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História Como Fogo e Gelo - Cruel


Escrita por: EroSeven e KeshaGang

Notas do Autor


OI GENTY TURU BOOOOM?
Depois de sete séculos e meio, voltamos com mais um capítulo, amém fiéeeeis ~
Desculpem mesmo pela demora, o PC da Gabe não 'tá pegando e por causa disso a gente acabou perdendo alguns capítulos, mas juro que tentaremos não demorar tanto com o próximo. ~
Boa leitura galerou, espero que gostem SZSZ
Kissus kissus

Ja nee ^^

Capítulo 8 - Cruel


Adriel

Sim, eu quero. — Quando Lian disse aquilo meu coração doeu, e pelo seu tom pude perceber como ele estava afito, e fiquei com certa raiva de seu pai. Arremessar um copo? O que ele fez de tão grave para receber um tratamento daquele tipo?

Lian me fazia querer defendê-lo, todos eram tão cruéis com ele, tudo apenas pelo estado político da cidade. Mas uma coisa é entrar numa briga com um cara idiota e ciumento, outra é entrar numa briga com o pai de Lian, até porque se isso acontecesse eu nunca mais iria vê-lo. Eu o adorava, eu amava fazê-lo rir, e eu me sentia amado de volta quando Lian ria, conversava e me queria por perto – eu só queria ter percebido aquilo antes, e eu não falo no exato momento em que estava na frente da tela daquele Notebook.

— E você pode sair? — perguntei, deixando o pacote de bolacha (sim, é bolacha) de lado.

— Poder eu posso, mas se sair do quarto... Já sabe.

— Estou curioso para saber o que fez seu pai ir... Sabe, a esse ponto. — Falei, pegando meu gato no colo.

— Ah, cara, você sabe que eu sempre acordo de mau humor, Roman não é muito diferente e... — Lian ficou em silêncio — Nada, esquece.

— Lian, pode falar, cara — exigi preocupado, enquanto eu olhava para sua foto no Skype. Aqueles olhos frios escondiam tanta coisa.

— Não, está tudo bem — ele falou ainda mais seco e baixo.

Até que ele me mandou uma mensagem pelo celular.

Acho que Roman está nos escutando por detrás da porta. Temos que fingir!

Eu fiquei ainda mais nervoso com isso. O que aconteceu com eles e por que, naquele exato momento, estávamos na tensão silenciosa do um suposto bisbilhoteiro? Qual é a dos O'Hanoly?

Eu fiquei pensando nisso até ouvir o microfone de Lian sendo abafado, o que indicava que a teoria do pai bisbilhoteiro estava correta. Pude ouvir apenas alguns múrmuros das vozes graves do Sr. O’Hanoly e do Lian, parecia uma discussão, mas nada grave. Ao que aparentava era um pai dando bronca no filho, e a voz de Lian poucas vezes respondia. Até um contestar ácido de Lian e um bater de porta bem violento.

— E eu estava certo — Lian bufou irritado.

— E aí? O que ele disse? — perguntei  preocupado.

— Ele só queria saber com quem eu estava falando.

— E o que você disse?

— Disse que estava falando com um amigo... — ouvi seu riso baixo — Mas ele sabe que eu não tenho amigos e acha que eu estou mentindo.

Apesar de a situação dele ser bem trágica, não deixei de achar graça do eterno forever alone, peguei um saquinho de gelo, coloquei na cabeça e falei alegre:

— A ha! Mal sabe ele que eu sou o seu guarda-costas particular!

Lian soltou uma gargalhada leve e é gostosa, e isso me deixou mais aliviado.

— Exatamente! — concordou risonho.

Eu adorava o fazer rir em situações de merda como a que ele estava passando.

— Você vai poder sair? — perguntei, deixando o gelo ao lado do pacote vazio de bolacha.

— Vou. Roman vai me questionar, e se a minha paciência ainda existir até lá, não vamos discutir sobre isso de novo e vou poder sair.

— Ah, qual é, Lian — suspirei. — Quanto mistério, agora que seu pai está te dando atenção... Apesar de ser negativa.

Lian ficou em silêncio, ouvi-o levantar da cama, ele colocou Hurt do Johnny Cash bem alto e logo ele voltou.

— Cara, é o seguinte, eu descobri uma parada que Roman fez há muito tempo — Lian sussurrava bem perto do microfone. — Faz alguns meses já, e hoje de manhã eu fui ao escritório dele e coloquei tudo, tudo na mesa e o questionei, foi ai que ele perdeu o controle e... Ah, já sabe. Foi um inferno!

