ANTIGA MEWNI – QUINZE ANOS ATRÁS
Poeira subia enquanto o sangue escorria pelo chão, marcando os destroços da fortaleza do que um dia fora a Mewni que conhecemos, antes de todo o caos. O sangue derramado sobre as plantações de milho formava um rastro espesso em direção ao palácio, e apesar disso, não era de todo vermelho. Mesmo que muitos tenham dado suas vidas para proteger a realeza e salvar Mewni da total destruição esmeralda, havia sangue azul no chão. Sangue real.
Era o momento final mais importante da história de Mewni. Havia medo, ansiedade, desespero… O que restou de sua população buscava por um sopro de esperança, qualquer coisa que lhes desse um sinal de que não era o fim.
Dentre os sobreviventes, havia um jovem cavalheiro enviado da Terra que estava muito longe de desistir. Marco, de todas as pessoas ali, era com certeza a mais inconformada delas. A Guerra de Mewni durou tempo demais, e ele já não suportava a agonia de estar longe de Star. Nos primeiros momentos da guerra, jurou a si mesmo que não a perderia. Ele corria desesperado entre os destroços e incêndios para chegar ao castelo, toda a sua vida dependia do quão rápido ele chegaria até lá. Durante todo o caminho, chamou o nome de Star, contando com todas as forças que ela pudesse respondê-lo.
Quando já podia ver a entrada do castelo – com suas enormes portas destruídas pelos feitiços esmeralda – sentiu uma força desconhecida segurá-lo pelas roupas rasgadas. Ao olhar para trás deparou-se com Pony Head. Sua crina cor-de-rosa já não tão brilhante havia sido atingida parcialmente pelo fogo, alguns ferimentos espalhados pelo rosto eram notáveis quando ela berrou, em tom de desespero:
— Ficou maluco? Você é um homem morto se entrar ali!
Marco hesitou alguns passos para trás, observando toda a extensão do castelo. Ele não conseguia se lembrar de como aquele lugar costumava ser. Agora eram apenas ruínas.
— Star ainda está lá dentro… — Ele argumentou com lágrimas pesando nos olhos. — Minha vida não vai ter valor algum se ela não estiver viva. Me valeria mais ser um homem morto do que perdê-la para sempre.
— Espera, Coisa da Terra! — E desta vez ela não teria forças para impedi-lo, se não fosse o sopro de esperança que a nação de Mewni esperava surgindo ao longe, em uma das torres mais altas do castelo.
Os olhos tristes e afogados em derrota da nação mewniana buscaram pela silhueta dispersa de Star. Apoiada no mastro da bandeira de Mewni, ela se levantou e deu ao povo um motivo para, aos poucos, reerguer sua voz, e silenciar-se em seguida, aguardando pelo pronunciamento da Butterfly. Ela segurava algo em suas mãos, todavia não se podia dizer o quê.
O coração de Marco bradou em felicidade ao vislumbrar sua garota com vida, entretanto logo foi completamente tomado pela tensão de aguardar pelo que seus lábios trêmulos e machucados diriam.
Com uma respiração pesada de quem já havia perdido quase todo o fôlego, ela começou:
— Povo de Mewni, povo da Terra, amigos, família, sobreviventes… — Sua voz estava falha e fraquejava, assim como seu corpo repleto de hematomas, mas estavam enganados se achavam que Star Butterfly se deixaria abater tão facilmente. — Acabou.
Silêncio tomou conta daquele lugar. Um choque simultâneo que alcançou a todos. Ninguém conseguia reagir adequadamente àquela notícia repentina. Seria verdade? A guerra havia finalmente chegado ao fim para que pudessem descansar em paz durante a noite?
— O terror acabou. Vocês podem erguer-se, não precisam mais lutar. — pausou e suspirou profundamente antes de continuar, agarrando-se mais firmemente ao mastro: — Toffee está morto.
Alívio era um sentimento mútuo, a felicidade começava a tomar cor, mas antes que pudessem dar um grito de vitória, Star completou seu pronunciamento:
— A Rainha Moon também.
Em todos os seus anos de existência, nunca se viu uma Mewni tão cinza e sem vida quanto aquela. A tristeza da perda era a única coisa capaz de ser sentida por qualquer pessoa ali. Era o fim da guerra, e também de suas esperanças para com Mewni. Sentiam-se desolados, perdidos, o que seria de um reino sem a sua rainha?
Lágrimas começavam a rolar pelo rosto dos mewnianos, misturando-se ao sangue no chão. Marco cerrou seus punhos assistindo Pony Head baixar sua cabeça e lamentar. Ele não podia imaginar como Star sentia-se naquele momento, e seu único desejo era abraçá-la.
Mas Marco era a única pessoa naquela multidão que sabia do que Star Butterfly era capaz de fazer por aqueles que amava. Ninguém realmente conhecia a abrangência da bondade e determinação que residiam dentro do coração rebelde da princesa.
