História Como eu era antes de você - Sofrimento é consequência da vida

                                                            POV PAULO

Subi com eles e quando chegamos ao corredor eu pude ouvir um choro e assim que a Celina abriu uma porta eu vi a cena que com toda a certeza faria eu me arrepender de cada palavra que eu usei contra esse menino...

Ele estava deitado em sua cama completamente nu, havia muitos hematomas em seu corpo, sem contar que ele parecia totalmente em choque, sem contar seu choro constante.

Lina:- Ai meu Deus Diego... Ele fez mesmo isso? –Ela disse enquanto se aproximava dele o puxando para o seu colo –

Nathan:- Cara... O que aconteceu?

Caíque:- Você está muito machucado.

Ele não respondeu, apenas aumentou mais seu choro e eu? Não consegui nem sair do lugar até o momento.

Lina:- Diego fala com a gente, por favor.

Diego:- Foi... Ele...

Ele tentou falar, mas com certeza esse não era o momento, não com ele assim... Não com ele tão desprotegido fisicamente e psicologicamente deste jeito.

Eu:- Ei gente talvez não seja o momento pra essas perguntas, ele não parece nada bem. Tem banheiro aqui no seu quarto cara?

Ele apenas concordou apontando para uma porta atrás de mim.

Eu:- Certo, eu vou ajudar você no banho ok? Vocês separem uma roupa pra ele e façam alguma coisa pra comer também.

Eles pareciam surpresos assim que eu acabei de falar, mas mano ajudar as pessoas vai muito além de qualquer rancor e ele precisa de ajuda.

Eu:- Vamos galera! Caíque, me ajuda a levar ele ao banheiro.

Com a ajuda do Caíque tirei ele do colo da Lina e seguimos para o banheiro. Lá ele apenas tirou tudo que parecia ruim de seu corpo enquanto chorava e chorava muito... Eu senti vontade de dar um abraço nele, mas talvez isso fosse extremamente intimo e invasivo vindo de alguém que até á uma hora atrás o odiava.

Diego:- Você pode me deixar um pouco sozinho?

Eu:- Certeza disso?

Diego:- Sim, eu preciso.

Eu:- Ok. Quando você estiver melhor desce, vamos estar te esperando.

Ele confirmou e eu saí o deixando sozinho. Não havia ninguém no quarto, coloquei a roupa que a Lina separou na ponta da cama e desci. Eu já estive ali outra vez, mas só agora estou reparando em como sua casa era grande, no corredor do quarto dele havia algumas outras portas, a tinha uma escadaria para subir no final do corredor e outra para que dava acesso para a sala, que não era nada pequena. Eu não conhecia muita coisa ali, então apenas segui o corredor quando ouvi a voz da Lina, eu não tenho ideia de como, mas ele tem uma família com dinheiro.

 Seguindo o corredor achei a cozinha e todos eles pareciam tristes enquanto conversavam e faziam um sanduíche e suco.

Lina:- Eu não pensei que as coisas ficariam tão graves...

Caíque:- Isso não pode ficar assim cara.

Eu:- Eu estou até agora sem ter muita ideia do que aconteceu...

Nathan:- E aí cara, cadê ele?

Eu:- Ainda está no banho, ele precisava de um tempo sozinho.

Lina:- Não acho que isso seja muito bom...

Caíque:- Talvez seja, ele precisa absorver as coisas Lina.

Eu:- Da pra vocês me contarem? Por que ele estava daquele jeito.

Lina:- Ele vai contar, é melhor você ouvir dele.

Nathan:- Ele passa por muitos problemas Paulo, acredite não é brincadeira.

Eu:- Por que vocês não contam?

Caíque:- Por que ele nos confiou isso e se confiar em você vai te dizer.

Eu:- Ok então. Terminem isso, ele não deve demorar.

Eles voltaram para o que estavam fazendo e eu sentei em uma bancada que havia ali. Depois de mais uns 10 minutos ali todos nós já estávamos ficando preocupados e quando eu levantei pra vê se algo tinha acontecido ele entrou na cozinha. Seus olhos ainda haviam lágrimas, ele parecia ainda não acreditar que aquilo eu ainda não tinha certeza havia acontecido.

Lina:- Se sente um pouco melhor?

Diego:- Não...

Caíque:- Fizemos um sanduíche pra você, senta aqui.

Diego:- Valeu gente, mas eu não estou com fome.