É claro que a família rica do interior iria ter algum escândalo interno, parecia até um roteiro de filme, um clichê romântico. Traição? Drogas e tráfico? Assassinato? Aquilo me deixou curioso e ansioso, eu sei, eu sei, isso é fofoca e se a minha avó me visse a estreita querendo saber da desgraça alheia eu iria tomar um tapa muito bem dado no pé da minha orelha. Mas essa fofoca afetava a pessoa com quem eu me importava.

— Lian, isso tem a ver com o que? — murmurei perto do Notebook.

— Como assim?

— Ah, sei lá, drogas, assassinato, tem a ver com o que?

— Ok, não viaje tão alto assim. — Suspirou, e eu o imaginei colocando o cabelo preto escorrido sobre os olhos para trás e, no final, olhando qualquer coisa pelos cantos dos olhos. Eu não sabia o porquê de essa cena ter vindo a minha mente. — Mas... É complicado, não duvido que Roman use cocaína às vezes, mas não ligo muito pra isso. Só que essa treta tem a ver com a morte da minha mãe e o segundo casamento dele.

— Cacete, você é bem frio em relação ao uso de drogas do seu pai! — Comentei meio chocado.

— Obrigado — Lian da um riso curto. — Roman me ensinou a não me meter na vida dos outros, isso doeu.

...Isso doeu?

Eu fiquei tenso, era claro pra mim, o pai dele já bateu nele e, de certa forma, faz parte de ser pai corrigir seus filhos (para algumas pessoas), só que até que ponto o pai dele foi?

Ele era mesmo tão cruel assim? Poderia ser pior? Ou melhor?

Parece que quanto mais eu conheço Lian mais misterioso ele fica.

— Ainda está aí?

— A-Ah, sim, claro — gaguejei de nervoso — Só estava pensando.

— Que tal as 16:30hrs na frente do boliche?

— Fechado! — afirmei, dando uns batuques na mesa de centro.

 

[...]

 

O boliche era nada mais nada menos do que um boliche (dããã), mas também tinha uma lanchonete que servia uns milk-shakes maravilhosos, era um dos lugares que mais se encontrava a galera da escola, não eram apenas os atletas ou populares, era todo mundo que dava as caras por lá.

E por sorte o cubículo em que eu morava não fica muito longe do boliche (que originalmente tem o nome ridículo de Fritz Boll), portando não liguei muito em ir a pé.

Eu fui com uma calça jeans rasgada nos joelhos, uma camiseta branca amassada, meu querido all-star fodido e, como o clima daquela cidade era louco e havia esfriado do nada, vesti também minha jaqueta de couro. Olhando de longe, cara roxa e machucada, cabelo comprido e bagunçado e casaco de couro preto, eu até parecia um encrenqueiro super do mal. Ok... A parte do encrenqueiro tem uma parcela de verdade.

Eu fui o primeiro a chegar, Lian disse para não entrar no boliche sem ele, então tive que esperá-lo do lado de fora.

Fiquei encostado na parede da lanchonete mascando um chiclete de menta enquanto olhava a rua, pensando em nada.

Cinco minutos de espera e vejo o carro de Charlie virando a esquina, isso havia me deixado um pouco mais feliz, ela era legal, e nós combinamos de sair domingo que vem, e sabe o que mais? Eu tenho certo medo de contar isso pra Lian, ele era um cara frio e isso o tornava ainda mais imprevisível.

Mais outros cinco minutos e eu vejo o carro preto de Lian virando a mesma esquina que Charlie, a diferença é que eu havia ficado muito mais contente e ansioso, e sabe... Ele não é legal e não vamos sair no sábado, mesmo assim eu estava muito mais feliz com a chegada dele do que com a chegada de Charlie, e eu não entendia o porquê.

Já estou chegando! – 16:28.

A mensagem de Lian me deixava ainda mais empolgado.

Naquela época e naquele momento eu não entendia o motivo de estar tão empolgado para ver um cara que eu vejo quase todo o dia. Na verdade, eu sempre ficava assim, naquele tempo, eu só ignorava, deixava pra lá e tentava ser feliz com alguém que não era o Lian.

Ficava encarando a esquina que Lian havia virado, esperando a cada segundo ver o cara não encarado de cabelo preto jogado para trás, usando um blazer escuro e colocando um Halls na boca. Mas nada.

