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História Como Esquecer Alguém - Alguém conquistou


Escrita por: GSilva

Capítulo 4 - Alguém conquistou


Fanfic / Fanfiction Como Esquecer Alguém - Alguém conquistou

Capítulo 3 - Alguém conquistou

 

Lucas colocou as mãos nos bolsos quando chegamos, finalmente, no outro lado da rua. Ele vinha rindo desde que saímos do Colégio Vargas, com seus lábios formando um adorável arco de orelha à orelha. Eu não tinha dito nada, não sabia o que dizer, realmente, e ele parecia menos apto a querer romper meu silêncio. Ainda assim, Lucas não parecia menos apto a querer conversar.

Após me conduzir gentilmente ao pátio de entrada do colégio, ele ficou em silêncio, me fitando com aqueles olhos claros. E, quando vi Larry e Aqua acenarem um "tchau" ao longe da minha visão, soube que Lucas apenas queria ficar sozinho comigo. Mas, o destino não estava ao lado dele. Os funcionários de limpeza do colégio insistiram para que saíssemos do local, praticamente nos expulsando, e assim o fizemos. Quando atravessamos a avenida, ele decidiu quebrar o silêncio.

— Greg, posso te fazer uma pergunta? — Disse ele. Eu sorri, de nervosismo, e olhei para ele.

Estávamos no exato ponto contrário ao qual eu e Andrew conversamos no final do ano passado, no muro à frente da entrada do colégio, do outro lado da rua. Foi inevitável não lembrar do dia da festa. Mas, além de tudo que eu pensava sobre Andrew, não podia deixar Lucas no vácuo.

— Depende da pergunta. — Respondi. Essa foi a vez de ele sorrir.

— Digamos, hipoteticamente, que alguém esteja interessado em você... — Disse ele. — O que você faria?

Eu franzi o cenho. Não esperava uma pergunta como aquela, mas também não esperava algo muito diferente. Olhei para seus olhos verdes e tentei ao máximo não pensar que, por mais que eu não quisesse admitir, ainda queria o amor de Andrew. Sorri novamente e me aproximei dele.

— Não sei. — Respondi. — Ninguém nunca disse que está interessado em mim...

— Ninguém? — Lucas rebateu. — Nem um garoto, ou garota...

— Não. — Respondi novamente. — Não é como se eu tivesse passado toda a minha vida sozinho, aliás, mas ninguém se interessou por mim. E se alguém já me olhou de alguma forma diferente, ninguém nunca se pronunciou sobre isso.

— Triste. — Comentou ele. — E pouco provável.

Eu franzi as sobrancelhas.

— Como assim? — Perguntei. Ele deu um passinho para a frente, ficando perto o suficiente para que eu pudesse ver reflexos dourados em seus olhos. Suas mãos ainda estavam dentro dos bolsos e ele parecia confortável demais para alguém em tal situação.

— Sabe, acho pouco provável que ninguém nunca tenha se apaixonado por você, nem uma vez... — Ele respondeu, com um sorrisinho. — Você é...

Você é... Nenhuma parte feliz da minha vida apareceu depois de um "você é". Andrew e Larry tinham a mania de falar o que eu era, o que eu parecia ser, e eles nunca erravam. Mas, vendo o Lucas naquele dia, com as mãos escondidas e o sorriso exposto, eu realmente não podia deixá-lo falar o que eu era. Não queria colocá-lo em perigo com meus sentimentos.

— Bom, ninguém nunca se apaixonou por mim. — Interrompi, antes que ele continuasse. Ele enrijeceu a mandíbula. — A maioria das pessoas já ficou com alguém, mas eu, não.

Me virei, encostado ao muro, olhando para a fachada do colégio. Lucas fez o mesmo. Carros passavam em alta velocidade pela rua e nós, de vez em quando, seguíamos o movimento com os olhos.

— Nem um beijo? — Perguntou ele.

Meu coração disparou. Alguma coisa na pergunta dele, talvez o tom, talvez a intenção, me pareceu extremamente pessoal. Olhei para ele por um segundo, com a cara fechada, e ele entendeu o recado.

— Quero dizer... — Continuou ele. — Não estou perguntando se você quer me dar um beijo. Quero saber se...

