vingança. Tive que pesquisar muito para achar o homem perfeito. Contratei alguém para sabotar os freios do carro do Larry. Eu não podia machucar o Andrew, porque o amava e ainda o amo, mas sabia de outra pessoa que você amava além dele. E então você sabe do resto.

 

            Continuei em silêncio após o fim do relato dela. Eu simplesmente não tinha palavras (e ainda não tenho) para descrever como estava me sentindo naquele exato instante. Eu não estava exatamente com raiva, mas também não posso dizer que queria abraçá-la. Afinal, Thomas e ela foram os responsáveis pela morte do Larry.

            — Mas, por que está me contando isso? Por que não me deixou pensar que foi o Thomas, sozinho? — Perguntei.

            — Porque você é meu legado. — Disse ela. — Esse gravador vai mostrar a verdade para o mundo. E eu não tenho muito tempo de vida, talvez algumas semanas, então quis falar tudo de uma vez. Por mais que eu te odeie, por mais que eu queira te ver sofrer, acho que Andrew não está preparado para isso.

            Ela abriu o recipiente de remédios e o levou para perto do peito, apertando-o contra os ossos. Algo naquilo parecia terrivelmente errado.

            — Alexia, o que você está fazendo? — Perguntei. — Por quê?

            — Ele te ama, sabia? Estou falando do Andrew. — Disse ela, sem nem uma emoção no rosto. Foi naquele momento, naquele ínfimo momento, que eu pude perceber que ela estava desistindo, que aqueles remédios seriam sua salvação desse mundo horrível. — Por favor, cuide dele. Fique com ele. Andrew te ama.

            Tudo aconteceu muito rápido.

            Antes que eu pudesse me aproximar dela e impedi-la, Alexia levantou o recipiente de remédios e colocou todos os comprimidos na boca, engolindo-os rapidamente. Senti a dor no olhar dela, dor por querer deixar aquele mundo. Um susto me fez levantar e eu corri para perto dela, retirando o vidro de comprimidos dos dedos dela, mas ele já estava vazio.

            Num impulso nervoso, gritei por socorro.

            — Andrew! Andrew venha aqui!

            Imediatamente, ouvi os passos dele correndo pela escada e a porta abriu com um ruído horrível. Alexia já estava começando a tremer.

            — O que aconteceu? — Gritou ele.

            Eu me afastei dela quando ele me empurrou para o lado. Lágrimas apareceram nos meus olhos, enquanto via aquela cena deplorável. Ele a pegou nos braços, aquele corpo tão frágil e decadente, e uma seringa misteriosa surgiu nas mãos dele.

            — Eu estava falando com ela e ela simplesmente tomou os remédios. — Eu respondi, com a voz rouca.

            Ele enfiou a ponta da seringa no peito dela e apertou o dispositivo. Vi o líquido entrar nas veias dela.

            — Bobagem! — Gritou ele. — Você fez isso! Você quis matá-la porque não suporta que alguém te odeie!

            — Andrew, eu não...

            — Saia daqui!

            — Por favor...

            — SAIA.

            Ele olhou para mim e eu consegui sentir o que ele sentia por mim naquele momento. Ódio. Eu não conseguia mais olhá-lo nos olhos, não conseguia mais ver aquela cena horrível na minha frente, então, virei-me para sair do quarto.

            — Quer que eu chame uma ambulância? — Perguntei rapidamente. De soslaio, vi que o corpo dela já tinha parado de tremer e, felizmente, seus pulmões ainda funcionavam.

            — Não. — Disse ele. — Apenas vá.

 

            Enquanto descia as escadas, parei para pensar em tudo que tinha me acontecido nos últimos meses, desde que conheci o Andrew. E agora paro para refazer minha pergunta inicial, quando ingressei no segundo ano do ensino técnico do Colégio Vargas: Se eu soubesse que aquele seria o momento decisivo, um momento que regeria todos os momentos seguintes da minha vida, não teria continuado. Para quê? Para chegar ao final e sofrer tudo isso?



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