A única coisa que apareceu foi uma cabeleira castanha-escura Black Power, a boca carnuda e provocante usando aquela cor roxa qual lembro muito bem o seu sabor, aquela pele macia e negra que cintilava a luz do sol, aqueles olhos dourados distraídos com a conversa de uma amiga loura que nunca vi na vida, da qual usava roupas estranhas estilo lolita.

Me fiz de besta, virei meu rosto rapidamente para a rua como se eu não tivesse notado.

As vozes femininas aumentaram junto com as risadinhas e perguntas, logo escuto passos correndo em minha direção e sinto um abraço apertado, os braços fortes de Charlie me esmagaram contra seu peito.

— Ariel! — ela havia me dado o apelido da pequena sereia Ariel fazia alguns dias — O que você está fazendo aqui coisinha ruiva?

— Oi Charlie — disse rindo, olhei para a amiga loura que nunca tinha visto — E... Oi, é... Hm...

— Mia, prazer! — A loura respondeu simpática e doce, ela parecia ter a idade de Sammy (15 anos, mas o problema é que Sammy era tão alta que parecia ter mais) — Você deve ser o Adriel, certo?

— Certo! — sorri a ela.

— Mia é a minha irmã caçula, a gente veio aqui jogar um pouco com o resto da cambada! — Charlie me largou, ela está a naturalmente alegre, mas o fato dela ter uma irmã branquinha e loirinha me falou uma coisa curiosa: Alguém era adotado... Ou não, sei lá.

— Uhh, que legal!

— Está esperando alguém? — Charlie perguntou.

— Ah... Sim. — Confirmei nervoso assim que vi o olhar gelado vidrado em mim, sentia a raiva dele de longe enquanto ele andava em passos firmes e duros na minha direção, e ele me fuzilava com aqueles olhos azuis, maxilar pressionado trincando os dentes. Ver Lian daquele jeito me fez recuar de uma forma que só o meu vô fazia, eu queria correr dele berrando como uma menininha.

Charlie e Mia notaram que eu olhava para alguma coisa atrás delas, as duas olharam pra trás.

Lian estava a poucos passos de distância, suspirou fundo, talvez controlando a raiva. De onde surgia tanta raiva?

Ele ficou na minha frente, abriu um sorriso simpático mostrando os dentes brancos e perfeitos, seu humor havia mudado da água para vinho, parecia mais calmo e relaxado.

— E aí cara! — ele me cumprimentou com um toque de mão. Eu o olhei tenso e desconfiado, mas tentei seguir a vibe de ser gentilmente falso.

— Oi Charlie! — Lian sorriu a ela.

— O-oi Lian — Charlie estava confusa, tentando entender o que estava acontecendo. — Tudo bem?

— Tudo ótimo! Ah, oi... — ele olhou para Mia.

— Mia, prazer! — ela sorriu alegre e simpática — Deve ser Lian, não é?

— É um prazer, Mia — Lian a cumprimentou com certa doçura. Ele olhou para as duas, sua interpretação de que queria me falar alguma coisa complicada era divina, aquele falso... — Meninas, posso roubar ele um pouco?

— Ah, sim, claro! — Charlie concordou, sorrindo tensa — Na verdade nós já vamos entrar, foi bom ver vocês.

Charlie pegou a mão de sua irmã e entrou na lanchonete às presas, Lian realmente sabia assustar alguém. Quando eu voltei meu olhar para ele, Lian me olhava da mesma forma de antes, me fuzilando com os olhos e com os dentes trincados, ele realmente era bom em disfarçar.

— Você deveria ser ator, sabia? — eu disse, suspirando.

— Você deveria ter me dito que ia chamar a sua namorada. — Ele apoiou o ombro esquerdo no poste de luz ao nosso lado.

— Primeiro, ela não é a minha namorada. Segundo, eu a encontrei por acaso. Terceiro, isso é ciúme?

— Eu não estou com ciúme! — Lian retrucou grosso e alto. — Eu só me magoo quando mentem pra mim, e eu estou pouco me fodendo pra vocês dois e eu não vou mais me intrometer, certo?

— Mimimimi — murmurei revirando os olhos só para provocá-lo, tentei disfarçar o sorriso assim que vi Lian corar levemente — Vamos entrar logo, está frio.

Lian bufou e então entramos na lanchonete.

