Assim que saímos do carro, senti um arrepio subir pela espinha.
Rosé parecia conhecer um pouco do local, então foi na frente. Por um momento, parou em frente à casa esverdeada, fechou os olhos e deu um longo suspiro. Aparentemente aquele lugar não a trazia boas recordações.
A ruiva bateu na porta com um tipo de código rítmico. Ela parecia envergonhada simplesmente por saber fazê-lo.
Sem demoras, um garoto alto e magricelo abriu a porta com dificuldade. Senti pena do jovem, provavelmente estava envolvido com drogas.
— Onde o Seungri está? -Roseanne perguntou.
— Andar de cima. -soando com dificuldade, o garoto respondeu com a voz rouca. -Já é a segunda vez que me perguntam isso hoje.
Rosé arqueeou a sobrancelha e balançou a cabeça agradecendo pelas informações. A ruiva suspirou profundamente outra vez, então Lisa entrelaçou seus dedos aos dela para que se acalmasse. Como se isso tivesse dado segurança à Roseanne, ela começou a nos guiar pelo interior da casa.
Subimos a escada central e fomos em direção a uma porta alaranjada. Era a única tingida do andar.
— Nada mudou... -ouvi Roseanne murmurar.
Determinada, ela se aproximou da porta e depositou algumas batidas.
Demorou cerca de alguns segundos até escutarmos o barulho do trinco.
— O que houv....? Merda! - Um garoto de cabelo descolorido abriu uma fresta da porta, mas, assim que viu Rosé do outro lado, tentou fechá-la a todo custo.
Infortunamente, o garoto não conseguiu. A ruiva havia colocado o pé para impedir que a porta alaranjada se fechasse. Aparentemente, ela já esperava aquela reação vinda do platinado.
Derrotado, ele afastou-se da porta e permitiu que entrássemos.
Assim que adentrei o cômodo, pude ver o quão acabado estava. A cama encontrava-se totalmente bagunçada, havia vidro estilhaçado no chão e eu tinha acabado de pisar num lençol caído.
— O que aconteceu aqui? -Lalisa murmurou assustada.
— Eu não fiz nada! Eu juro! - O garoto disparou.
— SeungHyun, o que caralhos houve aqui?! - Roseanne gritou para o platinado. -O que você fez com a Jennie?!
— Eu já disse que não fiz nada! -Ele rebateu. -Ela que enlouqueceu.
— Explique-se, Seungri. Não está fazendo sentido algum. -Rosé dirigiu-se a ele novamente, dessa vez um pouco mais tensa. Parecia preocupada.
As atenções estavam totalmente voltadas para SeungHyun. Ao perceber isso, o platinado ficou um pouco desconfortável e sentiu-se na obrigação de falar alguma coisa.
— Olha, eu não sei bem o que houve, okay? Eu também fiquei confuso. Só sei que... -Ele engoliu em seco e coçou a nuca envergonhado.
— Desembucha -Falei ríspida.
Seungri olhou para mim assustado, provavelmente minha presença não havia sido relevante até aquele instante. Eu estava apenas acompanhando tudo com o olhar.
— Ouviu a garota. -Rosé disse.
— Tá bom. -Ele suspirou e abaixou a cabeça derrotado. -...É que a Jennie ficou extremamente puta quando eu... hm... meio que não consegui fazê-la atingir o orgasmo. -Seungri sussurrou a última parte, mas foi possível escutá-lo.
Por um momento eu fiquei em choque. Senti uma pontada de ciúmes no peito novamente.
— Ah, não... -Roseanne declarou. -Você não conseguiu cumprir o principal objetivo de ela ter vindo te procurar. Isso não acabou bem, não é?
— Isso já não responde sua pergunta? -Seungri deu uma risada debochada e abriu os braços mostrando o quarto. -Ela simplesmente começou a chorar enquanto estávamos transando. Daí, quando eu parei e perguntei o que havia acontecido, ela falou que eu era um inútil e começou a me estapear. Como se não bastasse isso, ela ainda destruiu coisas e arremessou objetos em mim.
— E depois? -Perguntei.
— Ela fugiu. Foi embora sem mais nem menos, e sequer avisou pra onde iria. Se vieram procurar ela aqui... sinto muito. -Seungri arqueeou as sobrancelhas e voltou-se para Roseanne. -A Jennie é louca. Acho que a primeira internação não deu certo... tentem de novo. -Ele falou seco.
Assim que ouviu as palavras grosseiras, Roseanne atingiu o rosto de SeungHyun com um forte tapa. Assustado, o garoto levou a mão no local.
— Nunca. Mais. Repita. Isso. -A ruiva falou pausada e severamente.
Fiquei em choque. A cada minuto que se passava, eu descobria mais coisas sobre a vida de Jennie e Roseanne. E eu só conseguia pensar "onde eu fui me meter?"
— Roseanne! - Um moço armado entrou no quarto. Ele parecia furioso. -Pro carro... Já!