Eu:- Vamos lá cara, só um pouco.

Nathan:- É, não precisa comer tudo.

Ele não respondeu, apenas sentou com bastante dificuldade e mordeu o sanduíche.

Lina:- Você quer contar agora?

Diego:- Eu estou envergonhado, não sei se consigo.

Caíque:- Estamos aqui pra te ajudar, somos seus amigos, não precisa se sentir assim.

Diego:- Eu não consigo olhar na cara de vocês mano, eu me sinto sujo.

Nathan:- A última pessoa que tem que se sentir suja aqui é você, confia na gente, fala o que aconteceu.

Ele respirou fundo e eu que estava em pé me juntei a eles na mesa.

Diego:- Eu estava no meu quarto assistindo série e em um momento ouvi gritos, muitos gritos vindo daqui da cozinha... Eu desci e quando cheguei só havia pai com uma garrafa de bebida na mão, ele estava bêbado, muito bêbado... A empregada não estava mais aqui, provavelmente ela tinha ido embora assustada. Eu nem me prestei a dizer algo, apenas virei para voltar ao meu quarto, mas quando eu fiz isso ele segurou meu pulso com força, por isso está assim... Aí eu comecei a gritar e ele fez o mesmo enquanto me puxava, ele parecia ser outra pessoa... Ele gritou, eu gritei e por um momento eu pensei que só seria mais uma de nossas constantes brigas, mas eu vi que estava enganado quando ele me jogou no sofá da sala e apertou meu pescoço enquanto me alisava, ele estava passando a mão em mim de um jeito malicioso, porra ele é pai caralho... – Ele respirou fundo e limpou algumas lágrimas –

Assim que tive oportunidade eu levantei, corri pro meu quarto e tranquei a porta, mas não foi suficiente, ele tem todas as chaves da casa, incluindo a do meu quarto que eu lembro claramente que eu pedi a minha mãe pra trocar e ela não deixou... Enfim, ele abriu e bom o resto vocês já devem saber.,. Ele abusou de mim, me bateu e aqui estou eu todo quebrado em todos os sentidos.

Eu:- Por que de tudo isso?

Diego:- Por dinheiro. Minha mãe é a rica dessa casa e ele falhou durante o casamento quando a deixou grávida, quando eu nasci. Meu quer que eu morra, na verdade ele não queria nem que eu existisse... Pra que eu estar aqui? Pra ele ter que dividir o dinheiro da minha mãe? Talvez se eu sumisse desse mundo as coisas seriam mais fáceis.

Eu sem dúvidas sou um filha da puta de tão idiota... A todo momento eu joguei pedra nesse garoto e ele passa por coisas terríveis todos os dias, como faço pra me bater?

Lina:- Pelo amor de Deus, não diga isso. Você não precisa disso ok?

Diego:- Eu realmente não preciso e por isso seria mais fácil Celina.

Caíque:- Ninguém aqui vai deixar você fazer uma coisa dessas cara.

Nathan:- Você está de cabeça quente e com motivos, mas a morte nunca será a solução para os problemas entende?

Eu:- Eu... Me desculpa? Ou me perdoa? Eu fui um merda com você mano e sem saber dos seus motivos.

Diego:- Está tudo bem cara, as pessoas costumam pensar o mesmo de mim todos os dias...

Eu:- Eu não sei nem perto do que você está sentindo, eu sei que é difícil, mas você deve passar por cima de tudo isso. Por você entende? Cara viver é um dos melhores presentes que Deus nos deu e caso você não acredite nele, acredite na sua existência, você não está aqui por nada e muito menos pra só sofrer. Sofrimento é uma das consequências da vida, nos estamos aqui pra ser feliz e caso isso não aconteça devemos ir atrás da nossa felicidade. Não desiste da vida assim, faça por você e por te quer bem e pode ter certeza que todos nós aqui queremos o seu bem.

Ele sorriu um pouco em agradecimento e limpou algumas lágrimas.

Caíque:- Wow! É muito pra mim.

E só quando ele disse isso eu pude ver que ele chorava também.

Nathan:- E sua mãe?

Diego:- Eu não contei a ela ainda. Eu liguei pra ela e disse que precisava de ajuda, ela apenas disse que estava indo pro Rio resolver algumas coisas... Então eu deixei pra lá e liguei pra Lina.

Lina:- Você precisa contar a ela...