Lá era um lugar colorido, divertido e cheio, era segunda e não estava tão lotado assim. A lanchonete cheirava a hambúrguer, era delicioso. Bancos-sofás vermelhos estilo norte-americano, balcão, cadeiras e máquinas de chiclete, tudo aparentava ser dos anos 70. Perto da entrada tinha até uma máquina de fliperama, descendo as escadas mais a baixo ficava o boliche, a maioria das pessoas estavam jogando, Charlie e Mia eram uma delas, sentadas esperando a vez delas jogarem.

Dessa vez, Charlie não olhou pra mim.

Lian me ultrapassou com passos pesados e se sentou na penúltima mesa da primeira fileira, bem ao lado da sacada, que nos dava a visão da galera jogando lá em baixo.

Nós nos sentamos um na frente do outro, Lian estava de costas para a parede, ele parecia frustrado, mas não tanto quanto hoje no recreio.

— Beleza, conte-me tudo, esconda-me nada — brinquei.

— Certo... — ele respondeu num suspiro cansado enquanto olhava em volta.

Até que uma garçonete loura apareceu mascando um chiclete com a boca aberta (provavelmente só para incomodar), ela tinha cara de ter uns 30 anos e demonstrava ter um mau humor um pouco mais inflamado que o de Lian.

— Boa tarde, o que vão querer? — Ela perguntou desanimada e ranzinza enquanto nos entregava dois cardápios. Eu dei uma olhada rápida na parte de porções, sorri a ela e disse:

— Vou querer uma soda e uma porção grande de fritas com cheddar.

— Vou querer uma Coca-Cola.

Ela anotou tudo num bloquinho de papel e se afastou.

— Só um refrigerante? — Perguntei, erguendo as sobrancelhas.

— Estou sem apetite.

— Você almoçou hoje? — Eu sabia que ele tinha um “histórico” de má alimentação, e não estou falando apenas de comer besteiras, às vezes Lian simplesmente não come em alguns dias, normalmente ele come fora de casa, mas em alguns dias, como aquele, ele não iria engolir nada. Eu não sabia o que acontecia com ele, ele simplesmente se recusava a comer quando estava desse jeito.

Lian desviou o olhar para o lado, encostando suas costas no sofá, observando as pessoas jogando lá em baixo. Ele deixou bem claro a sua resposta.

— Não faz isso, cara — eu disse sério, olhando para ele e esperando que ele me ouvisse — Dessa vez não é como se ninguém se importasse, sabe? Eu me importo...

— Eu só estou sem fome — ele me interrompeu, parecia até envergonhado. — Não é nada grave, não precisa esquentar a cabeça com isso.

Eu fiquei quieto, relaxei minhas costas no banco e fiquei me perguntando por que ele era assim, tão misterioso. Fiquei observando o rosto dele, os olhos azuis-gelo descontraídos e tristes, a pele branca e fria, havia um inchaço quase invisível em volta de seus olhos, um inchaço que nunca perceberia se eu não o olhasse tão de perto. Meu peito ficou apertado com aquilo, pois eu sabia que aquilo era de choro.

— O que foi?

— Nada, eu só estava pensando com os meus botões — menti, desviando o olhar. — Mas e ai, me fala o está acontecendo, você me deixou preocupado com o que disse lá no Skype.

Lian suspirou, parecia aflito. Ele olhou para os lados e se aproximou de mim.

— Eu descobri umas coisas sobre a adolescência dos meus pais vendo alguns álbuns lá de casa. — Lian começou a falar com cautela, e eu apenas prestei bastante atenção no que ele dizia. — Minha mãe e a Molly eram melhores amigas de infância, elas estudavam junto com o meu pai, e pelo o que eu entendi ele sempre foi o calçadão da turma. Depois de ver os álbuns, eu fui mexer no escritório de Roman e eu encontrei algumas cartas e umas paradas bem estranhas que me contaram coisas.

— Pare com esse mistério, o que tinha nas cartas?

— Molly era a amante de Roman de alguns meses antes do casamento dele com minha mãe, antes mesmo de eu ter nascido — Lian parecia tão perturbado com aquilo, ele suspirou e colocou uma bala Halls na boca. — E o que mais me revolta era que a minha mãe confiava na Molly como uma irmã, e eles fodiam na cozinha da minha mãe escondidos.

— Isso estava escrito na carta?