O menino magricelo que havia nos recebido apareceu na porta com as mãos no joelho ofegante.
— Eu tentei impedir... -O garoto disse com dificuldade.
— Papai... Eu posso explicar! -Rosé disparou.
— Tenho certeza que sim. -O moço, que aparentemente era o Sr. Park, debochou. -Vocês prometeram que não viriam mais aqui... -Ele murmurou decepcionado.
O pai de Rosé aproximou-se de Seungri apontando a arma. O platinado desesperou-se e levantou os braços enquanto caminhava para trás.
— Ei, ei, podemos resolver de outra maneira, senhor. Calma lá! -Seungri se apressou.
— Já disse pra ficar longe das minhas meninas, seu desgraçado. -O Park encostou a arma no peito de Seungri e o empurrou para trás, fazendo-o cair no chão. -Da próxima vez não sairá ileso. -Ele semicerrou os olhos.- E espero que não haja próxima vez.
Seungri negou com a cabeça assustado. Seus olhos estavam tão arregalados que pareciam que iam saltar a qualquer momento.
— E quanto a vocês - O Sr.Park virou-se para nós. -resolvemos no carro.
Descemos as escadas e saímos da casa esverdeada com o Sr. Park na dianteira pisando forte. Ele não parecia nada contente.
Assim que atravessamos a porta da casa, vimos Haru, o motorista, de cabeça baixa. Provavelmente estava se sentindo culpado por ter nos entregado ao patrão.
— Não se preocupe, Haru. Sabemos que não fez por mal. -Falei para o velho chofer ternamente. Ele assentiu com a cabeça, ainda se desculpando.
— Haruto, pode ir na frente. Elas irão no meu carro. -O pai de Roseanne nos olhou por cima do ombro. -Acredito que temos alguns assuntos pendentes para resolver.
Haru não hesitou, entrou no carro e deu partida.
Acompanhamos o Sr. Park até seu carro. Assim que adentramos, sentamos todas no banco de trás.. Pude ver o homem abrir e colocar seu revólver no porta-luvas.
— Rosé... -O pai da menina iniciou enquanto começava a dirigir. -Quando Haruto me avisou que estavam vindo para cá em busca da Jennie, eu fiquei muito preocupado. E agora eu estou ainda mais por ela não estar no carro conosco.
O moço suspirou profundamente, parecia extremamente tenso.
— Sabe o que me chateia mais? -O Sr. Park perguntou. Apenas ficamos quietas para que ele pudesse continuar. - O fato de você não ter recorrido a mim assim que descobriu que Jennie havia fugido, Rosé. Além de que há dois anos você me afirmou que ela estava bem. Você tem consciência de que me convenceu disso e que me fez tirá-la da clínica, ignorando toda a opinião profissional? -O pai de Roseanne passou a mão no rosto indignado. -Preferi confiar na minha filha em vez de psiquiatras que tinham um plano de tratamento e sabiam o que estavam fazendo. Cometi um grande erro.
— Não foi um erro, papai. Você não sabia pelo que ela estava passando lá. - Roseanne afirmou olhando fixamente para janela. -Mesmo que eu pudesse vê-la apenas quatro vezes ao mês, eu sabia o quanto ela estava sofrendo. Você nunca sequer visitou a Jen enquanto ela estava internada...
O Park pigarreou. Pelo que parecia, ele não queria compartilhar aquela história com desconhecidos na plateia.
Eu e Lisa nos entreolhamos assustadas.
— Isso não importa agora. Depois a gente conversa e resolve o que é melhor pra Jennie, Rosé. Primeiro temos que encontrar minha afilhada. -Ele apertou e soltou o volante como um tic-tic-nervoso e continuou olhando fixamente para o trajeto. -Você nem imagina o quanto estou preocupado... O que realmente aconteceu pra ela tomar essa decisão?
— O motivo não importa, mas tivemos uma discussão. Eu realmente fui muito dura com ela. -Arrependida, a ruiva tombou a cabeça e encostou na janela.
Para amenizar o desconforto, Lalisa entrelaçou os dedos com Rosé. Notei que aquele ato da loira sempre conseguia acalmar a ruiva. Desviei o olhar e comecei a prestar atenção na paisagem que passava rapidamente pela minha janela.
— Alguma sugestão para onde ela poderia ter ido? Você a conhece melhor do que ninguém. - O pai da ruiva perguntou para ela.
Deixei de olhar para os borrões que passavam pela minha janela e voltei minha atenção para Rosé.
Roseanne pareceu pensar por alguns instantes antes que seu rosto se iluminasse de esperança.
— Papai, lembra da casa na árvore que você mandou construir no fundo do quintal quando tínhamos treze? Quando a Jennie tinha crises de pânico ela sempre recorria ao nosso forte. Talvez ela esteja lá agora.- Roseanne falou esperançosa. O Sr. Park nos olhou pelo retrovisor e deu um sorriso para Rosie, ele também parecia menos preocupado. Os dois pareciam confiantes de que ela estaria lá.
