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História Como Esquecer Alguém - Alguém perdeu


Escrita por: GSilva

Capítulo 5 - Alguém perdeu


Fanfic / Fanfiction Como Esquecer Alguém - Alguém perdeu

Capítulo 4 - Alguém perdeu

 

Perder. É uma palavra muito pequena para expressar uma emoção tão forte, tão intensa. O fato de perder algo gera um sentimento de vazio, de que está faltando alguma coisa, seja na sua vida ou não. Podemos perder tudo, inclusive pessoas.

Larry.

 

No próximo dia de aula, eu e meu irmão chegamos ao colégio exatamente quando sinal da entrada batia. Raramente nos atrasávamos, mas, aquele dia foi uma exceção. Os funcionários da organização do Colégio Vargas praticamente nos obrigaram a entrar. Eu reagi bem ao fato de estar atrasado, porém, Ryan ficou visivelmente angustiado.

Eu segui para meu pavilhão sem pressa, com os funcionários ordenando atrás de mim. As salas já estavam repletas de alunos, pude ver pela janelas conforme andava pela passarela, e eu presumi que, de fato, reencontraria todas as minhas amigas, não apenas Aqua. Quando cheguei ao final da passarela, encontrei o pátio do ensino técnico praticamente vazio, com exceção à alguns funcionários da limpeza. Eles pareceram me ignorar, e eu fiz o mesmo. Continuei até alcançar o corredor. Quando entrei na sala de aula, percebi que tudo estava normal.

Existiam dias, ouso dizer, que eu acordava com um sentimento muito estranho, como se estivesse faltando algo, como se tudo fosse mais real. Eu não sabia o que era, até que dei o primeiro passo dentro da sala e a voz de Larry chegou aos meus ouvidos.

Eu não olhei para o lado, na direção do fundo das salas, onde ele e seu grupinho ficava; apenas continuei a andar até o outro lado da sala. Como o esperado, todas as garotas estavam lá: Aqua, Alicia e Alison. Eu sorri ao me aproximar.

— Greg! — Exclamaram as duas, levantando-se. Eu abri os braços para o abraço que certamente seguiria e não parei de sorrir. Ambas se entrelaçaram num abraço triplo desconfortável, porém revigorante.

— Oi. — Eu disse.

Ela se afastaram, com os olhares acesos, parecendo investigar o meu rosto atrás de vestígios de algo. Eu arqueei as sobrancelhas.

— Como foram as férias de vocês? — Eu perguntei, quebrando o "silêncio" entre nós. Alison foi a primeira a responder.

— Incrivelmente entediante. — Disse ela. — Fui obrigada a ir para a casa de campo da minha avó, no norte do estado. Lá é horrível.

— As minhas férias foram legais. — Alicia interrompeu.

Eu comprimi os lábios num sorriso condicente e me aproximei da minha mesa. Aqua, que ainda estava sentada, apenas sinalizou um "oi", dispensando qualquer necessidade de reencontro, pois nos encontramos no dia anterior. Eu larguei minha mochila (quase vazia) em cima da mesa, puxando a cadeira e me sentando.

— E aí, novidades? — Alison perguntou, sentando-se literalmente em cima da minha mesa. Eu franzi o cenho para ela.

— Não, eu acho. — Respondi.

— Mesmo? — Ela rebateu.

— Mesmo.

O professor entrou na sala neste instante, fazendo todos diminuírem o volume das conversas. O exímio professor de Economia foi até sua mesa particular e largou uma pasta em cima da mesa.

— E como Andrew está? — Alison perguntou, sussurrando.

— Eu não sei. Fiquei sabendo que ele se mudou. — Respondi, dando de ombros. Me lembrei do dia anterior, quando conversei com ele por mensagens de texto. Quis (muito, mesmo), naquele momento, contar tudo para elas, mas me parecia pessoal demais para sair divulgando por aí.

— Sério? — Foi Alicia quem disse, com as sobrancelhas arqueadas de espanto. — Por quê?

— Também não sei. — Respondi. — Ele nem sequer se despediu.

— Estranho. — Alison comentou. — Ele nunca sairia sem se despedir.

Nessa hora, elas olharam para mim, até mesmo Aqua, que parecia relutante em entrar na nossa conversa. Eu olhei para cada uma delas seriamente.

