História Como eu era antes de você - Eu pensei que pelo menos uma vez fosse verdade

 Celina Mesquita On

Ouvi a barulho na porta e virei para o lado da parede, provavelmente é as meninas e eu não quero ter que explicar nada. Muito menos ouvir a Elena falando do Paulo.

Elena:- Sei muito bem que está acordada.

Permaneci em silencio e logo pude ouvir a voz da Maju.

Maju:- Anda Celina, o que houve?

Não consegui segurar e um soluço meu se manifestou.

Elena:- Ei, porque você está chorando Lina?

Eu:- Nada não.

Maju:- Ninguém chora por nada, conta pra gente.

Elas sentaram na cama e eu levantei.

Elena:- O João te fez algo?

Apenas neguei com a cabeça e a Maju pegou em minha mão.

Maju:- Você sabe que pode confiar na gente né? Vamos lá.

Eu:- Eu... Bom, eu gosto do Paulo.

Elena:- AI MEU DEUS.

Eu:- Eu vi você beijando ele e...

Elena:- Ei, calma aí. Foi ele que me beijou e...

Eu:- Claro, ele nunca olharia pra mim. Ta tudo bem.

Maju:- Ai que você se engana, temos quase 100 % de certeza que ele beijou a Elena por ciúmes de você.

Eu:- Paulo com ciúmes de mim? Parem de mentir, ele nunca vai olhar pra mim diferente.... Ninguém nunca vai. Eu sou horrível, feia, uso aparelho e esses óculos sem graça. Todo mundo naquela escola me odeia. Acordem.

Elena:- PARA COM ISSO, NÃO FALA ASSIM. Poxa você é uma pessoa maravilhosa e linda sim, viu como todo mundo te olhou hoje? Viu como o Paulo te olhou hoje? Ele bateu no João por causa de você e só beijou me por ciúmes.

Eu:- Eu não vou cair nessa, desculpa meninas.

Maju:- Logo você vai ver isso. E outra porque não mudar um pouco Lina? Você estava linda hoje.

Eu:- Eu sou desse jeito aqui, não daquele. Estou bem assim.

Elena:- Se você não quer tudo bem, mas caso mude de ideia... Estamos aqui.

Maju:- Isso aí.

Elena sentou ao meu lado e logo começou com suas perguntas.

Elena:- Agora conta, como começou esse lance com o Paulo?

Eu:- Bom... Já faz um bom tempo, mas tudo mudou depois do dia que ele me beijou.

Maju:- CALMA AÍ, O PAULO JÁ BEIJOU VOCÊ?

Eu:- Grita pro mundo Maju, porque minha mãe e meu já ouviram.

Maju:- Ai, desculpa.

Elena:- Conta desse beijo logo Celina.

Eu:- Foi naquela vez do teste de matemática, quando tínhamos 13 anos. Ele me levou para o jardim e me beijou. Foi tão especial, ali eu me apaixonei mais e cá estou eu. Sofrendo por ele todos esses anos.

Maju:- Seu primeiro beijo né?

Eu:- Uhum

Elena:- Sabia que vocês não tinham ido ver se tinha bolo, até porque naquele dia não era dia de bolo na cantina.

Maju:- Caramba, verdade.

Eu:- Bom, mas depois ele continuou me tratando do mesmo jeito.

Elena:- Olha Lina, conhecemos esses meninos tão bem como suas mães. Paulo é um menino complicado, eu nunca vi o gostar de ninguém, mostrar ciúmes por alguém, isso ta tudo estranho. Eu realmente acho que tem rosa nesse roxo.

Maju:- Eu também, ele se mostrou diferente hoje, até no olhar.

Eu:- Eu não quero cair em uma ilusão maior que já tenho, desculpa meninas, mas eu to bem assim.

Elena:- Tudo bem maninha, qualquer coisa estamos aqui.

Eu:- Uhum. Vai dormir aqui hoje Maju?

Maju:- Sim, to quase me mudando pra cá. Meus pais vão ficar longe por duas semanas pra variar...

Elena:- É complicado né?

Maju:- Você sabe que sim Lina, não aguento mais.

Elena:- Conseguiu conversar com eles?

Maju:- E tem como? Nem tento mais.

Elena: - Bom vou me desarrumar.

Maju:- Também.

Elas seguiram para o banheiro e eu peguei meu celular, assim que abri o whathsaap fui surpreendida com uma mensagem do Paulo.

     *Wpp On

Paulo: “Você está bem? Saiu sem a gente do baile”.

Eu: “Sim, só não me senti muito bem”.

Paulo: “O João fez alguma coisa com você?”.

Eu: “Não. Não fez nada”.

Paulo: “Hm... Ok”

Eu: “Eu vou dormir”

Paulo: “É... eu também. Boa noite dome bem! Beijos”.

Eu: “Você também, beijos”.

Wpp Off

Que loucura foi essa?

Elena: - Que sorriso é esse?

Eu:- Nada, só vi uma coisa aqui no twitter.

Maju:- O que?

Eu:- Ah, já atualizei. Sumiu.