Num reflexo de piedade, estiquei meu braço e toquei o ombro dele. Com um sorriso gentil (pelo menos eu achava que seria gentil), acrescentei:

— Tudo bem, eu entendi. E não, ninguém nunca quis... me beijar. Embora...

Me interrompi. Havia muitas reticências naquela frase, naquele pensamento. Minha memória flutuou até um momento há quase exatamente um ano atrás, quando eu expus a traição de Alexia, quando Andrew me beijou. Foi um beijo de, digamos, força. Ele queria a minha força, porque eu estava curando-o dos males dela. E, agora, lembrar dele parecia ter muito menos sentido.

— Embora? — Lucas perguntou, se virando para mim.

Sem esforço, me virei para ele, e, por um momento, nada mais existiu, nem Andrew nem Larry. O peso da minha mochila desapareceu, os carros desapareceram, o colégio desapareceu. Éramos apenas nós, encostados ao muro, mirando o rosto um do outro. E ele sorria.

— Embora — continuei — "sempre há uma primeira vez para tudo".

O sorriso dele se abriu, revelando dentes brancos e perfeitamente alinhados. Ele era lindo. Houve aquele momento de silêncio novamente, aquele de câmera lenta, mas eu não me senti desconfortável. Senti o sangue subindo ao meu rosto, corando-me, e, ainda assim, não senti como se houvesse borboletas em meu estômago. Lucas parecia ter o mesmo sentimento. Não sei o que foi, algo sobrenatural ou não, mas eu quis (muito mesmo) abraçá-lo. Era a primeira vez que conversávamos, não era para ser tão intenso. E mesmo assim ele sorria.

— Ótimo. — Ele respondeu.

Continuei olhando para ele. Seus olhos verdes pareciam firmes, sustentando meu olhar, com um singelo pedido de aproximação. Eu queria me aproximar, queria tocá-lo. Mas, então, ele desviou o olhar.

— Sabe — disse ele —, acho que eu preciso ir.

A câmera lenta parou.

— Por quê? — Perguntei. Ele abaixou o olhar e passou a mão na nuca.

— Compromissos. Estágio. — Disse ele. — Mas, depois eu ligo pra você...

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ele saiu de perto do muro e começou a andar na direção contrária à minha. Fiquei estagnado, não acreditando no que quase tinha acabado de acontecer. Estávamos tão perto. Quando ele já estava longe de mim, ergui a voz e falei:

— Mas você não tem meu número!

Ele mal se virou para trás, para olhar a mim, e, com um sorrisinho no rosto, respondeu:

— Eu dou um jeito!

Meu coração parou. Fiquei congelado, olhando-o se distanciar, pensando que momentos como aquele, distanciações, eram mais comuns na minha vida do que eu gostaria.

 

***

 

Voltei sozinho para casa, a pé. Por algum motivo, não ter Ryan ou Aqua ali, para me fazer companhia, era ruim. De fato, eu nem sempre imergia em conversas com Ryan (ele, geralmente, apenas falava sobre jogos e/ou política, quando não reclamava de nossos pais, é claro), mas eu havia me acostumado, acostumado a ter alguém ao lado.

Quando cheguei em casa, não fui recebido por abraços ou por beijos, muito menos por sorrisos. Minha mãe, que não tinha ido trabalhar naquele dia, havia feito um lindo almoço, mas eu não estava faminto. Porém, para preservar o pouco de interação que ainda havia naquela família, eu me sentei com eles à mesa. Ryan já estava lá há quase uma hora, e, com certeza, havia deixado minha mãe maluca com essa história da minha demora, provavelmente dizendo que eu estava me agarrando com algum garoto. Ele foi o primeiro a colocar esse assunto em questão.

— E então, Greg... — Disse ele. — Eu soube que o Thomas voltou.

— Voltou. — Respondi. Minha mãe respirou lenta e profundamente.

— Quem é esse? — Ela perguntou. — Thomas... Não é aquele que brigou com o Andrew? Lembro que li alguma coisa parecida em Como Magoar Alguém.

— Sim, é ele. — Confirmei. — E sim, ele voltou. Mas não, eu não vou voltar a ser amigo dele.

— Por que não? — Ryan perguntou, interessado, após uma longa garfada. — Só porque ele gostava de você, ou ainda gosta? Ou é por causa do tal do Lucas?

