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História Como Esquecer Alguém - Alguém relembrou


Escrita por: GSilva

Capítulo 3 - Alguém relembrou


Fanfic / Fanfiction Como Esquecer Alguém - Alguém relembrou

Capítulo 2 – Alguém relembrou

 

            Abri o papel lentamente. Foi impossível não esconder o espanto ao ver que havia apenas uma frase escrita, em letra cursiva, e ainda menos ao perceber o significado.

“EU TE AMAVA”

 

Aqua demorou mais do que eu para descobrir o que havia acontecido. Ela olhou para Thomas com as sobrancelhas franzidas, claramente tentando entender o que estava ocorrendo, e depois se virou para mim com olhos arregalados que diziam “ele voltou”. Eu, por minha vez, não parei de olhar para ele.

Era como uma miragem. Ele, ali, parado na frente da sala inteira... não podia ser real. Sua aparência estava muito diferente da qual eu me lembrava: ele usava um sobretudo preto que cobria de sua clavícula até seus tornozelos, os cabelos cortados num topete. Antes, seus cabelos caíam sobre a face e ele se resumia a usar apenas uma calça jeans e a camiseta do uniforme.

Ao contrário de mim, ele parecia calmo. Na verdade, a sala inteira estava apreensiva, pois, digamos, a última lembrança que ele deixou foi uma briga com Andrew. Ninguém esperava que ele fosse voltar, ninguém esperava que ele fosse partir, e, mesmo assim, ele fez essas duas coisas sem o consentimento de ninguém.

O professor se aproximou dele e colocou uma mão sobre os ombros do garoto.

— Seja bem-vindo de volta. — Disse ele. Thomas sorriu: um sorriso doce que eu nunca tinha visto-o dar.

— Obrigado. — Respondeu, olhando uma cadeira vazia bem à frente.

Quando o professor retornou para sua mesa especial, e quando os alunos voltaram a conversar, Thomas olhou para cada canto da sala. E, como esperado (ou inesperado), seu olhar caiu sobre mim. Foi aquele milissegundo que parece durar uma eternidade, como se todo o resto estivesse em câmera lenta. Eu sabia quando alguém era importante para mim por causa desses olhares. Andrew, Larry, Lucas... todos causavam o mesmo efeito de câmera lenta, e agora, Thomas também.

Porém, ele não sorriu nem acenou. Ao contrário, ele abaixou a visão e puxou a cadeira para se sentar. Esperei as conversas aumentarem de volume para poder falar:

— Mas que merda é essa? — Perguntei para Aqua. Ela olhou para mim com um ar de desentendimento.

— Eu sei dessa história tanto quanto você. — Disse ela. — Meu Deus. O que Thomas faz aqui? Será que ele voltou para ficar?

— Muito provavelmente. — Respondi.

            Ficamos, ambos, fitando o mais novo integrante da sala. Thomas parecia indiferente, como se uma entrada impactante fosse parte de sua rotina diária, roendo as unhas e olhando para os lados. Em nenhum momento seus olhos voltaram para mim, mas, estranhei, ele parecia especialmente focado no outro lado da sala, onde estava o grupinho de transferidos do ano passado: Larry, Pierre e Aimee. Era tão estranho para ele quanto para a gente, imagino. Mas, a grande pergunta ainda resistia em minha mente...

            — Por quê? — Perguntei.

            — É isso que eu gostaria de saber. — Aqua deu de ombros. — Acha que devemos falar com ele?

            Eu estreitei os olhos e, quando ela estava quase se levantando para ir conversar com ele, ergui a mão.

            — Não! Não. — Respondi. — Vamos ver. Talvez ele tenha apenas se mudado por um período, talvez não fique permanentemente.

            Aqua olhou para mim e assentiu levemente. Depois, voltou a se sentar com um olhar nada amigável na direção dele.

            Foi nesse momento que meu celular apitou.

 

***

 

            Celulares sempre foram expressamente proibidos no Colégio Vargas. Às vezes, quando um aluno era pego usando seu aparelho celular, a coordenação chegava a afastar o usuário por tempo indeterminado. É claro que comigo isso nunca havia acontecido, eu nunca tinha passado dos limites. E, como, naquele dia, o professor mal se limitava a conversar com os alunos, eu não vi problema algum em checar porque meu aparelho havia vibrado em meu bolso.