Ela não disse nada, pegou o celular e deitou. Elena continuou me olhando, mas resolvi não me importar. Não contei dessa curta conversa para elas, já basta minha própria ilusão sobre isso tudo.

                   ~~ Amanhã seguinte ~~

Hoje é sábado, dia de não fazer nada. Levantei, percebi que as meninas não estavam mais no quarto... Fiz minha higiene e desci. Estava todo mundo tomando café, dei um curto “Bom dia” e sentei.

Pai:- Ta melhor?

Eu:- Sim pai.

Peguei um pouco de suco e algumas frutas.

Mãe:- Meninas hoje eu e seu pai vamos na casa da tia de vocês. Vai ter uma festinha. Vocês vão? Maju pode vir com a gente também.

Elena:- Festinha? Eu não.

Mãe:- Nossa... E você Celina?

Eu:- Também não mãe.

Pai:- Maju?

Maju: - Olha tio, vou ficar com as meninas.

Mãe:- Ta né. Vocês já foram mais família.

Elena:- Desculpa mãe, mas as festas da tia Renata são um saco.

Pai:- Elena...

Ri junto com a Maju e minha fez uma cara feia.

Eu:- Desculpa.

Pai:- Bom, vamos nos arrumar e ir.

Eu:- Ta bom.

Eles subiram e nós terminamos de tomar o café.

Maju:- O que vamos fazer?

Elena:- Shopping?

Eu:- Eu vou fazer alguns trabalhos.

Maju:- Que trabalhos?

Eu:- Da próxima semana.

Elena: - Nem vou falar nada.

Subi, peguei meus cadernos e comecei meu dever de química. Ouvi minha notificação do celular e era uma mensagem do Nathan perguntando se estava tudo bem. Dos meninos ele é o que mais se importa comigo, em tudo. Serio. Sinto que posso contar com ele. Respondi e voltei para o trabalho. Um tempo depois meus pais já tinham ido, as meninas pegaram alguns filmes e eu continuei com os meus trabalhos. Algumas horas depois eu já tinha todos os trabalhos da próxima semana feitos. Guardei todas as minhas coisas e quando ia pegar o computador Elena e Maju já entraram falando.

Elena:- Nem abre isso aí.

Maju:- Vamos na sala de jogos.

Eu:- Eu não...

Elena:- Nem começa, já deixamos você fazer todos os trabalhos, agora chega né?

Eu:- Ta bom, vou tomar banho.

Tomei um banho, coloquei um short, uma blusa e voltei para o quarto.

Eu:- Pronto.

 Maju:- Partiu.

Descemos para o 1° andar e fomos andando no corredor que dava na sala de jogos, até que ouvimos as vozes dos meninos. Não que somos de ouvir as conversas dos outros, mas assim que meu nome foi dito, nós três paramos e ficamos em um total silencio.

Paulo:- Isso é passado mano. Chega disso.

Caíque:- Passado ou não foi uma puta sacanagem.

Nathan:- Real, por isso você ficou todo puto com o João ontem né? Foi ele que propôs a aposta?

Paulo:- Mano, eu tinha 13 anos. E ontem achei sacanagem dele.

Caíque:- Ai é que ta, foi sacanagem sua quando topou uma aposta pra beijar ela também.

Nathan: - Real, isso foi bem idiota. Se a Celina souber disso... Mano

Assim que ouvi aquilo tudo sabia bem do que eles estavam falando, não sei se é possível, mas meu coração se quebrou em pedacinhos nesse momento.

Eu:- Então foi por uma aposta?

Vi a cara de espanto deles ao me ver e continuei.

Eu: - Você só me beijou naquele dia por uma aposta?

Paulo:- Celina eu...

Eu:- Eu realmente não esperava isso de você.

Assim que ele ia começar a se explicar eu saí dali, corri o mais rápido possível e me tranquei no quarto.

As lagrimas não só estavam no meu rosto, mas no meu coração também.

Como ele pode fazer isso?

Eu pensei que... Que pelo menos uma vez, alguma coisa dessas aconteceu comigo de verdade.

 

          Narradora On

Assim que Celina correu, Paulo tentou ir atrás, mas claro Elena e Maju não deixaram.

Elena:- VOCÊ POR ALGUM ACASO É LOUCO? COMO FAZ ISSO COM A MINHA IRMÃ?

Maju:- E VOCÊS DOIS? PORQUE NÃO FALARAM NADA?

Paulo:- Eu tinha 13 anos, fui enfrentado e fiz. Agora me deixem falar com ela.

Elena:- VOCÊ NÃO VAI MESMO, VOCÊ É UM IDIOTA. Sabia que esse dia foi especial pra ela? Aquilo, foi o primeiro beijo dela. Ela se sentiu bem. O primeiro beijo de uma menina é pra ser guardado e você acabou com tudo.

Maju:- Você tem noção? A Celina é sensível, você, ou melhor VOCÊS sabem disso. Sabem o quanto ela sofre no colégio, sabem de tudo. Porra mano.