Eu olhei para meu irmão. Os olhos dele estavam acesos, carregados de uma energia estranha, talvez até maldade por estar me torturando socialmente. Ele segurava o garfo como se o objeto fosse uma arma. Fiquei imaginando as consequências de furar sua mão com a minha faca.

— Não é por causa do Lucas. Aliás, prefiro que o chame de Larry. — Respondi com os dentes cerrados. — Thomas não vai voltar a ser meu amigo porque, justamente, ele brigou com o Andrew ao invés de ser paciente e me deixar explicar a situação. Ele adora mentir.

— Talvez. — Ryan continuou. — Mas não é de Larry que eu falei...

— Ryan, por favor, agora não. — Interrompi, olhando rapidamente para minha mãe. Ela estava com os olhos semicerrados na minha direção, articulando algo em sua mente materna.

— De que Lucas ele está falando, Greg? — Ela perguntou. Eu olhei para os lados como se tivesse sido pego de surpresa e dei de ombros.

— Eu não faço ideia. — Respondi.

 

Após quase ter minha vida pessoal divulgada para minha mãe, eu fui direto para meu quarto. Ainda tinha esperança de manter essa história da aproximação do Lucas Matheus em segredo, embora, por mais que eu não quisesse, sabia que uma hora ou outra todo mundo iria ficar sabendo. Meus pais adoravam investigar minha vida pessoal, e Ryan adorava fofocar sobre minhas paixões. Na maior parte do tempo, ele nem tinha ideia do que estava falando. Todos achavam que sabiam como eu me sentia, mas apenas Larry e Andrew tinham esse privilégio.

Quando deitei em minha cama, com as pernas apoiadas na parede, retirei o celular do bolso e desbloqueei a tela. Respirei lentamente, exalando o ar cansativamente. Nenhuma nova mensagem. Andrew realmente tinha parado de conversar comigo. Eu queria muito perguntar a ele sobre o motivo de sua mudança, qual era o assunto de emergência de Alexia que o obrigava a mudar de colégio. O que podia ser tão importante a ponto de fazê-lo se afastar de mim, depois de tudo? Tentei não ficar com raiva, pois provavelmente a culpa não era dele. Talvez Alexia apenas estivesse manipulando-o a se afastar de mim. Ela já tinha feito isso com Anne, aliás, quando começou a namorar com o Andrew: houve um tempo que Andrew e Anne (que sempre foram muito amigos) foram proibidos, pela Alexia, de sequer conversarem.

Coloquei na minha cabeça que a culpa era dela.

Sem querer, contra minha própria vontade, um grupo de flashs de imagens surgiram na minha mente. Eu vi tudo novamente: Andrew, no primeiro dia de aula do ano passado; Larry, na festa do fim do ano; e Lucas Matheus há horas atrás. Foi impossível não pensar nele. Eu não estava (e sabia disso com toda a veemência do mundo) apaixonado por ele, não devidamente, mas não conseguia tirá-lo da minha cabeça. Foi nesse ponto, quando relembrei como seus olhos tinham traços dourados sobre o verde, que o cansaço me dominou e eu acabei dormindo contra minha vontade.

Fui acordado de um sono sem sonhos alguns minutos mais tarde, por Ryan. Ele não estava sorrindo e mal parecia estar animado, pude perceber por sua expressão de tédio.

— Greg. — Disse ele. — Você tem uma visita.

Franzi as sobrancelhas. Ele saiu do quarto antes que eu pudesse perguntar quem queria me ver e então fui obrigado a levantar. Meu coração deu um salto inesperadamente.

Conforme fui andando pelo corredor principal, dei uma olhada em cada cômodo e percebi que a casa parecia vazia. E então saí para o quintal e o vi.

 — Larry? — Perguntei, me aproximando do portão.

Larry sorriu através da grade, flexionando os braços contra o próprio corpo, com as mãos nos bolsos de uma jaqueta de couro preta.

— Oi. — Ele respondeu.

Eu fui até o portão, agarrei a grade, e o movi para o lado. Ainda com as sobrancelhas franzidas, perguntei:

— Desculpe pela grosseria, mas o que está fazendo aqui?

Ele não pareceu ofendido. Ao contrário, sorriu e acenou em direção ao parque, que ficava à algumas casas de distância mais à direita.

— Acho que quero conversar. — Disse ele. Eu percebi sua intenção, seu desejo implícito pelo olhar, e sorri de volta.