            Sem causar alarde, pesquei meu celular do bolso e desbloqueei a tela com o código. O choque foi instantâneo. Primeiramente, vi uma notificação piscando na tela, mas era muito mais do que eu esperava; depois, notei que tinha recebido uma mensagem, e o número que a enviou era muito, muito esquecido na minha lista de contatos.

            Era Andrew.

            Eu quase gritei. Rapidamente, agarrei o celular com as duas mãos e cliquei na notificação que piscava, abrindo o aplicativo de conversas. Vi Aqua se virar e olhar para mim, mas, felizmente, ela não se preocupou em perguntar o que havia acontecido. Em outras ocasiões, eu teria ficado sorrindo durante horas, mas a única expressão que exibia era o cenho franzido.

            Quando a conversa carregou, vazia, com apenas uma mensagem, meu coração bateu mais forte. Realmente era ele.

            Ele: “Greg?”

            Eu: “Andrew?”

            Mensagem enviada. Vi os dois traços azuis que indicavam que ele já havia lido. Digitando...

            Ele: “As aulas já começaram?”

            Eu: “Já”

            Ele: “Vc está bem?”

            Eu: “Mais ou menos”

            Uma demora para responder. Essas demoras eram os principais motivos pelos quais eu odiava conversar com alguém tão especial pelo celular: não tinha como saber o que a outra pessoa estava sentindo, não tinha como olhar nos olhos dela.

            Ele: “Mais ou menos? Pq?”

            Eu: “Vc não está aqui”

            Joguei a verdade. Afinal, não queria mentir para ele.

            Eu: “Posso perguntar por que você não está aqui?”

            Ele: “Pode, mas acho que não vai gostar da resposta”

            Eu fechei os olhos e pensei bem se gostaria de receber a resposta. Porém, havia aprendido que, com Andrew, segredos machucavam.

            Eu: “Por que não está aqui?”

            Ele: “Por causa da Alexia”

            Ok, eu não gostei da resposta, mas não esperava algo muito diferente.

            Eu: “Ela te obrigou a se mudar?”

            Ele: “Não”

                    “Ela está passando por problemas bem sérios, e eu mudei de colégio para poder ficar com ela, ajudá-la”

                    “Espero que você entenda”

            Eu: “Entendo”

            Por mais que pareça estranho, eu realmente entendia. Eles se amavam. Ele a amava de uma forma como nunca me amou. Nunca descartei o que ele havia me dito, que já tinha sentido algo por mim, mas nada entre nós ultrapassava o sentimento que havia entre os dois. Eu sentia isso em meus ossos: o sentimento de que eu e ele nunca daríamos certo.

            Eu: “Mas... pq vc não avisou?”

            Ele: “Não queria estragar suas férias”

                    “Queria que você ficasse feliz durante um mês, pelo menos”

            Silêncio. Quero dizer, um silêncio relativo. Estávamos em silêncio, sem nem uma palavra pronunciada. E, ainda assim, eu me sentia tão próximo a ele como nunca.

            Eu: “É bom que vc esteja aí para ajudá-la”

                   “Ela te faz feliz”

                   “Mas, se me permite, qual é o assunto de emergência que precisa da sua atenção”

            Ele visualizou a mensagem no momento que a recebeu, mas demorou uns cinco minutos para responder. Fiquei pensando no porquê. Talvez ele não estivesse aberto a falar disso.

            Ele: “Isso é um assunto complicado e ela me fez jurar que não contaria para ninguém”

            Eu: “Entendo”

 

            Não tive tempo (nem pensei em algo) de falar mais alguma coisa, pois Aqua se virou para mim entusiasticamente entretida.

            — Greg... — Disse ela com um sorrisinho pretensioso. — Com quem está conversando?