— Gente, é serio, se eu soubesse de algo, não ia deixar de contar para vocês... — Respondi antes que elas perguntassem. Claramente, com aqueles olhares entrelaçados e aquelas bocas semiabertas, elas estavam duvidando do alcance do meu leque de conhecimento. — Eu realmente não sei porque ele foi. — Continuei. — Mas, tenho uma teoria.

— Teoria? — Alison perguntou.

— Sim. — Respondi. — Se lembram quando ele e Alexia começaram a namorar? — As três balançaram a cabeça. — Então, naquela época, ele e Anne eram amigos. Tipo, melhores amigos. A minha teoria é que...

— Alexia proibiu o Andrew de se relacionar com você, assim como proibiu ele de conversar com a Anne. — Aqua interrompeu, falando pela primeira vez. Eu fiz que sim.

— Isso mesmo. — Respondi. — É só uma teoria, mas não deixa de ser provável.

— Se isso for verdade, então, ela é realmente uma vaca. — Alison respondeu. — Ela não pode te obrigar a ficar sozinho.

— Eu não estou sozinho. — Rebati. — Tenho vocês, e Larry...

— E eu?

 

A voz dona da última fala soou diferente, mais grossa do que qualquer outra. Meu primeiro impulso foi pensar em Larry, pois ele tinha um tom grave igual àquele, mas meus instintos diziam que era outra pessoa. Descartei a possibilidade de ter sido Andrew e olhei para frente. Thomas estava parado ao lado do nosso círculo de fofocas, com a cabeça no espaço vazio entre Alison e Alicia.

— Thomas? — Eu perguntei. Ele sorriu como resposta.

As garotas olharam para ele como se o garoto fosse um animal venenoso e se afastaram. Eu pude ver o espanto no olhar de Alicia. Até eu mesmo havia me espantado. Quanto da conversa ele tinha escutado?

— Thomas, não é educado ficar escutando a conversa dos outros. — Eu rebati. — Vá procurar segredos para cavar em outro grupo!

— Não. — Disse ele. — Eu não estava escutando a conversa de vocês. — Disse ele, entrando no espaço deixado pela garotas. — E, aliás, nenhum outro segredo parece ser tão intrigante quanto esse.

— Thomas, saia. — Eu ordenei, mas ele apenas ficou estagnado como uma estátua. — É sério.

As meninas olhavam do rosto dele para o meu, como se soubessem que eu estava prestes a explodir. Confesso, eu não estava com uma completa raiva dele (não podia esperar que ele não fizesse perguntar após passar quase um ano fora), mas não suportei a ideia de que ele podia estar escutando a nossa conversa.

— Thomas, por favor. — Pedi com gentileza dessa vez, fazendo-o sorrir como uma criança. O garoto deu meia-volta e ergueu a voz.

— Tudo bem, então, eu vou. Está óbvio que você não quer me contar algo. — Disse ele.

Por um momento, apenas fiquei mirando suas costas e sua nuca, percebendo, com espanto, que seus cabelos loiros formavam um redemoinho atrás da cabeça. E, também por um momento, parei para pensar no que eu tinha acabado de fazer. Não tinha sido justo. Ele não tinha culpa de, algum dia, ter gostado de mim.

— Espere. — Eu disse, surpreendendo a todos e a mim mesmo.

Ele se virou com os olhos acesos, contente.

— Thomas, eu posso falar tudo para você, te contar tudo, mas não agora. — Respondi. — No intervalo, me encontre na entrada da quadra.

Os olhos dele encontraram os meus, fato que raramente acontecia, e senti a conexão por um instante, até ele se virar para trás com um sorriso.

 

***

 

No início da terceira aula, algo aparentemente importante aconteceu. Foi algo tão insignificante, tão subjetivo, que eu quase deixei escapar.

Sempre tive olhos perspicazes, observando cada detalhe à minha volta. Nem sempre me orgulhei disso, pois, às vezes, acabava percebendo até demais. Foi isso o que aconteceu no início da terceira aula: Percebi demais.

Por alguma inspiração divina, algum comando sobrenatural, olhei para o lado no momento que os alunos se sentavam. Foi quase imperceptível, mas eu vi. Olhares e sorrisos...

Larry se sentava à duas mesas de distância de Anne. Eles raramente conversavam, pelo o que eu sabia, mas eu vi quando ambos se entreolharam e sorriram. Havia amor ali, uma espécie de amor que eu nunca tinha visto. Amor jovem, recém-chegado, como um bolo que recém-saído do forno. Ele nunca tinha me olhado daquela maneira, talvez nunca olhasse.