Diego:- Eu sei, mas não hoje. Eu só quero puder dormir, muito.

Nathan:- Não acho uma boa você ficar aqui, até porque ele pode aparecer novamente.

Diego:- Eu não tenho muito o que fazer, não tenho onde ficar.

Caíque:- Não vamos deixar você ficar aqui por nada cara...

Lina:- Eu até levaria você lá pra casa, mas meu pai vai surtar muito.

Eu:- Você pode ficar na minha sem problemas, eu praticamente moro sozinho.

Lina:- Verdade.

Caíque:- E eu e o Nathan podemos ficar lá também.

Nathan:- Sim! E nós podemos assistir alguns filmes pra você não se sentir sozinho. Ah e nada de escola pra nós amanhã e pra você por algum tempo, pelo menos até que tudo seja resolvido.

Eu:- Verdade, é melhor.

Diego:- Vocês não existem, serio. Muito obrigado de verdade, eu nem sei como agradecer.

Lina:- Parando de chorar já é um começo marrento.

Nathan:- Nem precisa pensar em nos agradecer cara.

Lina:- E a Lena e a Maju? Ela vão ficar um pouco chateadas com isso.

Caíque:- Muita informação Lina, é melhor elas só saberem amanhã.

Diego:- Vocês podem contar? É que eu não quero ficar repetindo essa história, sem contar que vou ter que fazer isso longas horas na delegacia.

Lina:- Tudo bem, pode deixar.

Nathan:- Vamos lá em cima pegar algumas coisas que você precisa.

Lina:- Vou ficar aqui e chamar um taxi com o Paulo.

Nathan:- Tudo bem, vamos lá.

Ele ajudaram o Diego a levantar e subiram com ele conversando sobre algo que eu não prestei atenção.

Lina:- Eu estou feliz que você tenho o entendido.

Eu:- Eu não sabia que ele passava por essas coisas e me sinto um idiota por tudo que disse a ele.

Lina:- Eu entendo, mas já passou. Ele te desculpou, está tudo bem.

Eu:- Eu sei, mas ainda estou mal com isso.

Ela não disse nada e beijou a minha testa, logo depois me deu um abraço.

Lina:- Vai passar com um tempo, acredite.

Assenti e peguei meu celular para pedir o taxi.

Não demorou muito e finalmente já estávamos no meu apartamento.

Diego:- Vocês está morando sozinho real cara?

Eu:- Podemos dizer que sim. Problemas de família também, posso te contar amanhã.

Diego:- Ok, pode ser.

Lina:- Estão com fome?

Caíque:- Sim!

Lina:- Vou fazer pipoca e algumas coisas pros filmes. Arrumem a sala, podemos nos jogar aqui mesmo.

Eu:- Ok mamãe.

Ela riu sem graça e foi pra cozinha. Amostrei rapidamente o apartamento para o Diego e logo já estávamos arrumando os coxões na sala.

Caíque:- Já adiantei as meninas do assunto, elas disseram que enrolam os professores amanhã.

Eu:- Ok, menos mal.

Nos jogamos nos coxões e o Diego foi separar alguns filmes com Nathan.

Lina:- Ou seus lindos, preciso de ajuda não consigo trazer tudo.

Eu:- Estou indo princesa, calma.

Levantei e fui correndo para a cozinha.

Eu:- Amor não precisava de tanta coisa.

Lina:- Aham, sei. Vocês comem pra cacete.

Ri e peguei os doces, refrigerantes e os biscoitos enquanto ela levava a pipoca.

Nathan:- Doce! Finalmente vou colocar um doce na minha boca.

Eu:- Ele é meio viciado em doce Diego.

Diego:- Percebi hahaha...

Sentei e a Lina ficou no meio das minhas pernas, nem percebi qual filme era, mas estou assistindo.

Diego:- Ei galera, obrigado de novo ok?

Lina:- Sem agradecimentos marrento, somos amigos e estamos aqui pra quando precisar.

Eu:- Isso mesmo!

Diego:- Uma coisa que eu queria deixar claro, eu nunca estive interessado na Lina cara. E quanto  meu erro com ela fui pura idiotice, desculpas.

Eu:- Confesso que estou mais aliviado, tá tudo bem.

Demos as mãos e a Lina parecia bem feliz com a cena.

Eu realmente estava enganado, ele é um cara legal e só agora com toda essa ruim eu percebi isso.