            Eu olhei para ela e rapidamente pensei em algo para responder, algo que não envolvesse Andrew ou Alexia. Aqua ficaria mais curiosa nesse assunto do que eu, algo que poderia trazer problemas. E, além disso, aquela conversa, por mais mínima que tenha sido, parecia algo tão íntimo, tão pessoal, que eu não podia simplesmente falar na lata.

            — Com ninguém especial. — Respondi. — É a minha mãe.

            Aqua assentiu lentamente e retornou sua atenção para o professor.

 

            Ele: “Vc está mesmo contente com isso?”

                    “Quero dizer, com esse lance de Alexia...”

            Eu: “Sim, claro”

                   “É algo que vc precisava fazer. Por ela.”

                   “E por vc”

            Ele: “Sim, eu sei, mas também é algo que (eu sei, não adianta negar), pode te magoar”

            Eu: “Lembre-se: apenas eu aprendi a como magoar alguém”

            Ele: “E também como perdoar alguém”

            Eu: “[sorrisinhos] acho que vou precisar aprender mais algo”

            Ele: “O quê?”

            Eu: “como esquecer alguém”

 

***

 

            Trinta minutos se passaram e mais nenhuma mensagem nova. Por motivos desconhecidos, até, talvez, por causa de Alexia, Andrew não disse mais nada. E eu apenas fiquei escarando a tela do celular por um tempo, esperando algo chegar. Mas nada chegou. Nem uma palavra. Esperei também por Aqua, porque tinha certeza que ela iria me perguntar (novamente) sobre a conversa, mas nem mesmo ela se interessou em continuar o assunto.

            Quando o sinal da saída tocou, sorri de alegria.

            Todos os alunos se levantaram, carregando suas tralhas, celulares, mochilas e tudo o mais, e saíram da sala. Eu e Aqua fomos uns dos últimos, seguidos por Pierre e Larry, que vinham conversando entusiasticamente sobre qual ângulo era melhor para se cobrar um escanteio. Eu deixei ambos conversando e segui pelo corredor, ao lado dela. De repente, um muro de sobretudo e cabelos loiros apareceu na minha frente.

            Thomas sorria na minha direção, parado no final do corredor, com as mãos nos bolsos. Eu queria socá-lo. Eu realmente não tinha ficado com raiva por causa de seus sentimentos por mim, já tinha aprendido que não podemos escolher de quem vamos gostar, mas ainda tinha ressentimentos por causa da agressão à Andrew. Thomas não precisava ter sido tão violento.

            — Oi. — Disse ele, quando me aproximei. Até a voz dele soava diferente, mais grossa, mais masculina.

            Eu não respondi. Aqua parou bruscamente e se virou para mim com um olhar que dizia “o que vamos fazer?” e eu dei de ombros. Pierre e Larry vinham logo atrás. Vi o outro garoto se despedir de Larry e sair de perto, passando ao lado de Thomas. Num piscar de olhos, aquela cena se transformou em uma das cenas mais constrangedoras da minha vida: eu, Larry e Aqua tentando sair do pavilhão, enquanto Thomas nos bloqueava.

            — Oi. — Disse Larry. — Você é o garoto novo, não é?

            Larry franziu o cenho para Thomas e pareceu aguçar os ouvidos. Nesse momento, percebi que ambos não se conheciam e seria de muito (MUITO) mau-gosto deixar que soubessem dos segredos um do outro.

            — Não tão novo. — Thomas respondeu.

            Um olhar de Thomas recaiu sobre mim, fazendo todo o resto ficar em câmera lenta, como sempre. O problema era que Larry percebeu essa conexão.

            — Como assim? — Perguntou ele.

            Eu me virei para Larry com as sobrancelhas arqueadas.

            — Larry, este é Thomas. Thomas, este é Larry. — Eu disse. — Eu e Thomas éramos amigos, até ele...

            — Bom, até eu sair do armário e fugir do colégio. Além disso, eu também bati no Andrew. — Thomas interrompeu, com um sorriso. Ele entrou no corredor e estendeu a mão para Larry.