— Só tinham coisas desse naipe naqueles papéis — Lian tinha um olhar de profunda raiva, e eu o compreendia melhor agora. — E aquele doente do Roman guardou essa porra mesmo depois da morte da minha mãe, como se tivesse orgulho daquilo. E por uma linha cronológica eu descobri coisas piores.

— O que?

— A Sammy tem 15 anos, certo?

— Sim — concordei.

— Ela nasceu quando eu tinha dois anos — Lian quebrou a bala nos dentes. — Minha mãe morreu quando eu tinha quatro, meu pai teve a Sammy escondida da minha mãe, uma segunda vida enquanto ele viajava, escondido da minha mãe.

— Que filho da puta — comentei, sentindo tanta raiva quanto Lian.

Nossa conversa foi interrompida pela garçonete, que nos trouxe as batatas fritas com cheddar e dois refrigerantes.

— Obrigado — agradeceu Lian enquanto a moça virava as costas para ele.

— Você vai comer — falei, pegando uma batatinha cheia de cheddar. — Isso não é uma pergunta.

— Parece realmente muito delicioso, mas não ‘tô a fim mesmo.

— Cala a boca e come essa porra antes que eu faça você engolir essa bandeja inteira! — retruquei, lhe entregando uma batatinha.

— Então tá... — Ele pegou a batatinha da minha mão e comeu.

— Pode continuar.

— Eu também achei um quadrinho pequeno que Roman pintou e mais algumas outras cartas que falavam que o meu pai não queria mais a minha mãe e que iria pra Grécia com a Molly e me deixaria com ela.

— Como assim um quadro? E quem escrevia cartas naquela época?

— Sei lá, meu pai é estranho — Lian havia roubado mais uma batatinha. — Ele escreve pra colocar seus pensamentos em ordem e sempre guarda tudo, ele transforma aquele escritório no seu próprio cérebro, contendo cada memória dele. E o quadro era de uma mulher e um bebê numa praia, ele é maluco.

— Cara, seu pai estava disposto a te abandonar! — exalei abismado enquanto comia minhas batatas.

— Mas então minha mãe morreu, e os planos dele mudaram — Lian riu sarcástico e decepcionado. — Talvez seja por isso que ele me odeie.

Roman odiava Lian?

Aquilo que ele havia dito me afetou, Lian iria ser o herdeiro do império que o pai e o avô construíram... Um pai seria capaz de odiar o filho por conta de uma buceta? Por uma amante e um romance proibido? Aquilo era mais importante que o filho dele?

— E quando você o peitou, o que você falou? — perguntei, olhando para Lian.

— Eu simplesmente cheguei ao escritório dele, fechei a porta e perguntei e o porquê de tudo isso, por que ele queria me abandonar, porque até o mês passado eu ainda amava o meu pai por mais que fosse do meu jeito, mas mesmo assim, tanto faz agora. — Lian falando aquilo realmente parecia bem magoado, eu queria tanto fazer alguma coisa pra deixá-lo melhor. Mas eu só assisti ele comendo de pouco em pouco, óbvio, comi junto com ele, ficamos conversando sobre assuntos aleatórios, tentei tocar na situação amorosa dele, mas ele sempre evita esse assunto.

— Beleza, que tal irmos lá pagar e eu te acompanho até o carro — palpitei, levantando.

— Você realmente gosta de ser meu guarda-costas — brincou Lian com um sorriso irônico acompanhado de uma piscadela ainda mais irônica.

Retruquei com uma careta, mostrando a língua. Dessa vez não fiquei nem um pouco incomodado com a secagem alheia, não tenho culpa se somos lindos. Fomos até o caixa, Lian havia pagado as batatas, ele sabia que eu estava apertado, ele pagou em dinheiro.

Saímos do boliche. Já estava ventando e o céu estava mais escuro, e isso me fazia lembrar quando eu me cagava de medo de trovão e tinha que ir dormir com os meus avós. Nós estávamos conversando sobre os nossos medos enquanto eu andava na rua com ele até o carro, quando virarmos no local em que ele havia estacionado, Lian simplesmente estancou, parou assim que viu um homem ao lado de seu carro.

— Lian? O que foi? — perguntei.