Princesa que, pela segunda vez, soprava esperança para aquele povo usando apenas a sua voz:
— Atenção, povo de Mewni — pediu, usando a força que lhe restava para revelar o que carregava em suas mãos. Eram remendos de tecido, que apesar de danificados, ainda expressavam a pureza de sua cor branca, que daquele momento em diante adquiriria um grande significado. — Como sua nova rainha, eu, Star Butterfly, decreto que não haverá mais guerra. — Seus lábios estavam secos, sem cor, e apesar da fraqueza, ela apenas engoliu em seco e prosseguiu: — Eu proponho mil anos de paz.
Aquela frase selaria um novo destino para Mewni, pois alteraria todo o curso de sua história.
Um recomeço para cada pessoa ali presente.
— Nós podemos reconstruir Mewni. Podemos fazer diferente! Ninguém mais precisa morrer. — Ela apertava o pano branco entre seus dedos trêmulos, sem parar de proclamar esperançosa: — Sob minha regência, nós podemos construir uma Mewni que será boa para todos. Haverá moradia, harmonia, comida, trabalho… Para todos.
O povo se entreolhava inquieto, as expressões em seus rostos não dizia muito bem o que achavam daquela proposta. Era relativo. Alguns pensariam que era loucura. Sem a Rainha Moon, Mewni estava acabada.
— Sua nova rainha está diante de vocês — ela assumiu, sem baixar a bandeira branca. Seu braço começava a doer, o vento começava a soprar mais forte e exibir a branquidão do pano para que todos pudessem ver. — E eu lhes pergunto… Quem está comigo?
O silêncio que se sucedeu poderia ter destruído seu coração de rainha por completo, foram minutos a fio sem nenhuma resposta, nenhuma expressão, até que uma mão se ergueu na multidão.
— Nós vamos reconstruir Mewni — Marco gritou com seu punho cerrado no ar, aquele gesto representava força e esperança. Não era o fim. — Um viva à Rainha Star Butterfly!
E no instante seguinte, pôde-se ouvir um triunfante “viva!” que foi o início de uma grande comemoração, pouco a pouco o sentimento alastrava-se e aqueles que estavam caídos erguiam-se, acreditando na promessa de um novo começo.
Assistindo a cena, Star permitiu que as lágrimas que segurou por tanto tempo finalmente caíssem. O tecido branco escorregou de sua mão e o vento o guiou por cima de toda a Mewni, afastando-o para longe e anunciando o início de uma era de verdadeira paz. Aquela festa entre o povo podia finalmente ser considerada vitória.
As pernas de Star tremeram e vacilaram, levando-a ao chão em poucos segundos. Marco não esperou que alguém mais notasse antes de atravessar as grandes portas do castelo e subir as escadas tão rápido quanto humanamente possível, sem ligar para qualquer exaustão quando chegou ao topo. Ver Star caída no chão, fraca e quase inconsciente foi, de longe, a coisa que mais o machucou em toda a sua vida.
— Star!
Conforme aproximava-se, podia vê-la respirar fracamente, o que foi um alívio. Ajoelhou-se ao seu lado e ergueu-a nos braços, afastando os cabelos cor-de-ouro compridos que cobriam seu rosto manchado pelas lágrimas.
— M-Marco… — ela murmurou, agarrando-se ao tecido vermelho de seu moletom, permitindo que ele a levasse para mais perto, a ponto de sentir sua respiração quente e cansada próxima ao seu rosto. Entre as lágrimas, ela sussurrou: — Acabou, Marco — Seus dedos agarravam suas roupas com uma força sobrehumana que expressava toda a sua dor. — Minha mãe se foi, e a varinha também… Para sempre.
— Ah, Star… — Ele sequer pensou antes de abraçá-la, na busca de espantar todo aquele sentimento ruim que a puxava para baixo. — Sinto muito que tenha que ter visto acontecer. Sinto muito por não ter estado ao seu lado. Você está certa, acabou — E então ele suspirou, permitiu que ela chorasse mais um pouco antes de completar: — Acabou mesmo. Toda a dor e sofrimento, tudo acabou para sempre. Sua mãe se sacrificou por você. E por Mewni. Você é tudo o que eles têm agora, Star.
E então separou o abraço, mantendo seu rosto a poucos centímetros do dela quando confessou:
— Você é tudo que eu tenho agora. E não vou perdê-la outra vez.
Um sorriso a curto prazo começava a surgir no rosto pálido de Star, que sentia algumas lágrimas de emoção mesclarem-se à sua tristeza profunda.
Marco respirou fundo, ajeitando-a em seus braços antes de concluir:
— Mewni está em boas mãos agora.
E com suas últimas forças, Star usou suas mãos para buscar a de Marco e segurá-la com firmeza sobre o peito, contagiando-o com aquele pequeno sorriso de lábios juntos, aquele silêncio confortável disse a ele tudo o que precisava saber.
Não era o fim para Mewni, era apenas um novo começo.
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