"Não seria sensato. Além de que, com certeza eu iria me decepcionar. Tinha visto o modo como Anne olhava para ele."

 

***

 

Fiquei mais ansioso pela hora do intervalo do que eu gostaria de admitir. Quando saí da sala, entrando no corredor repleto de alunos, as garotas insistiram para se juntarem à mim. É claro que eu disse "não". Eu expliquei que devia conversar com Thomas sozinho, porque ele queria exemplificações bem detalhadas do que havia acontecido durante sua ausência, e não havia alguém mais próprio para isso do que eu. Elas aceitaram, no final, e me deixaram sozinho.

Como combinado, ele estava parado ao lado da entrada da quadra poliesportiva (um feito, digamos, bem rápido, porque nem o vi saindo da sala). Ele sorriu quando me aproximei, parecendo ignorar as pessoas em volta. Mas, como eu não pude deixar de perceber, alguns alunos olhavam para ele com perguntas ofensivas no olhar.

 — Thomas, pare de sorri. Isso não é uma brincadeira. — Eu disse, me aproximando. Ele franziu o cenho e o sorriso diminuiu, porém, não desapareceu.

— Por que tanta seriedade? — Ele perguntou.

Eu olhei em volta.

— Está vendo esses alunos? — Perguntei. Ele assentiu. — Nenhum deles gosta de mim, depois de algumas coisas que aconteceram, e eles devem estar se perguntando o motivo da nossa conversa.

— E?

— E eu acho que você deveria tomar mais cuidado. — Respondi bruscamente. — Eu vou te explicar tudo, mas não fique andando por aí como se fosse meu melhor amigo.

Sem pensar duas vezes, eu segurei seu antebraço, firmando minha mão com força, e o puxei para longe da entrada da quadra. O conduzi até uma área ao lado da quadra, que geralmente ficava vazia, e soltei seu braço.

— Vamos, pergunte logo! — Ordenei. Ele arqueou as sobrancelhas.

— Ok. — Respondeu. — Vamos ver, por onde eu começo?

Houve um silêncio, onde ele ficou apenas olhando para o céu com as sobrancelhas franzidas e, de repente, levantou a mão.

— Ah! A minha saída. — Ele disse.

Eu limpei a garganta, olhando-o fundo nos olhos.

— Bom, depois que você saiu, eu cuidei de Andrew. — Respondi, sem hesitar. — Você sabe, por causa do que você fez. Sabia que ele ficou com hematomas por quase dois meses? Eu o levei até a enfermaria.

— Não seja tão detalhado, Greg. — Thomas interrompeu.

— Está bem. Bom... Depois eu briguei com namorada dele.

— O quê?! — Thomas arregalou os olhos.

— Calma, não é isso que você está pensando. Nós não saímos "no tapa". Foi uma briga social, por assim dizer. — Respondi. — Ela me ameaçou, dizendo que ia achar um meio de me magoar. Eu recebi como um desafio e tentei descobrir um meio de magoá-la primeiro.

— A Alexia fez isso? Ela me parecia tão... inofensiva.

— Alexia tem muitas características, mas inofensiva não é uma delas. — Respondi. — Enfim, minhas amigas me ajudaram. Elas seguiram a Alexia e, adivinhe, descobriram que ela tinha um caso, que estava traindo o Andrew. — Fiz uma pausa, esperando que ele fosse xingá-la ou qualquer coisa parecida, mas Thomas apenas ficou parado. — Aqua, Alison e Alicia gravaram e fotografaram uma cena dessa traição. E, depois, nós imprimimos vários cartazes.

— Espere, deixe-me adivinhar. — Ele interrompeu. — Vocês colocaram esses cartazes pelo colégio?

— Como você sabe? — Respondi, estupefato. Ele deu um sorriso orgulhoso e desviou o olhar.

— Eu tenho meus meios.

— Ok, então. — Respondi, achando profundamente estranho. Mas, pensando bem, não era de se espantar que meus segredos estivessem espalhados por aí. — Logo após isso, Andrew descobriu da traição e, automaticamente, terminou com ela. Acontece que a Alexia é maluca, esse é o problema. Ela causou um acidente, um grave acidente, e Andrew acabou indo para no hospital por causa de um atropelamento.