Caíque:- Eu e o Nathan sabíamos, mas não tínhamos o dever de falar nada, ele fez a merda. E sabe muito bem que isso é questão de ser honesto com alguém.

Nathan:- Eu não falei nada porque sabia o quanto ela ia ficar mal, eu não contei pelo bem dela, me desculpem.

Paulo:- Me deixem falar com ela, por favor.

Elena:- Eu não quero você perto da minha irmã.

Paulo:- Você me desculpa, mas eu vou falar com ela.

E assim ele simplesmente saiu, não ligando para os gritos das meninas.

               Narradora Off

 

         Paulo Castagnoli On

Passei por cima da Elena e da Maju e logo estava no andar da casa da Celina, sei que fui um idiota com ela, mas preciso me explicar. Assim que cheguei ao seu apartamento, entrei... Sabia que se eu batesse ela provavelmente não iria me atender. Lembro bem de cada detalhe daquela casa, mesmo vindo aqui somente quando criança. Parei em frente ao seu quarto e pude ouvir seu choro, entrei em silencio e ela estava virada para a parede.

Celina:- Meninas eu quero ficar sozinha, me deixem sozinha. Por favor...

Eu:- Não é as meninas.

Ela me olhou assustada e sua feição mudou um pouco.

Celina:- Veio completar o serviço e rir da minha cara?

Eu:- Eu posso explicar.

Celina:- Explicar o que Paulo? Você foi um idiota comigo. Como pode?

Eu:- Eu não pensei nas consequências, Eu sei que fui um idiota, sei que errei, que não tenho direito de vir pedir desculpas, mas deixa eu explicar. Por favor.

Celina:- Se você conseguir.

Eu:- O João, em uma conversa nossa com alguns meninos... Ele, ele me propôs isso, eu não queria, sabia que era errado, mas eles começaram a falar muito e eu, bom acabei topando. Me desculpa de verdade, eu quero que por mais que seja difícil, ou louco talvez, você tente não pensar nesse momento com isso. Idiotice minha ou não, eu de alguma forma quis que fosse bom pra você. Me desculpa Celina.

Celina:- Bom pra mim... Eu não te culpo sabia? Como a  “estranha” pode esperar carinho de alguém. Você estava certo, eu acho que nasci pra ser usada e você fez isso muito bem.

Eu:- Não fala assim...

Celina:- Como não fala assim Paulo? Você sabe disso, os meninos sabem, minha irmã, minha melhor amiga, até meus pais sabem disso. Isso nunca vai mudar, as pessoas só se aproximam de mim pra se aproveitar. Eu odeio isso, odeio essa vida, odeio tudo.

Eu nunca vi ninguém chorar tanto, ela estava realmente mal por aquilo, mas não só por aquilo e sim por tudo. Me senti a pior pessoa desse mundo e eu realmente não sabia o que fazer, apenas me aproximei e a dei um abraço, ela se assustou um pouco, mas logo se confortou nele.

Eu:- Eu poderia te dizer que sei o que você está sentindo, mas eu não sei. Olha, você é maravilhosa do jeitinho que você é, sem tirar e nem por. Eu descobri isso com o tempo sabia? Mesmo que tenhamos nos afastado durante nosso crescimento, eu sempre te observei de longe. Você é especial da sua forma Celina, quem ta à sua volta é porque gosta de você, o resto foda-se, me desculpa pela palavra. Me perdoa por aquele dia. Eu to muito arrependido.

Celina:- Tudo bem. E obrigada pelas palavras.

Eu:- Não agradeça. Eu... Eu gosto de você... Se precisar de um amigo, alguém pra conversar, eu to aqui.

Celina:- Uhum... Obrigada.

Ela olhou pra mim e eu limpei suas lagrimas levemente com meus dedos. Meus olhos foram diretamente para sua boca, eu parecia estar em transe. Sei que eu não tinha direito de fazer isso, mas foi mais forte que eu.

Mexi em seu cabelo e ela pareceu apenas sentir meus toques. Suspirei e aproximei meu rosto do seu, passei meu lábios levemente nos dela e ela abriu a boca um pouco, aquilo era o que eu precisava, a beijei, dessa vez sem aposta, sem nada, foi com sinceridade. Ela segurou levemente em meu rosto e eu em sua cintura. Ficamos assim por um tempo e terminei o beijo com um selinho.

Celina:- Não quero um beijo de pena.

Eu:- Não foi, por muito ao contrario. Foi sincero.

Ela não respondeu e assim que eu ouvi um barulho na porta me afastei um pouco.

Elena:- Essa conversa ta longa de mais né?

Celina:- Elena não, por favor.

Elena:- Desculpa.

Maju:- Agora longe dela né Paulo?

Celina:- Parem ok? Ta tudo bem.

Eu:- Bom, eu vou indo.

Celina:- Tchau e obrigada de novo.

Eu:- Já disse pra você não agradecer, qualquer coisa me grita por aí.

Ela sorriu e eu saí.

Eu realmente não sei o que está acontecendo comigo.

Na minha cabeça só tem perguntas sem respostas.

Ou estou ficando louco ou estou apaixonado.