O homem era bem alto, 1,80, poucos centímetros a mais que Lian, era um homem magro e o jeito como ele estava encostado no carro mostrava seu jeito elegante. Ele usava um terno cinza-escuro beirando o preto, uma gravata azul bem colocada, o cabelo negro colocado para trás com um pouco de gel e Rolex dourado no pulso. A camiseta branca por debaixo do terno estava abotoado até o pescoço, a barba negra começando a crescer o deixava tão maduro e poderoso quanto era. Com as mãos no bolço, seus olhos tão gelados quanto os de Lian através dos óculos mostravam algo, era como se tivesse muita expectativa, era um olhar desafiador, ah... Eu conhecia bem esse olhar.

O Sr. O’Hanoly, o próprio, ali, de boa na calçada encarando a gente com um sorriso de canto.

Lian o olhava daquela forma, o mesmo olhar ameaçador e agressivo. Lian queria matá-lo de tanta raiva, eu vi seus punhos serrarem e o ar pesar. Ele andou até seu pai e eu fui atrás dele, é claro, mantendo a distância dos dois monstros de gelo. Eu ainda não acreditava que aquele homem realmente era o Sr. O'Hanoly. E sim, Lian era a cara dele.

— Roman — Lian parou na frente do pai.

— Filho — retrucou, a voz dele era assustadoramente rouca e grave, isso me deixou com um certo medo bobo.

— O que está fazendo? — Lian questionou. — Se fosse pra me espionar contratasse alguém pra fazer isso por você.

— Ah Lian, que isso... — Ele abriu um sorriso irônico. — Eu só estava aqui de bobeira e encontrei você com esse... — O Sr. O'Hanoly me olhou de cima a baixo, seu sorriso perdeu a graça e sua feição havia se tornado crítica — Rapaz, o que aconteceu com você? Oh, você deve ser o tal guarda-costas particular do meu filho, certo? — Ele abriu um sorriso tão sarcástico que chegava a ser tão cruel quanto Satã. Ah, sim, aquele homem era bem mais cruel do que Lian. — Caramba, olhe pra você, parece que realmente está fazendo um ótimo trabalho — Ele havia voltado com aquele sorriso simpaticamente cruel e com o mesmo olhar de Lian, que nos olhava perto da porta do motorista.

— Roman, esse é o meu amigo, Adriel. Adriel, esse é o meu pai, Roman. — Lian nos apresentou com aquele tom mal-humorado dele.

Eu e o Sr. O'Hanoly trocamos um aperto de mão educado, ele ainda me olhava um pouco crítico, eu tentava entender o oque estava acontecendo ali, mas não entendia, eu sabia muito sobre os dois mas parece que ainda tem muita coisa em jogo entre eles.

— Então, Lian... — ele se virou para seu filho — O que está fazendo na rua há esta hora? Está frio.

— Ah, sei lá — Lian respondeu de forma sarcástica. — Eu só queria tomar um arzinho, ver como anda o tempo, sabe?

Sr. O'Hanoly e Lian trocaram olhares ameaçadores, eu me sentia numa zona de guerra.

— Ah, entendo — O Sr. O'Hanoly olhou pra mim. — Garoto, o que o meu filho estava fazendo?

— N-Nós... — Eu estava perdido, ele realmente era assustador com aquele olhar, parecia que iria me jogar contra um caminhão em alta velocidade, até o Diabo teria medo de um cara com ele.

— Deixa ele fora disso! — exclamou Lian, alto, aflito e perturbado. — Cacete, nós só fomos numa lanchonete aqui perto!

— Viu? Doeu tanto para contar ao seu velho pai? Deveria ter mais respeito comigo, mocinho! — Provocou seu pai, eu realmente não entendia tal raiva entre eles, talvez seja só maldade e vontade de se humilharem em público, Lian disse que era tão cruel quanto seu pai.

— E dói muito falar o que você veio fazer aqui? — bufou Lian. — Ou só quer fazer mais um dos seus showzinhos de raiva aqui na rua?

— Você realmente é um moleque bem atrevido, sabia?! — O Sr. O'Hanoly sorriu torto enquanto pegava um cigarro do bolso e colocando em seus lábios — Pelo menos eu te ensinei alguma coisa.

— É, disso eu tenho que agradecer.

— Mas eu ainda não te ensinei bons modos pra você tomar cuidado com essa sua língua afiada, depois que eu te ensinar isso, aí sim me agradeça.


Notas Finais


E foi isso, pessoal. ~
A gente 'tá pensando em algumas músicas para fazer uma playlist no Spotify, tentaremos fixar o link nas notas finais de algum dos próximos capítulos, então fiquem atentos SZ
Esperamos que tenham gostado!
Kissus kissus

Ja nee ^^


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