— Vaca. — Ele respondeu.

— Eu fui no hospital e reencontrei ele. Mas, eu não esperava, a Alexia tinha subornado a Iliana (outra garota que me ajudou na exposição dos cartazes) e tinha descoberto a verdade. Ela contou para o Andrew. — Continuei. — Quando fui visitá-lo no hospital, ele disse coisas horríveis. No final, eu, Alexia e Andrew saímos magoados.

— É isso que acontece quando se brinca com o amor. — Thomas comentou.

— Foi nessa hora que eu percebi que deveria mudar de colégio, abandonar tudo. E fiz isso. — Continuei a falar. — Eu e meus pais mudamos para outra cidade. Entrei num novo colégio e, por três meses, tudo voltou ao normal.

Thomas não fez nem um comentário, apenas ficou me olhando com aqueles olhos claros. Eu parei para pensar no que tinha acabado de dizer e percebi que não tinha mencionado a carta de Andrew. Continuei em silêncio.

— E? — Thomas perguntou.

— E o quê?

— Como veio parar aqui de novo?

— Uma expulsão. Fui expulso do outro colégio. — Ele arqueou as sobrancelhas ao ouvir minha resposta e eu suprimi uma gargalhada por deixá-lo tão apavorado por nada.

— Como assim?

— Um dos meus instrutores descobriu sobre meu passado aqui no Colégio Vargas e eu fui expulso instantaneamente. — Respondi. — Depois, voltei para cá e descobri que, realmente, as coisas não tinham mudado. Literalmente. Andrew tinha voltado com a Alexia.

— Que merda.

— Exatamente. — Continuei. — Mas, não fiquei com a consciência pesada, porque tinha minhas amigas e uma pessoa em especial.

— Quem? — Ele perguntou, parecendo aguçar os ouvidos para escutar melhor.

— Larry. — Respondi bruscamente. — Ele é meu amigo há algum tempo.

Thomas desviou o olhar e comprimiu os lábios, olhando ao redor como se estivesse com medo.

— Eu não gosto desse Larry. — Disse ele, me surpreendendo. — Desde ontem.

— É um tempo muito curto para começar a odiar alguém, não acha?

— Acho, mas sei o que sinto quando olho para ele. — Ele respondeu, desabafando. — Ele me parece ofensivo. Se fosse por mim, vocês não seriam amigos.

— Me desculpe pela rispidez, Thomas, mas não é você que decide quem serão os meus amigos. — Rebati, um pouco irritado, admito. — Depois que você saiu, eu criei uma vida aqui, mesmo que você não goste.

Thomas fechou a boca no meio do ato de falar. Seus olhos ficaram presos aos meus até ele os abaixar. Senti uma pontada de dó, e remorso, por ter sido tão grosso, mas não podia deixá-lo achar que tinha o direito decidir coisas importantes sobre a minha vida.

— Desculpe. — Eu disse. — Mas...

Minha fala foi cortada por um inesperado e acalorado som de uma risada masculina. Eu não lutei contra o impulso de tentar identificar o timbre da voz. Não era Larry, nem Andrew. Me virei para trás.

— Você está aqui! — Disse Lucas Matheus, se aproximando com um sorriso no rosto. — Eu estava te procurando! Suas amigas disseram que você estaria por aqui.

— Lucas? — Eu perguntei, como se já não fosse óbvio.

— Oi. — Ele respondeu todo animado, chegando mais perto. — Sabe, não terminamos nossa conversa, ontem...

Eu olhei para o rosto de Lucas e notei que realmente havia algo ali que implorava pela minha atenção, mais do que Thomas.

— É, claro. — Respondi.

Ele estalou a língua e tirou uma das mãos do bolso, apenas para estendê-la à mim.

— Acha que podemos ir para um local mais reservado? — Lucas perguntou.

Há algo realmente tocante e acolhedor, talvez até mágico, no ato de segurar na mão se alguém. Toquei seus dedos com uma gentileza leve, depois apertei sua mão com um pouco de força.

— Greg, o que é isso? — Thomas perguntou, estupefato por eu estar largando-o para conversar com outro garoto.

Eu olhei para meu ex-amigo. Não tive nem um pouco de dó.

— Como eu disse, Thomas. — Respondi. — É a minha vida.

Com um último sorriso para ele, me voltei para Lucas, que, após sorrir também, me conduziu para longe daquela multidão.



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