            E então houve aquele sentimento. Foi a mesma sensação que eu sentia quando Thomas, Andrew ou Larry olhavam para mim, mas, desta vez, eu senti quando vi ambos num aperto de mãos. Os dois olhares se conectavam, criando uma rixa inexistente, algo que realmente não estava sob a superfície. Não posso dizer o que ambos estavam pensando, mas tenho certeza que os dois queriam algo sobre mim. Larry não sentia ciúmes de mim, obviamente (porque ele era hétero e nunca se apaixonaria por mim...), mas senti um senso de proteção emanando dele.

            — Prazer em conhecê-lo, então, eu acho. — Disse Larry, apertando a mão de Thomas.

            — O prazer é meu. — Thomas respondeu.

            — Mas, o que quis dizer quando falou que bateu no Andrew...? — Larry perguntou, se afastando um pouco.

            Percebi a deixa e rapidamente segurei em seu antebraço.

            — Larry, acho que temos que ir. — Eu disse, puxando-o.

            — Mas eu quero saber... — Ele rebateu.

            — Eu te conto, outro dia.

            Thomas deu um passo para o lado, liberando nossa passagem, enquanto eu e Larry saíamos apressadamente do corredor. Aqua também saiu rapidamente, e Thomas ficou, abandonado, na frente da entrada do pavilhão.

 

            Grande parte dos alunos já tinha ido embora e os funcionários de limpeza do colégio estavam nos apressando. Eu ainda não tinha soltado o braço de Larry quando chegamos no pátio principal.

            — Larry, fique longe de Thomas. — Disse Aqua.

            O garoto fez uma carranca.

            — Por quê? — Perguntou ele.

            — Ele é uma bomba-relógio. — Respondi. — Já explodiu uma vez quando eu falei que era apaixonado por Andrew. Se não fosse pelos outros garotos da sala, ele teria assassinado o Andrew.

            — Vocês precisam me contar essa história. — Larry rebateu. — Eu estou completamente por fora.

            — Acontece que, no primeiro semestre do ano passado, antes de você chegar, eu e Andrew...

            — Ei, pessoal, acho que podemos deixar essa conversa para depois. — Aqua interrompeu, claramente fixa em algum ponto longe de nós. — Greg...

            Eu olhei para onde ela olhava e notei o motivo da preocupação.

            O Déjà-vu foi inevitável. Lucas Matheus estava vindo em nossa direção, com a mesma determinação de antes. Eu, instintivamente, olhei para trás e para os lados, mas havia apenas o meu grupo no pátio. Ele realmente estava vindo em nossa direção.

            — Prepare-se. — Disse Larry, ao meu lado. Eu prendi a respiração.

            Lucas estava perto o suficiente para poder notar minha expressão apreensiva e eu percebi que, se ele realmente queria conversar comigo, aquela não seria uma boa primeira impressão.

            — Okay. — Respondi, baixinho, quando Lucas chegou na minha frente.

            Ele pairou como alguém realmente interessado em mim, olhando-me de cima à baixo com olhos perspicazes. Eu sorri e ele retribuiu o sorriso.

            — Greg, não é? — Disse ele. Sua voz parecia mais doce do que eu imaginava, mais fina, tão estranha para alguém com seu porte alto.

            Eu não parei de sorrir.

            — Sim. E você é... Lucas?

            — Isso. — Disse ele.

            Houve aquele segundo se silêncio desconfortável e eu finalmente consegui desviar o olhar. Larry e Aqua se entreolharam e, como se já tivessem ensaiado, se afastaram de mim, deixando-me à sós.

            — Sabe, uma amiga minha, Alicia, já me falou sobre você. — Eu disse, tentando puxar algum assunto.

            — Sim. — Concordou ele, abaixando a cabeça e passando a mão na nuca. — Me desculpe por aquilo. Eu devia ter ido pessoalmente.

            — Okay, sem problemas. — Respondi. — Ela disse que você queria falar comigo, mas vieram as férias e então...

            — É, eu realmente preciso falar com você. — Disse ele. — Isso vai ser tão estranho para você quanto para mim.

            — Ok. — Respondi, rindo.

            Não me opus quando ele colocou uma mão sobre meu ombro e sugeriu, com uma expressão suave, que fôssemos para um lugar mais reservado.

            Aquele foi o início e o recomeço.



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