— Por favor, esteja lá, Jennie. -Sussurrei para mim mesma e voltei minha atenção para a janela novamente. Riscos de água começaram a embaçar o vidro, estava chovendo.
Depois de quase meia hora, graças ao trânsito e à distância, chegamos na propriedade da família de Rosé. A chuva havia se intensificado nesse período.
O Sr. Park estacionou o carro rapidamente em frente à casa rosada e saímos do veículo num pulo.
Roseanne e seu pai foram na frente correndo e indicando o caminho. Demos a volta na grande casa e seguimos para o fundo do quintal.
Tenho que admitir, o quintal era bastante extenso e correr rápido daquele jeito, ainda mais com a presença da chuva, estava sendo extremamente difícil. Cheguei a tropeçar algumas vezes.
Quando chegamos na árvore, olhei para cima e pude ver o grande forte.
— Ela está aqui. A luz está acesa. -Roseanne sorriu aliviada. Dava para perceber alguns feixes de luz saindo pelas frestas do piso da casinha.
O pai de Roseanne a abraçou aliviado.
— Okay, vou subir lá e falar com ela. -Falei e segurei na escada de corda que estava pendurada no tronco da árvore.
Rosé se colocou em minha frente.
— Enlouqueceu? Eu que vou subir. - Ela disse convicta. - Eu que comecei a discussão e a magoei. Por minha culpa ela teve que fugir.
— É exatamente por isso que você não deveria ir... -Lalisa interviu e Roseanne a encarou inacreditada. -Quero dizer... acho que é isso o que a Jisoo está tentando falar.
— Sim, é o que eu estou tentando dizer. Se você a chateou e serviu de gota d'água para que fugisse, imagino que seja a última pessoa que ela queira ver. - Assim que terminei a frase, Roseanne semicerrou os olhos.
— Você nem a conhece direito. Acabou de chegar nas nossas vidas e acha que já tem algum poder. -Rosé rebateu. - Aquela garota é minha melhor amiga desde que nasci, Jisoo. Essa não foi nossa primeira briga e nem será a última, eu preciso ir lá. -A ruiva começou a chorar. -Preciso me desculpar! Eu não consigo suportar isso!
A ruiva começou a soluçar. Fiquei com pena de Roseanne, ela realmente havia se arrependido e estava colocando toda a culpa em si. Contudo, subir até lá naquele estado não seria bom para ela nem para Jennie.
Lalisa a abraçou.
— Você foi nosso assunto, Jisoo... Foi como comecei a briga. - Roseanne admitiu enquanto chorava no ombro de Lalisa. Arregalei os olhos surpreendida.
O que aquilo significava? Do que poderiam ter falado?
— Roseanne, você não está emocionalmemte bem para subir até lá e conversar com a Jennie. Provável que ela também não esteja. E, bom... por algum motivo a Jennie parece ser alguém especial para Jisoo, já que ela está aqui tão preocupada quanto nós. -O Sr. Park colocou a mão no meu ombro e olhou para Rosé. - E como essa garota aqui foi motivo de brigas entre você e Jennie, podemos concluir que ela também é especial para a Jen, certo?
Roseanne soltou-se de Lalisa e limpou do rosto algumas lágrimas misturadas às gotas da chuva. Ela suspirou e balançou a cabeça concordando.
— Sim, eu acho que sim. - Rosé sorriu frouxo, os olhos ainda marejados.
— Pois então vamos para dentro de casa. Eu, você e sua outra amiga. - O homem referiu-se à Lisa. -A Jisoo tem um grande trabalho a fazer e acho que devemos dar privacidade para que conclua perfeitamente.
Roseanne concordou com a cabeça.
A ruiva abraçou o pai e começou a caminhar pela chuva em direção à casa novamente. Antes de correr para alcançá-los, Lisa me abraçou e desejou boa sorte.
Respirei fundo e pude sentir o ar frio e úmido adentrar meus pulmões. Segurei na escada novamente e comecei a subí-la.
Quando cheguei ao final da escada de cordas, empurrei o alçapão que estava acima da minha cabeça. Ele dava acesso à casa da árvore.
Assim que eu coloquei minha cabeça dentro da casa, pude ver Jennie no canto. Ela estava encolhida abraçada aos joelhos e com o rosto entre eles. Quando ouviu o ranger da tampa do alçapão, assutou-se e olhou em minha direção.
— Jisoo? - Rapidamente Jennie limpou o nariz com a manga da blusa e tentou disfarçar a feição chorosa. Porém, foi em vão. Além dos olhos inchados, o nariz e a boca avermelhados entregavam a situação.
Assim que entrei na casa da árvore por completa, aproximei-me de Jennie.
— Oi, Jen... -Vê-la daquele jeito havia acabado comigo. Meus olhos começaram a marejar logo que me sentei ao seu lado.
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