— Ok.

 

***

 

Larry não disse nem uma palavra, até chegarmos no nosso local. Era, no mínimo, a décima vez que eu ia até lá só naquele mês. Uma das partes das minhas férias que ocultei de todos era que eu e Larry nos encontrávamos, quase todos os dias, naquele local. À minha frente, o lago parecia mais calmo do que nunca, refletindo o azul do céu, e as árvores pareciam vigiar o andar dos visitantes.

Larry foi o primeiro a se sentar na grama, flexionando os joelhos e colocando os pulsos sobre os mesmos. Eu sentei ao seu lado, em "posição de índio", e resolvi quebrar o silêncio.

— E então? — Eu perguntei. — Qual é o assunto?

— Anne. — Ele respondeu, misteriosamente, fitando o lago com os olhos semicerrados. Eu balancei a cabeça, sem entender nada.

— Anne? — Perguntei. — O que tem ela?

Anne, a amiga de Andrew, que também já tinha sido minha amiga, se tornou, em minha mente, apenas mais uma lembrança de um tempo que eu lutava para esquecer. Por esse motivo em especial, por essa ânsia em esconder meu passado incrivelmente destrutível, eu quase nunca mais conversei com ela desde que Andrew e Alexia começaram a namorar. Por isso estranhei quando Larry disse o nome dela.

— Ela veio falar comigo. — Ele respondeu, como se aquilo respondesse a todas minhas dúvidas.

— E?

— Ela veio falar comigo. — Ele repetiu, desta vez mirando-me com os olhos. Eu senti que havia algo estranho, notei isso em sua entonação, no seu olhar, no seu modo misterioso e sério, repentinamente sério. — Ela se declarou para mim.

Fiquei em choque.

— Anne? — Eu perguntei. — Espere... O quê?

Ele se virou para mim, olhando-me seriamente, mas seus lábios já formavam o costumeiro sorrisinho brincalhão. Eu não consegui processar a informação, como se ele estivesse brincando comigo. Anne... Larry. Anne e Larry? Impossível. Eu nunca imaginaria os dois juntos.

— Após você sair — ele respondeu —, ela veio falar comigo. Ela disse que estava esperando pela hora da saída porque não queria que todos vissem. E então ela disse que está apaixonada por mim.

Eu franzi as sobrancelhas pela quadragésima vez só naquele minuto. Como era possível? Quais as probabilidades? Dentre todos os trezentos garotos daquele colégio, por que ela escolheu justamente ele? Tentei me recordar de tudo que sabia sobre Anne, desde o primeiro momento que a conheci: Uma pessoa legal, popular, amiga de Andrew, minha amiga, e namorada de...

— Mas, espere. — Eu interrompi. — Se eu me lembro bem, ela estava namorando com outro cara.

— Sim, mas ela me disse que não deu certo. — Larry respondeu. — Olhe, eu entendo se você ficar mal por isso, eu só queria...

— Não. — Interrompi outra vez. — Eu não estou mal por isso, nunca ficaria mal por isso. Eu apenas não processei ainda.

— Greg, qual é, você sabe que sentia algo por mim. Eu podia ver nos seus olhos, cara. — Larry respondeu, desarmando totalmente minhas defesas contra qualquer mágoa que podia surgir daquela história.

Porém, eu não estava mentindo. Eu realmente não podia ficar mal por algo como aquilo, pela possibilidade de ele ser feliz com outra pessoa. Eu não podia ser tão ciumento.

— Larry, é sério. — Eu respondi. — Eu não vou ficar mal por isso, não vou ficar magoado se você quiser ficar com ela. Não é só porque deu errado entre nós que vocês  não podem dar certo.

— Isso ficou confuso. — Ele respondeu, franzindo o cenho. — Mas eu entendi. Você quer dizer que abre mão de qualquer possibilidade de algum relacionamento amoroso comigo, e que não ficaria magoado?

Eu demorei para responder.

— Sim. — Falei.

Ele olhou novamente para o lago e sorriu.

— Então não há problema se eu ficar com ela? — Ele perguntou. Eu respirei lenta e profundamente, pensando que a minha resposta poderia mudar todo o rumo daquele momento em diante.

— Não, é claro que não. — Respondi. Ele não parou de sorrir quando disse:

— Obrigado.



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